O AMIGO OCULTO

O idoso está sentado,sozinho em sua sala de estar, como de costume.Vê um filme que não lhe prende a atenção; está servindo somente para quebrar o silêncio em que sua vida tem se tornado nos últimos tempos.

Ele mora sozinho? Não! mas é como se fosse. Então, não mais que de repente,sua mente, sempre ávida por palavras, começa a engendrar um diálogo consigo mesmo.

É seu Eu exterior procurando comunicação, mas como só existe o silencio da noite, o seu outro Eu, o interior começa a se manifestar.

Olá amigo, vamos conversar e assim espantar os pensamentos ruíns que já estão chegando?

Você está falando comigo? mas eu estou sozinho há muito tempo e se acreditar que existe alguém dentro da minha cabeça falando comigo, não estarei ficando louco?

Não, responde o outro; pelo contrário,vc está evitando que isso aconteça. Você sabe, mas não está querendo lembrar que o pior tipo de solidão,aquele que pode levar à loucura, é aquele que vc quer falar, mas quem está do seu lado não escuta. Você quer ser notado, mas mesmo andando em voltas qual um pião,vc está invisível.

Você sente necessidade de trocar ideias, contar do seu dia; o que aconteceu de bom ou de mal, mas não tem ninguém disposto à escutá-lo, mesmo não morando sozinho.

Então, aceite meu convite; converse comigo, sou sua alma gêmea, embora não sofra o que vc vem sofrendo.

Sou um espirito livre. Vou a lugres indescritíveis, sem precisar de transportes ou permissão de alguém. Você sofre porque quer!

Quer ser como Eu? escolha um bom livro, dentre tantos que vc já tem e façamos aquela viagem, que há tanto tempo você almeja e não é possível, por falta de dinheiro. Sempre o vil metal. Mesmo vc não querendo, rege sua vida, impondo limites e cerceando seus sonhos.

Quebre as barras desta prisão em que você mesmo se colocou e venha comigo. Você aceita? O idoso fica pensando um longo tempo e quando o outro já esperava um não, pois as vêzes seu gêmeo é covarde;é surpreendido com a resposta tão esperada: Sim! sim! meu amigo, meu irmão; vou com você, onde nossos sonhos e devaneios nos levarem. E assim foi. O Eu interior resolveu ser generoso e deixou ao seu irmão a escolha do roteiro da viagem, pois ele já era um grande viajante. Seus desejos não tinham limites e ele não conhecia o poder das amarras do amor que seu gêmeo sentia por seus familiares, por mais que na maioria das vezes fosse ignorado.

Só lembravam dele quando precisavam de auxílio. Aí sim; ele era convocado constantemente e como tinha um grande coração, não dizia não e sempre cedia, mesmo que depois se magoasse quando era relegado ao segundo plano, o que sempre acontecia.

A TV foi desligada, o livro de aventuras aberto e então a sonhada viagem começou.

Os dois irmãos,deram-se as mãos e decolaram pelo espaço até a primeira etapa escolhida.

Uma cidade maravilhosa, cercada de tantas praias, que mais parecia uma Ilha. Chegando lá, um veleiro branco luxuoso os esperava, para singrarem aquele mar tão verde, que mais parecia uma esmeralda bem lapidada, de tanto que brilhava, ao deixar que os raios brilhantes do Sol

penetrassem em suas águas claras e transparentes.

Navegaram por horas não contadas, pois neste reino paradisíaco o tempo não era cronometrado.

A vontade dos viajantes é que determinava a duração e as mudanças para outras plagas jamais imaginadas.

Brincaram como crianças inocentes e despreocupadas nas areias quentes das praias.

Ao mudarem um pouco o roteiro, chegaram em um mundo gelado, onde os dias duram meses e imitando filhotes de leões marinhos bem brincalhões, mergulharam nas águas geladas do Polo Norte.

Nas florestas virgens da Amazônia, voaram junto aos passaros canoros desconhecidos dos homens.

Nas ruinas misteriosas de Machu Pichu no Peru saciaram a sua curiosidade andando pelas estradas íngremes e estreitas até chegarem aos platôs e descortinarem o espetáculo das casas construidas nas rochas milenares das montanhas onde os Incas habitaram.

Com a viagem quase chegando ao término, encontraram um viajante que os convidou para irem a lugares inusitados para eles.

Com a aquiescência de ambos o amigo se identificou como sendo MORFEU o Deus do sono e disse à eles que a partir deste trecho da viagem, ele Morfeu, estaria no comando e quando a aventura terminasse eles não iriam se lembrar de nada; mas estariam felizes , com as forças renovadas e não sofreriam nenhum trauma.

Eles estariam dispostos a aceitar esta proposta?

Enquanto isso o senhor idoso que estava na poltrona segurando o livro, já se encontrava tão relaxado e de olhos fechados, nem se dando conta de que não era mais o dono de seu proprio corpo, mas sim o seu inconsciente.

Os dois empolgadíssimos aceitaram o convite e o têrmo imposto, para que suas aventuras fossem encerradas com chave de ouro.

Daí em diante a felicidade foi geral, mas não pode aquí ser relatada, por que eles foram fiéis ao pacto feito e por não lembrarem da melhor parte da aventura: a parte Mística.

A noite passou e os primeiros raios do Sol que rompiam as brumas da madrugada ,acordaram o viajante que havia passado a noite na poltrona. Ele estava feliz, relaxado e nem de longe se lembrou de que era uma pessoa sozinha.

MORAL DA HISTÓRIA: A solidão só existe para aqueles que não têm imaginação; não têm acesso à um bom livro, não sabem lêr, ou não dão ouvidos ao seu Eu interior, quando este o convida para transformar o marasmo de suas vidas em uma viagem MARAVILHOSA,ALUCINANTE e INESQUECÍVEL, bem diferente de determinadas loucuras que acometem o ser humano.

Autoria de: Celina Maciel 18/12/2007

Celina Maciel
Enviado por Celina Maciel em 18/12/2007
Reeditado em 18/12/2007
Código do texto: T783401
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