AKAUÂ

A margem de um afluente do imponente Rio Amazonas no seio da selva acontecera quem diria um romance um tanto quanto inusitado; em uma pequena aldeia, nasce Akauã que no dialeto local quer dizer “ infeliz que canta de dor”, seu pai o cacique Tamur deu-lhe este nome porque sua mãe morrera logo após ter-lhe dado à luz durante o ataque de uma tribo rival.

Fria e neblinosa recebia da tarde o findar do dia, os pássaros abrigava-se em seus ninhos, enquanto os seres noturnos despertavam em busca de presas descuidadas, a noite com seus mistérios era puro encanto e magia, sobre o espelho d’água a Rainha de Prata contemplava-se, na margem envolta no abraço da morte sucumbia à capivara fitando nos olhos da predadora sucuri, em voos rasantes morcegos perseguem pernilongos, e nas copas das frondosas sumaumeiras bugios em cios desvairados gritam em rituais de acasalamento para a perpetuação da espécie. Akauã deslizando lentamente a canoa talhada por suas próprias mãos a tudo observava indiferente retirava da rede o peixe, com seu arco armado mira em uma moita... desarmado o arco ouvi-se um guincho e um catitu transpassado figurava-se na arte da sobrevivência...

Akauâ legitimo filho das matas destemido oriundo de uma saga de bravos guerreiros, ainda jovem tornara-se chefe de seu povo os Zamuras habitantes do seio da Selva Amazônica, logo após caçar e matar o grande gato selvagem (onça pintada) que matara seu pai. Desde muito cedo o desejo de vingança o acompanhava, pois, muitos eram os inimigos de sua tribo. No dia em que nascera uma peleja de uma tribo rival que invadira a aldeia trouxe grande matança, entre os mortos estava à mãe que para salvar-lhe a vida o escondera no ventre de uma anta morta pelos caçadores ao amanhecer. Certo dia Akauâ decidira vingar a morte de sua genitora, armou-se e convocou os bravos guerreiros para a batalha, cercaram a aldeia e assim que a noite caiu investiram, Akauã ordenara que não poupassem se quer os animais, mas ao adentrar em uma maloca deparou-se com uma visão que o deixou desarmado e perplexo; eis que uma linda representante da formosura indígena fita-lhe nos olhos, ficaram por um longo tempo admirando um ao outro, até que Ula quebra o silêncio dizendo-lhe – Minha vida está em tuas mãos. Vencido pela beleza que lhe deixara deslumbrado o bravo guerreiro tomou a mulher pelas mãos e a levou para o seu povo recomendando a sua avó que a cuida-se, pois tinha a intenção de lhe tomar como esposa. Passado algum tempo chegara o dia do casamento e todos aguardavam com ansiedade, pois Ula com sua beleza e simpatia a todos conquistara, porém, o que Akauã não esperava e que o destino mais uma vez iria de modo trágico e cruel lhe aprontar de novo; no dia da cerimônia matrimoniosa banhava-se Ula na beira do rio quando de súbito surge das profundezas das águas uma enorme serpente e num bote certeiro tragou a bela jovem levando-a sem que ninguém nada pudesse fazer, sumindo tão rápido quanto surgira. Houve grande lamento por três dias e três noites, sentado sobre uma pedra a margem do rio Akauã desolado tocava um instrumento feito de bambu e d’ele retirava notas tão sentidas que até os animais da floresta parecendo entender sua dor ficavam em absoluto silêncio, inesperadamente um trovão estremeceu o lugar e o brilho de um raio a todos encandeou e quando passou nada mais viram senão um lindo pássaro sentado sobre a pedra e ao seu lado o instrumento de Akauã, quando este começou a cantar perceberam que o som era o mesmo que o desafortunado Akauã tirava do bambu, compreenderam que se tratara do seu chefe. E sempre que ouvem o pássaro no seio da selva cantar ajoelham-se e reverenciam o bravo, porém infeliz Akauã.