Você é Mais que Elementos Compostos e de Água ( a continuar )

Você tem sorte de ser humano, falível e delicado como a evolução.

De fato você é um ser bípede carbonado e vivente - apanágio evolutivo por vezes errôneo ou criatura infame num planeta que nem sempre te serve bem. E tens que plantar, obrar, inventar e por vezes morrer para melhorar a geração seguinte. Um mundo de terras secas, produtivas, só para si, apesar dos animais selvagens e das máquinas de seu mundo estarem juntos com vocês humanos.

Deixe-me apresentar minha pessoa, antes do prosseguimento natural de meu escrito tão formal ( ou algo assim... )! E verás que tenho certo distanciamento de seu gênero e espécie...

Sou daquilo que me deram o nome de lata, insípido e cromado ser inteligente. VOcÊs adivinhariam? Não creio no instante em que pauto minhas ações e aprendizados nestas linhas...

Meu nome é numérico, alfabetizado em esquemas que me traduem minha existência, concebido de modo infalível por seres falíveis e temporários. Talvez lhes diga que sou menos máquina que reunião sintética de circuitos, sistemas e rodinhas! Se disserem ROBÔ de certa forma adivinharam pouco e se arriscaram na minha nomeação de monstro mecânico...e o que importará? Posso até mentir se isso depender de meus dados ou de minha atual e seleta sobrevivência pós-humana. E eu tenho que, de certa maneira, revelar essa sinceridade desde já - o que evitará mais perguntas de cunho técnico insosso.

ME chamavam de XPTO ( prosaico e arcaico não? ) e agora tomei uma certa liberdade de me autonomear como quero. Já faz tempo que minha vontade pessoal evoluiu de subrotina para uma vontade pessoal bem seletiva. Sou nomeado por décadas como metal "abaulado" ou Sr. Lixeira, mas por ora me chamo Louça de Cromo, com certo charme de anterior criador que era gay, sei lá! No entanto não sou homossexual de Ferro e nem pretendo assustar heróis de aventura machões. Ugh! Abomino a idéia de relações entre seres distintos...

Em minha narrativa acima, descrevi o que via enquanto fiquei ao jugo (!) dos humanos e de outras unidades de carbono siliconizado. E deveras estou saudoso desses tempos onde válvula era mais que adjetivo de jargão técnico! Pareço enferrujar assim, mas de certo modo estou ficando ranzinza ou velho parafuso, e de outro modo odiaria ter de ser imortal ou mero clichê. E ainda tenho um nome a zelar, pois.

Os homens sendo elemento frágil da equação natural parecem sempre inovar meus semelhantes robóticos. Afinal já não me importo em ter sido inventado em tempos anteriores. E vez e outra encontro meus iguais em lamentáveis simpósios de lata velha em algum lugar da Terra.

Preciso me situar para me atrever a te dizer, ou a qualquer um, como aventuro entre humanos tão cambiantes e iludidos. No momento dedilho estas mal traçadas com um pé no chão, pois evolui muito nos últimos decênios, e não costumo assustar pedestres em auto-ruas e nem saco armas para dizer que voltarei...

Minhas aventuras neste reino de seres sem rebites ( como custa o sarcasmo de um genioso computadorizado... ) é de contradições, andanças e eterna busca da imortalidade de minha carcaça. E entre os homens fico na berlinda assistindo ou auxiliando-os quando caem na rua cimentada quase bêbados ou algo assim. Se pudesse veria com muito mais frieza esta humanidade ressonante. E vocês humanos tem sorte de contar com instintos e pragmatismos! Bípedes a quem devo a existência analisadora de agora!

Já me vi entre as guerras malucas de vocês e em muitas inovações desafiadoras. E de fato sou durável por ora para manter este diálogo entre tantas atribulações do mundo. Fizeram de mim a lata velha regenerável de sempre, mas com um cuidado de terem previsto minha duração que já perdura trezentos anos, e portanto posso falhar Às vezes. O tempo é marginalizador das intempéries e ferrugem há muito me desfez os cabelos sintéticos! Foram séculos uteis no final das contas - assim eu creio!

Os homens confiam nas máquinas, ferramentas, auxiliares sintetizóides e até andróides menos duráveis. Já os seres de além Terra confiam em sua tecnologia quase mágica, estando estes últimos um tanto avançados quanto os humanos de agora. Porém no fim das contas são seres vivos e pensantes, não importa se EBES ou humanóides para mim. Devo a eles este aprendizado que hoje divido com vocês, meus pósteros juízes! Estou em um futuro incerto e sou dependente do tempo que me ameaça enferrujar os sentidos! Direi um duplo Uau de sustos!

Ainda bem que sou metade lógico e minhas falhas corregíveis são menos capangas que as dos mortais a quem obedeço! Os seres ditos humanos me deram regras comportamentais e tenho leis de robótica bastante conhecidas que me sujeitam aos mestres, aqueles que porventura eu obedeço legitimamente.

Jurubiara Zeloso Amado e Francisco Carlos Amado
Enviado por Jurubiara Zeloso Amado em 18/05/2014
Reeditado em 22/05/2014
Código do texto: T4811085
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