O MISTÉRIO DE SPRINGFIELD - PARTE 7

Tendo já percorrido um longo trecho do caminho, encontravam-se agora a menos de meia milha de uma encosta que era o ponto limite de um platô que se via a esquerda. Patrick fez com que todos parassem. Queria analisar melhor onde estavam. O chão, dali em diante, era quase todo em rocha calcária, a se perder na continuidade da estrada que ia em direção ao centro da planície. Retomaram a caminhada, porém, desviando o rumo e seguindo no sentido da encosta. Não haviam andado cinqüenta metros quando uma transformação e um susto paralisou-os sem que tivessem tempo sequer para sacar as armas e reagir. Os olhos de Pat tomaram aquele terrível aspecto já conhecido ao se hipnotizarem diante do enorme buraco a uns oito metros do veículo.

A criatura, ali surgida de medonha profundeza, e aureolada da mais indescritível luminosidade, emitia uma ordem. Em uma ação tão rápida quanto impensável, Pat agarrou, com ambas as mãos, o carregador a seu lado, cujo verdor dos olhos era não mais que medo e horror. Com a facilidade de quem se desfaz de simples casca de banana indesejável, lançando-a em uma lata de lixo, ela atirou o coitado, que foi cair e desaparecer no marsúpio da fera, cuja bolsa fechou-se imediatamente. Em passos para trás, sumiu dentro do enorme túnel, deixando no ar os ecos dos tiros disparados por Patrick e seu ajudante.

Jane, chorando desesperada, tentou descer do cavalo. Uma das sandálias brancas que calçava desprendeu-se-lhe do pé ao ter a fivela arrebentada no choque com as pedras. Patrick apeou-se a fim de ajudá-la, mas ela correu para a charrete. Ao tentar subir, viu que um dos pés, o direito, sangrava e percebeu a dor. Ele auxiliou-a ao mesmo tempo em que esticava a outra mão para segurar a sandália que o policial lhe atirava. Pat passava pela fase do choque que a deixaria prostrada por algum tempo. Tentaram dar-lhe um pouco de água de um cantil, mas sem sucesso. Acomodaram-na então no veículo. Tinha o corpo e os membros entorpecidos.

– Leve-a para casa, deixe que cuidemos do resto. – Patrick não conseguiu convencer Jane que, por sua vez, não aceitou os seus conselhos. Ela ordenou ao homem de barba e chapéu de palha que seguisse em frente, com todo o cuidado.

Patrick, já em seu cavalo, ia à frente de todos, a mais ou menos vinte metros de distância. Alcançaram o platô e chegaram à encosta. Num estudo que fez das rochas, intuiu o local onde poderia ter sido uma das entradas da mina. Descobriu em seguida mais dois possíveis acessos. Sinalizou para os homens, que foram até o veículo e desembarcaram as caixas. Após um exaustivo trabalho de três horas de escavação, tendo deixado de lado as outras possibilidades, expuseram o que, na verdade, era a entrada principal. Porém, teriam mais pela frente; aí as forças físicas, vencidas, deram vez à engenhosidade humana. Mais uma hora de preparo e colocação das dinamites. Voltaram até a sombra onde estavam os outros e cearam. Após a inspeção e ordem de Patrick, ouviu-se a detonação. O estrondo, seguido de rochas e estilhaços cuspidos para todos os lados, descortinou o caminho escuro, misterioso e s inistro que teriam pela frente. Quem possuísse coragem que os acompanhasse, e Jane teve essa coragem; e o faria destemidamente.

Desceram por uma rampa e penetraram nas frentes de lavra, chegando à galeria do topo. Lentamente, iluminando com suas lanternas restos de travessas, escoramentos e pedaços de correias transportadoras e outros objetos que sobreviveram à ação dos anos, alcançaram uma galeria de base. Desceram mais uma rampa; chegaram ao que denotava ter sido um complexo nível de preparação, desmonte e manuseio de recursos da mina. O calor ali reinante estava insuportável; todos suavam em profusão. Patrick percebeu o pilar de sustentação do poço ainda totalmente intacto, mas cheio de rachaduras, e só seguro graças ao capitel que o encimava. Os skips transportadores mostravam-se partidos e completamente inutilizados pelas rochas que vieram iluminando os painéis das vias secundárias. Ele e todos que acompanhavam o foco de sua luz detiveram-se apalermados; filões de diamantes, em sua forma bruta, desfilaram a nte os olhares estarrecidos. Em alguns pontos, o minério coriscava incessantemente. Para um dos lados em que pendiam as jazidas surgiu enorme abertura. Parecia uma passagem em forma de arco, cujo perigo Patrick pressentiu de imediato e o fez desligar a lanterna; sinalizou para que os outros fizessem o mesmo. Devia ter de cinco a seis metros de diâmetro. Era em forma de abóbada e assemelhava-se à parte superior da entrada de uma caverna.

Ao aproximarem-se, em sepulcral silêncio, sentiram-se enregelar ao notarem a mesma presença verde, porém, distante. Patrick adiantou-se e chegou à entrada. Viu um inexplicavelmente amplo recinto. Acostumando a visão percebeu, de um lado, um fenômeno inédito de concreção calcária, no qual as estalactites do teto, ao unirem-se às estalagmites do solo, formavam imensas pilastras, cujo gigantismo e forma excediam a qualquer comparação que ele pudesse fazer e, o mais excepcional, na outra metade daquele salão tenebroso, estas formações estavam totalmente interrompidas, como se algo muito forte as tivesse destruído.

A luminosidade esverdeada despertou nesse momento toda sua atenção e quando também os outros, que agora olhavam com ele, viram-lhe a origem, não conseguiram conter o espanto. A criatura, a monstruosa criatura, recostada à imensa parede rochosa exibia-lhes o todo do seu pavoroso aspecto. Os olhos dardejavam este verdor quando ela os abria e mirava ao redor; como uma luz horripilante tudo iluminava. A cabeça era pequena e desproporcional em relação ao tamanho do corpo que se aproximava dos cinco metros prefigurados por Patrick, se não mais. Quanto ao resto, tudo se assemelhava aos conhecidos marsupiais. A respiração amedrontava pelo ritmo e pelo barulho ensurdecedor. Nas extremidades das patas posteriores, a mesma luz cintilava. Ao lado, a pouca distância, a abertura de um túnel.

– Temos que encontrar Henri, você o vê? – disse Jane logo atrás; na voz, medo e aflição.

– Só há um meio. Atrair aquela coisa de alguma forma. Vamos jogar com as suas armas que é a luz.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 09/05/2012
Reeditado em 08/06/2015
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