Imagine isso!

Em 2078 minha única função era imaginar. Todo o mundo de anos e anos atrás, que li nas diversas formas de navegação que temos, jamais iria imaginar como estamos agora. Meu emprego é o um dos mais simples de nossa geração, porém paga bem. Vendo ideias, ou seja, o que faço é pensar imaginar histórias para um filme, por exemplo, então é criado um roteiro e levado para aprovação e criação desse filme, simples, rápido. Estamos vivendo o instantâneo, é essa nossa realidade.

Já passam das 22h, preciso ir pra casa, estudar algumas ideias para amanhã criar outras. Entro no veículo falo meu endereço e espero chegar até lá, enquanto isso clico em meu bracelete, é interessante as formas que esses hologramas fazem quando estão com alguma interferência externa, passamos por um veículo de anúncios, deve ser isso. Chego em casa, vejo que esqueci de programar a rotina da semana, abro a central de comando ali mesmo parada na porta e já dito os comandos, pronto, minha banheira me espera e meu jantar está preparado.

Enquanto como, pesquiso histórias sobrenaturais, amanhã o pedido é sobre uma feira de temática de filmes de terror, preciso criar a ideia dessa feira para comprarem ela.

Leio, vejo vídeos, ouço histórias. Peço uma pesquisa mais a fundo, quero algo antigo, algo de 2002 talvez, que de medo e assim trazer um vintage para os jovens de hoje. Já passam das 01h00 da manhã, ainda é cedo para ir pra cama, mas vou tentar relaxar um pouco, minha mente ainda está sobrecarregada do tema de hoje, tive de imaginar pra entregar de última hora um comercial para as novas ajudantes de residência, nem eu tenho uma para saber como seria, mas por fim deu certo, se não fossem aqueles vídeos eu não conseguiria entregar nada.

Cada dia um novo lançamento, como será que era antes? Devia ser mais fácil, preciso todos os dias chegar no meu serviço, me conectar na minha cadeira, fechar os olhos e pensar, conforme me mandam os comandos, fico feliz que sou uma das mais talentosas do setor, talvez seja por gostar de ler e desenhar manualmente, vejo que ninguém faz isso. Meus pais disseram que queriam seguir tradições antigas, que mesmo tudo sendo tecnológico eles queriam que eu experimentasse pelo menos um mínimo do que seus antepassados tiveram. Tenho 22 anos, tenho uma coleção de livros de papel em casa, todos super raros, alguns ainda encontro na navegação para saber como foi seu lançamento, outros não mais, creio que alguns dados são apagados conforme não sejam mais pesquisados.

Eu era considerada a esquisita da turma por ter raridades em casa, temos papel, isso é tão incomum, mas meu pai insiste em arrumar, nem sei onde ele arruma, descobri muito nova que não é algo fácil de se encontrar, e muito menos bem visto. Mas eu gostava do papel, da textura, meu pai diz que seu avô contava histórias sobre a utilidade do papel e como fazer e que o que temos hoje em dia, apesar de serem raros, ainda não se compara a qualidade de antes. Meu bisavô era escritor, e os livros herdei dele.

Acordo, meu café está com cheiro incrível, vou para o banheiro, como e já sigo direto para sala de meditação, preciso estar com a mente bem limpa hoje, ou não vou conseguir entregar os 3 projetos centrais. Mas vou dar conta, são fáceis, primeiro precisam de uma ideia para criar um novo traje de natação da empresa Nask, depois preciso criar uma ideia para gerarem um protótipo de anel, querem voltar com essa moda. Em seguida preciso idealizar um evento para sábado, estruturas, cores... Festa dos Ares, nunca entendo esses festivais sobre coisas comuns do nosso dia a dia. Uma festa para vermos tudo que voa, que original, esse sim vai ser bem fácil. E sigo minha rotina de imaginar.