O MISTÉRIO DO LAGO "FINAL"

leias os capitulos anteriores pra entender a continuação. obrigado pela visita. deixe seu comentário para que possa ir ate sua pagina e agradecer.

Alguns anos atrás...

Em Marília onde moravam os primos Henrique e Samuel, seus pais, avós e tios preocupados por eles não retornarem para casa na data prometida, começaram a se preocuparem. Esperaram por dois dias e nada, então resolveram ir até a delegacia da cidade e dar queixa de desaparecimento. O delegado "doutor Miguel" já conhecia bem essa história, e como a família foi logo na delegacia avisar do desaparecimento dos rapazes, logo se apressou, reuniu sua equipe e prontamente foram até a fazenda da família, para refazer o caminho que os primos fizeram, já que eles partiram de uma estrada que ficava na parte de trás da fazenda. O delegado mais quatro homens, dois policiais e dois bombeiros deixaram a viatura na fazenda e se embrenharam na mata montados em cavalos.

Ainda era cedo quando começaram a viagem. Não passava das sete horas da manhã.O tempo estava frio e uma forte garoa caiu na floresta. Com jalecos de couro e capas de chuva os homens se despediram da família. Dona Henriqueta, avó dos rapazes lhes deu uma sacola com algumas comidas como biju, uma espécie de tapioca que é mais dura e pode ser acompanhada de café, levar carne não era boa ideia, pois o cheiro poderia chamar atenção de animais perigosos. Os homens montados em seus cavalos foram sumindo na estrada coberta com a garoa fina que caía. Algumas árvores estavam marcadas pelo caminho com uma espécie de tinta vermelha, outras com uma marca em X feita com o facão. Depois de duas horas de cavalgada, resolveram parar para comer e discutir sobre como seria o restante, já que boa parte do caminho teria que ser a pé. Continuaram a viagem seguindo as marcas deixadas pelos primos, a noite dormiram numa barraca. De manhã tomaram café com biju e retomaram a viagem, agora puxando os cavalos. As marcas os ajudaram muito, já que havia muitas trilhas na mata, mas uma coisa chamou atenção de um dos policiais.

- eles estavam fazendo um caminho reto doutor, porque nesse trecho eles mudaram completamente o caminho? Pela marcação eles estavam indo para o norte e agora viraram 90 graus ao leste, sendo que seria mais fácil pegar outro caminho no começo da estrada.

- realmente é estranho, a não ser que por algum motivo se perderam, no depoimento do senhor Bernardino ele disse que se perderam depois de uma forte neblina cair no local, mas aqui apesar dessa garoa a visão é boa e não dá pra se perder – disse doutor Miguel.

Mesmo assim seguiram a trilha marcada pelos primos, passaram mais uma noite e nada, seguiram pela manhã novamente até que as marcas sumiram.

-vamos parar aqui e seguir a pé, por algum motivo eles pararam aqui e não marcaram mais as arvores, -disse o delegado.

O lugar não havia trilha, simplesmente ela terminava ali, uma mata fechada de todos os lados e uma pequena clareira no centro.

- pra onde teriam ido, aqui não tem saída, se tivessem sido atacados por alguma onça teria algum vestígio, mesmo assim eles estavam armados segundo o avô, o que fazemos agora doutor? – perguntou um dos policiais.

Doutor Miguel pediu para um dos bombeiros subir numa árvore e observar se havia alguma trilha por perto. Salvador como se chamava o bombeiro disse ao delegado – doutor há uma pequena clareira lá embaixo, parece um campo de futebol, todinho gramado mas há muitas folhagens e uma descida pra chegar até lá.

- ok, vamos abrir o mato com o facão só tomem cuidado para não caírem.

Assim foi feito, com o facão abriram o caminho cortando o mato e foram descendo até o grande gramado, era um bom lugar para piquenique, as sombras das grandes arvores protegiam o gramado que era rodeado de margaridas brancas e amarelas e algumas flores do campo.

- doutor, doutor, gritou um policial, - venha ver isso.

O policial Mascarenhas descobriu uma das cangalhas toda retorcida e molhada jogada há uns trinta metros dali, as bolsas com os alimentos ainda estavam no mesmo lugar, as tapiocas feitas pela avó, assim como o açúcar e café, logo mais adiante encontraram a outra cangalha que levava as redes e os cobertores. Um dos bombeiros encontrou o restante de suas roupas enroscadas nos galhos baixos. Depois de fazerem uma varredura pelo local não encontraram mais nada, a não ser uma coisa que chamou atenção dos policiais, debaixo de uma arvore havia estrumes dos jumentos que parecia ser recente juntamente com outros secos.

- mas o que será que aconteceu aqui, pra eles largarem tudo para trás? - Indagou Mascarenhas.

- não sei, é o que temos que descobrir, talvez quisessem se livrar do peso e poderem cavalgar nos jumentos, mas isso não justifica, já que deixaram a comida nas bolsas, alguma coisa não está batendo, amarrem os cavalos e vamos dar uma olhada nos arredores - ordenou doutor Miguel.

Depois de algumas horas andando na mata, um som ecoou na mata, era o relincho de um jumento, aquilo espantou os policiais e ao mesmo tempo acreditaram que encontrariam os primos.

- por ali doutor, o relincho do burro veio daquele lado, - gritou o bombeiro.

Abrindo a mata e cortando os capins que estavam altos, finalmente encontraram os animais, estavam felizes e gordinhos, soltos na natureza com comida em fartura, era o sonho de qualquer jumento que quando sentiram a presença dos policiais ficaram arredios, mas os homens procuraram se aproximar sem que os assustassem, aos poucos chegaram perto e os seguraram pelo cabresto. Já estava escurecendo quando encontraram os jumentos, então voltaram logo para onde haviam deixado os cavalos e passaram a noite lá, os jumentos agora haviam perdido a liberdade novamente e estavam amarrados ao tronco da arvore na companhia dos cavalos. Assim que o dia amanheceu retornaram as buscas pela região, procuraram por todo canto durante dias e também por explicações do desaparecimento, mas jamais encontraram respostas, retornaram ao local mais outras vezes com cães farejadores que não ajudaram muito, apenas ficaram latindo sem sentido, o delegado doutor Miguel resolveu reunir a família e encerrar as buscas, pois não tinha mais o que fazer meses, anos se passaram e nada dos primos aparecerem.

Aquela parte de Cirith era diferente, o lugar onde ficava a região dos Pakalalas que se chamava Ungol, era bem diferente do restante daquele pequeno mundo perdido em algum lugar do tempo e espaço. Ungol apesar de ter as mesmas estações climáticas que o resto do planeta, sua área era privilegiada porque sua população contribuiu para que estivesse assim, a caça predatória era proibida, assim como a pescaria e desmatamento de sua reserva de arvores, quando a época de chuvas passava, demorava muito tempo até a próxima estação, então fizeram um tipo de cisterna que recolhia as águas da chuva e usavam para a lavoura e para beber, já que tomavam banho no grande lago que cercava sua fortaleza. Josué e Raimundo ensinaram suas habilidades aos pakalalas assim como Cellis e Cássia ás hackas.

Passou a era do gelo, da primavera, do verão, outono e consequentemente o alinhamento das quatro luas, e com ela também as chuvas torrenciais, um grande tronco cortado ao meio e uma cava no centro fazia uma espécie de escorregador, as águas das chuvas caiam dentro do tronco e descia para dentro das cisternas.

Muon Pu Lala reuniu os humanos e explicou para eles como era o procedimento, para que pudessem voltar ao seu mundo, na sua língua juntamente com gestos ele deu detalhes de como seria:

- primeiramente, em nome de meu povo os agradecemos por tudo que fez pelo nosso povo e por nosso mundo, pelas técnicas que nos ensinaram e pelas receitas que ensinaram a nossas hackas, nosso povo aprendeu um pouco com vocês e sei que vão levar alguma coisa boa daqui também.

- obrigado Muon, apesar de tudo o que passamos, poderia ser muito diferente se não fosse a sua amizade e sua ajuda, mesmo sendo estranhos e intrusos em seu mundo, nos deu sua hospitalidade, já não sei se no meu mundo vocês seriam tratados da mesma forma, mas agradecemos por tudo que fez por nós, - disse Josué.

- meu povo sempre foi da paz e zelamos para que isso continue, tanto no nosso povo quanto nas outras tribos, com o fim de Mukala, vamos viver em paz, assim espero. Agora vou explicar como terão que fazer na noite do alinhamento. – primeiramente vamos ter que leva-los até o lago onde vocês caíram antes que aconteça o alinhamento, mas tem um pequeno problema que poderá atrapalhar os planos.

- atrapalhar? Sabia que não seria tão simples – disse Cassia.

- vão precisar de alguma coisa que veio com vocês do outro mundo, algum pertence.

- mas não temos mais nada, só tínhamos nossa roupa, mas com o tempo que passamos aqui era impossível estarem ainda boas, não temos mais nada com a gente que usávamos naquele dia, - disse Raimundo meio desesperado.

- mas por que isso é necessário? – perguntou José Antônio.

- porque para o portal transporta-los para seu mundo, ele precisa identificar alguma coisa que passou para esse lado.

- mas não serve a gente mesmo? – perguntou Samuel.

- não, tem que ser objetos, porque não são só humanos que atravessam esse portal, assim ele poderá transporta-los para qualquer mundo.

- Deus me livre, nem fale isso Muon, cair em outro mundo é tudo o que não queremos. – disse Cellis.

- terão que estar prontos logo, quando o sol começar a baixar teremos que partir, até lá pensem em alguma coisa, ou vão ter que ficar conosco mais um pouco e não se esqueçam, nosso tempo é diferente do seu mundo, aqui o tempo passa devagar, os dias e noites são muito mais longos, sentirão uma boa diferença quando chegarem ao seu mundo, agora descansem e tentem encontrar algum objeto que vieram com vocês.

Todos começaram a procurar por alguma coisa, os últimos que chegaram foram Samuel e Henrique, mas suas roupas também já não existiam mais, Cellis passou a mão no pescoço, se lembrou da corrente que usava no dia com um crucifixo como pingente, mas que se perdeu quando foi presa pelos Gnorus, agora só tinha uma pequena gargantilha feita com uma tira de couro de Glokus e com uma semente de cor vermelha e amarela de uma arvore nativa que dava lindas flores vermelhas e algumas vagens com estas sementes que eram comidas por alguns pássaros de Cirith.

- caramba Henrique! Como pudemos esquecer disso?

- esquecer do que?

- lembra de quando fomos capturados, estávamos escondidos naquela árvore.

- nossa! É verdade, como pudemos esquecer disso, agora sabemos onde encontrar um objeto.

- do que vocês estão falando, não estou entendendo nada. – disse Josué.

- na noite que fomos capturados, estávamos escondidos numa grande árvore, depois que saímos do lago e voltamos pro mesmo lugar porque não encontramos nada, ainda estávamos nus porque quando caímos no redemoinho, estávamos nadando pelados, sem comentários por favor, então... aí nossa roupa apareceu boiando no lago junto com a espingarda e nossos facões e como não podíamos usar contra Mukala, deixamos escondidos num oco no pé da arvore, e devem estar ainda lá.

- até que enfim uma boa notícia, é a nossa passagem pro nosso mundo, mas dois homens nadarem pelados soa meio estranho não é não Cellis? – perguntou Cássia.

- com certeza, mas vamos dar um desconto porque são primos.

-engraçadinhas, é melhor que quando estivermos do outro lado, essa conversa tenha morrido aqui. - disse Samuel.

- agora vamos descansar um pouco e quando Muon chegar, vamos avisar que queremos passar por esse lugar, - disse Josué.

Já estava escurecendo quando a lua deu sinal nos céus de Cirith quando um guerreiro Pakalala os chamou dizendo que o chefe estava esperando por eles lá fora, rapidamente todos se levantaram e foram para fora onde havia uma enorme multidão para se despedir deles.

Muon Pu Lala estava montado em seu Glokus com dois guerreiros, mais dois animais estavam prontos para transportar os humanos, como os Glokus eram muito altos, uma pequena escada de cordas foi improvisada para subirem, um animal levaria todos de uma só vez, já que os humanos eram pequenos, Elton, Cellis, Cassia e Josué montaram em um Glokus e Samuel, Henrique, Raimundo e José Antônio foram em outro. Enquanto partiam, o povo Pakalala soltaram gritos de guerra dando adeus aos amigos, Cellis e Cassia apesar de estarem felizes de ter a oportunidade de retornar para casa, deixaram as lagrimas caírem por saberem que jamais voltariam a vê-los novamente. Durante a caminhada Josué disse ao chefe que queria dar uma parada numa grande árvore onde Samuel e Henrique estiveram. Depois de algumas horas Henrique reconheceu a arvore de longe e mostrou para Josué que avisou a Muon Pu Lala, a grande arvore parecia estar perto, mas levaram quase trinta minutos do tempo dos humanos para chegar até ela. Finalmente chegaram, um guerreiro fez com que o Glokus abaixasse para eles descerem, foram até o pé da arvore e pularam a grande raiz e pegaram os objetos que ainda permaneciam no buraco, recolheram a espingarda e o facão que causou curiosidade ao chefe que achou estranho aquele objeto, o facão ele já conhecia, pois Josué fez alguns em tamanho maior para os guerreiros Pakalala, mas a arma de fogo era novidade, mas Josué disse que não seria possível produzir em Cirith, claro que se ele quisesse ele conseguiria produzir uma réplica, mas se dissesse isso Muon Pu Lala poderia querer que ele voltasse para ensinar ao seu povo. Meio contrariado Muon Pu Lala seguiu caminho, a noite estava escurecendo rapidamente e a chuva começou a cair forte, chegaram até a região alagada, dali em diante teriam que irem a pé, pois o peso dos animais com eles em cima poderiam atolar na lama, logo a região inundou, tiveram que esperar a chuva passar e as águas entre os troncos secos baixassem o volume.

Uma retrospectiva passou pela mente dos humanos, foi naquele lugar que andaram quando caíram em Cirith e foram capturados pelos Gnorus. Depois de atravessar a região alagada, chegaram a terra firme, um banco de areia anunciaram que estavam chegando ao lago, uma sensação estranha fez com que os humanos respirassem fundo, finalmente aquele seria o grande momento que todos esperaram, a possibilidade de retornar pro seu mundo, mesmo cheio de problemas bem maiores que que Cirith, mas era o seu mundo, a sua terra, o seu povo. Muon Pu Lala aproveitou para dizer aos humanos como seria o procedimento e para confiar no que ele e seus guerreiros iriam fazer, se acaso eles não confiassem ou não quiserem obedecer o ritual, terão que ficar em Cirith até chegar o próximo xamanã (fenômeno do alinhamento das quatro luas que acontece depois de um ciclo de todas as estações climáticas), os humanos ficaram um pouco assustados, mas concordaram em não desistir, afinal era o momento que todos aguardaram não sabem ao certo quanto tempo. Agora era só aguardar o alinhamento, aos poucos as luas iam se aproximando uma da outra no púrpuro céu de Cirith, o grande chefe falou que era para quando ela mandar, era para se deitarem de mãos dadas no lago de bruços e prender os objetos na roupa e o resto não era pra se preocupar e acima de tudo acreditar no que eles vão fazer. As luas se alinharam no céu escuro era possível observar as luas alinhadas, uma mais perto, outra mais longe, todos se deitaram no lago de bruços observando as luas, cada guerreiro segurava um humano que ficaram com medo, mas acreditavam na palavra de Muon Pu Lala. Cada guerreiro pressionou o corpo de cada humano no lago os afogando, desesperados por estarem sendo afogados todos se debateram tentando escapar, em poucos segundos todos desfaleceram, um redemoinho apareceu no centro do lago e começou a puxar os corpos engolindo-os um a um, depois dos amigos desaparecerem no lago, Muon Pu Lala e seus guerreiros retornaram para Ungol, levando com eles apenas lembranças e grandes aprendizagens. Durante o ritual, o redemoinho fez o movimento inverso e os transportou novamente ao seu mundo e ao mesmo lago que antes os engoliram através do redemoinho, ainda sufocados tentando respirar, cada um aos poucos retornaram os sentidos, mas uma coisa estranha aconteceu logo que se olharam.

-não!! Não é possível, me diz que não é verdade Cellis o que acho que estou vendo – gritou desesperada Cassia.

-meu deus! O que aconteceu com a gente amiga?

- calma meninas, embora seja desagradável, mas é a nossa realidade, vamos todos ter que nos conformar – disse Samuel.

Enquanto isso os outros foram se levantando e olhando um ao outro, todos estavam velhos, enquanto estiveram no outro mundo, o tempo para eles não passaram, mas no seu mundo havia se passado muitos anos.

Cassia e Josué ficaram no outro mundo por 22 anos, ou seja, quando eles foram transportados para Cirith, ela estava com 25 anos e ele com 28, agora eles estavam 22 anos mais velhos, ela estava com 47 anos e ele com 50. Era uma diferença realmente assustadora. José Antônio e Raimundo estavam desaparecido há 20 anos, quando desapareceram estavam com 30 e 29 e agora estavam com 50 e 49 consequentemente. Elton e Cellis ficaram desaparecidos por 18 anos, se quando eles desapareceram ele estava com 23 e ela com 21, então agora ele estava com 41 e ela com 39. Samuel e Henrique quando desapareceram estavam com 20 anos, ficaram 6 anos desaparecidos, agora estavam exatamente com 26 anos. Apesar do aumento das idades os homens foram mais conformados, mas as mulheres estavam indignadas e em estado e choque.

-não é possível, parecia que só fazia alguns meses, e agora o que vamos fazer? Meus pais já devem estar mortos, meus irmãos estão todos adultos – reclamou Cassia.

- mas lembra de quando assim que encontrei vocês? Eu disse que já fazia 16 anos que você e Josué estavam desaparecidos o Elton e a Cassia 12 e o José Antônio e Raimundo 14, agora precisamos saber que ano estamos para sabermos com quantos anos estamos e quanto tempo ficamos lá – disse Samuel.

-é pessoal, sei que é difícil de acreditar, mas agora vamos ter que encarar a realidade e tentar sair daqui, temos que encontrar o caminho de volta e chegar em casa, vai ser difícil o caminho pra casa no meio dessa mata sem os jumentos, ainda bem que pelo menos sobrou um facão – comentou Raimundo.

Samuel e Henrique como foram os últimos a estar naquele lugar, se lembrou de um pouco do caminho.

- eu me lembro daquela subida, quase caímos de lá quando descobrimos a cachoeira, vamos subir por ali, deixa que eu abro caminho com o facão, - disse Henrique.

Enquanto Henrique foi subindo e abrindo caminho, os outros foram logo atrás até chegarem numa pequena clareira.

- olha Samuel, a marca de tinta que você fez na árvore; encontramos o caminho, agora é só seguir as marcas. Assim que eles entraram na clareira, olharam de volta para o lago e a cachoeira, o lugar simplesmente havia desaparecido. Sem entender nada todos seguiram caminho.

- quando a gente contar pra alguém o que aconteceu, além de não acreditarem na gente, ainda irão achar que ficamos louco – comentou José Antônio.

Depois de passarem alguns dias na mata, sob chuvas e frio, dormindo sem proteção debaixo das copas de arvores, chegaram a um rio.

- opa, agora estou conhecendo esse lugar, foi exatamente aqui que desceu aquela neblina que fez a gente errar o caminho – comentou Elton.

- é verdade, parece que todos nós fomos induzidos a fazer esse caminho, mas daqui pra frente é uma linha reta e mesmo assim tem a marcação que os meninos fizeram – disse Josué.

Durante toda a viagem, Cassia e Cellis andaram abraçadas e chorando, não acreditando no seu infortúnio.

-eu não quero ficar velha, quero voltar pra Cirith! – gritou a inconformada Cellis.

- calma amiga; sei o quanto é difícil pra gente, mas vamos nos superar, vamos encontrar nossa família e matar a saudade, vai recompensar tudo – disse Cassia tentando conformar a amiga e a si mesma.

- olha pra mim, rugas no rosto, cabelos brancos, com essas roupas esfarrapadas, quando me virem vão achar que virei bruxa – disse chorando Cassia.

Os homens estavam preocupados com a situação do tempo, mas a preocupação deles eram outras, talvez seus pais nem estivessem mais vivos nem se ainda moravam na cidade, enquanto caminhavam debaixo de chuva iam pegando coco e banana para se alimentarem e se nutrirem.

- olhem, é fumaça, acho que estamos chegando perto de alguma casa ou fazenda – gritou Raimundo.

- estamos chegando pessoal, deve ser a minha casa (fazenda) estamos na parte de trás da fazenda do meu avô, começamos a fazer a marcação justamente dessa estrada – respondeu Henrique.

Ele estava certo, era a fazenda do avô, assim que estavam se aproximando, os cachorros da fazenda começar a latir insistentemente, era pouco mais das sete horas da manhã fria e chuvosa de Marilia, o fogão a lenha já estava aceso, provavelmente sua avó estava fazendo café e tapiocas, a fumaça da chaminé a acusava. Não era comum os cães latirem tanto, só quando alguma onça ou raposa se aproximavam do rebanho de ovelhas, seu Rubin avô dos rapazes saiu pra fora da varanda usando seu chapéu de palha e segurando uma bengala olhou para todos os lados e não viu nada.

- eles estão latindo na parte da trás Rubin - gritou baixinho dona Maria, esposa de seu Rubin.

Nesse momento escutando a agitação dos cães e dos pais, Guilherme e Rafael filhos dos velhos e pais dos rapazes logo acordaram suas esposas Marisa e Gorete pressentindo que seria algum sinal dos filhos.

Eles estavam certos, os pressentimentos paternais jamais falham, assim que foram para a parte de trás da fazenda viram um grupo de pessoas se aproximando, os filhos barbudos e pessoas estranhas com roupas esquisitas não puderam reconhecer ninguém, só depois de se aproximarem do portão, os cães pularam de alegria nas pernas dos primos é que realmente puderam perceber que eram seus filhos, os velhos emocionados com as pernas tremulas resolveram se sentarem no banco de madeira enquanto os pais correram ao encontro dos filhos. Samuel correu para abraçar seus pais, Guilherme e Marisa, enquanto Henrique abraçava Rafael e Gorete. Os outros do grupo também emocionados se abraçaram e choraram.

- onde está meus avós? – perguntou chorando Henrique.

Gorete apenas apontou com o dedo para o assento onde eles estavam, os dois correram em direção aos avós, se ajoelharam e os abraçaram pedindo desculpas por terem demorado a voltar pra casa. Os velhinhos felizes e ainda trêmulos apenas os abraçaram sem conseguirem dizer uma palavra. Enquanto seus pais convidavam o restante do grupo a entrar em casa.

Todos encharcados da chuva e com fome, sentaram ao lado da lareira numa confortável sala típica de fazenda, enquanto se aqueciam, as mães dos rapazes trouxeram roupas secas para Cassia e Cellis que aproveitaram para fazer uma coisa que há muito não sabiam o que era, “tomar banho quente debaixo de um chuveiro de verdade” enquanto tomavam banho, se olhavam no espelho e observavam as mudanças que houve em seus corpos, rugas, peles mais flácidas e fios de cabelos brancos, as lágrimas desceram no rosto misturado com a água que caía do chuveiro, Cassia estava ficando depressiva enquanto Cellis mesmo inconformada com as mudanças, disfarçou sua insatisfação e consolou a amiga. Depois que elas saíram foram direto para ao lado da lareira enquanto foi a vez dos homens tomarem banho e se trocar com as roupas que os pais de Samuel e Henrique deram para se vestir, enquanto isso Samuel e Henrique tomavam banho e se trocavam em outros banheiros da fazenda. Depois de asseados, barbas feitas e com roupas secas, juntaram-se numa grande mesa no centro da sala onde já estavam Cellis e Cassia. Café, leite, tapiocas, bolo de milho, de cenoura, queijo feito na própria fazenda estavam sobre a mesa a disposição para serem devorados.

- eu sei que todos vocês estão querendo saber o que aconteceu, mas deixa a gente matar a saudade desse cafezinho, dessas tapiocas e desses bolos primeiro, vocês não sabem o quanto essas coisas fizeram falta – disse Henrique.

Para deixá-los a vontade, os pais e os avós comeram em outra mesa e se perguntavam se alguém conhecia alguma daquelas pessoas, mas ninguém soube responder, só o senhor Rubin que se atreveu a dizer que talvez já havia visto o Raimundo e o José Antônio, mas os outros não reconheceu.

Enquanto o grupo se alimentavam, conversaram como iriam explicar para eles o que realmente aconteceu, mas também não poderiam inventar outra coisa, pois não teriam como provar, estavam numa verdadeira sinuca. Mas resolveram contar a verdade mesmo que não acreditassem nisso e achando que estavam loucos. Depois de comerem foram descansar e dormiram o dia quase todo, de vez em quando enquanto estavam dormindo, Samuel e Henrique eram visitados pelos avós que os olhavam enquanto dormiam, mantendo o mesmo ritual de quando eram crianças. Os pingos da chuva faziam barulhos quando batiam no telhado, isso era como uma sinfonia para dormir, deitados numa cama de verdade e protegidos por cobertores de lã, todos dormiam profundamente.

Na cozinha dona Maria juntamente com Marisa e Gorete prepararam o jantar, o cheirinho do feijão com linguiça e bacon instigaram o olfato até de quem estava no mais profundo sono. Samuel e Henrique acordaram e desceram as escadas de madeira com as pontas dos pés e chegando devagarzinho por trás tamparam os olhos da avó simultaneamente.

- ah isso é covardia com a gente vó, com esse cheirinho é impossível continuar dormindo, a senhora fez de propósito não foi? – perguntou Samuel.

- é meu filho, estava com saudades quando eu fazia esse feijãozinho e vocês desciam correndo nas escadas um empurrando ao outro pra ver quem sentava primeiro, vão acordar seus amigos para jantar.

- nem precisa vó, eles já estão descendo, olha lá.

- nossa!! Me fez lembrar da comidinha da minha mãe, é impossível continuar deitada com esse cheirinho – comentou Cellis.

Sentem-se na sala, que vou preparar a mesa de jantar – disse Marisa.

A sala da fazenda era bem ampla assim como todos os cômodos da casa, uma lareira aquecia nos dias de inverno, um grande sofá de couro branco em forma de “u” cercava a lareira, uma mesa retangular baixinha com tampo de mármore ficava no centro em cima do tapete de sisal confeccionado por uma empregada da fazenda, uma outra mesa de madeira ficava logo atrás do sofá, revestida com um veludo verde era própria para os carteados que a família adorava jogar com amigos, o forro do teto era revestido com ripas de madeira e pintadas com verniz, um grande lustre com castiçais de cristais presa no teto por uma corrente, dava um tom medieval, dois vasos grandes com coqueiros de jardim ficava de cada lado da porta de entrada, uma porta balcão toda de vidros era possível ver toda a entrada da casa e contemplar a chuva que caía sobre o belo jardim florido, um móvel com radio vitrola embutido para tocar os discos de vinil, uma televisão telefunken (marca de eletrônicos alemã) também dentro de um móvel, tinha uma boa imagem transmitida pela antena parabólica onde o seu Rubin gostava de ver os jogos de futebol, principalmente do seu time do coração, descendente de italianos, não poderia torcer para outro time se não fosse o Palmeiras.

- meninos podem vir, a mesa está pronta – avisou dona Maria.

Esfregando as mãos os rapazes pareciam crianças se dirigindo para a mesa. Arroz com carne seca, farofa com torresmos, ovos fritos, salada de rúcula com tomates e cebola refogada ao azeite, filé de frango à parmigiana e o suculento feijão cozido com linguiça paio e bacon e grandes pedaços de contra filé fritos e é claro não poderia faltar a batatinha frita dos meninos, como dona Maria dizia, suco de laranja e uma jarra de vinho produzido artesanalmente por seu Rubin e os filhos.

- sabe, eu estava muito triste por estar velha e querer voltar para Cirith, mas depois de ver esta mesa confesso que desisti – cochichou Cassia no ouvido de Cellis que deu uma risadinha.

Antes de começar a comer, dona Maria pediu para que todos dessem as mãos e fechassem os olhos.

- obrigado meu Deus, por mais que sejamos pecadores e não merecedores da tua misericórdia, ainda assim tem ouvido nossas suplicas, obrigado por ter trazido nossos meninos de volta e mostrado a nós que o tempo é o senhor de tudo, que o nosso tempo é diferente do seu e que jamais percamos as esperanças, que abençoe a todos que estão nessa mesa, que preparem seus corações para o dia de amanhã, que aceitem a vida que o senhor preparou para eles, mostrar a eles que por mais que estejam tristes por algum motivo, devem se alegrar por estarem vivos e com saúde e que tem uma longa jornada pela frente e que pessoas que as amam, jamais perderam as esperanças estão as aguardando em casa e essas pessoas assim como eu descobrirá e comprovará que com o senhor do nosso lado, jamais teremos uma causa perdida, Deus seja louvado, amém.

Todos do grupo ficaram ainda algum tempo de cabeça baixa com as lagrimas descendo pelo rosto, como se aquela senhora sabia o que cada um estava sentindo.

- vamos meninos, não deixem a comida esfriar – disse seu Rubin.

Aos poucos cada um preparou seu prato e repetiram mais uma vez. Ainda na mesa o seu Rubin fez uma pergunta para Raimundo.

- desculpe-me a curiosidade, mas você é parente do falecido Juvenal?

Raimundo que estava tomando vinho, até se engasgou com a pergunta, José Antônio bateu nas costas do amigo, e pediu para ficar calmo.

- Juvenal é meu pai, o senhor conhece ele?

- sim, ele já fez algumas viagens pra mim levando ovelhas para a cidade, era um bom homem.

- era um bom homem? Falecido? o senhor está dizendo que meu pai morreu?

Meio sem jeito, e com olhares de desaprovação pelos filhos, seu Rubin pediu desculpas.

- me desculpa meu filho, já faz quatro anos que ele faleceu, nem passou pela minha cabeça que você não sabia.

Agora era o momento certo de contar toda a verdade para eles, Henrique começou a falar:

- olha gente, temos uma longa história pra contar, sabemos que vai ser difícil de vocês acreditarem, mas é pura verdade e que isso fique somente entre nós, se não vão dizer que ficamos louco, é melhor se sentarem na sala.

Henrique começou a contar tudo detalhadamente, desde os primeiros que desapareceram até eles, a única prova que eles tinham eram as roupas que estavam vestindo quando chegaram, e um cordão de couro com uma semente de cor vermelha e amarela de uma árvore nativa do mundo em que estiveram que ainda estava no pescoço de Cellis. Depois de ouvirem toda a história, simplesmente ficaram boquiabertos sem saber se acreditavam ou não, mas eles contaram com tantos detalhes e convictos que mesmo que tão fantasiosa a história, não tinha como não acreditar e concordaram que a história deveria mesmo ficar entre eles.

- dona Maria e seu Rubin, queria fazer um pedido para os senhores – disse Cellis.

- claro minha filha, pode pedir o que quiser – respondeu dona Maria.

Ela tirou o colar que carregava no pescoço e tirou a semente que estava enrolada e disse – eu queria que o senhor plantasse essa árvore aqui na sua fazenda, é uma bela árvore que tem lindas flores e também produz uma espécie de vagem com essas sementes dentro.

- nossa, como é bonita essa semente, nunca vi nada parecido – disse dona Maria.

- foi por isso que eu trouxe, ela é linda, quando a arvore começar a florir e aparecer as vagens, vai me dar razão.

A noite foi curta, todos da fazenda queriam fazer perguntas do outro mundo e os que estavam no outro mundo faziam perguntas das últimas novidades daqui. Raimundo ainda triste com a morte do pai, ficou ainda mais triste quando soube que a mãe também havia falecido, mas o restante era melhor ele mesmo descobrir quando chegar em casa. José Antônio preferiu descobrir sozinho as novidades, já os outros, o seu Rubin não conhecia, apesar de Elton e Cellis serem amigos dos netos, nem ele nem a dona Maria os conheciam, eram amigos de escola e que moravam numa fazenda distante na cidade de Garça. Já passava da meia noite, quando Guilherme e Marisa pediram para irem dormir, que no dia seguinte seria longo e todos tinham suas famílias para visitarem e ainda teriam que ir até a delegacia avisar que estão vivos e contar a história, além de ter que saciar a curiosidade dos amigos e curiosos.

O dia amanheceu sob uma fina garoa, o canto do bem te vi e o escândalo do João de Barro anunciaram o alvorecer, mas antes disso, dona Maria e o senhor Rubin já estavam de pé, seu Rubin já tinha ido dar milho as galinhas e ordenhado as cabras enquanto dona Maria preparava o café e as tapiocas. Um a um foram acordando e se aglomerando na cozinha, os rapazes como era de costume gostavam de azucrinar a pobre velhinha, desceram devagarzinho as escadas de madeira e agarram por trás a pobre senhora que não mais se assustava com as brincadeiras dos netos.

- bom dia vozinha – gritou simultaneamente os rapazes.

- bom dia meus amores, vocês não tomam jeito, ainda vão acabar me matando de susto.

Nesse momento os outros amigos foram descendo para a cozinha, depois de darem bom dia para o casal de velhinhos, foram para a sala assistir sitio do pica pau amarelo com o seu Rubin.

- vó cadê o pai? – perguntou Henrique.

- ah é! Ele pediu pra avisar a vocês que ele foi até a delegacia com o Guilherme, ligou agora a pouco pra acordar vocês que o delegado estava vindo pra cá.

- mas como assim? Porque ele fez isso sem avisar a gente?

- bom, quando ele chegar você pergunta pra ele.

Doutor Miguel era amigo de Rafael, pai de Henrique e tornou-se amigo da família e frequentava sempre a fazenda depois que os meninos desapareceram.

Dona Maria, Marisa e Gorete arrumaram a mesa e chamaram todos a sentarem à mesa. Enquanto todos tomavam café, Rafael e Guilherme entraram acompanhados do delegado. Ainda sem acreditar, doutor Miguel colocou a mão no rosto como se não acreditasse no que estava vendo, todas aquelas pessoas desaparecidas juntas na mesma mesa.

- calma doutor, primeiro sente-se e tome café conosco, depois o senhor conversa com os meninos – disse seu Rubin enquanto segurava a xícara quente de café.

Depois de cumprimentar a todos, doutor Miguel sentou-se e tomou café e comeu pãezinhos de queijo, depois que todos tomaram café, o delegado disse que Guilherme e Rafael já haviam adiantado a história pra ele, e por bem era melhor ele escutar essa conversa longe da delegacia, pois iria juntar curiosos e essa é um tipo de notícia que não pode cair nos ouvidos do povo.

- os pais de vocês me contaram toda a história, mas uma coisa continua me incomodando, vocês disseram que encontraram a cachoeira e o lago escondido, como é que ninguém das pessoas que foram procurar vocês não encontrou esse lugar, e sinceramente por mais que a história seja real, é difícil de acreditar, só dou dando confiança por se tratar que são filhos de pessoas de total confiança.

- doutor, se o senhor quiser, pode interrogar cada um de nós separadamente, pode ter certeza que vamos contar a mesma história, quanto ao lago e a cachoeira funcionam como um portal que tem o tempo certo de abrir e fechar, a cachoeira quando não é época ou tempo do portal se abrir, é apenas uma mina d’água que desce do morro e a lagoa se transforma em um grande gramado, nós também não sabíamos disso, descobrimos quando retornamos, assim que subimos pra sair de lá, ela simplesmente desapareceu, ficando apenas o gramado e uma grande pedra por onde a água da mina escoa e não sei para onde vai – explicou Samuel.

- tudo bem, mas para os curiosos, vamos dizer que vocês se perderam em uma parte da mata que não dava pra sair nem pra ninguém entrar, a não ser quando alguém caísse no mesmo lugar, que foi o caso do resto das pessoas que chegaram depois do Josué e da Cassia, mas isso pode deixar que eu resolvo, agora é melhor vocês irem avisar a família de vocês, cuidado com os mais velhos para não terem um enfarte, muita coisa mudou nesse tempo que estiveram fora, mas outras continua a mesma coisa, principalmente pra Cassia e Josué que ficaram 22 anos desaparecidos – disse doutor Miguel.

- nossa! 22 anos perdidos literalmente, já era pra ter filhos e até netos – diz a decepcionada Cassia.

- agora o negócio é ter calma e se prepararem pra se encontrarem com a família de vocês. Haverá muita alegria e tristeza também – disse o delegado.

Senhor Rubin mais experiente de todos, apesar de não querer se intrometer na conversa, achou melhor dizer o que estava pensando:

- desculpe pela intromissão, mas porque em vez de vocês se desgastarem indo de casa em casa, porque não convidam as famílias envolvidas para cá, assim todos ouvem a história de uma só vez, assim compartilham juntos as emoções.

- é eu concordo com o senhor Rubin, se concordarem eu e o Rafael nos encarregamos de trazer a família de vocês, claro que não vamos contar, assim será uma surpresa para eles quando virem vocês – disse Guilherme.

Com a concordância de todos, Guilherme e Rafael saíram para buscar as famílias, cada um com seus carros, foram juntos tentar encontrar as famílias, depois de algumas horas eles chegaram, sem entenderam nada ainda, os familiares estavam achando estranho tudo aquilo. Quando viram o carro de polícia na frente da entrada da fazenda, ficaram apreensivos, alguma notícia ruim, devem ter descoberto que os parentes haviam morridos e encontraram os restos mortais deles e por isso os estavam reunindo para lhes contar.

Assim que entraram pela porta principal, foram convidados a irem para a sala, uma mesa pronta com guloseimas, e claro não poderia faltar a tapioca e o bolo de milho. Assim que se sentaram, o delegado começou a explicar o motivo que foram chamados, estavam presentes; irmãos de Raimundo, uma irmã e sobrinha de José Antônio, dois irmãos e cunhados de Cellis e os pais e uma irmã de Elton, infelizmente nenhum parente de Josué foi encontrado, mas um irmão e cunhada de Cassia estava presente. – o delegado disse para se manterem calmos, pois tinha uma grande surpresa para eles e pediu para o grupo entrar.

Esperando por uma notícia de que encontraram os corpos, olhares espantados e incrédulos estavam estampados nos rostos dos familiares, uma sessão de choro e felicidade foi inevitável, alguns copos de agua com açúcar já estavam preparados sobre a mesa, enquanto as pessoas se abraçavam emocionados, muitas perguntas começaram a surgir tanto de um lado como de outro, o mais triste era Josué que não tinha nenhum parente presente, que logo foi explicado por Carlos, irmão de Cassia. ele explicou que seus pais os procuraram durante muito tempo, mas o tempo passou e com a idade avançada acabaram desistindo, mas sempre ainda em vida, acreditavam que estivessem vivos, já seus irmãos resolveram vender a casa e se mudaram para outra cidade, mas não informaram qual cidade foram. Depois das famílias conversarem muito, Elton, Cellis, José Antônio e Raimundo seguiram com seus familiares para o novo lar. Percebendo a tristeza e a preocupação de Josué, Samuel teve uma conversa rápida com o avô e fez uma proposta para Josué e Cássia.

- Josué e Cássia, temos uma proposta para vocês, meus avos já estão cansados das tarefas da fazenda, meus pais também tem muita coisa pra fazer, então queríamos que vocês trabalhassem aqui na fazenda, terão sua própria casa e salários, Cássia que é uma ótima cozinheira, ajudará minha avó na cozinha e na casa, e Josué ajudará meu avô e fará alguns serviços como ir até a cidade fazer compras etc, o que acham?

- nem sei como agradecer, é claro que por mim aceito, - disse Cássia.

Com certeza que aceitamos, se quiser começamos agora- disse Josué esboçando um sorriso.

Um ano depois, tudo estava normalizado na vida de todos, embora muito deles tivesse pesadelos de que ainda estivesse no outro mundo. Samuel e Henrique retornaram a faculdade e escreveram um livro contando a historia, foi um grande sucesso e o dinheiro arrecadado foi dividido em partes iguais entre todos. Uma pequena muda de arvore com folhagens estranha nasceu no jardim do senhor Rubin, foi a semente que Cellis deu para o senhor Rubin, as folhas divididas em duas cores, preto e vermelho chamava atenção. Depois que todos se separaram, ainda se encontraram três vezes na fazenda para um churrasco. Embora aparentemente estivessem felizes, Cássia e Josué planejaram voltar á Cirith, eles sabiam exatamente quando seria aberto o portal, e no dia de folga, falaram que iam até a cidade, mas na verdade pegaram o caminho em sentido da cachoeira dos mortos, deixaram um pequeno bilhete avisando que estavam voltando para Cirith, porque aqui neste mundo não se sentiam felizes, depois disso o portal jamais foi revelado ou encontrado, simplesmente se fechou para sempre ou mudou de local.

E a vida seguiu, mas o mistério do lago jamais foi revelado.