As aparências enganam

Jaime não olha mais para mim, ele não me olha mais, lamenta Tereza.

Sinto-me sufocada por conta dessa falta de atenção dele.

Meu amor não tem sido suficiente para manter nosso relacionamento conjugal. Não quero mais viver assim.

Preciso criar coragem e dizer a ele o que sinto.

Ester, a terapeuta, a ouve, e entende a angústia de sua paciente.

Num repente emocional pensa em gritar sua dor por não se sentir inteira em seu próprio casamento.

Não responde nada. Tenta não penetrar no mundo de Tereza, mas é inevitável. Sente-se oprimida, sem chão, sem forças quando pensa em resolver assuntos pendentes com seu parceiro, seu companheiro, que não é mais seu amante.

Ele também não a procura mais sexualmente. Isso a machuca muito.

Ela sabe que não pode desabar na frente da paciente.

Sabe que não pode misturar seus sentimentos com os de Tereza.

Tenta pensar em outro assunto para poder responder o desabafo dela, mas seu peito em labaredas queima, arde, implora por cuidado.

Ester sente as rachaduras de seu coração implorar por abrigo, por atenção, por cuidado.

Mas não há tempo para cuidar de si mesma, ela precisa retornar ao mundo real e dizer algo a paciente.

Sem poder expressar seus sentimentos, seus sentidos, seu medo, sua tristeza, suas próprias incertezas diante de tudo que acabara de ouvir, paralisa.

A dor consome seu íntimo... Há falta de amor para todos os lados no ambiente. A sala se torna fria, os olhares aflitos não se aquecem, não se esquentam, não conseguem se salvar da dor...

As palavras não chegam para serem pronunciadas.

Sem forma de aquecer o coração de Tereza, Ester diz que o tempo acabou e que elas retomarão o assunto na próxima sessão.

Sem respostas para seus próprios conflitos Ester chora compulsivamente depois que a paciente vai embora... Ela se tortura, se sufoca, se culpa... E sem respostas para si mesma e em busca de um mundo novo. Através dos sonhos... Adormece.