Abra os Olhos

Inventa, e morrerás persegido como um criminoso; copias, e viverás felizcomo um idiota" (Balzac).

Em um futuro não muito distante...

Uma loira vestindo uma camisola hospitalar corria por um corredor banco, sua face demonstra o mais profundo terror, este aumente com som de seu perseguidor - pegadas duras conta o chão ecoam por todo o corredor. A loira percebe que o corredor chegava ao fim, a única saída era uma entrada a esquerda, uma curva difícil para quem corria sobre um piso escorregadio o grunhido típico de rodas de metal, produzido por seu perseguidor torna-se mais forte ela vira a esquerda derrapando no chão alguém aproxima-se dela em alta velocidade debruçando-se sobre a mulher retalhando seu corpo. Na parede branca estava o pintado o logo-tipo do centro de modelagem comportamental.

Longe dali, no tribunal da cidade encontramos nosso protagonista, um promotor público que caminhava em círculos obsessivamente simétricos a frente do réu, um jovem pintor de classe baixa, este olhava para o promotor esperando sua próxima fala, o pintor não é desapontado.

- Senhoras e senhores do júri, estamos aqui hoje para julgar um crime grave de desordem popular e incitação a anarquia. Poderia dizer que trata-se de uma blasfémia, caso não tivéssemos provado a não existência de Deus - ele sorri - o réu aqui presente é acusado de manifestar-se contra a sociedade. Por favor a prova um.

Dois meirinhos entram no tribunal carregando um quadro com a imagem de uma mulher semi-nua com próteses mecânicas.

- Por favor me perdoem por expo-los a a imagem tão repugnante, mas é necessário para o julgamento deste caso. O réu violou dois artigos de nossa constituição - primeiro ele realizou uma pintura sem permissão do ministério da cultura o que por si é um crime grave mas o pior é o conteúdo de sua pintura, uma imagem de nudez. Gostaria de citar a constituição: "É terminantemente proibida a exibição, reprodução ou veiculação de nu, imagens sensuais, eróticas assim como relações intimas de fundo erótico e sexual em locais públicos ou em qualquer mídia". Sendo o réu um artista acho difícil acreditar no desconhecimento da lei. Precisamos dar o exemplo uma vez que uma única fruta podre é suficiente para estragar toda uma cesta.

Ao terminar seu discurso o advogado retorna ao seu devido lugar, os meirinhos cobrem a pintura a fim de evitar ojeriza dos presentes enquanto o juiz examina o impresso do processo, pouco antes de dirigir-se ao réu.

- Que o réu levante-se. O senhor optou por defender a si próprio?

- Sim meritíssimo.

- Prossiga com sua defesa.

- Senhoras e senhores, quero deixar claro que não desconheço a lei citada pela promotoria, apenas discordo dela...

- Protesto. O réu está promovendo o caos.

- Mantido. A próxima vez em que o senhor reconhecer o descumprimento da lei irei indicia-lo, compreende?

- Sim meritíssimo, como justificativa a minha arte, eu não pedi a permissão ao ministério da cultura pois sei que não a conseguiria.

- Protesto, o réu está acusando o ministério da cultura de cometer injustiças.

- Não estou, o ministério não aprovaria minhas ideias.

- Meritíssimo o ministério possui uma gama de temas pré aprovados, basta que o artista apresente um projeto referente a uma destas ideias.

Revoltado com aquela situação o réu descontrola-se:

- Nenhum destes temas me diz nada, a arte não é fabricada, não podemos limita-la a modelos pré-aprovados. A arte é uma parte minha, é minha fuga, minha deusa. A arte é a expressão máxima do que é ser humano é o sofrimento, a dor, a miséria que não pode ser reprimida. Se eu não pintar não conseguirei viver.

Com os olhos embargados em lágrimas o réu senta-se, o juiz, assim como os jurados realizam anotações, o público presente estava atordoado.

- A acusação deseja dizer algo a mais?

- Não meritíssimo.

- Primeiro jurado pode retirar-se para julgar o caso.

os jurados saem de sua bancada em fila entrando em uma pequena sala para deliberarem. Enquanto isto o advogado despreza a presença do réu voltando sua atenção para a secretária particular do juiz, esta lhe retribui o olhar com um sorriso. alguns minutos depois os jurados retornam aos seus lugares.

- O senhores chegaram a uma conclusão?

- O réu confessou seus crimes e francamente sua justificativa não faz sentido. Nós o julgamos culpado.

- Então culpado será, eu o condeno a remodelagem de seu comportamento no Centro de Modelagem Comportamental até que os doutores o julguem apto para retornar a sociedade. Esta... coisa que você pintou será queimada com o resto de seu atelier.

Minutos depois do juiz bater o martelo decretando seu sentença nosso protagonista caminhava pelos corredores do fórum, onde encontra-se com seu amigo e também advogado.

- Parabéns pela vitória de hoje.

- Na verdade foi fácil.

- Parece desapontado.

- Não me entenda mal, estou satisfeito em ver alguém como ele ser condenado e espero que um dia possa integrar a sociedade, a pesar do tema escolhido ele possui talento no uso das cores e nossas galerias carecem de pintores.

- Mas...

- Mas Quanto decidir me tornar advogado eu queria mais aventuras, e só julgo casos de comportamento desvirtuados.

Sinto informar meu amigo, mas o ultimo homicídio ocorreu há vinte anos, os casos de furto beiram o um por cento, assalto a mão armada 0.5% e já estamos á dois anos sem um caso de sequestro e quase dez sem uma epidemia devido ao condicionamento quanto a saúde e higiene.

Os dois amigos entram no elevador ficando de frente para a porta.

- Estou feliz em poder viver em um mundo destes, mas sinto falta de algo mais emocionante.

- Quer emoção vá ao cinema.

A porta começa a fechar quando nosso protagonista vê a secretária do juiz passar, ele segura a porta do elevador para ir atrás dela.

- Por falar em cinema.

as portas do elevador fecham-se com nosso protagonista do lado de fora, com algumas passadas ele alcança a secretária sorrindo cordialmente a fim de seduzi-la.

- Boa tarde, foi muita sorte encontra-la.

- Boa tarde e parabéns pelo julgamento.

- Obrigado, mas eu apenas cumpri com minha obrigação.

- Fico tranquila que estas pessoas estejam sendo reabilitadas, detestaria cruzar com alguém assim na rua a noite.

- Por falar em noite, você tem planos para hoje a noite?

- Por que a pergunta?

- Eu tenho dois ingressos para o cinema e gostaria de saber se você iria comigo?

Ela sorri.

- E por que eu iria com você?

- Como agradecimento por tornar o mundo um lugar mais seguro para você.

- Pode ser.

Ela retira um dos ingressos da mão do advogado guardando-o em sua bolsa.

- Posso passar na sua casa as...

- Mas eu não aceitei ainda... Eu disse pode ser.

- E o que isto significa?

- Significa pode ser. Vá ao cinema esta noite e guarde um lugar ao seu lado. Quem sabe eu apareço.

Naquela noite o advogado vai ao cinema, a sala de exibição estava relativamente cheia de gente, ele senta-se no mezanino assim teria uma visão ampla da sala de exibição e poderia ver sua convidada quando ela chegasse. Os minutos passam, ele coloca seu paletó sobre a cadeira ao lado evitando que alguém sente-se-se. Mesmo quando as luzes apagam-se ele não perde as esperanças. A tela exibe a mensagem de que o filme foi aprovado pelo ministério da cultura, a luz da tela permite que ele veja sua convidada de relance. A secretária olha para outro lado desaparecendo na multidão. O advogado fica frustrado quando seu paletó é colocado sobre seu colo, ao olhar para o lado descobre que uma adolescente estava sentada ao seu lado.

- Desculpe, mas este lugar está reservado.

- Não estou vendo ninguém aqui.

- Eu disse que o lugar está reservado.

As pessoas em volta pedem silêncio.

- Por favor saia.

- O filme já começou, se ela não veio é por que você levou um fora.

Agora ele ficou irritado. Com muito cuidado para não elevar o tom de sua voz o advogado olha para a garota podendo ver que ela era muito bonita pele branca contrastando com o cabelo castanho escuro - na altura dos ombros, com franja repartida para o lado esquerdo e olhos azuis sua beleza chamava menos atenção que sua roupa uma mistura de colegial lolita com movimento punk. Ela usava saia e camisa do uniforme escolar com os dois primeiros botões abertos - se alguém quisesse poderia espiar seu decote sem muito esforço, botas militares, espartilho preto sobre a camisa, demarcando sua cintura e ressaltando os seios e quadris e uma luva vermelha na mão direita estilo Michael Jackson. A garota o olha com sarcasmo. Ele se recompõem, lembrando de sua raiva.

- Escute aqui, eu não levei um fora.

- Levou sim, mas não se preocupe eu irei consola-lo.

- Onde estão seus pais?

- Pensei que suruba fosse crime.

- Quero falar com eles sobre seus modos.

- Você é policial por acaso?

- Promotor público.

- Que medo.

novamente as pessoas pedem silêncio.

- Que tipo de pais deixam uma menina sair a noite sozinha e vestida assim.

- Você não gosta da minha roupa? Eu escolhi este espartilho por que ele ressalta meus seios.

- Isto é quase ilegal.

- O que foi não, você não acha os meus seios bonitos?

- Você é uma criança, não deveria falar assim.

- Eu tenho 17.

- Então pare de falar obscenidades.

- Verdade que você mão gostou dos meus seios? Quer olha-los de perto?

- Não!!!

Novamente as pessoas pedem para que ele faça silêncio. Ambos decidem concentrar-se no filme, a pesar de terem perdido parte da trama não era difícil compreender o enredo um cidadão modelo, como qualquer outro naquela sala de cinema, encontra uma criança abandonada dentro de um vaso sanitário no banheiro público. O homem então decide retira-la do meio das fezes, ele limpa a criança, lhe dá roupas novos e um pouco de dinheiro para que a criança possa investir em seu futuro. O advogado compreende a mensagem do filme sorrindo enquanto a garota ao seu lado deita-se na poltrona encostando a cabeça no ombro dele, incomodando-o.

- O que você está fazendo?

- Estou entediada, este filme é idiota.

- É um filme aprovado pelo ministério da cultura.

- Eu não entendi, por que o homem fez aquilo com o menino?

- Você é insensível? O homem ensina o garoto a ser um membro produtivo da sociedade.

- Então por que o homem não o ajudou de verdade? Eu acho que ele estava querendo se livrar da responsabilidade.

- É um dever de todo bom cidadão ajudar quem precisa dele, algumas pessoas são vítimas e precisam de ajuda.

- Não, não são ele o ajudou por que odiava o garota.

- Do que você está falando?

- Olhe o bem o homem é um vencedor, mas ele só pode ser um vencedor se existirem perdedores, ele tem que ajudar o garoto não por ética, mas por obrigação. O homem é obrigado a ser bom, gentil e ajudar o próximo. Ele é obrigado a ser feliz, e isto o entristece, a verdadeira vítima é o homem.

- Ridículo.

- Não, não é. se você realmente acreditasse que o que eu falei é uma bobagem você não teria ficado tão incomodado.

- Quem é você?

- Quer desvendar meus mistérios.

Ele simplesmente a ignora voltando sua atenção para o filme, a garota volta a reclinar-se na cadeira. O advogado repousa sua mão no braço da cadeira, percebendo este gesto a garota aproxima sua perna da mão dele roçando-a em seus dedos, ela sorri com a insatisfação dele. Os minutos passam, a mão do advogado desliza do braço da cadeia para a perna da garota, o filme já não prendia a sua atenção. A excitação por acariciar a perna daquela estranha era menor que a excitação por fazer algo imoral e só era comparável ao medo de ser visto por alguém. Subitamente a exibição do filme é interrompida, o advogado acomoda-se na cadeira, já a garota estava aterrorizada.

A tela exibia uma mensagem do ministério da justiça pedindo para que todos permanecessem calmos e obedecessem as ordens dos policiais. Um policial vai a frente da tela fazer um comunicado aos presentes:

- Lamentamos esta interrupção, mas estamos procurando uma foragida do Centro de Modelagem Comportamental, por favor saiam em fila indiana para que possamos identifica-la, surge na tela a imagem da garota sentada ao lado de nosso protagonista.

O advogado segura o braço dela levantando-se, juntamente aos de mais - o que o impede de ser visto pelos policiais. Sua expressão era rígida e determinada, a garota tenta soltar-se sem sucesso.

- Eu deveria ter imaginado.

- Por favor, me ajude.

- Cale-se, você vai ser integrada a sociedade como se deve e vai virar uma mulher de respeito.

- Não, não. Eles vão me matar.

- O centro de modelagem é um lugar bom, eles vão ajuda-la.

- Não, por favor me ajude.

- Eu estou ajudando.

Ela segura a outra mão do advogado olhando-o nos olhos, sua expressão de medo misturava-se a a uma terrível tristeza.

- Me ajude.

O advogado mantinha-se impassível, arrastando-a pela fila indiana, próximo a eles havia uma saída de incêndio onde o policial responsável dava as costas a fila, não havia outro policial próximo naquele naquele momento. Nosso protagonista não entendeu por que ele fez o que fez, as outras pessoas na fila também não entenderam e tão pouco os policiais. De fato a única pessoa a compreender a ação daquele advogado foi a garota de 17 anos cujo braço estava seguro por ele. O advogado sai da fila correndo em direção à saída de incêndio trazendo garota consigo, ele empurra o policial que guardava a saída e ambos correm em direção a liberdade, correm por ruas cheias de pessoas sem entender o que acontecia, correm pela noite seguidos pela lua. o toque de recolher obriga os bons cidadãos a entrarem em suas casas ou em hotéis próprios para a ocasião, finalmente o advogado solta o braço da garota que salta sobre ele para agradece-lo.

- Muito obrigada.

- Você precisa se esconder.

Ela rouba um beijo dele. Bom roubar não seria a palavra correta pois o protagonista consente.

- Meu nome é Elizabeth.

Os dois corriam por ruas desertas iluminados pela lua cheia o advogado ia na frente já que tinha pernas maiores podia dar passos mais longos, ele segurava a mão de Elizabeth que tenta acompanhar seus passos, ela olha para cima vendo a lua parando subitamente. O advogado vira-se percebendo que Elizabeth olhava para a lua.

- Vamos logo.

- Você sabe dançar?

- O que? Do que você está falando menina?

- Esta lua está tão linda e eu nunca dancei na minha vida.

- Talvez você não tenha percebido, mas esta não é a melhor hora.

- Sarcasmo não combina com você.

Elizabeth aproxima-se dele abraçando-o. Nosso protagonista sente o calor do corpo de Elizabeth, seu afeto, sua presença. Uma bondade invade o corpo dele, ambos dançam sob a lua. Por um segundo eles esquecem do mundo a sua volta, mas o mundo não os esquece. O soar de uma sirene interrompe a dança dos dois, era uma sirene diferente da usada pela polícia o advogado arregala os olhos assustado falando a Elizabeth.

- Se for o que estou pensando estamos com problemas.

Perto dali Um camburão de cor preta estaciona, dois guardas abrem as portas de trás de onde saem estranhas mulheres, a pesa de terem os corpos bonitos e feições delicadas suas bocas eram abastecidas por dezenas de dentes pontiagudos feitos de ossos nascendo nos mais diversos ângulos impedindo que fechassem a boca, sua postura era arqueada lembrando os ancestrais primitivos do homem, elas não possuíam inteligência mas eram duas vezes mais fortes e rápidas que um homem comum, elas eram as perseguidoras estavam em dez.

Elizabeth puxa-o contra a parede de um beco, nas sombras onde os dois vêem uma perseguidora passar.

- Por qual crime eles a estão acusando?

- Eu disse que eles iam me matar.

- As perseguidoras foram criadas geneticamente para prenderem os piores criminosos.

- Não sou o que você está pensando.

- Na verdade eu não sei o que pensar de você.

Elizabeth olha para outro lado sem se importar com o advogado que a segura pelos ombros colocando-a contra a parede

- Você vai me estuprar?

- Chega de jogos, eu me arrisquei por você e tenho o direito de saber qual o seu crime.

- Quer saber qual foi meu crime? Tentei ser eu mesma e por isto fui condenada para a remodelagem. O que eles não contavam é que o condicionamento não funcionou comigo.

- Isto é impossível.

- Não, eles tentaram todos os métodos sem efeito, não sou só eu outras pessoas também resistem ao condicionamento, nós somos tratados um erro da sociedade.

- Você precisa de ajuda.

O advogado a arrasta para fora do beco, Elizabeth tenta soltar-se mas não consegue soltar-se.

- Pensei que você fosse diferente.

- Por que eu seria?

- Você não sente nada?

- Não é esta a questão, o centro de modelagem é o alicerce da nossa sociedade, sem ele haveria o caos.

- Você é igual a todos, é livre para fazer suas escolhas mas é muito covarde para seguir seu coração.

Irritado o advogado joga Elizabeth contra o chão e logo começa a gritar.

- Qual é o seu problema? Eu sou um funcionário do ministério da justiça.

- Isto não quer dizer nada. É apenas uma desculpa para justificar sua paralisia.

- Meu dever é ajuda-la, agora cale sua boca e fique agradecida por alguém como eu cuidar de alguém como você Elizabeth.

- Como você é bondoso.

Ela cospe no chão, antes que possa ouvir uma reação do advogado este é derrubado por uma perseguidora, que apoia-se contra as costas de nosso protagonista mantendo-o rente ao chão, seus dentes de osso estavam muito próximos aos olhos dele ameaçando perfura-los. Elizabeth fica de joelhos quando outras duas perseguidoras aproximam-se.

- Por favor, ele não fez nada. Ele tentou me prender.

Os policiais aproximam-se prendendo os dois. Dentro do camburão o advogado estava de frente para Elizabeth, esta mantinha um olhar de desprezo direcionado a quele homem.

- Obrigado... por me defender.

- Cale a boca.

O camburão leva os dois para o Cento de Modelagem Comportamental, onde esperam em uma sala branca, com móveis e persianas da mesma cor, é quase impossível diferenciar as cadeiras do chão ou da parede. O centro de Modelagem Comportamental não era um lugar para a individualidade. Ambos estavam a espera do Grande Behaviorista (do inglês Behavior - comportamento) responsável pelo centro daquela cidade. Este não tarda em entrar na sala, vestido de branco dos pés a cabeça. O advogado toma a frente a fim de resolver o mal entendido que o mantinha preso.

- Grande Behaviorista, é um prazer reencontra-lo, infelizmente nestas circunstâncias.

- Não diga mais nada, estou a par dos acontecimentos. Você é um funcionário modelo do ministério da justiça e já enviou-me tantos criminosos para a reabilitação que o considero um amigo e sei que não teria nenhum envolvimento com esta criança problema.

- Claro que não, eu estava tentando entrega-la as autoridades.

Elizabeth cruza os braços contrariada expressando seu descontentamento para quem quiser ver. O Grande Behaviorista dá um passo em sua direção.

- Nenhuma educação, nenhuma responsabilidade social, ela não se importa com o bem estar de quem está ao seu lado.

- Desculpe por perturbar sua apatia.

O Grande Behaviorista sorri descontente e em seguida olha para o advogado.

- Já que você a prendeu poderá observar como será seu tratamento.

Elizabeth é segura por dois enfermeiros de contenção, em seguida é levada para um corredor, outro enfermeiro aproxima-se do advogado indicando a mesma porta por onde Elizabeth passou. O Grande Behaviorista caminha ao seu lado.

- Enquanto eu detia Elizabeth ela comentou que foram tentadas várias técnicas de condicionamento sem muito sucesso.

- Temo que seja verdade, usamos reforçamento positivo para ações aprovadas pelo ministério de bem estar social, em seguida punição negativa, nós a privamos de seus passatempos aqui no centro. Mas temos uma ultima esperança uma técnica nova mas perigosa.

- Como assim perigosa?

- Todo condicionamento condiz em apresentar um estímulo positivo a uma ação desejada ou um estímulo negativo a uma indesejada. O método em questão corresponde a segunda ideia, ou punição positiva. Neste caso ela deve moldar-se a nossas ideias ou sua vida correrá perigo.

- Você pretende mata-la.

- Não se ela enquadrar-se. Saiba que este método foi reconhecido como legítimo pelos ministérios da saúde e da justiça.

- Compreendo, mas ele contraria a ideia de ajuda e boas ações humanitárias.

- Meu amigo um homem nunca deverá matar um semelhante, mesmo alguém como ela é biologicamente igual a nós. Ela está protegida pela lei.

- Então?

- Se ela morrer será por culpa ela. Estaria mais para suicídio do que assassinato.

- Os índices de suicídio foram os únicos que não conseguimos controlar com nossa ciência.

- É verdade, mas estas são pessoas que não conseguem enquadrar-se, logo sua morte não tem efeito devastador em nossa sociedade.

Elizabeth olhava para o advogado com desprezo, ele sabia o que aconteceria com ela e não fazia nada. O advogado percebe e evita seu olhar, a garota decide ser mais direta.

- Em resumo, nossa sociedade glorifica os covardes.

- Uma flor de menina, não concorda senhor advogado?

O advoga fecha os olhos imaginando alguma alternativa, o corredor por onde andavam estava chegando ao fim e ele estava sem ideias. Exceto por uma ultima cartada Elizabeth era menor de idade:

- E os pais dela.

- Estão esperançosos pela possibilidade de ter uma filha normal.

- Eles sabem deste tratamento?

- Aceitaram de imediato, eles estão cansados de conviver com ela.

Em fim eles entram em uma sala igual a anterior, ou quase esta tinha um computador com várias telas. O Grande Behaviorista aproxima-se do teclado exibindo diversas teclas com nomes de cómodos de uma casa em baixo de cada tecla.

- Como você a trouxe poderá escolher seu castigo.

- Eu não posso.

- Por que não? Faz parte do processo de condicionamento.

- Ele não pode por que ele é um covarde.

- Nossa querida flor parece odia-lo. Que tal você? A final você é a paciente e será você quem será castigada.

Elizabeth aproxima-se do teclado estudando-o minuciosamente.

- Este aqui.

- Combina com você. Podem leva-la.

Os guardas seguram Elizabeth arrastando-a para um quarto do centro de modelagem, onde os guardas jogam a garota e trancam a porta, ela ouve o som de criaturas aproximando-se dela. O advogado assistia aterrorizado o castigo aplicado a ela por ter fugido.

- O que está acontecendo?

- Estas criaturas são seres bio-macanóides, eles secretam um líquido que provoca um terror e desamparo profundo, o paciente sente como se fosse morrer, eles foram desenvolvidas para punição moderada.

- Desculpe, mas eu não consigo ver mais.

- É compreensível. Eu o acompanho até a saída.

Em pouco tempo ambos estavam no lado de fora, antes de sair o advogado volta-se para o cientista uma ultima vez.

- Este é o castigo dela? Ser torturada por monstruosidades?

- Não, este é o seu. Auxiliar uma fugitiva é um crime, mas baseado em sua ficha pessoal julguei que uma rápida sugestão fosse melhor do que um longo processo de recondicionamento o qual poderia arruinar sua carreira.

O advogado é colocado em um táxi e lavado para casa.

Dois dias depois o advogado estava almoçando com seu amigo,ou pelo menos tentava já que não sentia a mínima fome.

- Você está bem? você parece muito abatido, seria melhor ir ao médico.

- Estou sem fome, não como e nem durmo por dois dias. Você já sentiu culpa?

- Culpa? Deve ser alguma deficiência hormonal, peça licença e vá ao médico.

- Não é isto, eu deveria ter ajudado alguém mas não consegui.

- Isto é fácil depois do trabalho vá até onde esta pessoa estava e a ajude, você é funcionário do ministério de justiça tem que dar o exemplo.

- Por que? Nossa sociedade não é utópica? Não somos livres? Por que sou obrigado a fazer alguma coisa. Isto não é liberdade.

- Por que sim... É o seu dever - a pergunta de seu amigo era tão absurda que ele estava sem resposta - ouça tem um filme muito bom nos cinemas sobre um homem que encontra um garoto em um banheiro...

Irritado o advogado levanta-se ignorando seu amigo, ele caminha até o elevador onde encontra com a secretária desejada saindo dele.

- Me desculpe pelo cinema, podemos marcar outra hora e...

- Vagabunda.

- O que!?

Ele entra no elevador apontando o dedo para ela e grita para todos ouvirem.

- Puta, vagabunda, manipuladora você é tão vazia e solitária que precisa seduzir os homens para se sentir bem? Puta!

A porta do elevador se fecha.

Do lado de fora do fórum o advogado depara-se com uma propaganda governista em um muro. Na propaganda havia um retangulo com diversos quadrados, ao lado diversas figuras geométricas representando crianças. A frente Um quadrado maior dizendo: "tomem seus lugares". O advogado percebe que uma mulher de vestido passa ao seu lado, ele corre até ela erguendo seu vestido, enquanto ela esbraveja nosso seu corre até um carro estacionado ao lado de uma lata de lixo, com a qual ele quebra o vidro do carro. Ele atira a lata de lixo no chão gritando para quem quisesse ouvir:

- Me ouçam... quero ser visto, quero ser ouvido, quero falar, quero me intoxicar, quero me embebedar, quero me envenenar. Quero ser diferente, quero destruir - ele diminui o tom de voz retomando o fôlego - quero me apaixonar. Quero poder amar, poder odiar e ser odiado. Quero me sujar, ser espontâneo, ser violento, anti-social, quero ser politicamente incorreto, sádico, pervertido, quero poder ter defeitos, ser criticado, quero xingar quem eu não gosto. Quero dar uma surra no filho da puta que está com a mulher que eu amo. Mais do que tudo quero ser livre para me expressar, ser quem eu sou.

Neste momento uma viatura policial aproxima-se e ele ergue as mãos entregando-se.

Minutos depois o protagonista estava sentado a uma mesa em uma sala de interrogatórios esperando seu advogado. Quem entra na sala é seu amigo que senta-se a sua frente sem saber o que dizer. O protagonista sorri debochando da situação.

- Vou alegar deficiência hormonal.

- Não. Eu não quero.

- Como assim não quer?

- Há duas noite eu passei por um condicionamento relâmpago.

- Por que não falou antes?

- Eu quero que você exija meu direito a ao recondicionamento pelo mesmo cientista comportamental.

- Isto vai acabar com sua carreira, um distúrbio hormonal irá satisfazer o juiz, é uma que todos estamos sujeitos.

- Você é meu advogado e se não fizer o que mando será destituído.

- Tudo bem e quem o condicionou ontem a noite?

- O Grande Behaviorista.

- Não, você é meu amigo e eu...

- Você é um funcionário do ministério de defesa e deve ajudar quem precisa.

- Estou tentando ajuda-lo.

- Então faça o que eu pedi. Por favor.

Naquele mesmo dia o protagonista estava dentro de um quarto do Centro de Modelagem Comportamental, o Grande Behavirista entra no quarto o advogado ameaça levantar-se, o cientista faz um gesto para que ele sente-se.

- Agora você é meu paciente. O que está acontecendo?

- Não consigo dormir, até estou com sono mas não consigo. Não tenho fome, eu sinto algo que nunca senti antes, não sei descrever o que eu sinto.

- Não me importa o que você sente. Não podemos ver um sentimento, não podemos medir um sentimento. Logo é inútil falar sobre eles. Vou receitar alguma pílulas, amanhã começaremos o recondicionamento básico de normas sociais.

- Como está a Elizabeth?

- Quem?

- A garota que eu trouxe.

- Sendo recondicionada e infelizmente está resistindo. Bom infelizmente para ela. Agora descanse.

No dia seguinte nosso protagonista encontra-se em uma sala/laboratório que visa simular um ambiente urbano. O Grande Behaviorista entra na sala carregando um chapéu, andando ao lado de uma modelo usando vestido. O Grade Behaviorista dispensa apresentações colocando o chapéu na cabeça do advogado.

- Uma de suas infrações sociais foi ter levantado o vestido de uma mulher que andava ao seu lado além de ter ofendido uma colega de trabalho. Nós vamos simular a cena, mas agora você agirá como se deve.

- Para que o chapéu?

- Você irá retirar o chapéu, realizar uma mensura e dizer o que está escrito neste cartão.

Então o Grande Behaviorista retira um cartão de recados do bolso entregando-o para o advogado, que lê as frases atentamente.

- Não é preciso lê-las, apenas cite-as na ordem em que aparecem. Como recompensa eu lhe darei uma pílula que provocará euforia.

O Grande Behaviorista sai da sala deixando o advogado sozinho com a modelo, esta caminha ao seu lado fazendo-se notar pelo advogado, este retira o chapéu de sua cabeça mas não realiza as outras etapas do procedimento para a irritação do cientista.

- O que aconteceu?

- Isto é muito estranho, não entendo o por que?

- O por que do que?

- O porque de tudo isto, eu sei como me comportar com uma mulher.

- Você chamou uma colega de trabalho de vagabunda e levantou o vestido de uma completa estranha. É isto que você chama de comportar-se?

- Eu estava irritado.

- E qual a causa da irritação?

- Eu estava frustrado. Eu, eu não pude ajuda-la.

- Entendo, mas saiba que o senhor a ajudou. O que acontece é que o susto pelo encontro das perseguidoras afetou seu cérebro descondicionando-o, nada mais. Leia os cartões e será recompensado.

Novamente a modelo caminha ao lado do advogado que retira seu chapéu, inclina seu corpo para frente e diz:

- Bom dia. Está um dia muito bonita não?

O Grande Behaviorista aplaude, sendo apoiado pelos membros de sua equipe. Ele aproxima-se de nosso protagonista pedindo para que este abra sua boca, em seguida o cientista coloca um comprimido dentro da boca de seu paciente.

- Muito bem, agora vamos repetir a cena, você dirá três vezes cada frase e a cada sucesso receberá uma recompensa.

- Eu virei um rato de laboratório.

- Não, os ratos são roedores, nós seres humanos somos primatas.

- Odeio sarcasmo.

- Aceite um concelho: não pense. Pensamentos são secreções químicas do cérebro, de fato neste ponto o cérebro assemelha-se ao fígado que secreta bílis.

O condicionamento prossegue pela tarde, a noite nosso protagonista é levado para seu quarto onde ingere oura pílula desta vez para dormir. Quando as luzes são apagadas o outrora advogado e agora interno cospe o comprimido e levanta-se cuidadosamente da cama, ele força a fechadura abrindo a porta com cautela e caminha pelo corredor encontrando um mural com as indicações das alas do centro de modelagem. Ao deduzir que Elizabeth estaria na ala de alta resistência ao condicionamento ele segue as indicações. nos arredores da área é necessário cautela pois haviam mais guardas e principalmente os controladores - criaturas biomecanóides semelhante a humanos e mais inteligentes que a perseguidoras, com pele de couro sem boca e com ganchos substituindo as mãos. Nosso protagonista salta sobe um enfermeiro/vigia que estava de costas batendo com a cabeça deste contra o chão até desmaia-lo, roubando as chaves do guarda abandonando-o imerso em seu sangue.

Elizabeth dormia amarrada a uma cama quando alguém aproxima-se e a acorda com um beijo nos lábios, era nosso protagonista.

- Eu disse que iria ajuda-la.

- Não olhe.

Ele retira o lençol que cobria o corpo de Elizabeth caindo para trás com o susto, o braço esquerdo dela estava esfolado ao pondo em que podia-se ver suas articulações nervosas. Ao aproximar-se o protagonista pode ver que a mão esquerda de Elizabeth era apenas articulações nervosas e ossos. Ao lado da cama havia uma cadeira de rodas. Ele morde seus lábios num misto de raiva e frustração Elizabeth estava com olhos banhados em lágrimas.

- Você é um idiota por ter vindo aqui.

- Me desculpe - ele começa a chorar ao lado da cama dela - O que eles fizeram com você?

Neste momento dois controladores invadem o quarto golpeando as costas do protagonistas com seus ganchos, arrastando-o para fora do quarto enquanto desferiam golpes em seu abdômen e costelas gerando cortes superficiais. O Grande Behaviorista surge na sua frente resguardado por outros dois controladores.

- Você acreditou que seria tão fácil fugir?

- O que você fez com ela maldito?

- Agora eu sei qual condicionamento aplicar em você.

- O que você fez com ela!? Eu mato você desgraçado.

- Não me me entenda mal, eu sou um cientista e preciso obter dados antes de agir. Levem-no para um quarto da ala de resistência ao condicionamento.

Os controladores arrastavam nosso protagonista que grita em desespero o nome de Elizabeth tentando desvencilhar-se de seus cárceres outros dois controladores são necessários para conte-lo.

- Elizabeth! Eu irei voltar.

Ele é levado a seu quarto pelos controladores onde é amarrado a uma cama, o Grande Behaviorista injeta uma droga em sua veia, instruíndo um enfermeiro a aplicar uma nova dosagem de hora em hora.

No dia seguinte o outrora advogado, interno, salvador e novamente interno estava jogado no chão gelado em posição fetal tremendo e chorando a sala era revestida em suas paredes, chão e teto por azulejos brancos, a exceção de um grande espelho em uma das paredes ele ouvia seu próprio choro quando a voz do Grande Behaviorista é projetada na sala.

- Bom dia meu amigo, dormiu bem?

Este olha furioso para o espelho.

- Devido aos incidentes de ontem a noite decidi que seria melhor para nós dois que eu fique afastado. O que você está sentindo agora chama-se síndrome de abstinência.

- O que você fez comigo?

- Não, o que você fez consigo mesmo. Ontem a noite eu lhe apliquei diversas doses de uma droga altamente viciante a curto prazo, mas sem grandes efeitos colaterais, exceto pelos efeitos que está sentido, eles tendem a diminuir e desaparecer.

- Onde está Elizabeth?

- Este é o problema, sua fixação por esta revoltada é o reforçador para seus comportamentos controversos.

A porta se abre e um enfermeiro coloca dois potes no chão, em seguida ele sai deixando o protagonista sozinho. O Grande Behaviorista explica o procedimento a seguir.

- O pote posicionado ao seu lado direito tem uma seringa com a droga que você tomou ontem a noite, a medida é a certa para cessar estes sintomas, no pote à sua esquerda está uma chave simbólica, ela representa a porta do quarto de Elizabeth se pegar esta chave você poderá vê-la. Porém você só pode escolher um dos potes

Ele começa a arrastar-se pelo chão com muito esforço já que suas pernas estavam bambas e não suportariam seu peso, com muito esforço aproxima-se do pote onde estava a chave simbólica, dois controladores invadem a sala onde batem nele com seus ganchos, o arrastando-o imerso em sangue para seu quarto.

No dia seguinte os efeitos da droga tinham diminuído, dois enfermeiros entram em seu quarto escoltados por um controlador de ganchos bem afiados. O protagonista é colocado em uma cadeira de rodas tendo seus braços e pernas amarrados.

- O que vocês vão fazer comigo?

Não adiantava perguntar, ele não obteria respostas. os enfermeiros o levam a uma sala escura cuja única fonte de luz era uma janela que dava em uma sala branca com uma mesa de metal no centro. Logo ele percebe que estava do outro lado do espelho. O Grande Behaviorista entra logo em seguida posicionando-se ao lado do protagonista.

- Desculpe-me pelo atraso, mas o senhor não é o meu único paciente.

- O que significa isto?

- Você escolheu a chave simbólica. Infelizmente não posso leva-lo ao quarto daquela garota...

- Elizabeth. O nome dela é Elizabeth.

- Eu não posso permitir que você vá ao quarto de Elizabeth, mas você poderá ver seu tratamento.

Neste momento a porta da outra sala abre-se, uma enfermeira empurrava a cadeira de rodas com Elizabeth sentada, outros enfermeiros a deitam de bruços na mesa de metal amarrando duas pernas e baços, tomando muito cuidado com a já deteriorada mão esquerda dela. A enfermeira abre parte da camisola hospitalar, duas regiões das vértebras estavam marcadas.

- O que você vai fazer com ela?

- Realizamos punições sistemáticas perante a apresentação de estímulos agradáveis a ela. Infelizmente - O Grande Behaviorista pausa propositadamente para irrita-lo - Elizabeth tem resistido.

um técnico instala um monitor perante Elizabeth exibindo filmes de rebeldia e adolescentes sensuais, uma peça de metal desce do teto contendo oito garras de metal e uma broca. a instrumento prende-se ao corpo de Elizabeth, que derrama lágrimas de medo, enquanto sua broca perfura a coluna de Elizabeth danificando sua terceira vértebra da curvatura lombar. A garota grita de dor chorando em desespero, os enfermeiros seguram a cabeça dela para que posso ver o filme exibido.

Do outro lado do espelho o protagonista tenta desviar sue olhar mas os gritos de Elizabeth são ensurdecedores, ele joga seu corpo para a frente e para trás até conseguir mover a cadeira e seu rosto ficar encostado no espelho. Tomado pelo desespero ele bate com sua cabeça no vidro.

Dentro da sala branca os enfermeiros interrompem o processo devido as batidas contra o vidro, nosso protagonista consegue rachar o vidro, gritando por Elizabeth. Os enfermeiros interrompem o processo assustados, ao ouvir os gritos dele Elizabete começa a chorar mas agora de vergonha, percebendo que estava fazendo mais mal do que bem a mulher que ama ele chora.

Naquela tarde Nosso protagonista estava nu em pêlo deitado sobre uma mesa de metal, no teto havia uma tela com a imagem de Elizabeth. O silêncio sepulcral é quebrado pelo ruído de metal. Dezenas de braços de metal com agulhas de variados tamanhos em suas pontas saem de baixo da mesa. Quatro destes braços possuíam pinças, duas destas mantém as pálpebras dele abertas - para que possa olhar a imagem de Elizabeth, outras duas pinças abrem sua boca mantendo seu lábio distanciado da gengiva. As pequenas agulhas entram de baixo das unhas das mãos e dos pés dele, em seguida entre os dedos. Pequenas agulhas são introduzidas em suas gengivas logo acima dos dentes, uma para cada dente, e por fim uma agulha de médio porte é inserida em seu pénis penetrando o canal a uretra e uma agulha larga penetra em seu ânus rompendo pelo reto. Ele é erguido a meio metro pelos braços de metal que começam a vibrar amplificando sua dor.

Estamos de volta ao tribunal, desta vez o promotor é o amigo do protagonista, este caminha a passos largos até o júri onde descansa seu braço olhando para o local onde senta-se o réu.

- Não sei o que dizer meritíssimo, senhores e senhoras do júri eu simplesmente não entendo. Confesso que passei a noite em claro tentando encontrar um motivo, uma razão, não sei como dizer... Algum evento ambiental, se é que este possa vir a existir, o que leva um cidadão modelo, que sempre respeitou e promoveu as leis do ministério de justiça a rebelar-se contra nossa sociedade. Como pode um homem brilhante e perfeitamente condicionada a realizar atos de depravação moral?

Ele volta sua atenção para o réu - não ele não é nosso protagonista mas outra pessoa, uma mulher, seu olhar era confiante, mais do que isto era o olhar de alguém que sabe o que fez e orgulha-se de seu feito.

- Senhores do júri, a ré recusou-se a tomar o medicamente padrão afirmando - neste momento o advogado lê os autos do processo - "o medicamento não irá me ajudar, não no que estou sentindo". É um absurdo é a opinião do Grande Behaviorista, alias não só dele como de todos os behavioristas como doutores em geral, que o medicamento é a segunda melhor forma de tratamento comportamental sendo superado apenas pelo próprio condicionamento. Senhores do júri por favor ajudem esta mulher.

O advogado volta para seu lugar sob o olhar de desprezo da ré. O juiz pronuncia-se.

- A ré pode apresentar sua defesa.

- Meritíssimo, senhores e senhoras do júri, sei que não serei ouvida, talvez aqueles que venham depois de mim também não serão ouvidos mas os que vierem depois. Estes sim serão ouvidos, pois suas palavras soarão muito alto. Eu fiz o que fiz por que quis.

- Protesto.

- Fiz o que fiz por que cansei de fazer parte do rebanho, de ser mais uma boba sorridente.

- Protesto.

- Fiz o que fiz por que queria me divertir. Eu quero ser feliz - volta-se para o promotor - seu animal na coleira.

- Protesto. A ré fala de felicidade quando sabemos que a felicidade não é nada mais do que uma série de continências. E quando elas não estão presentes existem a pílulas. Você não vê que estamos tentando ajuda-la? Cale a boca e fique grata.

- Ordem no meu tribunal!

- É você que não vê a tortura que é privar uma pessoa do sofrimento?

- Ordem no meu tribunal!

- Nós queremos salva-los da dor.

- A dor, o sofrimento, a tristeza são necessários.

- Ordem no meu tribunal!

- Que tipo de pessoa gostaria de sofrer?

- Não se amadurece sem dor.

O juiz batia violentamente seu martelo na bancada exigindo silêncio, o júri estava assustado com a selvageria da discussão, as duas antíteses - promotor e réu - discutiam fervorosamente, o público estava pasmo todos discutiam sobre aquela mulher louca que desafiava a ordem social e impunha o caos, embora alguns comentavam:

- Se a ré precisa ser recondicionada e suas atitudes punidas então por que todas as pessoas neste tribunal estão irritadas?

Não havia resposta a esta pergunta poucas pessoas a faziam, mas à algum tempo atrás ninguém teria feito esta pergunta.

Ao mesmo tempo, totalmente alheio aos acontecimentos do tribunal, nosso protagonista saia da sala do eletrochoque, ainda atordoado ele precisava de uma cadeira de rodas. o enfermeiro que o acompanha para ao lado de uma linda enfermeira, ainda sem saber onde estava e nem quem era o protagonista olha para frente onde vê de relance Elizabeth sendo empurrada por um enfermeiro, o protagonista esforça-se para ficar de pé e cambaleando ele apoia-se na parede, o enfermeiro tenta dete-lo mas é jogado no chão pelo protagonista. este reúne todas suas forças e consegue correr até o fim do corredor, ao virar para a direita onde Elizabeth estava em uma cadeira de rodas acompanhada por uma enfermeira. As costas da cadeira de rodas estava com pontos vermelhos denunciando os pontos de sua coluna que haviam sido danificados, agora ela era tetraplegica e precisava de um aparelho para respirar. Ela reconhece o querido homem que a salvara de um cinema e dançara com ela sob a lua. O protagonista não tinha mais forças, Os controladores aproximavam-se, ele apoia-se no chão com um dos joelhos, Elizabeth vira o pescoço o máximo que pode movendo seus lábios, pronunciando uma frase. Ele levanta-se corre pelo corredor, derruba a enfermeira e abraça Elizabeth. Então ele grita, seu grito é desumano. O Grande Behaviorista presencia a cena em silêncio, assim como os demais ele estava paralisado e por um momento o protagonista conseguiu ser ouvido.

FIM