A Verdadeira Máquina do Tempo - parte 8

O fogo se alastrava rapidamente. A fumarada, agora escura e densa, espalhou-se por toda a casa; impossível permanecer em seu interior. Peter agarrou pelas mãos a mulher e ambos atravessaram o salão principal. Naquele dia, viu, o cientista, a consumação, em poucas horas, de todo um trabalho de dias seguidos, trabalho que lhe custara horas insones de dedicação e esforço. Mais do que o prejuízo material, lamentava a perda de todos os dados e de todas as provas que conseguira juntar. Grande parte de tudo isso, seu portentoso e privilegiado cérebro e sua distinta capacidade de memória conseguiriam recuperar, mas, o mais importante, a base do que vinha pesquisando e estivera tão perto de conseguir não havia como lembrar ou refazer. Por questão de minutos não terminara todos os cálculos. Ficou a convicção de que, o que precisava, o conseguimento da matéria de densidade negativa para a construção de sua máquina do tempo, era perfeitamente factível; vira isto com seus próprios olhos; era, portanto, uma realidade.

Começaria de onde fosse necessário e com os instrumentos e elementos que possuía. A casa precisaria de alguns dias para adquirir sua aparência original. O incêndio afetou-a de jeito. Um novo laboratório teria de ser construído. Porém, o primordial estava na viagem astral que devia empreender. No dia seguinte ao sinistro, encontrava-se o casal em casa de uma das irmãs de Janet. Ali, devidamente acomodados, deram, Peter e Janet, sequência aos preparativos para a viagem astral. Todo o processo ocorreu sem maiores contratempos devido à prática já alcançada. Com o sentido da quinta dimensão pressentiu Peter o ser que o visitara no laboratório.

- Seja benvindo -disse a criatura. - Já o esperava.

- Porque destruiu o laboratório?

- Não há a mínima necessidade de nada daquilo. Esqueça suas experiências longas e cansativas. Digo que está mais do que pronto para as viagens no tempo, se é realmente isto o que pretende.

- Não vou precisar de uma máquina?

- Você é a própria máquina. Seu aperfeiçoamento mental e espiritual já o tem preparado. Suas configurações astrais estão adequadas a fazê-lo movimentar-se pelo espaço infinito sem a necessidade de algo físico como uma máquina do tempo, por exemplo. A partir de agora você é todo pensamento.

- Como poderei provar ao meio científico ...

- Esqueça o meio científico. A ciência do seu tempo é por demais atarracada para entender as verdades que você adquiriu; eles não vão entender. Todavia, isto não é problema. Pode lhes apresentar uma máquina; veja. - E começou a fazer desfilar, à frente da visão astral de Peter, uma série do que seria uma máquina do tempo na concepção humana. Em todas, porém, colocou uma característica comum, uma espécie de curvatura sanfonada o que a tornava entre cilíndrica e arredondada, visto que retrátil e maleável.

- Vou utilizar-me de toda sabedoria que você já tem adquirido para resumir o que precisará fazer a fim de convencer a sua gente, se isto é assim tão importante para você.

A partir desta explicação ficou claro para Peter o que deveria fazer dali em diante. Entendeu imediatamente, pelos formatos das máquinas que lhe foram apresentadas, que a teoria sobre a qual vinha se debruçando há anos, seria a mais acertada para o fim a que se propunha.

- Evidente que a teoria sobre esses tais buracos de minhoca a que se referem ainda se encontra longe da verdadeira realidade, mas não deixa de ser um passo importante e acertado. Portanto, pode utilizá-la em suas explicações. Mas, não percamos tempo. Escolha uma época para a qual gostaria de se transportar.

- Mas, como? Não sei como fazê-lo, nem como se manobra essa coisa.

- Ah! ah! ah! ah! ah!

Essa gargalhada sonora e repentina assustou sobremaneira o cientista.

- Deve estar brincando! Esqueça a máquina; é um instrumento simbólico, não passa disso. Será utilizada em seu planeta quando assim eu designar. Sua viagem pelo tempo será em plano astral. Seu corpo físico é mera carcaça, tão inútil quanto as máquinas que acabou de ver.

- Então viajarei em espírito, é isso?

- Muito mais do que isso;. Viajará astralmente, como já vem fazendo. Estamos em plano astral ainda envolto pela atmosfera do seu planeta. A partir de agora, sob minha proteção e guia, terá você todo o universo à disposição. Considere-se o líder, o mentor espiritual, se assim achar melhor, de toda a raça que deixou lá embaixo. Posso dizer que seja um privilegiado; contudo, sabe melhor do que eu, que foi o seu esforço diário, sua concentração e devoção que permitiram chegar aonde se encontra agora. Não foi apenas o estudo dedicado e árduo o responsável por tudo, mas seu caráter e altruísmo; os cargos e as posições rendosas que abdicou em prol do amor ao seu objetivo maior: beneficiar a humanidade com suas pesquisas.

- Que planeta é o seu?

Por melhor que tente explicar a respeito de minha origem e minha procedência, afirmo que a condição de desenvolvimento em que hora se encontra não permitirá o seu entendimento, embora esteja o seu entendimento, em relação aos de sua raça, há anos luz de diferença, como há anos luz está minha casa. Deixemos, todavia, e por hora, outros sistemas planetários fora de sua rota e meta atual. Será as viagens no tempo, o objetivo primordial. Visitas a outros mundos só serão possíveis após o seu aprimoramento advindo das épocas que visitará em seu próprio mundo: o planeta Terra. O que sempre sonhou conhecer?

- Pode me remeter a meus ancestrais? Sempre tive curiosidade em conhecer as origens de minha família.

- Não é aconselhável que faça isto por hora.

-Posso saber por que? Não, não me responda. Acho que já sei a

o que se refere: com certeza ao paradoxo do avô. Você sabe que isto jamais poderia acontecer.

Peter se referia ao fato de representar um perigo voltar no tempo, dado o risco de o viajante matar, por exemplo o próprio avô antes que tivesse filhos. Nesse caso, o viajante não poderia ter nascido nem voltado no tempo para matar o avô. Por outro lado, há uma solução lógica para isto e é obvio que a criatura esteja ciente. Cálculos matemáticos demonstram que alguém que sai do presente e volta para o passado nunca poderia estar em posição de interferir no futuro. Ele jamais encontraria o avô. Ou, se o encontrasse e o desafiasse para um duelo, erraria o tiro; avô e neto seriam como imãs que se repelem.

- Evidente que não há esse perigo. São outras as razões que me impedem de mandá-lo, por hora, ao passado. Guarde, por enquanto, sua curiosidade. Eu, no seu lugar, estaria muito mais ansioso em visitar o futuro. Não acha que tem muito mais a ganhar em sabedoria e experiência ao conhecer o ainda desconhecido por todos e até, quem sabe, o inimaginável?

- Sem dúvida que sim, é que ...

- Não precisa continuar, já entendi. Mas, não há razão para o medo. Posso assegurar isso. As sensações, quer sejam físicas ou emocionais, por que terá que passar não diferem muito das que já viveu até aqui. Além do mais, nosso contato se fará continuamente e caso haja perigo em alguma situação, farei com que não seja afetado.

- Muito bem. Tudo que falamos até agora está relacionado a experiências astrais, mas, e o meu corpo que deixei lá em baixo?

- Agora é que vem a parte mais interessante de toda história.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 03/08/2011
Reeditado em 04/08/2011
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