O Sorriso

O Sorriso

Era mais um dia comum no Inferno: almas moribundas tramitando, carregando seus corpos lazarentos, podres e cheios de ódio para dar. Assassinos, psicopatas, loucos, insanos. No caso de Lázaro, todas essas atribuições fundiam-se para formar aquele sorriso desgraçado que trazia consigo. Mesmo condenado ao tormento eterno no Aqueronte, tinha uma cara debochada de quem estava achando bom e o maldito sorriso; tão maldito que beirava o sinistro, que ia de um lado ao outro do rosto, com dentes amarelados e o canino direito quebrado pela metade.

Quando chegou à beira do fétido rio, logo fora recebido por aquele que era o dono daquelas bandas: um asqueroso demônio chamado Inferius. Este era conhecido por “Vossa Santidade”; usava adereços ridículos, era imensamente gordo, tinha um repugnante e amarelo corpo vermiforme com ralos pêlos pretos que lembravam o de um porco. Sádico e guloso, Inferius fazia de tudo para que cada nervo ou parte do corpo daqueles desgraçados fosse submetido à dor máxima, para que, nem todo o sofrimento e tormenta do castigo eterno, pudessem ser suficiente para que eles pudessem ser perdoados. Além disso, adorava judiar dos lazarentos; quando “Vossa Santidade” começava uma tortura e ia até o fim, até mesmo Hades, senhor dos infernos, achava demais. Torturas físicas com alto grau de dor, psicológicas (que levava os condenados a insensatez e insanidade a níveis altíssimos), esquartejamento de membros, retirada de órgãos viscerais (os quais comia diante do torturado), arrancava a pele, olhos, língua, enfim. Quando as vítimas não mais podiam ser torturadas (já que sempre extrapolava o limite físico e mental de qualquer um), eram obrigadas a beijar-lhe a mão e adorá-lo por toda eternidade.

- Seu nome, por favor – pergunta o demônio à Lázaro.

- Já sabe quem sou, porque pergunta? - responde o condenado.

Depois disso, ouve-se um barulho alto; Inférius fulminou-lhe a cara com um tapa usando a parte oposta à palma fazendo com que os anéis dourados, que enfeitam aquela mão nojenta, rasgassem o rosto de Lázaro. Este vira o rosto, olha para o rosto risonho e maledicente de Inferius e cospe-lhe na cara; uma saliva misturada com uma substância gosmenta e pútrida de cor amarela, agora, escorria pelo rosto assustador do demônio. Sem pensar em nada, “Vossa Santidade” levantou-se do trono, que era feito de caveiras, e disse ao lazarento: “Tenho algo que vai acalmar essa sua falta de respeito; sabe, pobre Lázaro, você parece desconhecer minha pessoa. Acho que ninguém mencionara a você que sou um dos 7 demônios supremos do inferno, e que nessa parte do Aqueronte, mando eu. Somente o poderoso Hades pode me destituir do cargo e impedir e retirar meus atos e atribuições. Além do que...”

-Cale essa boca, sua coisa gorda! – interrompe. Pare de bancar o poderoso e fale logo o que você quer, porque preciso muito sair desse fila; não gosto de nada que seja demorado, se é que o senhor me entende – disse a pobre alma ao demônio. Inferius, desparou a rir e pronunciou uma frase comumente ouvida por aquelas bandas:

- Vamos jogar!

Quando o demônio disse isso, um rebuliço e correria tomaram conta do ambiente e Inférius ordenou que Lázaro fosse colocado em um de seus aposentos, os quais possuem ferramentas, instrumentos, livros de métodos (entre outros) para um único e exclusivo propósito: torturar.

Imediatamente, Lázaro começara a ser açoitado por duas criaturas indefiníveis que usavam uma espécie de camisolão preto e munido de chicotes, cujas pontas tinham pregos; pregos esses que estavam enferrujados e sujos de sangue. A ferrugem era para transmitir tétano e o sangue sujo, para que todas as doenças transmitidas por tal, pudessem ser de bem comum. Em seguida, Lázaro, todo ferido, fora arremessado dentro de uma sala. Nela havia um outro trono feito de caveiras, muito mais imponente e maior; a lava corria no chão como um riacho, o teto de fumaça e muitos, milhares, de corpos agonizando no chão. Para dizer a verdade, não eram corpos e sim seus pedaços; milhares de pedaços jogados ao acaso pela sala; um banquete para os vermes que se alimentavam daquela carne pútrida e repugnante. O cheiro de carne morta misturada com morte deixava o ar denso; os gritos de desespero e ânsia da morte davam a trilha sonora e por fim, os apetrechos ensangüentados e muitos deles, com restos de corpo, davam o toque de fúnebre e medonho dignos daquele lugar.

- O que vai fazer comigo? Disse Lázaro que pela primeira vez, não sorria.

- Vou fazer você sentir muita dor, disse o demônio com uma voz calma.

Inferius pegou o moribundo pelo pescoço e o jogo numa mesa. Esta tinha quatro presilhas, duas para as mãos e duas para os pés. Ao lado, havia uma espécie de manivela que abria, lentamente, a mesa. Depois de preso à mesa, Lázaro indaga:

- O que vai fazer? Me matar? Olha, não me leva a mal, mas EU JÁ MORRI, VERME! – o sorriso volta e acompanhado de gargalhadas. A manivela começa a girar e depois de algum tempo ouve-se o ombro esquerdo sair do lugar; depois o outro ombro e as duas virilhas por fim. A dor era grande, mas aumentaria depois que seus membros quebrassem; e assim seguiu. E sorriso na cara. Inferius resolve mudar o estilo, pois acha que tudo aquilo era pouco. Todo quebrado senta, com braços e dedos abertos, numa cadeira de metal. Suas mãos ficavam suspensas por grilhões e por entre os dedos, entravam agulhas enormes; dessa agulha saiam, depois, várias outras menores, espetando Lázaro de dentro para fora lhe causando algo indescritivelmente dolorido. E sorriso na cara. Infernus inquietou-se:

- Porque ri? Pensou.

A tortura continuou. Agora, fora jogado aos cães famintos que disputavam sua carne repugnante, como piratas lutando para ter o baú do tesouro. E sorriso na cara. Seu corpo estraçalhado e trucidado já não mais agradava “Vossa Santidade”.

- Beije minha mão, disse Inferius, e poderá sair.

Com o sorriso na cara e todos os dentes a mostra, Lázaro escarrou em sua mão, estendeu o seu dedo do meio, e com aquele maldito sorriso gargalhou. Num lapso de ódio e rancor, o Demônio pegou uma navalha que aparentava cega e cortou os lábios do lazarento, dizendo que nunca mais iria sorrir de novo. Não adiantou! Decidiu então esquartejá-lo e assim o fez; jogou seus pedaços no Aqueronte e gritou:

- Nunca mais vou ver esse sorriso miserável outra vez! Nem eu, nem ninguém!

E caiu em gargalhadas.

Passado o ocorrido, Inferius enlouqueceu em poucos dias. Saiu correndo para a sala de tortura, pegou diversos objetos cortantes e flagelou-se, arrancando vísceras, parte da pele de seu rosto, arrancou um dos olhos e mutilou-se. Todos que ali perto estavam correram para saber o que tinha acontecido com “Vossa Santidade”, mas tudo que conseguiram ver foi um maldito sorriso na cara

PS: Esse texto foi um trabalho acadêmico que fiz no semestre retrasado e que me rendeu nota 10. O trabalho consistia no seguinte: cada membro de um grupo, formado por 3 alunos, deveria criar um personagem (real ou não); a partir daí, cada membro do grupo deveria descrever o lugar o qual o personagem do amigo melhor se encaixaria e finalmente, os textos voltavam para os donos e uma história deveria ser criada.

sky
Enviado por sky em 28/03/2008
Código do texto: T920999