No dia em que a Terra entrou no cio...

Microconto infantil-juvenil-senil de

Romeu Prisco

Foi um deus-nos-acuda ! Com exceção de Vênus, todos os demais planetas do sistema solar aproximaram-se perigosamente do nosso mundo. Até o pequeno Plutão, relegado a segundo plano, saiu da toca. A Lua, apavorada, evadiu-se. Uma vez estabelecida, entre os planetas, a competição pela conquista do amor da Terra, logo destacaram-se os dois maiores e mais fortes, Júpiter e Saturno. Após alguns entreveros, o privilégio coube a Saturno. Valendo-se dos seus anéis, Saturno enlaçou carinhosamente a Terra, porém, de tal modo, que a tornou inacessível aos adversários.

Enquanto a Lua não retornasse, para início da contagem do tempo de concepção, Terra e Saturno permaneceram naquela posição. Com o retorno da Lua e o término do longo encontro amoroso, todos os planetas voltaram para os seus lugares de origem, inclusive Saturno. Decorridas várias luas, aconteceu o nascimento de um lindo planetinha, muito parecido com a mãe, provido de densa vegetação, água e oxigênio, que foi batizado de Saterrino.

Passado o susto inicial, o povo da Terra acompanhou encantado a evolução desse fenômeno, ouvindo atento as curiosas, complicadas e nem sempre inteligíveis explicações dos astrônomos e geólogos. Como tudo isso teria sido possível, sem que ocorresse um pânico generalizado, de alcance mundial ? A busca por esta resposta acabou se tornando irrelevante, quando várias nações passaram a fazer projetos de ocupação e colonização de Saterrino. Obviamente, os EUA saíram na frente. Ali pretendiam construir uma civilização com predomínio do seu idioma, da sua cultura e dos seus costumes. Além disto, pretendiam montar em Saterrino uma poderosa e estratégica base militar, para defenderem-se e atacarem outros países do mundo, tidos como hostis.

Diante dessas pretensões, a ONU transformou-se numa verdadeira Torre de Babel, com outros países e seus respectivos aliados apresentando projetos semelhantes e opostos aos dos EUA, inclusive com sérias ameaças de recorrerem à pirataria, na base de quem chegasse primeiro seria o legítimo dono do tesouro.

Todavia, antes que tais projetos, ou as ações de pirataria, se consumassem, Saturno, que a tudo observava à distância, revoltado, veio em socorro do filho, seqüestrou-o e o levou para o seu âmbito no sistema solar, equipando-o com alguns anéis para autodefesa. Hoje, também na companhia de Vênus, que se converteu em sua mãe adotiva, Saterrino vive tranqüilo e feliz, a salvo de cobiças, disputas e rivalidades, já de olho numa formosa estrelinha de outra galáxia.

--------------------------------------------------------------------Texto publicado no "Blog Líterolegal": http://romeu.prisco.zip.net

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