Izabelí & Maria ( parte 1 de 3 )

A princípio, bem lá no começo, quando por respeito e crença, ainda rezava-se o terço; velhas beatas lustravam o andor do santo casamenteiro. Entre elas apenas uma e sorte ingrata, envelhecia virgem; nunca fora casada. Não que fosse feia, era até muito bonita; infelizmente, morriam cedo ou desapareciam, aqueles pobres pretendentes da distinta.

Má sorte ela tinha, perecia a coitada, entre lamúrias e muitas velas – Como sofria!

Logo cedo, na festa no nobre santo, vestia-se de branco, corria a igreja e com outras; entregava-se às rezas. Trinta e cinco anos; tinha a bela. Pura na alma e no corpo, pela castidade forçada, tão pura que nem sua boca ainda receberá outra a beija-la. Tinha olhos azuis e pele alva, cabelos negros, bem encaracolados, seios fartos, quadril arredondado, silhueta tão perfeita que até mesmo o velho padre; por vezes a cobiçava, mas claro; penitenciava-se depois por este pecado. Esta era Izabelí, sonhadora, recatada, educada, professora. Morava com uma tia viúva, num casebre da pequena cidade. A tia sim, essa era bem esquisita, tinha olhos mortos, o rosto carrancudo, preenchido por um grande nariz avermelhado, vestia-se de preto a mais ou menos vinte anos, desde de que o marido, ex-prefeito; falecerá. Não era dada a fazer amigos, por isso exigia da sobrinha a máxima dedicação e respeito. Tinha posses das quais mensalmente, sobrevia-se. Dona Cota, como era conhecida, era brava.

Izabelí era linda e a todos encantava, porém, triste sina, para as coisas do coração, a sorte realmente a desprezará. Certo dia, para seu desgosto, o último jovem que jurava a todos quebrar o encanto, quando a mesma desposasse...Pobre coitado, morre baleado. Logo se descobre, envolvido que era na política, não deu outra, sucumbiu numa emboscada.

Triste, Izabelí a solitária, agora quase lenda, tendo em vista era o terceiro, que ainda noiva...Enviuvará. E o que dizer dos demais, que por medo ou sabendo da estória da moça, da cidade se mandavam. Dona Cota, vendo triste a amarga sobrinha, socorre-se a um parente, também viúvo de uma prima, que pelas bandas do interior com sua jovem filha morava. Fizeram-se os preparos de um lado e d’outro e com poucos dias, no portão do casebre, desembarcava Maria, muito jovem ainda, pelas vestes e aparência que a todos confundia, seria mesmo uma Maria?

Isso porque aos olhos dos outros, era Maria bastante estranha, cabelos curtos, calças longas e o corpo avantajado, comparado ao de qualquer mocinha daquela época. Era fato que crescerá na fazenda, sob os cuidados únicos e exclusivos do pai, a mãe falecerá durante o parto da mesma. Assim cresceu Maria, roupas de menino, afazeres de igual valia; ganhou força e músculo, enquanto sua feminilidade desaparecia.

Sandro Colibri
Enviado por Sandro Colibri em 05/03/2008
Reeditado em 25/05/2012
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