KOVURO E ARUEN - Última Parte

Apesar da ressaca, Mama tinha mais sangue frio do que seu subordinado, com o que rapidamente abriu uma porta lateral e correu balançando suas tetas gordas.

Yhom Uowald correu atrás, sabendo que Mama ia ao arsenal de armas exóticas não convencionais, onde estavam os fuzis de luz concentrada, outrora inventados pelos senhores de Zhoro, que governavam o mundo antes do grande cataclismo.

O sexto sentido de Kovuro dizia-lhe que não devia permitir que a dupla chegasse ao seu destino, correu atrás deles, mas era tarde; Mama abrira a porta e Yhom Uowald estava entrando e acendendo lume.

Kovuro assomou na porta e foi recebido a tiro.

Por pouco não foi decapitado pelo disparo luminoso, que derreteu a pedra as suas costas abrindo um buraco. O mercenário de Purana disparou um dardo que atravessou o braço direito de Uowald arrancando-lhe um grito de dor.

O fuzil caiu ao chão e Mama não teve coragem para levantá-lo, com o que achou melhor apagar a luz e desaparecer por uma porta lateral, deixando Kovuro no escuro.

O mercenário de Purana ouviu passos e sons de respirações agitadas, com o que puxou sua espada e começou a lançar golpes a esmo, sem resultado.

O gigante em seguida percebeu que estava só e então resolveu acender lume. Pelo cheiro, localizou a lâmpada de azeite, e raspando sua faca na pedra, provocou faíscas, que acenderam o pavio. Então ele viu-se no meio de caixas com escrita desconhecida.

Lembrou dos ensinamentos do seu mentor.

Aquela escrita era a escrita dos habitantes de Zhoro, a cidade proibida. Zhoro estava abandonada e quem chegasse perto adoecia até morrer com uma doença que fazia o cabelo cair e a pele despedaçar meses a fio, no meio de terríveis dores.

Mas agora não era momento para recordações, era hora de agir. Era imperativo que se armasse com aquelas armas, das que lembrava ter visto o funcionamento no mercado de Marka.

Pegou o fuzil caído e examinou as caixas. Numa delas deveria haver munição de dois tipos. Em seguida achou duas caixas de baterias de energia e duas de balas explosivas.

Amarrou todo num pacote com corda e lona que achou ali mesmo, e pegando mais quatro fuzis, examinou o primeiro, carregou-o e engatilhou-o e saiu fora do arsenal, espalhando o azeite da lâmpada encima das caixas, tocando fogo em tudo, e depois disparou varias vezes pela porta aberta, fugindo a seguir.

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O palácio estremeceu até os alicerces.

O mercenário de Purana foi atirado longe, mas recuperou-se rapidamente e correu ao pátio central para passar no harém, pegar Aruen e Tules e dar no pé antes que todo desabasse. No harém, foi recebido pelos gritos histéricos dos eunucos.

–Tules! Onde está Aruen?

–Está drogada, Kovuro. Não quer sair daqui! – respondeu a garota.

–Terá que ir a força. Onde está?

–Naquela sala, defendida por dois eunucos!

O gigante entrou na sala como um furacão, passando por cima dos desprezíveis eunucos e viu Aruen olhando o vazio...

A outrora bela guerreira estava transformada num trapo, mas o mercenário de Purana ainda sentia por ela o mesmo que sentira no mercado de Marka, quando a vira pela primeira vez.

–Aruen! Vamos embora daqui! – disse Kovuro.

–Para que? Estou bem aqui, guerreiro.

–E inútil! Devemos levá-la a força! – disse Tules.

Sem dizer mais nada, Kovuro pegou Aruen debaixo de um braço e carregou-a até a saída, seguido por Tules.

Ninguém ousou atravessar-se no caminho do gigante de Purana; mas a mais velha das mulheres do harém foi atrás deles.

–O que você quer conosco? – perguntou Tules, agora vestida como todas elas.

–Também quero fugir daqui.

–Não! – disse Kovuro – tenho gente demais para me atrapalhar.

–Então, seu grandalhão imbecil, tente sair da ilha! Por mar não conseguirá escapar dos canhões de luz. Nenhum barco e tão veloz!

–Ela tem razão, Kovuro – disse Tules.

–Então, mulher, fale! Qual é a sua proposta?

–Não escapará por mar de jeito nenhum!

–Não me faça perder tempo, mulher!

–Escaparemos por ar.

–Está louca, mulher?

–Vamos aos alojamentos dos visitantes, ali há um piloto de aeronave.

–Aeronave?

–Sim, aquelas coisas que voam, com gente dentro...

–Sei – disse Kovuro, lembrando dos ensinamentos do seu mentor.

–Vamos por aqui, direto aos alojamentos – disse a mulher tomando a dianteira e entrando numa sala dormitório onde surpreenderam um grupo de homens brancos e loiros estranhamente vestidos com roupas brilhantes.

–Aquele! – disse a mulher, apontando num deles.

–Venha! – disse Kovuro pegando o sujeito pela roupa e levantando-o como se fosse um simples boneco de pano.

–Que...Que querem de mim?

–Que nos leve na sua aeronave – disse a mulher do harém.

–Mas...! – começou a balbuciar – minhas diretrizes me proíbem...

–Nada disso – gritou a mulher – esqueça suas diretrizes ou este gigante o matará com uma mão. O fato de vocês todos estarem neste planeta já viola essas diretrizes que você afirma respeitar, seu alienígena enxerido!

–Está bem... Não me matem!

–Assim está melhor – disse a mulher.

Subiram ao telhado, onde estava, suspensa no ar, a aeronave do estrangeiro.

–Não tente nada ou morrerá – disse Kovuro com um olhar de ameaça que gelou o sangue azul do infeliz piloto.

–Não... Não se preocupe... – foi a resposta.

Kovuro colocou as armas a bordo e ajudou Aruen e Tules a subir junto com a mulher mais velha do harém, que havia demonstrado ser bem esperta.

–Como é o seu nome, mulher?

–Ariadna.

–Foi bom conhecê-la. Você sabia o que fazer.

–Eu era bem melhor antes de ser capturada pelos lacaios de Mama.

–E você? Como é o seu nome? – disse Kovuro dirigindo-se ao piloto.

–Yrnal.

–Você não é de Zhoropak!

–Não. Nem meus camaradas, que você deixou no alojamento...

–De onde são vocês?

–De D’Har-Minh, capital da Suprema Confederação.

–Isso explica as armas de Mama e a aeronave – disse Kovuro.

–O que fará comigo depois?

–Devia matá-lo pelo fato de tratar com essa megera...

–Não tenho negócios com ela. Sou só um piloto. Meu chefe ficou lá embaixo no alojamento. Ele violou nossas diretrizes...

–Mas é claro! – disse Ariadna indignada – vocês não deviam descarregar essas armas proibidas aqui; e muito menos para aquela megera!

–Sou só um piloto, eu já disse. Cumpro ordens.

–Está bem suba e dirija esta coisa – disse Kovuro.

–Para onde vamos?

–Para Purana.

–Muito bem. Mas espero que me deixe com vida depois...

–Depende da sua cooperação, Yrnal.

–A terá. Não quero mais problemas dos que já tenho.

–Ótimo.

O piloto confederado sentou nos controles com Kovuro do seu lado. Enquanto o arsenal continuava explodindo e alguns setores do palácio ardiam, o aparelho voador remontou-se ao céu noturno, no qual as estrelas apagavam-se com a aproximação do novo dia.

Na cidadela o terror continuava desatado, todos tinham medo uns dos outros, os cadáveres deixados pelo gigante de Purana apareciam por todos lados, aumentando o pânico geral.

–Será que ela morreu? – disse Tules.

–Talvez ela tivesse um plano de fuga – disse Ariadna com receio – mas eu espero não vê-la nunca mais!

–Você fez um massacre e tanto! – disse Yrnal, olhando pela tela visual.

–Fiz pouco ainda.

–Não quero ser seu inimigo, guerreiro.

–Não seja.

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Próximo: GUERREIROS DE PURANA

(Pouco depois, Kovuro conheceria uma nave estelar da Suprema Confederação, na qual embarcaria para novas aventuras, desta vez no espaço. Quanto a Aruen; ela seria curada pela ciência confederada e formaria um par romântico com o mercenário de Purana.

Ariadna e Tules...? Passariam a viver num mundo novo e ocasionalmente acompanhariam seu amigo Kovuro em suas aventuras.)

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FIM (DO COMEÇO)

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O conto KOVURO E ARUEN forma parte integrante da saga inédita

Mundos Paralelos ® – Fase 2 - Volume V, cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados,

sarracena.blogspot.com

Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 01/05/2011
Reeditado em 19/06/2017
Código do texto: T2942508
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