A Solidão no Horizonte Azul

Em uma noite sombria, um clandestino encontrou-se sozinho em uma embarcação à deriva, longe das terras conhecidas. O céu estava encoberto por densas nuvens, e o oceano rugia com ondas violentas. A embarcação, outrora majestosa, estava agora danificada e em frangalhos, após o ataque devastador de um monstro marinho.

O clandestino era um homem introspectivo. A solidão não era desconhecida para ele, mas agora, diante da vastidão do oceano e da ausência de qualquer sinal de vida humana, sentia-se mais desamparado do que nunca.

Semanas se passaram, e a esperança começou a esvair-se. A única companhia que ele encontrava era a de uma gaivota que ocasionalmente aparecia, trazendo-lhe peixes para alimentá-lo. Porém, a gaivota não era sempre gentil, às vezes, ela apenas olhava para ele com olhos cintilantes e deixava escapar risadinhas que pareciam zombar de sua infelicidade.

A fome e a exaustão corroíam o corpo e a mente do clandestino. Em um momento de desespero, quando a gaivota, mais uma vez, o provocou com sua risada, algo mudou dentro dele. Um instinto irracional tomou conta de sua mente, sentiu um impulso avassalador, queria sobreviver a qualquer custo.

Sem hesitar, ele se lançou em uma perseguição delirante atrás da gaivota. O animal, surpreso, tentou voar para longe, mas o clandestino estava obstinado a agarrá-la. Ele a alcançou, finalmente. Suas mãos tremiam, o desejo de findar a tortura das risadas do bicho era incontrolável.

Seus olhos encontraram os da ave, o sentimento de compaixão pela sua única companheira se confundia com seu desespero. No silêncio que se seguiu, uma decisão foi tomada, simbolizando a rendição ao caos que o cercava.

À medida que as semanas se arrastavam, o clandestino se viu novamente só, com o estômago cheio da carne da gaivota e o coração vazio de esperança. Diante do horizonte sem fim, tomou uma outra decisão. Finalmente, aceitou que não estava verdadeiramente sozinho. O oceano era sua companhia, um espelho que refletia sua própria natureza inconstante e incontrolável. Decidiu se entregar e deixar que as correntes o levassem. Sua essência misturada com a vastidão daquelas águas traiçoeiras.

Nenhum olhar curioso presenciou o adeus do clandestino ao mundo. As ondas receberam seu corpo com uma indiferença gélida, e o oceano seguiu seu curso sem hesitação. A vida latente, consumida pela solidão e pelas sombras, desapareceu na vastidão azul.

Fernando Mazetti
Enviado por Fernando Mazetti em 05/08/2023
Reeditado em 05/08/2023
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