DAQUI UM TEMPO...

Manhã clara, de céu azul e nenhuma nuvem. João acordou e foi correndo ver como estava o tempo. A meteorologia havia garantido tempo bom, mas sempre é bom conferir. Seu pai comprara os ingressos quando do lançamento. Assim que anunciaram a transmissão. Todas as capitais do mundo veriam o espetáculo simultaneamente e algumas cidades médias tinham feito um esforço para não ficar atrás. Já faziam três anos da estréia com sucesso e de lá para cá a tecnologia foi desenvolvida e melhorou um bocado. Os projetores melhoraram e não havia mais aquelas incômodas sombras nem os fantasmas ou atrasos das primeiras transmissões. Já se podia ver o espetáculo, inclusive, à luz do dia, mas à noite era perfeito. Quase ao vivo, ou melhor, ao vivo era, mas como se fosse o original.

Duas horas antes do início, o público já se aglomerava em redor do estádio do Brinco da Princesa em Campinas. Todos com o uniforme da seleção, cortesia do Banco que tinha financiado a instalação dos equipamentos. Afinal, para um espetáculo desta envergadura, nem se poderia estar vestido de outra maneira. Não é todo dia que tem final da copa do mundo em Campinas.

Tinha no Morumbi, no Maracanã, No Couto Pereira, no Mineirão, no Castelão, em todas as capitais enfim. Mas em Campinas.... nunca antes. João nem almoçou direito, só falava no jogo. Todas as rádios, os canais de tv, jornalistas e comentaristas, todos excitados, imagina o João.

O jogo de verdade estava marcado para o Superdome da Fifa da Suíça e as transmissões holográficas, ao vivo, simultâneas, estavam marcadas para todas as grandes cidades do mundo. O maior espetáculo da terra.

O equipamento, inventado poucos anos antes, relegou a televisão para um plano secundário e só quem não conseguiu ingresso é que ficava nos telões ou nas salas das casas. Ainda uma grande multidão.

Para quem sentava na arquibancada era igual jogo de verdade. Tudo tridimensional e com movimentos perfeitos. As imagens se movimentavam em campo, trombavam, caiam, gesticulavam, como se reais fossem. É verdade que, de vez em quando a bola sumia, ou ao goleiro faltava um braço, mas estes chuviscos eram normais. O duro era quando a imagem travava ou o juiz sumia por alguns minutos. Mas estas coisas faziam parte do trabalho dos pioneiros, das novidades. Os mais antigos lembravam da TV em preto e branco e os pequeninos sequer acreditavam que isto um dia existiu. O João mesmo chegou a duvidar do avô dele, quando este lhe contou da sua infância que só conheceu internet discada. João ria muito com as histórias do avô, que certa vez lhe afirmou que tivera um vizinho que sequer internet tinha. Essa era demais. Impossível, vovô... conta outra. Seu menino! Olhe que seu bisavô sequer televisão teve, nem asfalto na rua ou telefone em casa... Telefone em casa? O que é isso? Ora menino, um telefone que ficava na sala da casa. E que mais? Mais nada... Como assim? Ficava na sala da casa... e fazia o quê? Ligações ora... fazia e recebia... quando não chovia é claro. Impossível vovô!

Ocirema Solrac
Enviado por Ocirema Solrac em 29/11/2008
Reeditado em 17/01/2010
Código do texto: T1308969
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