Uma floresta com um lago encantado

Uma floresta com um lago encantado

Havia um grande lago de águas claras, rodeado de um verdejante bosque com árvores frondosas de várias espécies, árvores frutíferas e cheias de flores com um perfume que penetrava na narina das pessoas. Os pássaros formavam verdadeiras sinfonias e pequenos animais conviviam com naturalidade com a presença das pessoas que se arriscavam a entrar na floresta.

O cheiro de terra molhada, das flores silvestres e de algumas frutas, deixava o ar mais agradável. Um verdadeiro Paraíso.

A moça havia descoberto aquele lugar recentemente e se encantara com tanta beleza. Daquela vez resolveu arriscar-se, indo mais além do que sua vista podia alcançar. Caminhou lentamente sentindo a natureza nos seus pés. Levava os chinelos numa mão e segurava a mãozinha frágil do seu filhote com a outra.

Caminhava feliz e tranqüila. Com uma paz dormente. Tudo era novidade. Os animais, os pássaros, a vereda por onde caminhava, o som das árvores quando o vento batia e o ar fresco que tocava seu rosto.

À margem do lago, um pequeno ancoradouro e um bote amarrado. Ela aproximou-se e mergulhou um pé na água transparente e fria. Observou até onde sua vista alcançava, mas não havia ninguém nas proximidades. Ela sentiu-se completamente dona daquela beleza. Sentia a natureza penetrando em seus pulmões com um ar puro.

Ficou encantada e se deliciando com aquela maravilha. Depois de um tempo avistou um caminho estreito entre as árvores e saiu caminhando lentamente. De repente assustou-se com um coelho que surgiu nas proximidades. Parou por um instante e se refez do susto e começou a gargalhar. Ria de si mesma e percebeu que o ambiente não oferecia nenhum perigo. Sentou-se em um tronco que havia no caminho e passou a observar a paisagem com maior interesse.

Seu filhinho começou a correr em volta dela tentando pegar algumas borboletas coloridas que enfeitavam ainda mais o ambiente. A vida parecia ter parado naquele dia para a mãe e para o filhinho. Cada borboleta que pegava trazia e mostrava para a mãe e sorria quando soltava o bichinho de volta ao bosque. Depois ia à cata de outra, e assim ficaram por longo tempo. Por instantes a mãe perdeu o controle da situação e quando percebeu o filho não estava nas proximidades. Olhou ao redor e resolveu fazer o caminho de volta rumo ao lago. Ao se aproximar do ancoradouro percebeu que o bote não estava mais amarrado e resolveu aproximar-se chamando pelo nome do filho. A certa distância percebeu que o bote seguia pela margem do lago e era remado por um jovem rapaz. Ele parecia apressado e enquanto agilizava o movimento dos remos, observou ao se virar, que não estava sendo seguido. A mulher continuou a observar o lago e começou a ficar aflita com o sumiço do filho. Desesperadamente ela começou a gritar e percebeu que o garoto levantou-se e fez sinal com a mão direita para a mãe. O rapaz puxou o garoto de volta para a base do bote e acelerou.

A mãe saiu margeando o lago, correndo feito uma fera ferida, e sentindo-se inútil, começou a gritar por socorro. Pulou no lago e saiu tentando nadar na direção do bote. O nervosismo tomou conta dela e o bote afastava-se cada vez mais. Ela tentava nadar, mas suas forças fraquejavam e ela começou a se afogar e não havia ninguém para lhe acudir. Depois de muitas subidas e descidas, engolindo muita água e perdendo o fôlego, aos gritos de socorro, Dolores acordou toda molhada de suor e com lágrimas que molhavam seu rosto. Ela sentou-se na cama e rezou pelo filho que havia sido raptado na maternidade e que ela perdeu completamente o controle do seu bebê. Chorou aterrorizada com o pesadelo.

Dolores era uma mulher que perdeu seu único filho. Quando passava em frente de uma loja de enxovais de bebês ela entrava, ficava observando e em seu sofrimento pegava as roupinhas, os sapatinhos e outras peças de recém-nascido. Cada objeto ela banhava de lágrimas. As lembranças partiam-lhe o coração. Durante muito tempo ela foi atormentada com a presença fictícia do filho.

Josa Pinheiro