ALINA

Alina caminha na pequena rua de paralelepípedos próxima a sua casa, com um vestido longo, pés descalços e seu pequeno ursinho tufo na mão. Saltitante, cantarolando uma cantiga, seguia em direção a pequena loja de conveniências da sua mãe e ao chegar se depara com a porta de vidro fechada e um aviso: “Fechado por motivo de falecimento”, Alina ficou sem entender porque não lembrava quem havia morrido na família, resolve ir até a sua casa.

Novamente saltitando pelas ruelas do seu bairro e chegando a sua casa não consegue entrar, portas e janelas fechadas, da à volta pela rua de cima, em vão, tudo trancado...

Caminha, caminha, ainda saltitante pelos becos e ruas estreitas, as lojas fechadas, tudo deserto, ninguém nas ruas ou calçadas, somente Alina, como se fosse a única pessoa no bairro, já escurecia, começa um vento brando, Alina se pos a chorar, como fazer se não consegue entrar em casa? Como não chorar se não encontra sua mãe? Quanto mais Alina chorava, mais aquele bairro ficava nebuloso, o céu fechava...

Já é noite, Alina perambula pelas ruas sem saber o que fazer, com fome e sede, com apenas treze anos começa a sentir o medo de estar só, sente falta de sua irmã Lita de sete anos, de sua mãe, seu pai, dos vizinhos e amigos, da escola...

Mais uma volta pelo quarteirão até chegar na casa de Dona Nana, uma velha asquerosa que sabe de tudo um pouco que acontece na vizinhança, bate em sua porta e grita pelo seu nome em vão.

Será que todos estão de luto por causa da morte que houve? Alina se perguntava, sentou na beira da calçada e se pos novamente a chorar e a pensar nas pessoas, nas coisas boas e ruins que já fez em sua vida, pouca vida...Aceitando seu estado, Pegou no sono.

Pela manhã se assusta com o sol no rosto, com o barulho da buzina de um carro e a sua frente o vai e vem de pessoas, as lojas abertas, o movimento comum no bairro, crianças indo a escola, sua irmã com a bicicleta nova na calçada brincando, Dona Nana na janela conferindo as últimas novidades, Sr Élson vendendo os primeiros pães, seu pai sendo levado algemado para o Distrito Policial, só não conseguia ver sua mãe...

Sai correndo, ninguém notava a sua presença mesmo, saiu como uma louca, com o seu tufo na mão, com os pés sujos por estar descalça, correu por entre tudo aquilo que acontecia na sua frente...

Ao chegar no bosque da saudade, cemitério da cidade, a vista ao longe sua mãe sentada na grama chorando... Foi se aproximando e mesmo pisando nos galhos secos das árvores caídos no chão, fazendo ruídos e estalos, sua mãe não notou sua presença e somente chorava e gritava: - Ele não podia ter feito isso!

Alina pode ler na lapide que sua mãe acariciava no momento...

“Minha filha querida Alina”.