O OLHAR

Nossa história começa numa praça, numa manhã linda de outono. Um fotógrafo, envolvido com uma campanha para produção de uma capa de revista, estava nessa praça tirando algumas fotos, quando, uma moça passa no momento exato que o clic de sua máquina dispara...
Foram poucos segundos, de uma imagem tão perfeita que o fotógrafo não conseguiu apagar de sua memória. E, mais tarde, ao revelar as fotos da campanha, se depara com a foto daquela moça, que de alguma forma tinha-o encantado...

Passado um tempo, o fotógrafo vai a um salão cuidar dos cabelos, e quem trabalha nesse salão? Acertou quem pensou na moça da praça...A mesma moça da praça, por sua vez, ela ao perceber quem era ele, pede para a colega deixá-la cuidar daquele cliente em especial! Que deliciosa sensação está ali tão próxima dele, pertinho, sentindo-o, um sonhar de olhos abertos, mas, sem querer, deixa cair xampu nos olhos dele, imediatamente é advertida, mas, logo tudo passa, ele a desculpa, claro, foi sem querer...
Mais tarde, em seu ateliê trabalhando, uma surpresa! Ela chega com seu gorro, ele havia esquecido no salão. Claro! Ele imediatamente lembra!!!! Era a moça do xampu... E em retribuição pela gentileza, o fotografo a convida para tirar algumas fotos, ele diz: - não se preocupe não vou te cobrar nada por elas, muito tímida a principio ela titubeia um pouco, mas, logo cede, e então, começa a sessão de fotos, com o enquadramento perfeito, um rosto perfeito. - Puxa! Essas fotos ficarão boas, diz o fotógrafo.

Nos dias que se seguiram, eles continuaram a se encontrar, muita diversão, passeio de moto, na verdade algo estava acontecendo, tomando um rumo que ambos estavam gostando muito...
Logo mais a noite, em casa, o fotografo atende um telefonema e não se dá conta que colocou na berrada da prateleira de qualquer jeito, um produto químico mal tampado, isso passa despercebido.
Nessa mesma noite chuvosa, após o expediente, a cabeleireira voltando para casa, se dá conta que seu relacionamento atual não faz mais sentido, pois seu coração já pertencia ao outra pessoa. Enquanto isso, o fotografo envolvido com as lindas fotos que vinha fazendo com sua amada, aproveita e a convida para ir até seu ateliê para mais algumas fotos...

Já no ateliê, bem a vontade, mexendo nas fotos, sem querer, derruba suco sob a mesa e além de molhar as fotos que estava vendo, molha também sua blusa, tudo bem, logo encontra uma blusa do amado pra trocar pela sua molhada, cabiam quase duas dela dentro daquela blusa. E mais algumas fotos, muito carinho por parte dele ao arrumar os cabelos da amada para mais aquele close perfeito. Um momento apenas para os dois, nada de amigos por perto, quando o fotógrafo percebe que acabou o filme, ela rapidamente vai à procura de outro filme para não perderem o clima, mas, sua mão encontra a tal garrafa mal tampada ao invés do filme. Eis que acontece um terrível acidente. Sua amada machuca seriamente os olhos com o produto químico. Saem correndo para um hospital e uma triste notícia, só uma cirurgia nos olhos a fará ver novamente, precisará de novas córneas, caso contrário, ficará cega pra sempre...

O fotógrafo sente uma culpa imensa invadir seu ser, uma raiva incontrolada por ter contribuído para que tudo aquilo acontecesse. Precisava espairecer!!!! Então, o faz com a segunda coisa que mais gosta de fazer, dirigir motos em alta velocidade, foi o bastante para refletir sobre o que deveria fazer..
Agora estava decidido...

Algum tempo depois, a cirurgia chega ao fim, e que bom!!!
Tudo aconteceu como esperado, felizmente para felicidade dos amigos, ela voltou a enxergar, pôde novamente ver o mundo...
Que dia de sorte, alguém doou um par de olhos pra ela!
Todos seus amigos estavam ali, menos seu amado...
Mas, onde estaria ele?
Por que ele não apareceu?
Por que foi embora?

Tantas perguntas, nenhuma resposta, apenas meia foto colada na parede do ateliê... E a sensação que não era mais querida, achando que o amado tivesse algum tipo de preconceito pois, ela poderia ficar cega pra sempre... Imagina! Ele namorando uma cega...
Fazer o que!!! Sofreria um pouco, comeria muitos sorvetes em frente à TV, mas, precisava aprender viver sem ele... Era uma realidade...
Ela volta a trabalhar, e então, chega uma surpresa, seria ele? Não, apenas um amigo com a revista da campanha com a foto dela na capa. Antes de ir embora, seu amado, tinha preparado tudo, ela agora estava na capa de uma importante revista.

Novamente vem a saudade do amado em seus pensamentos...
Uma coisa boa aprendeu com seu amado, espairecer nas pistas de alta velocidade, e então foi até lá caminhar naquela fria manhã de outono...
De longe avista um rapaz acompanhado por um cão labrador. Sente uma vontade irresistível de se aproximar e logo pressente algo... Seria mesmo seu amado que havia sumido? Não sabe o que dizer.
Quando uma brisa suave leva até suas mãos, uma foto, qual a surpresa, era sua foto!!!
Alguns fleches rápidos agora e um triste silêncio preenche o momento, seu amado era o tal doador anônimo. Uma sensação de grande angustia, toma conta dela agora, as lagrimas são inevitáveis. Porém, ele não a reconhece, agora era um deficiente visual... Tudo fazia sentido, o desaparecimento sem explicações, o rompimento... Nesse momento, o fotografo afasta-se com a foto entregue por alguém. Ele não faz idéia que seja sua amada!
As palavras não saem, seu amor está partindo, falar o que nesse momento? Ela não consegue falar. Será que lhe resta viver sem seu amado e cuidar bem daqueles olhos, que um dia foram dele? Quantas dúvidas! Mas, por que esse amor dói tanto? Esse amor ainda lhe pertence?

Bem, depois dessa linda história de amor, convido a todos a olharem para dentro de si e procurarem uma resposta, o porque de valorizárrmos tanto esse sentido tão precioso, nossa visão, nessa historia mudou drasticamente a vida de duas pessoas. Se tivessem conversado o final teria sido diferente? Que tal você mudar eese final? Sinta-se a vontade, afinal, na ficção ou vida real temos esse poder.

DF, 23/04/2007

Adaptação de um clip (KISS/Youtube), para o VIII Seminário de Gestores da Faculdade Brasília, último semestre do curso de Pedagogia, cujo tema - DEFICIÊNCIA VISUAL