Pequenos monstros.

Achava que a vida era um conto de fadas. Fui criada pra isso. Pra viver nessa bolha cor-de-rosa que me tornou aquela que eu sou. Isso me fez bem... E me fez muito mal. Me fez ser feliz ao máximo que podia. Por mim mesma, sem precisar de outras pessoas. E isso é bom. Mas também me levou a sentir mais. Cada pequena perda, cada pequena dor... Se converte em um pequeno monstro que habita meu armário. E já são tanto por lá, nessa curta vida. Que me pergunto o que posso fazer com eles? Eu os liberto ocasionalmente. Mas todos os dias alguns teimam em voltar. Em marcar de novo, arranhando a porta, sangrando ela.

Então eu tento meditar sobre tudo isso, e tento me livrar do barulho ensurdecedor das unhas na madeira. Mas a cada dia ele fica mais alto. Até que eu consegui estourar a bolha, e por um tempo eu consegui me livrar desse barulho. Pensar pela primeira vez. Almejar pela primeira vez o por-do-sol que me tornaria livre de vez dos meus pequenos monstrinhos.

Mas a luz também tem seus problemas. Conheci toda uma nova raça de pequenos arranhadores, mas esses eram diferentes. Esses não machucavam apenas meus ouvidos. Esses não se contentavam com os armários. queriam mais. Queriam a minha dor, fisica e espiritual. Queriam quebrar minha alma e me ver sangrar... E o mais engraçado de tudo isso é que... Esses monstros de luz do dia, essas criaturas que tanto me machucam fora da bolha... São exatamente iguais a mim. Em todos os aspectos.

Shriekes
Enviado por Shriekes em 31/07/2012
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