MAD MAX 1 – versão de fã

Paulo Sergio Larios

"Todo cristão deve estar pronto para morrer, ou para pregar."

John Wesley

1

Max olhava o sangue escorrendo do seu peito, num torpor de fraqueza que o fazia delirar. A dor era insuportável. O tiro entrou no seu peito jogando-o para trás, enquanto rasgava a sua pele. A falta de ar que ele sentia era agonizante. Max sabia que estava morrendo. As lembranças vinham na sua mente, que mentia para ele, nem tudo fora daquele jeito, mas a mente forçava as lembranças e naquela hora ficava só o que era filtrado. Max lembrava de Madeleine, sempre tão linda e sorridente, ao seu lado. De repente a imagem da linda jovem, sua esposa morta, deu lugar a um outro rosto, Max viu um homem vestido com roupas simples, um capuz caindo no rosto abaixado.

As palavras do profeta ainda ecoavam nos seus ouvidos e parecia-lhe que ele lhe fazia um pedido. Uma princesa apareceu-lhe, no lugar do profeta. Era uma pequena menina de uns quatorze anos que entrou na Sala do Trono correndo, alegre, infantil, enquanto Max conversava com o rei, seu pai. Percebendo-o num salão cheio, seus olhares se cruzaram e Max soube que a moça estava irremediavelmente apaixonada por ele. Fora amor à primeira vista. A impressão que dava é que a menina amadurecera na sua frente e ali encerrava-se um ciclo e outro começava na sua jovem vida.

A nave dera um solavanco, pois também fora atingida quando fugiram do planeta. A aeromoça colocava um pano na ferida no seu peito, tentando estancar o sangue, que escorria, empapando toda sua roupa. Enquanto olhava pela janela da pequena nave, Max via o planeta já tão combalido, ir sumindo e apequenando-se perante seus olhos enevoados. Um riso de uma criança ecoou dentro da pequena nave e por um instante ele riu também. Um dia na praia surgiu perante os seus olhos e uma outra época, onde o mundo já andava precário, mas ainda meio funcional apareceu. Madeleine e o pequeno Wil comiam cachorro-quente, enquanto ele tirava fotos com uma obsoleta máquina digital. Numa noite Madeleine leu num livro antigo as doces palavras do amor:

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.”

A sua voz era doce e seus jeitos suaves. Madeleine estudava desde o primeiro ano com ele, mas só na quinta-feira é que ele a conheceu, num dia em que ela jogou uma maça em cima dele, chorando, enquanto perguntava porque ele não conversava com ela. Na verdade ele nunca a havia notado antes, mas a partir dali viraram amigos até a adolescência, não se desgrudando um do outro, a ponto de confundirem os dois como irmãos. Seus amiguinhos diziam que ela gostava dele e que ele deveria tomar coragem e beijá-la. Mas não era simples, ele nunca beijara antes e nem ela e a cobrança foi ficando acirrada, da parte dos meninos e das meninas e numa brincadeira, numa noite numa festa perdida os dois se beijaram atrás da cortina, num beijo que não acabava jamais. Naquela mesma noite Max a pedira em namoro e depois ficaram noivos e se casaram. Madeleine usava saias abaixo do joelho e era uma mocinha muito recatada. Não era propriamente bonita, mais pendendo para o comum, mas era doce e sempre o colocava para cima. Foram muitas as duvidas que ele teve, ao entrar para a policia, quando fizeram dezenove anos, mas ela sempre repetia que tudo iria dar certo, era só confiar. O mundo estava desabitado, logo após as catástrofes e havia muito lugar para morar. Construiram uma casa humilde, bem próximo à praia, onde toda tarde um lindo pôr do Sol, irradiava a sua sala.

A doce imagem dera lugar a outra lembrança, onde com um pedaço de pau, na verdade um pedaço da cerca que os dois pintaram, entre beijos e abraços e risos, Max viu-se destruindo a sala e todos os móveis possíveis de serem destruidos dessa maneira. Depois que a furia passara e o cansaço chegou, Max encostou o carro perto da porta e pegando um galão de gasolina do porta-malas, derramou na casa, que começou a queimar, e arder, elvantando um grande clarão na noite, que pode ser visto a alguns quilometros de distância, enquanto Max dirigia o seu carro rumo a zona proibida.

Desviando o olhar da terra e tentando esquadrinhar as estrelas mais longinquas do universo, ele tentava entender como Deus criara um universo tão grande e porque o fizera. Ele vira o amor - pensava Max, meio desfalecido, com a bala alojada no peito, que de tanta dor entorpecera quase todo o seu corpo. Ele tentava não respirar, para doer menos – era olhar para os olhos de Madeleine e compreender que ela o amava. Quando ele chegava ela não desgrudava de perto de si. Tudo o que faziam, faziam juntos. Onde iam, estavam sempre juntos e comiam o que Deus permitia que chegasse em seus pratos, num mundo onde nem a comida estava existindo mais e a água era muito cara e as pessoas eram poucas agora. Todos os setores no mundo inteiro estavam defasados, por falta de mão-de-obra qualificada. Ainda assim, aquele casal viveu dias de um amor intenso, poucos dias na verdade, até que os motoqueiros chegaram à cidade e começaram a armar suas arruaças. Briguentos, bêbados e drogados, o bando de uns quarenta motoqueiros começou a assaltar todas as casas e a arrumar confusão com qualquer um que passasse na sua frente. Max e seus outros companheiros da policia tentaram de toda as formas pacificas entrarem num acordo com essas pessoas, mas o confronto se fez inevitável e de repente na cidade uma verdadeira guerra fora travada. Os dois lados sofreram graves perdas e os familiares dos policiais começaram a ser perseguidos.

Com uma dor na alma e lágrimas nos olhos, enquanto estava sentado na cadeira de uma pequena nave espacial que fugia do planeta, rumando ao desconhecido, Max lembrou-se de dois fatos do o pequeno Wil, sobre o seu nascimento e sobre a sua morte: nos dois momentos ele pegara o filho no colo.

O amor transformara-se em raiva, quando ele viu Madeleine, caminhando meiga em sua direção, vestida com uma linda camisola azul, numa noite muito quente de verão, onde o seu beijo fora mudando e Max tentava se desvencilhar dos braços de outra, que o agarrava e com força beijava a sua boca. O que dava raiva é que a resistência era muito pouca e os seus braços fortes abraçaram a pequena moça, que tão diferente de Madeleine era extremamente linda, porém forte, poderosa, acostumada a mandar e a ter o que quisesse. Finalmente ele conseguira afastar a moça, segurando nos seus ombros e ela dissera a frase que ele desconfiava, mas tinha medo de ouvir: Max, eu te amo, falou Syfi, abrindo a guarda.

Lembranças sobre guerras e bandidos perigosos vinham à sua mente. Apavorado ele viu um exército de mortos de pé, vindo em sua direção e eles iam virando caveiras e tanques e balas e fogos explodiam por todos os lados e de repente ele viu um amigo, no front com ele, levar um tiro e ele não pode ir ajudá-lo a morrer a sua morte, pois outras pessoas gritavam. Os gritos eram aterrorizantes e durante muito tempo max não dormiu, de vez em quando ele os ouvia ainda. Ele via, num delirio, a fumaça e os homens correndo de um lado para outro, enquanto o barulho e os fogos e estilhaços voando para todo lado eram mortais, o profeta caminhando em sua direção, saindo do meio da fumaça e caminhando calmamente, sem medo de ser ferido, alheio ao barulho e aos tiros, com a cabeça baixa.

Max ouviu uma profecia e sentiu uma picada no ombro, quando uma bala o atingiu. Todo vermelho, com o sangue de outros molhando todo o seu corpo, com uma faca na mão esquerda e uma pistola na outra, ele atirava desvairado no exército inimigo, enquanto a sua vida ia indo embora. Uma musica antiga ecoava na sua mente. Madeleine cantou Earth Wind e Fire quando se conheceram, quando ficaram noivos e cantava as mesmas musicas para o pequeno Wil dormir. Juntos viram um Show velho, uma reliquia, numa TV velha, na sala do por do Sol. Max já não sentia mais a dor no peito e uma paz ia inundando todo o seu corpo, que ia esfriando cada vez mais. Madeleine se fora e levara Wil, não existia mais razão de viver. A musica se fora, deixando o silêncio e a dor. Seria melhor mesmo se ele morresse e encontrasse com o Criador, que sempre seguira. Max rumava em direção às estrelas, talvez além delas.

2

-Senhor - dissera a aeromoça -, acho que o General Max morreu.

Continua...

pslarios
Enviado por pslarios em 06/05/2014
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