Meu pé de ingá

O garoto encontrava-se na fase de descobertas. Adquirira o hábito de contar estrelas, principalmente em noites de lua cheia.

- Menino, está na hora de ir pra cama - a mãe chamou, lá da cozinha, enquanto apagava as brasas do fogão.

- Esse menino é meio esquisito, com a mania de contar estrelas, você não disse a ele que nasce verruga? - indagou o pai.

- Ah, Zé, o menino é sabido, não acredita nessas coisas!

- Tá com a cabeça rachada - interviu o irmão, com uma risada.

O menino entrou e antes de ir pra cama, ouviu as instruções do pai.

- Amanhã, depois de voltar da rua, precisa voltar de novo pra entregar as laranjas.

Toda manhã, depois de ajudar o pai na ordenha das vacas, o menino levava o leite pra cooperativa. Nos tempos da colheita de laranjas, ele era o responsável pelas vendas à partir das encomendas. Um cento para Fulano, meio cento pra Beltrano e por aí vai.

O que ele não gostava era de levantar de madrugada. Mas entregar o leite e vender as laranjas, ele gostava. Tudo por causa do pé de ingá, onde fazia uma parada, ao retornar da rua. Estacionava a charrete, mas antes colocava o animal à beira do córrego, para beber água e comer capim. Atravessava a cerca de arame farpado e deitava-se num tapete feito de folhas secas, sob a sombra do pé de ingá, onde passava um bom tempo contemplando o tronco e a copa da árvore. O vento agitava as folhas, produzindo uma brisa, que abrandava o calor e o suor do corpo do menino.

Sob a sombra do pé de ingá seus pensamentos corriam solto até chegar ao ápice de prazer.