Máquinas da destruição

O ano é 2099. A 1 ano dele acabar, a população de Netuno está inquieta e desinteressada. Eles têm absolutamente tudo. Todas as belas criações imaginadas pela geração anterior se tornaram realidade; até as mais fantasiosas.

Anos atrás, enquanto alguns riam da esperança de outros de morar em outro planeta e ser a própria inteligência superior que buscavam, essas pessoas que ouviam os risos imaginavam e colocavam em ação seus planos. Foi assim que todo mundo veio parar aqui; até os filhos dos que riram. O planeta Terra já era! Ninguém pode voltar a habitá-lo pois foi destruído devido a existência de tanta gente ruim e ignorante.

Hoje o que resta a fazer é rondar a máquina do tempo e pensar num passado mais simples. Que ironia, não? Quantas pessoas há menos de 1 século dariam tudo por uma máquina que levasse ao futuro? Quase todas. E hoje todos sonham em voltar atrás. Afinal, quem tem tudo tem uma vida muito vazia pois lhe falta aspirações. Como mover um ser que adora se apossar das coisas quando não há mais nada para ter? Pois bem, já era de se esperar que tal coisa fosse acontecer. É o descontentamento que move o mundo. Até aqui tudo normal; estão todos inquietos mas eles podem voltar ao passado e se divertir um pouco, certo? Errado! Não existe mais função pra essa máquina a não ser causar medo.

Tudo começou quando em 2027 um cientista muito interessado em buracos negros e dimensões conseguiu finalmente a proeza de viajar no tempo. Ele tinha a intenção de ir para o passado rever um amor que se foi de forma trágica mas, convenceram-no de que a vida só anda para frente. E lá se foi ele para o futuro, em 2061. As pessoas viviam na Terra ainda. Somente seus hábitos haviam mudado. Não havia mais florestas a não ser as que a tecnologia criou; nem água doce pois tinha se esgotado e já podiam usar seus meios para usar água do mar.

O cientista não achou nada estranho; para ele estava tudo perfeito desse jeito mesmo. Então, ele permaneceu ali. Poucos meses depois ele vendeu uma máquina do tempo para outro cientista. Esse, por sua vez, achava tudo esquisito e complexo demais. Ele era jovem e sonhava com coisas simples do passado; como a calmaria de um barco, por exemplo. Ali só existiam submarinos super velozes. Então, tomado pela beleza de seus sonhos, ele foi para o ano 2000. Ao fazer isso, ele acabou aniquilando a máquina do tempo da história, já que ainda não tinha sido criada. Por alguns dias ele não se importou. Estava curtindo aquela época e tudo o que podia fazer sem ser obrigado a usar equipamentos especiais. Porém, quando sentiu falta do que tinha, enlouqueceu. Passou anos trancado estudando a criação de uma máquina do tempo. Quando lembrou que as instruções estariam na internet se fosse 2061, se jogou de um prédio. Era doloroso demais saber que ele não usou sua inteligência para trazer as instruções consigo. Os sonhos às vezes cegam as pessoas, outras vezes cegar é pouco; elas morrem.

O cientista se foi e os anos passaram. Era 2027 novamente e Andrey - o cientista criador da máquina do tempo - retornou a 2061, já que não lembrava de nada que havia acontecido. Dessa vez, não tinha nenhum comprador pois o pai do cientista que morreu não teve filho nenhum e pôde dedicar seu tempo às suas criações e uma delas lhe permitia viajar no tempo. Sendo assim, não tinha mais nada para Andrey fazer ali. Numa época tão desenvolvida, ele ficou desempregado pois seus talentos não eram nada demais. Então, ele retornou a 2027 e vendeu sua invenção por um valor absurdo; enriqueceu demais e, depois de um tempo, sem motivo aparente entrou em depressão. Resolveu que precisava ir mais além.

Após anos e anos fechado em sua casa-fábrica, não soube desenvolver nada além de uma nova máquina do tempo. Entretanto, dessa vez ele tinha um novo plano. Infelizmente ele esqueceu-se que o último comprador da sua máquina deveria ter feito alguma viagem. O homem chamado Dione foi para o ano de 2093, em Netuno, onde montou um exército de pessoas interessadas em destruir a Terra. O projeto durou alguns anos para ser finalizado com perfeição. Chegado o dia todos sabiam muito bem como agir e, além disso, o meio ambiente já estava quase todo em cinzas. Logo, só precisavam aniquilar aquelas 670 mil pessoas que eram contra deixar seu planeta; e isso eles fariam com facilidade manuseando raios laser. O que acontece é que a vida não é tão facil e não se satisfaz com finais previsíveis ou comuns. Uma das pessoas que mataram estava com um buquê de rosas brancas em mãos, sentado numa máquina do tempo com o ano 2020 selecionado no visor. Era Andrey, que só queria voltar a ver sua amada que morreu tentando realizar o sonho de viajar no tempo. Ela morreu ainda na construção da máquina e por isso Andrey tinha se dedicado tanto para conseguir o que ela não pôde. No buquê que ele segurava tinha todas as instruções para que ela realizasse seu sonho e se mantivesse viva.

Dione também não escapou com vida da guerra que tinha criado. Parece que também não existem projetos perfeitos. Mas, seu exército terminou a missão com êxito e retornou para Netuno. Ninguém mais achou a máquina de Dione pois ela foi destruída com a Terra; ninguém olhou dentro do buquê de rosas brancas manchadas de sangue e não tinha mais ninguém que soubesse como criar uma nova. Portanto, a vida segue. Pessoas rondam uma máquina que criaram há alguns meses mas, ninguém tem coragem de testar.