O Causo da Cabra de Bigode

Numa noite deitada, próximo à cocheira, veio-me a cabra cega - dessas que sonham de bombacha - atinar-me sobre o lado vicioso da vida. Dizia querer tudo, mas não o tinha. Dizia saber tudo. E começou a falar sobre futuro com a propriedade dum profeta.

Então, veio-me o alerta:

Cabras de bigode não são confiáveis!

Em sua prosas não se afinam violas, nem toras.

Ora, pois!

Por quais cargas tomou-me a caprina? Quiçá fosse bovina: mugiria alto; ou felina... Os bigodes!

Proferiu-me dezenas de amenidades - encolhidas verdades - e outras surreais marchinhas de supermercado, um montão destas.

Tanto a cabra palrou que meus intestinos se voltaram ao avesso. Disse-lha, só tinha dois: um grosso e um fino. E ela, seis: dois brancos, dois líquidos, um inteiro e um pela metade. Aventou que poderia ser da idade.

Cabra espaventada!

Enquanto chiava, meus olhos cercavam-lha pelo flanco mole, à procura do bode a passar por cabra... Não havia!

Então, o que era?

Mais proferiu e, de estarrecido que estava, continuei procurando um sinal, até encontrar no sulcozinho da anca da tal, uma plaqueta de cobre, dizendo:

“Animal supostamente Artiodáctilo, assemelha-se a um caprídeo, quadrúpede, de cor, proveniência e sexo indefinidos; falastrão, dado às estripulias, mentirolas e com intestinos múltiplos, segmentados e, provavelmente, originários de seres humanos”.

Realmente, cabras de bigodes não são confiáveis!

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 15/05/2007
Código do texto: T488047
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