Pouso cego

... Continuação da parte anterior postada aqui no Recanto...


30 anos depois
 
-- Jorge, ligaram para você da empresa! Seu avô faleceu!
-- Mas ele estava tão bem... Conversei com ele ontem!
-- Foi enquanto dormia! Querem que você vá ao funeral hoje à tarde.
-- Eu irei...
 
                                             ...
 
1 mês depois
 
-- Alô!
-- Por favor, gostaria de falar com senhor Jorge Augusto Prado.
-- É ele mesmo.
-- Aqui quem fala é Dr. Rui, advogado da Bertes Consultoria.
-- Em que posso ser útil?
-- Estamos marcando para daqui há 20 dias a leitura do testamento do seu avô...
-- Ah, é necessário que eu compareça? Estamos na semana de testes aéreos, o senhor sabe onde trabalho, imagino...
-- Sim, sei, mas o senhor é citado no testamento, então seria como atender um último pedido do seu avô.
-- Certo! Me passe o endereço que estarei lá...
 
                                             ...
 
20 dias depois
 
-- Procedendo na leitura, eu, Rubens de Souza, tabelião encarregado desta circunscrição, valendo da vontade do falecido senhor Julio Prado, faço saber que todos os seus bens ficarão para entidades assistências abaixo citadas, o qual em vida ele fartamente ajudou. O critério utilizado foi que toda a família já possui situação financeira estável. Para o seu neto, filho de seu filho, senhor Jorge, ele deixa o conteúdo do seu cofre particular, sendo todos documentos particulares de cunho familiar e relíquias adquiridas com o tempo, e depois o valor da venda da casa de campo também deverá ser revertida às instituições abaixo citadas. Aqui está a chave e a combinação senhor Jorge.
-- Obrigado!
 
                                            ...
  
15 dias depois
 
-- O que seu avô lhe deixou, meu amor?
-- Somente papéis velhos e um antigo BD dentro de um envelope lacrado, com uma etiqueta colada acima onde está escrito: Veja todo o conteúdo sozinho, antes leia os documentos. O problema é aonde irei ver o BD, estes discos deixaram de ser fabricados há um bom tempo.
-- Jogue fora...
-- Pensei nisso, mas eu amava meu avô e vou fazer esse esforço por ele. Creio que na base militar deva haver algum aparelho compatível com o BD.
 
                                            ...
 
30 dias depois
 
-- Meu caro Jorge, se leu antes os papéis, viu que existe uma reportagem sobre a misteriosa aterrissagem de um avião numa rodovia chamada Dom Pedro. Era a única informação que eu gostaria que lesse de verdade, o resto era só para confundir. Se prestou atenção viu que eu fui a única testemunha do fato, e apesar de estar escrito lá que nada vi de anormal, eu menti!
-- Eu preferi guardar segredo, afinal não tenho nem idéia do que aconteceria se eu agisse diferente, creio que foi melhor assim...
-- Escolhi você meu neto para passar essa informação, primeiro porque eu não gostaria que fosse comigo para o túmulo, e depois devido a importante função que você desempenha dentro da aeronáutica ultra moderna, tanto nos testes quanto na engenharia. Faça bom proveito dessa informação, mas lhe aviso agora, é algo que vai mudar seu jeito de ver todo o universo, portanto, se achar melhor, desligue agora essa gravação, quebre o disco e continue sua vida!
-- Mas creio que algo de mim reside em você, portanto não vai desligar, não é mesmo? Então vamos lá!
-- Naquele dia eu voltada de Campinas de moto e percebi que uma luz forte descia rumo à rodovia vindo do céu. Diminui a velocidade e parei, quando constatei se tratar de um avião. Estava com minha filmadora digital novinha dentro da mochila e pensei na hora que seria uma bela filmagem, pois tinha a nítida impressão que a aeronave fazia um pouso forçado. Você lembra desse meu passatempo, não, ficar fazendo filmes da família. Andava com ela por toda a parte aonde ia.
-- Então fui para o acostamento, peguei a filmadora e a preparei. Coloquei a melhor resolução possível, acendi todas as luzes auxiliares que ela possuía, pois estava escuro demais, apesar da Lua sobre a minha cabeça, e então finalmente iniciei a filmagem.
-- Só fui perceber que havia algo de errado quando não escutei o barulho das turbinas, isso cerca de 300 metros do ponto onde eu estava. Não sou especialista em aviação como você bem sabe, mas tive certeza na hora que algo de incomum estava acontecendo, então me empenhei mais ainda em caprichar na filmagem.
-- Quando ele estava a uns 100 metros mais ou menos percebi várias coisas ao mesmo tempo; o avião vinha devagar demais, a luz parecia vir da parte detrás dele e o mais intrigante é que ele descia com o bico meio inclinado para a esquerda. Eu pensei que aquilo era impossível e só poderia estar ocorrendo caso o avião estivesse sendo rebocado por alguém...
-- Foi nessa hora que percebi que a luz alta que agora quase me cegava vinha realmente de outro objeto que estava literalmente carregando o avião, de onde não se via nenhuma luz acesa em ponto algum. Esse objeto continuou descendo cada vez mais lentamente, agora a cerca de uns 15 metros de mim, até que ele parou e desceu na vertical mais lentamente ainda e parou. O avião ficou por um tempo suspenso no ar e então começou a ser baixado para o solo. Percebi claramente que seu trem de pouso não fora acionado, outro detalhe que me passou despercebido antes.
-- Enquanto o avião tocava o solo, corajosamente eu me aproximei ainda filmando e tenho certeza absoluta que seja que tipo for de aeronave que rebocara o avião, estava agora invisível para meus olhos, pois a luz agora da minha filmadora atravessava o local onde ela deveria estar. Como que para confirmar o que eu estava pensando, uma onda de uma cor metálica correu por toda a estrutura de uma nave enorme e redonda, que por alguns segundos ficou visível, enquanto meu coração queria sair correndo pela minha boca.
-- Nesse momento minhas mãos tremiam tanto que parecia haver um terremoto acontecendo em minha volta. Logo a aeronave voltou a ficar transparente, se afastou do avião e iniciou uma subida na vertical, até que quando alcançou a altura de um prédio de 30 andares, voltou pelo mesmo caminho que fez numa velocidade impressionante.
-- Fiquei ainda um tempo com a respiração rápida e percebi que filmava o céu vazio. Voltei a filmadora na direção do avião e desliguei a mesma, guardando-a rapidamente na mochila presa às costas! Corri para o avião e bati em sua fuselagem. Em pouco tempo a saída de emergência lateral foi aberta e eu liguei para a polícia. O resto é o que está escrito no jornal que você deve ter lido. Não disse nada do fenômeno que havia presenciado para absolutamente ninguém. Na hora nem sei por que agi assim, mas com o tempo percebi que tinha sido a melhor coisa a ser feita.
-- Não me resta dizer mais nada, agora basta olhar o vídeo e tirar as suas próprias conclusões! Ainda dá tempo de desligar o vídeo...
 
                                            ...
 
10 minutos depois
 
-- Em algum momento achou que era mais uma brincadeira minha? Pois se achou, se enganou! Agora você tem um conhecimento que eu guardei por muito tempo e o que você fará com essa informação que lhe deixei eu sinceramente não sei! Use-a bem!
-- Para mim foi importante ter a certeza que não estamos sozinhos no universo, mas sempre fui um homem equilibrado e tive o receio que essa informação pudesse vir até a destruir o nosso mundo, é isso mesmo, tal a maneira como aqueles que detêm o poder acabam agindo diante de circunstâncias que desconhecem!
-- Que bom que você me acompanhou até aqui na minha última história, eu tinha certeza que o faria! Eu ti amo Jorge, seja feliz!
JGCosta
Enviado por JGCosta em 15/04/2010
Reeditado em 10/12/2010
Código do texto: T2198979