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      A grande erupção I


      Quando acionou o botão vermelho a geringonça começou a sacolejar. Um silvo persistente se fez ouvir e o trabalho de anos foi posto à prova. Desacreditado por toda a comunidade científica da época, que o considerava um louco ou um simples oportunista, jamais obteve apoio de quem quer que houvesse tomado conhecimento de seu projeto.
 
       Mas agora nada mais importava, a não ser aquele momento. Preparou-se por toda a sua vida de pesquisador para sentar-se àquela poltrona, fixar-se aos pontos de apoio e ao cinto de contenção, girar o dispositivo e escolher a data prevista em quatro seletores disponíveis. Que números marcaria? Passado? Futuro? Resolveu acionar o comando que dizia: aleatório...
 
       A senhora governanta, como sempre muito discreta, jamais desobedeceu à recomendação de seu patrão, e nunca abriu a porta do porão onde ele passava muitas horas do seu dia, produzindo ruídos os mais variados. Mas ao chegar à propriedade pela manhã, e ao ouvir aquele intenso barulho não se conteve e correu a abrir a pesada porta dupla que dava acesso ao cômodo: ainda teve tempo de observar uma imagem distorcida e trêmula, semelhante a uma alucinação, onde mal podia discernir os contornos do que parecia ser uma imensa cabine; julgou que estivesse fora de seus sentidos habituais, ao constatar o desaparecimento da engenhoca, e visualizar apenas os indícios de algo pesado que teria permanecido por muito tempo ali, a julgar pelas marcas impressas no piso.
 
       Foi então que o visionário cientista acordou diante de um intenso ofuscar de raios solares, contrastando com a parca iluminação à luz de velas do porão. Sua cabeça parecia um grande peso de papel e seus ouvidos ainda zumbiam intensamente. Foi então que pouco-a-pouco começou a distinguir a silhueta de sua criação, a poucos metros de seu corpo, e perceber que estava caído ao solo, com suas elegantes vestimentas vitorianas rasgadas e terrivelmente inadequadas ao calor que sentia; olhou em volta e deparou-se com uma estranha vegetação, rasteira, lodosa e de um tímido verde-acinzentado, como se estivesse recoberta por algum tipo de fuligem; despiu-se ao máximo de várias camadas de roupa e levantou-se, ainda tonto.
 
       Qual não foi então sua imensa surpresa ao avistar uma vasta planície, monótona e monocromática, do mesmo tom verde-acinzentado: a impressão que emanava dali era de que algo sinistro havia devastado toda a superfície e que aquela pobre vegetação tentava cicatrizar uma imensa ferida. Todas as construções da vizinhança haviam desaparecido e o que podia ver em pontos distantes no horizonte acinzentado eram colunas de fumaça que se erguiam aqui ou ali. Com passos cambaleantes aproximou-se de sua cápsula mecânica e percebeu com horror que a mesma se encontrava retorcida, com os principais controles destruídos. Novamente olhou ao redor e passou a mão nos cabelos em desalinho, completamente aturdido e entregue à sua própria sorte!
 
        Anos após o desaparecimento daquele excêntrico candidato a cientista, a comunidade universitária ainda se perguntava o que poderia ter acontecido e a senhora governanta, já idosa, ainda lamentava o destino incerto de seu amado patrão.
 
        Mas uma outra crescente preocupação gradualmente tomava corpo em toda a Inglaterra, não só nos meios acadêmicos, como também entre os tablóides sensacionalistas que alcançavam toda a população leiga, de todas as partes da ilha; alguns poucos extremistas pregavam um possível apocalipse, que poderia ser protagonizado por aquela que seria a maior de todas as erupções vulcânicas, a qual ainda estaria por acontecer, deixando um rastro fumegante de morte e destruição jamais visto pela humanidade.
 
       Estes indivíduos, no entanto eram prontamente ridicularizados pelos especialistas da época, que tranqüilizavam a população, constatando que aquelas pequenas erupções oceânicas próximas à Bretanha não ofereciam qualquer risco, também alardeando que as expedições marítimas responsáveis pela perfuração e exploração de minério e pedras preciosas nas ilhas geladas do hemisfério norte não eram de forma alguma as possíveis causadoras de nenhum desequilíbrio ecológico ou ambiental...


       Continua...


 
     Obs: inspirado na obra A Máquina do Tempo, 1895, de H. G. Welss (21/09/1886-13/08/1946), grande escritor britânico, autor de clássicos dos chamados “romances científicos”.



 
 
 
       
 
 
 
 
 
     
 
Max Rocha
Enviado por Max Rocha em 21/04/2010
Reeditado em 06/03/2011
Código do texto: T2210671
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