memorias de minha primeira noite

Era uma noite fria, eu que já não achava motivos pra viver brincava com a sorte, saindo a noite sem rumo por ruas escuras, expostas, como se buscasse a morte, no fundo eu já sabia que ele andava me seguindo, mas eu achava que era apenas fruto de minhas fantasias.

Eu já não acreditava no amor, mas confesso que por muitas vezes sonhei com ele, ele sempre estava aonde eu ia, como se pudesse ler minha mente, eu posteriormente vim descobrir que de fato ele o fazia, ele me atraia, ele me envolvia, embora nunca tivéssemos trocado uma só palavra, ele só me olhava, às vezes fixamente, às vezes de relance.

Aquela noite a neblina estava mais densa que de costume, acho que era tão sombria que nem os ladrões se arriscavam a sair de suas casas, a lua brilhava quase irônica, e eu caminhava sem rumo.

Parei em frente a um parque e resolvi entrar, naquela noite eu queria morrer, mas era covarde demais pra fazer por mim mesma, sentei num banco e fiquei olhando a lua.Pela primeira vez ele se aproximou, ele sempre ficava a distancia, eu não o olhei e ele pediu se podia tomar acento ao meu lado, ai eu olhei.

Ele estava no seu estilo de sempre, estilo esse que me deixava louca, seu olhar de quem despreza o mundo, todo de preto, sobretudo da mesma cor, solto no corpo, cabelos longos e negros como aquela noite, caia no seu rosto branco como a neve com um ar despojado que me fascinava.

Olhei maravilhada aquela criatura tão bela, e por uns centésimos de segundos me imaginei beijado aqueles lábios rosados que pareciam talhados à mão por um hábil escultor...

Voltei a mim antes que ele pudesse perceber o quanto me perturbava, mas ele sabia, me olhou profundamente e perguntou o que eu fazia toa sozinha numa noite como aquela...Quase irônica disse que buscava algo que não sabia exatamente o que era.

Talvez inconscientemente o buscasse, eu sabia bem quem e o que era ele, sempre solitário, em geral era dito nas mas línguas que era um vampiro, não que isso fosse tão absurdo, mas eles ainda eram mal vistos entre nos.Mas eu sempre quis o que me intrigava, sempre gostei do que era diferente, do proibido, em casa isso foi motivo de inúmeras brigas mas era de mim, um chamado quase instintivo.

Ele parecia se divertir com tida minha confusão.

_Ainda não sei seu nome.Disse ele num tom leve e agradável quase um sussurro ao meu ouvido.Eu estremeci.

-Agnes, respondi quase num gemido, me dei uns segundos antes de perguntar o dele, segundos esses que pareciam uma eternidade.

-Julian, ele me disse, com uma calma assustadora.

Ele me fitava com profundidade, isso me deixava hipnotizada e atemorizada, mas não conseguia dar um passo se quer.Ele se aproximou vagarosamente tocou meus lábios com os dedos, desenhado os, eu assistia a tudo atônita, ainda que quisesse não poderia resistir, agora não podia mentir pra mim, mesmo sem o conhecer sabia que o amava...

Anjo da noite, seja minha, (nesse momento suas presas se mostraram) sei que ela não a assusta, sei que sabes quem sou e que me percebes, sabes que a sigo a semanas, e vc sempre me olhou com interesses, hoje chamei seu amor e vc veio.(ele acariciava meu rosto e meus cabelos, meu coração acelerado parecia que iria explodir no meu peito, ele me olhou fixamente com uma ternura que me acalmou, então ele sorriu).

O que queres de mim?Perguntei

Apenas que e ames...Tenho vagado solitário nos últimos 200 anos achando a morte tediosa, no inicio tudo era diferente, me divertia as custas de minha nova forma, mas depois ficou tudo superficial, fútil, ate agora que te descobri, há muito tempo não me sinto tão próximo de ser humano.Eu vaguei vendo o mundo, vi tudo que tinha pra ver, tudo parecia sem graça.

-Mas pq eu? (As presas já não apareciam)

E ele respondeu –Pq em uma noite chuvosa qualquer, quando eu buscava qualquer prazer nas ruas, eu vi um anjo apressado que quase corria, encharcada pela chuva abraçava a bolsa em uma tentativa inerte de não deixar molhar os livros, a principio isso me divertiu, eu andava na chuva livremente, sem me preocupar, e vc fugia como de ela ferisse sua pele, te acompanhei ate em casa, e pela janela observei sua luta para que nada fosse perdido.Achei divertido e resolvi acompanhar um dia na sua vida saber o q eu de tão importante vc guardava.

A principio achei tediante e quase desisti de te acompanhar mas uma noite, a que jurei ser a ultima eu a vi chorando, não tinha pq, tudo tinha corrido normalmente, vc escrevia em um papel e chorava, vc adormeceu assim, aproveitei a janela aberta e furtei cuidadosamente o caderno, li tudo, o que sentia, o que sonhava, seus medos e aflições, o quanto vc se parecia comigo.Antes de o dia amanhecer eu já tinha devorado aquela espécie de diário e o coloquei no chão para que pensasse que nada daquilo houvesse acontecido.Vc nem percebeu o que aconteceu.Eu passei a te seguir com maior freqüência, provocar situações queria que me visse, queria que me desejasse e quando consegui tomei minha iniciativa, cá estou.

Eu sei tudo de vc, passo as noites velando seu sono e invejo o sol que toca sua pele todas as manhãs, não mintas nem pra mim nem pra vc, por que nos dois sabemos o que acontece.

Ele acariciou meu rosto e me beijou, num beijo suave e delicado, que tomou uma intensidade que eu jamais houvera sonhado encontrar.Ele delicadamente desceu ate meu pescoço e num pedido desesperado repetiu o pedido-posso te fazer minha por toda a eternidade?Eu apenas assenti com a cabeça e ele num misto de prazer, dor, temor e alegria, e lentamente suas presas perfuraram minha pele, ele abafou meu grito com a mão sabia que isso aconteceria, queria poder evitar mas como não poderia...Ele sugou meu sangue ate sentir que eu já desfalecia e que meu coração começava a parar.Imediatamente ele rasgou o pulso dando me de beber, implorando para que sua sede não fosse demasiadamente grande que a pudesse perder a quem amava.

Eu desmaiei o resto da noite e ele me levou pra casa, ficou ao meu lado, sabia que acordaria confusa, e provavelmente acharia que tudo não passou de um sonho, como havia acontecido com ele a muitos e muitos anos atrás. Na manha seguinte acordei com o corpo dolorido, ele deitado ao meu lado encolhido, despertou ao menor movimento que fiz...Esperando pra começar uma nova vida.

addy braga
Enviado por addy braga em 26/02/2008
Código do texto: T876577
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