Conto II

Obs: Leia antes o conto I.

Boa leitura!

Ao sair do bar, senti um arrepio por todo o corpo, desses que começa no calcanhar e termina nuca, talvez, porque estivesse sem a camisa (pensei), continuei o concerto, desafinado a ponto de forçar as poucas pessoas a mudarem de calçada, a fim de proteger seus ouvidos da péssima imitação de Chico Buarque. Segui caminhando despreocupado, não queria e realmente não havia razão para sentir culpa, o acontecido não era lá extraordinário, coisas assim aconteciam com muita gente na Turquia, Moçambique, Trinidad e Tobago e as pessoas pelo menos uma vez na vida acabavam transando em uma mesa de bar. E porque haveria de ser eu o transgressor? O acusado de romper a ordem e os bons costumes? Seria a melhor piada de todos os tempos! Num país onde os responsáveis pela ordem, desviam o dinheiro da merenda escolar, onde lideres religiosos pedófilos celebram a ignorância todos os dias as seis da manhã, ao meio dia e as 18:00 horas, isso sem contar os rituais de adorações dominicais, os templos sempre lotados de senhoras gordas e seus esposos violentos que defloram as próprias filhas. Eu pelo menos fiz sexo com alguém já adulto, que nem mesmo conhecia, portanto, não poderia ser minha filha e além do mais, tinha sido muito bom e não poderia ser tão bom transar com uma filha. Neste momento me corrigi. Afinal, no que estava pensando? Era preciso me controlar, pois, não sabia onde estava, perdido não poderia, isso porque, era capaz de reconhecer a grande praça logo a minha frente e a estatua do português desbravador que vela diuturnamente a movimentação e naquela manhã, parecia saudar os primeiros raios solares, os quais já douravam as copas das árvores, que se moviam sonolentas com a brisa matinal.

Estava eu agora em meio a beleza natural, por todas as partes ouvia se gorjeados, pios, assovios, barulhos de galhos e folhas. Tudo isso brotava entre as obras arquitetônicas de meados do século passado, nas quais, se podiam notar as linhas e traços da art déco e toda sua modéstia no coração do Planalto Central.

Senti meus pés calcados ao solo, como uma árvore, uma planta parasita que sugava a essência da hospedeira para enaltecer o seu ego. Não consegui me mover, fui tomado por inteiro por um arrepio igual a quando sai do bar, só que bem mais intenso, destes que faz ter lagrimas nos olhos. Não senti medo, era apenas uma alegria, não uma felicidade ou algo parecido com contentamento. Era muito maior que isso, diferente de tudo que já tinha sentido ou experiênciado até o momento.

Foi realmente diferente e eu não sabia exatamente o que fazer ou o que estava fazendo, foi quando tudo subitamente silenciou-se, como num sonho e a praça inteira foi coberta por um gigantesco móvel. Não tinha luzes piscando como árvores de natal e tudo que percebi foi uma base com algumas saliências retangulares, dispostas paralelamente e um número incontável de símbolos , como hieróglifos e em cada uma das saliências, havia também um orifício alternando o formato a cada instante, o que dava a impressão de que o material constituía o enorme veículo era liquido, não demorou muito para que a suspeita fosse confirmada.

Um homem de cabelos longos e brancos, cajado na mão e uma túnica de um azul lave, o que realçava a tranqüilidade de sua aparência, surgiu de uma das paredes da nave e neste momento, todo meu conhecimento sobre física e o do senso comum, foi por terra, pois, não mais poderia ser um sonho, podia sentir o forte deslocamento da massa de ar e a poeira misturada a pequenos pedaços de lixo, o que me forçou a manter os olhos quase fechados. Mesmo assim insisti! Olhar fixo no homem que flutuava em minha direção, agora, seguido por dois outros, também de cabelos longos, túnicas de cor mais escura e capas brancas. Não tive reação alguma enquanto vinham em minha direção, apenas esperei. Pararam logo a minha frente, o de cabelos brancos olhou-me fixamente, sorriu e disse: - Espero que esteja preparado -. Mas preparado porque? (Pensei) Será mesmo que serei condenado? Se soubesse disso teria me controlado. Eu não sabia que o crime de atentado ao pudor seria julgado por extraterrestres, se é que cometi algum crime. Não, não pode ser, não será por uma transa que estes ‘homens’ querem falar comigo. Então tive que forçar um pouco para pronunciar algumas palavras, meio enroladas, tímidas e quase inaudíveis. Preparado? Para quê? Imediatamente ele me respondeu sem enrrolação, incisivo e seguro. - Para saber a verdade sobre a Humanidade e sua evolução-. Nunca me senti tão confuso como naquele momento e sem me dar muito tempo ele prosseguiu. – Para tanto te selecionamos e outros dois homens, representante das três maiores religiões do mundo, a fim de preparár-lhes para mudar o curso da história de sua raça, evitando assim, o fim trágico que se aproxima. Neste momento duas outras naves estão retornando ao nosso planeta conduzindo os demais escolhidos, nós estamos em atraso, pois, tivemos dificuldades em encontrá-lo, por isso é preciso que partamos já.

Só poderia ser aquilo uma brincadeira de mau gosto, não poderia ser real. Imaginem! Nave espacial! Homens flutuando! E eu? Um reles mortal, o escolhido! E ainda diz que sou o representante de uma das maiores religiões do mundo. Só poderia ser um sonho, nunca tive vocação alguma para a vida religiosa, ao contrario, sempre fiz de tudo para ficar o mais longe possível. E de que verdade ele esta falando? Sobre a Humanidade e sua evolução, este ponto sim sempre me interessou e se existe uma verdade diferente da que conheço eu quero saber. E saber tudo.

Foi essa inquietação que me fez dizer sim, se era um sonho ou imaginação, não mais me importava. Senti que seria a chance de conhecer a 'verdade' ou a 'outra verdade'.

E, num instante estava eu sendo conduzido para o enorme veiculo.

Sidi Leite
Enviado por Sidi Leite em 28/04/2007
Reeditado em 28/04/2007
Código do texto: T466775
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