Paul McCartney vai gravar nossa música

Chovia pra dedéu naquele dia do show de Paul McCartney em Brasília, estádio Mané Garrincha lotado. Os retardatários pegaram o pior da chuva e se molharam muito. Também procurando acesso ao show, um homem pergunta a um casal onde era o portão 19.

- Vamos procurar juntos, é o nosso também, diz a mulher.

O homem dispara, sem ser provocado:

- Vou entregar um pen-drive para o Paul. Ele vai gravar uma música minha.

O casal se entreolha, parecem concordar que o cara é pirado e aquilo uma piada. Não dão trela ao homem. Ele não se intimida e explica que havia enviado uma carta ao ex-Beatle, com um áudio da música que ele, Reinaldo "Rohr" Pereira e Gustavo Gontijo tinham composto, inspirada nos Fab Four. Paul respondeu, tinha gostado, agradeceu, mas os compromissos eram muitos. Evidentemente, a questão poderia ser resolvida pela internet. Porém, como Paul já tinha show marcado em Brasília, preferiu conhecer os compositores pessoalmente. E seria naquele dia.

De fora, ouviam-se assovios de protesto, O show estava atrasado. Paul não aparecia e a plateia se impacientava. O casal e o maluco continuam seu diálogo:

- Vocês também estão procurando o camarote Hospitality?

A mulher responde, já meio impaciente:

- Sim... e não queremos perder um minuto do show.

E ele, sem pressa:

- Enquanto eu não chegar ele não começa...

O casal ri, ele é muito engraçado, concordam pelo olhar.

Finalmente, respingados de chuva, os três chegam à proteção do camarote. A moça não queria ficar perto dele, vai que era mesmo louco. Na sua cabeça passaram histórias de fãs que assassinam ídolos, como John Lennon. Gente assim tinha aparência normal, mas... O marido, sangue bom, não se importava e conversava animadamente com o suposto compositor. E pensava: até que tem cabeça.

A mulher continuava desconfiada, mas pensou que ele podia ser um ator em uma performance... Chamou o marido pra comprar cerveja e darem uma volta pelo camarote, ver o movimento e se afastar daquele fã esquisito.

Os apupos, vaias e assovios iam aumentando, depois de 30 minutos de atraso. Depois dos 40 já eram insuportáveis. Com uma hora de atraso, finalmente começa o movimento de início de show. O casal volta e encontra o estranho falando ao telefone. A mulher repara que, no palco, Paul também está falando ao telefone. O público, acalmado, espera em silêncio. Cordas, sopro e couro começam a esquentar, os músicos tomam posição. O público aplaude. A banda começa a tocar, dá uma parada e Paul entra:

- Ladies and gentlemen, boa noite. Peço um minuto. Hoje é o dia em que vou pagar uma dívida de alguns anos. Peço para subirem ao palco Mr. Santiago, William, e Mr. Gontijo, Gustavo. Eles vão me entregar, oficialmente, um pen-drive com o vídeo clipe da música deles que vou gravar. Infelizmente, um dos compositores já não está entre nós: Reinaldo "Rohr" Pereira. Uma salva de palmas para ele.

A moça e o rapaz têm um arrepio:

- É ele, então é verdade,.. Caraca!

Paul continua: "Back to Norway" está oficialmente encaminhada. É uma obra-prima. Eu queria tê-la feito. Mas, pelo menos, vou poder cantá-la.

O público se entusiasma e pede que Paul dê uma palhinha, todos estão curiosos.

- No, no, tomorrow, amanhã, tomorrow...

Back to Norway, todos sabem, tornou-se sucesso mundial. A Noruega, país que inspirou os autores, concedeu a Paul McCartney e aos compositores brasileiros o título de cidadãos honorários do maravilhoso país.