CATACLISMA

O dia radioso saiu das sombras da noite. O som ancestral dos lagartos, dos grilos e das cigarras fazia a trilha sonora, daquele magnífico espetáculo de luz e cores.

Mas aquele dia marcaria para sempre os seres vivos. Ele seria diferente de todos os outros em muitos bilhões de anos.

Repentinamente, um clarão bem maior que a luz do sol, deu a impressão de que o universo estava em chamas.

Desgarrado pelo choque de duas estrelas numa galáxia qualquer nos confins do universo, deslocando-se numa velocidade em torno dos 700.000 quilômetros por hora, um corpo celeste, extremamente sólido, composto de ferro e níquel, com diâmetro em torno de 9.600 quilômetros, chocou-se com o planeta Venus, provocando a inversão de sua rota, semelhante ao que ocorre com uma bola de bilhar quando atingida por outra. Em poucos segundos todas as formas de vida daquele planeta estavam extintas. Toda sua água foi volatilizada e lançada ao espaço.

As cinzas e a poeira, oriundas do formidável choque foram lançadas a muitos quilômetros de altura, toldando a luz do sol que incide sobre a Terra, Marte e seus satélites.

Um enorme pedaço desse asteróide atingiu a Terra na altura das Antilhas, dando origem à depressão que hoje chamamos Golfo do México. Esse impacto associado às vibrações resultantes do choque com Vênus, fizeram com que o eixo da Terra sofresse uma inclinação de 23º dando origem às estações do ano. Outra parte do asteroide, lançada no sentido contrário ao da Terra, arrastou consigo a água vaporizada da Lua e de Vênus que congelada transformou-se na cauda do cometa que chamamos de Harley e que é visto com intervalos de 76 anos.

Os grandes répteis e as grandes florestas foram sendo dizimadas na mesma proporção da falta de nutrientes.

Sem luz não há fotossíntese e na noite eterna que se abateu sobre a Terra e Marte por tantos anos quanto os necessários para que toda aquela poeira fosse atraída pelos corpos celestes mais próximos, as formas de vida complexas foram dando lugar a outras mais complexas na cadeia sucessória das espécies.

Hoje 65 milhões de anos depois do fato, nós ainda podemos ver a poeira depositada na Lua.

Das suas densas florestas e animais, nada restou consumidos que foram pelo calor da explosão, pela falta da água líquida e pela poeira ácida.

Mas na Terra, a vida continuou, onde o acaso e a aleatoriedade da Natureza fazem surgir a cada dia nova forma de vida, que em gerações sucessivas continuam se aperfeiçoando e se adaptando...