O nascimento dos Assassinos Intergalácticos.

I

Verdade era que não me era de todo ruim deixar tudo o que conheci antes, afinal depois de uma vida de estudos frenéticos e sem pausas, aos meus 28 anos de idade finalmente conseguira o que sempre sonhei, seria um dos pilotos de elite, um dos primeiros da geração extragaláctica para exploração no espaço-sideral.

Éramos uma tripulação de cinto, todos homens, quando nosso veículo a Raposa entrou em órbita finalmente, numa época em que, caso não se estivessem extintas as estações, seria um meio de verão. Cientes estávamos de que a probabilidade de voltarmos para casa era minúscula e na realidade não nos importávamos, todos, homens não muito desejáveis sem família ou amigos, ou talvez o inverso, não nos importávamos com nada a não ser seguir nosso caminho pela eternidade sideral.

A Raposa era equipada com milhares de sensores de potencia absurda, com capacidade de detectar rastros de radiação e energia emitidos por quase todas as moléculas de conhecimento da humanidade, além disso ela tinha a capacidade de criar e inverter a gravidade conforme nossos desejos, era a obra prima da ciência e da humanidade; e se falhássemos em encontrar, bem, não haveria muitas décadas à frente para nossos irmãos de vida no planeta natal.

O maior motivo para eu desejar me tornar o que sou, além de ter sido encarcerado por terem identificado a minhas habilidades, é a de que simplesmente não suportava a vida tão superficial e cretina que se estava levando nas ultimas décadas em que estive por lá; criaram-nos, ensinara-nos para que pudéssemos encontrar um modo de salvar a pele da raça que arruinou seu futuro desde que começaram a caçar uma tal evolução usando todos os meios disponíveis sem se importar com nada.

II

Alcançamos o limite do mundo conhecido por nossa raça, quase não se havia coletado dado qualquer que fosse próximo do que desejávamos, ou seja, sinais de um planeta com condições habitáveis, contudo nos monitores podia ver claramente uma gama de energia desconhecida vindo se acumulando em algum lugar à frente, estávamos tentados a ver o que seria aquilo, embora soubéssemos que passar daquele limite imposto e da linha de risco que a Raposa nos alertava, seria praticamente encontrar caminhos de volta. Não tínhamos motivos para voltar, voltar para onde? Como num acordo decidimos ir em frente, para o desconhecido do horizonte túrbido que nos esperava. O que havia adiante não estava no catalogo do mapa interestelar da Raposa, estaríamos às cegas indo direto para onde estava a tal energia aglomerada relatada pelos nossos sensores; senti um frio percorrendo meus nervos, entendia que não nos daríamos bem nessa cruzada.

Havia mais de cinco anos que estávamos no nosso caminho pelas estrelas, e dois desde que saímos dos caminhos conhecidos, apesar de termos dirigido quase 100% da capacidade de nosso veículo para a os potenciadores nos motores para tentarmos alcançar o objetivo o mais rápido possível por conta de nossa excitação, demoramos muito para nos aproximar. Durante esse tempo conseguimos coletar mais dados e notavelmente, segundo o supercomputador eram potenciais planetas habitáveis, contudo tínhamos um outro interesse no momento, o desejo dos outros humanos poderia esperar, afinal, nossos dados provavelmente eram enviados para casa. E finalmente estávamos cara a cara com o que buscamos.

Ali estava um gigantesco orbe de luz, não como uma estrela, não emitia o calor e radiação de uma, mais um pouco de tempo e enfim descobrimos, ele estava sugando a luz, um buraco negro supermassivo que engolia os restos de estrelas suas vitimas; havíamos que recuar antes que o mágico horizonte nos alcançasse, contudo não podíamos mais, a força de atração era milhares de vezes mais forte do que nossos propulsores, a morte estava chegando, era aquele o fim.

Quando chegamos ao ponto critico de aproximação e a Raposa começara a se retorcer como uma lata de alumínio amassada sob nossos pés, seriamos transformados em filetes de macarronada e sendo jogados no nada do corpo daquele monstro celeste.

¬ –Reverter ponto gravitacional! Centrar a fonte de energia nos geradores de gravidade e suporte vital!

Não iriamos desistir assim tão fácil, ao reverter a gravidade em torno da Raposa anulamos a torção gravitacional do buraco negro, contudo não conseguiríamos escapar de sermos engolidos pelo buraco negro, só restava torcer para não perder a capacidade da nave e sermos feitos em pedaços e que aja uma saída para fora daquilo. Todos os alertas dispararam quando finalmente estávamos na boca do gigante que emanava luz, fomos jogados de um lado para o outro, apaguei em seguida, provavelmente bati a cabaça e desmaiei. Despertei da mesma forma, sendo jogado de um lado para o outro, tentávamos nos segurar e mantermos em pé, o alerta vermelho não cessara e os monitores mostravam que do lado de fora paisagem que jamais fora vista, tudo ali se destorcia, pequenas explosões como se as moléculas estivessem se chocando, um show de luzes espaciais em um caminho de cores boreais dançando em volta e podíamos ver o exterior daquilo como se estivéssemos num tubo semitransparente, um buraco de verme! Sim eles são reais, estávamos através de um! Deduzimos, em meio às turbulências, se aquilo era um buraco de verme, provavelmente existiria um buraco branco, a saída, contudo uma saída fatal, pois tudo que estava sendo engolido pelo buraco negro se chocaria violentamente do outro lado e não poderíamos resistir a isso, iriamos morrer de qualquer maneira, era preciso sair de alguma forma, mas não pelo mesmo buraco que todo o resto.

Corri até o computador principal, na cabine de comando acima, fui sendo atingido por pedaços de muita coisa vindo daqui e dali, gravidade zero; ativei os comandos de principio manual, existia um plano em minha mente. Ativei a navalha progressiva, objeto criado originalmente para rasgar e fazer fissuras espaciais, jamais fora testada, aquele era momento. Saíra de baixo de uma das asas auxiliares do lado direito; carregada de energia, já era possível ver que aquela coisa realmente causava algum distúrbio onde a lâmina de energia passava, deixando para trás um estranho rasgo que logo se fechava. Enchi-me de veracidade e desferi o golpe contra a parede do corpo de luz do buraco de verme. As turbulências aumentaram de forma drástica, realmente havia-se feito uma fissura no corpo ao qual estávamos viajando, agora o tal buraco nos sugava, então ligamos os motores e atiramo-nos ali.

III

Logo a fenda fechara-se atrás de nós, notavelmente parecia que havíamos caído em meio a uma galáxia, a Raposa estava um tanto próxima de um planeta azul e sua lua, logo os sensores dispararam, o mapa registrara e calculara os dados, Via-Láctea, estávamos em casa. Não podia crer que aquele planeta era o nosso, envenenado e poluído, que quase assumira uma cor roxa por conta da toxicidade em que estava, Alfa-Analoite, como passara a ser conhecido o nosso planeta após se tornar quase inabitável. Ali estava ele em sua pureza azul de outrora, era possível que em menos de dez anos em que viajamos pelo espaço conseguiriam restaura-lo, não, não era possível, pois até mesmo a disposição dos continentes parecia o dos antigos tempos e não o do nosso. Fizemos a analise com nossos sensores e o absurdo que imaginei foi o mesmo que as máquinas disseram: A fissura que fizemos e pela qual fomos atirados, nos levou ao passado em quase mil e duzentos anos. Afinal um buraco negro era capaz de coisas além do imaginável e destorcer o tempo-espaço. Conseguimos descobrir o tão desejado segredo de viajar no tempo!

Enchemo-nos de compaixão ao ver o planeta ‘puro’ e lembrar de seu futuro, um sentimento escuro apossou-se de nós. Poderíamos nós, mudar o futuro? Impedir que a humanidade alcançasse as tecnologias que os levou à ruina? Faríamos isso. Aprimoramos nossa habilidade de viajar pelo tempo através de buracos negros e seus seguintes. Desenvolvemos armas para nós em nossa Raposa. Passamos a ir e vir no tempo assassinando os grandes descobridores das tecnologias e vendo a consequência disso, dependendo do futuro que se sucedera voltávamos e fazíamos diferente. Matando e matando sem arrependimento, por nosso planeta azul.

Esse foi o nosso nascimento, o nascimento dos assassinos intergalácticos.

Ariel Lira
Enviado por Ariel Lira em 31/05/2012
Código do texto: T3697972
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