KOVURO E ARUEN - Primeira parte

Interlúdio

Terra, 1º de Janeiro de 2024.

O ano que se inicia hoje é o terceiro da dominação siriana na Terra.

Os humanos finalmente dominaram o sistema solar até Plutão, mas

descobriram que não estavam sós no universo e que outras raças procuravam hegemonia.

Os antárticos fizeram contato com os sirianos, felinos humanóides da raça Xawarek, em Japeto, lua de Saturno, náufragos em guerra com os taonianos, descendentes dos ranianos, estabelecidos na lua Titã. A paz foi feita e fez-se uma aliança.

Em 2019, o coronel Alan Claude Sarrazin encontrou sirianos modernos no planeta Vênus, apoiados por uma outra raça terrível, os alakranos do planeta Alakros, situado 25.000 anos luz além de Antares do Escorpião; no quadrante Delta.

Após alguns meses, Sarrazin tomou-lhes Vênus, derrotando-os.

Dissidentes sirianos chegaram a Terra três anos atrás como amigos, para limpar a Terra da radiação dos bombardeios da Terceira Guerra Mundial; entre os países livres antárticos, as colônias lunares e Marte; contra a tirania da Nova Ordem Mundial.

Uma frota dissidente Xawarek partiu de Sírio em apoio dos antárticos que estavam em luta no planeta Erspak de Alfa Centauro, contra a armada da Suprema Confederação; sediada no planeta D’Har-Minh da estrela Procyon do Cão Menor; atual potência dominadora deste setor do quadrante galáctico.

Isso foi há três anos.

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Sistema Solar Alfa Centauro - época atual.

Alfa Centauro está a 1,33 parsecs, ou 4,4 anos luz da Terra, e é uma estrela tríplice. A estrela principal, Rigil Kentaurus, é amarela e muito parecida com o Sol da Terra.

Ela tem uma estrela satélite alaranjada e muito brilhante a uma distância de 17,7 segundos de arco; Toliman Kentaurus. Este satélite, por sua luminosidade, quase três vezes cede ao Sol e sua superfície tem uma temperatura de somente 4.400 graus. Por sua massa e tamanho, ambas estrelas parecem-se com o Sol, e o período de revolução deste par é de cerca de 80 anos terrestres.

A terceira componente é a estrela Próxima Kentaurus, uma anã vermelha e fria, de 11ª magnitude estelar, que irradia 20.000 vezes menos luz que o Sol da Terra, e está a uma distância de 357.600.000.000 milhões de quilômetros da estrela principal Rigil. É a estrela mais próxima da Terra.

O período de revolução da Próxima ao redor do centro de gravitação comum é muito grande, pelo menos não menor de vários milhares de anos terrestres. Ao seu redor giram alguns planetas muito antigos, cujas civilizações extinguiram-se em tempos remotíssimos.

Ao redor das duas estrelas principais, giram vários planetas em órbitas

enormes, de mais ou menos quinhentos anos. Um deles é Rigil 03, ou Erspak, um planeta agrícola, rico e avançado, que forma parte da Suprema Confederação.

Outro deles é Rigil 02, ou Zhoropak, que não teve tanta sorte.

Outrora foi grande e poderoso na época do Império Raniano; há 10.400 anos terrestres. Sua capital era Zhoro, um centro de arte e cultura; hoje transformada em ruínas vitrificadas, ainda radiativas, por causa dos violentos combates entre Ran e seus inimigos, quando a civilização terrestre ainda não tinha história escrita.

Hoje, Zhoropak é um planeta atrasado, medieval.

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Marka

O amanhecer do planalto despontava num céu quase sem nuvens, onde as últimas estrelas desapareciam pouco a pouco, devoradas pela luz amarela e alaranjada dos dois sóis que surgiam nas costas de uma silhueta que corria velozmente em direção oeste, levantando poeira vermelha.

Era um blenfa, veloz ave carnívora, que corria pelo liso terreno do planalto, levando no dorso uma figura humana de capa marrom ao vento. As grossas patas do blenfa não diminuíam sua marcha constante, devorando os estádios que faltavam para chegar à divisa do feudo de Marka.

Com seu cabelo loiro ao vento, Kovuro, o mercenário de Purana, segurava-se encima do blenfa enquanto seus azuis olhos escrutavam o horizonte à frente. Kovuro suspeitava que não seria fácil penetrar no feudo, sabendo que era um lugar muito vigiado.

Marka era um antro de traficantes de escravos e contrabandistas de mutara, a terrível droga alucinógena. O mercenário sabia que devia enfrentar tudo isso para conseguir embarcar-se em busca de aventuras e riqueza.

Contava com passar desapercebido na cidade maldita e conseguir algum ouro, com o qual pagar um lugar num navio e comprar algumas armas melhores do que sua espada de aço puraniano e o seu machado de guerra. Ouvira falar que em Marka se podia conseguir uma arma que lançava dardos à longa distancia, e que podiam furar uma couraça de metal.

Percorrera 60 estádios desde que saíra de Purana, mas por fim pôde enxergar a divisa, onde ameaçadores crânios empalados lhe davam as boas vindas. Como se entendesse, o blenfa diminuiu a velocidade quando se aproximou das fileiras de estacas que demarcavam a zona de influência de Marka. Embora Kovuro não soubesse, ainda precisava percorrer 35 estádios para chegar a cidade.

O blenfa estava evidentemente cansado, e Kovuro duvidava que o animal conseguisse continuar adiante por mais tempo. Portanto, decidiu voltar atrás até um agrupamento de rochas, onde poderia acampar algumas horas. Kovuro também estava cansado depois de viajar no lombo do blenfa a noite toda. Desmontou e deitou mãos num bornal de couro, onde guardava carne seca.

Não chegou a comer.

Como por encanto surgiram perante o mercenário, dois homens armados e encouraçados, sem dúvida guardas fronteiriços, capangas da cidade maldita. Kovuro avaliou as armas dos recém chegados; facas, espadas, lanças, e nas costas uma espécie de lança-dardos e o seu correspondente estojo de tais artefatos.

–Jogue as armas no chão, estrangeiro! – disse um deles.

Kovuro não se impressionou. Armas demais. Provavelmente nenhum treino para manejá-las.

Kovuro levantou seu machado de guerra e atirou-o no homem que falara. Sem um grito, com a cabeça aberta ao meio, o corpo despencou no chão, perante a boca aberta do seu companheiro.

Sem mudar de expressão, Kovuro puxou sua espada, num barulho de couro e aço, a qual, num movimento só, saiu cortando o pescoço do infeliz lacaio. Antes que o corpo caísse no chão, um terceiro e até agora oculto capanga, apareceu, segurando uma espada de dois gumes com as duas mãos.

Kovuro reagiu imediatamente e os dois aços chocaram-se com estrondo no silencio da planície Planaltina. O sicário de Marka era exímio com a espada e parava facilmente os golpes do mercenário de Purana.

Kovuro sentiu que este indivíduo era muito superior aos dois que matara segundos antes.

Kovuro tentou um âmago por cima, e a meio caminho, mudou o curso da espada, de maneira de atingi-lo pelo lado esquerdo, mas a manobra foi prevista pelo atacante, que segurou a espada com as duas mãos em posição vertical e conseguiu pará-lo com firmeza e grande estrondo.

Kovuro se refez e tentou novamente um golpe aberto por cima, imaginando que o inimigo tentaria a mesma defesa, mas não foi assim, senão que o sicário de Marka, manteve-se firme na defesa por cima, as frações de segundo suficientes como para não dar tempo a Kovuro de desviar sua espada e atacar pelo flanco desguarnecido.

Essa demora foi quase fatal para Kovuro, que não conseguiu repetir a manobra anterior, fato que tirou força ao seu golpe, facilmente detido pela espada do outro, que recuou dois passos e preparou outro ataque ao tempo em que Kovuro repensava sua estratégia. Por um breve instante, ambos contrários olharam-se nos olhos estudando-se mutuamente.

Por fim o sicário de Marka tomou a iniciativa, atacando em profundidade com sua espada horizontal direto ao peito de Kovuro.

Como o previra, o mercenário esquivou-se à direita, levantando a espada com as duas mãos, para golpear no lado esquerdo do inimigo, mas este se atirou ao chão e numa veloz manobra, mudou o curso da espada para golpear na perna esquerda de Kovuro, e teria conseguido seu objetivo, se não fosse porque o mercenário de Purana pulou no ar ao mesmo tempo do impulso inicial do seu golpe original, com o que a espada do inimigo apenas arranhou o chão, levantando poeira.

Em menos de um segundo, Kovuro caiu encima do braço do inimigo com os dois pés, arrancando um grito de dor da sua garganta. Mas nem assim o sicário de Marka soltou sua espada. Kovuro aproveitou para tirar a lâmina da mão dele, o que não foi fácil, porque este estava disposto a vender cara sua vida.

Kovuro golpeou com força no braço e mão do adversário, conseguindo que a espada caísse, fato que precipitou sua vitória, ao desarmar o inimigo. Este ainda tentou resistir, mas Kovuro; segurou a espada com ambas mãos e decepou sua cabeça com um só golpe.

Novamente o silencio se fez no planalto, enquanto o corpo decapitado ainda se contorcia com reflexos residuais, tentando levantar-se, sem compreender que estava morto. Kovuro respirou aliviado. Custou-lhe derrotar este guerreiro. Não todo o dia encontrava um adversário tão bom. Limpou a espada na capa do morto, recolheu seu machado e confiscou as armas dos mortos para achar uma que se adaptasse ao seu sistema de luta.

Escolheu um lança-dardo, espécie de besta pequena. Recolheu todos os dardos que pôde e destruiu o resto das armas. Depois de comprovar que não teria outras surpresas desagradáveis, alimentou seu blenfa e comeu um pouco de carne seca. Logo decidiu que o lugar era perigoso demais para descansar ou dormir. Deveria procurar um lugar melhor, longe da divisa. Montou o animal e dirigiu-se ao sul, enquanto os esfomeados pakajes de penas pretas e bicos amarelos pairavam sobre a carniça dos cadáveres.

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Após percorrer alguns estádios, achou um local aparentemente seguro onde acampar; um conglomerado de rochas lisas formando uma plataforma. Subiu por uma delas até atingir o topo. O blenfa teve que ficar embaixo ao resguardo; porém num local fácil de vigiar de cima.

Kovuro pensou em dormir, embora fosse perigoso. De qualquer maneira, o blenfa, com seu estridente grito, seria capaz de despertá-lo se alguém se aproximasse. Kovuro ajeitou-se o melhor que pôde e ficou olhando às distâncias até que o sono foi mais forte.

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Ao abrir os olhos, o mercenário viu que dormira bastante.

Fazia um calor sufocante, os dois sóis já estavam na metade do céu.

O blenfa estava tal qual o deixara e depois de recolher seus pertences, montou e empreendeu a viagem, desta vez rumo norte, retornando à divisa.

Kovuro atravessou por segunda vez a linha de estacas com crânios empalados, desta vez sem deter-se, e sem que ninguém ousasse impedi-lo, entrou no domínio de Marka.

O blenfa depois do descanso corria com renovado vigor, levantando poeira e devorando os estádios que faltavam para chegar à cidade maldita. Kovuro estava mais alerta do que nunca, era território hostil onde no momento menos pensado poderia encontrar-se com uma patrulha de sicários de Mama Dotir Apak, a devassa e pérfida tirana de Marka.

O mercenário seguiu adiante, procurando evitar os lugares onde poderia haver acampamentos militares ou pequenas aldeias. Um guerreiro sozinho despertaria evidentes receios, ainda mais que tarde ou cedo, alguém descobriria o massacre que ele fizera na divisa; e aí sim; ele seria procurado.

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(continua)

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O conto KOVURO E ARUEN forma parte integrante da saga inédita

Mundos Paralelos ® – Fase 2 - Volume V, cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados,

sarracena.blogspot.com

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Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 08/03/2011
Reeditado em 17/06/2017
Código do texto: T2836017
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