A fronteira - Capítulo III (Algures em Nova Pequim)

O homem alto com seus olhos azuis bem claros, face pálida e bigode louro farto assemelhava-se em tudo ao nórdico típico. Do seu escritório em Nova Pequim situado no trigésimo-quinto piso do enorme edifício de estrutura helicoidal podia ver-se o toda a extensão do espaço-porto e a actividade constante das naves a ir e vir, ir e vir, ir e vir.

Aproximou-se da extremidade da sala, inclinou-se devagar sobre a pequena fresta e tacteou. Uma pequena pancada na superfície depressa revelou a presença do pequeno quadrado cinzento que tomou em suas mãos. Premiu suavemente. Logo o estranho objecto cresceu, cresceu e se abriu em L. Sentou-se e começou...

Agora Thomas Green, Tom para os amigos, digitava rápidamente no teclado do pequeno computador. A pressa e o olhar deixavam fácilmente perceber o perigo. Há muito que tinham proibido dispositivos de entrada como aquele, desprovidos de capacidades de prospecção semântica e com capacidades de armazenamento local. O que estava usando assemelhava-se aos meios de computação pessoal usados no fim do século XX e início do século XXI da era humana. Ah, se fosse apanhado...

O sistema actual, na sua imensa justiça previa duas possibilidades para quem violasse a lei: A aniquilação indolor no banho dos anjos ou a exclusão social permanente com a deportação para uma das luas de Júpiter. Mas antes, certificavam-se cuidadosamente sobre a culpa – a existência do acto de erro. Por isso era um sistema imensamente justo.

A pressão correcta, no ponto correcto e o L se fecha numa estrutura que mirra, mirra, até restar apenas novamente um pequeno quadrado. Tom recolhe-o e encaminha-se para a porta. Dois. Apenas dois corredores até ao sistema de transporte. Tenta manter a calma. Apesar da pressa, mantém o passo lento e aparentemente descontraído. Um já está! Falta outro. Já se vê ao longe o pequeno cilindro de transporte.

- Hei, Tom. Hei Tom – ele conhecia aquela voz. Parou.

- Tem programa para logo à noite querido? - Justine, a secretária de

piso a quem apelidavam também de miss Legs sabia como ser

insistente...

- Eu, huh, ahh...não

- Legal. Passa para me pegar às oito e meia gato. Tenho um programa

óptimo para nós dois. Vai recusar não viu ...

- Bem, é que eu ... - Tom não tinha o mínimo jeito para desculpa

esfarrapada

- Humm...então está combinado. Falta não meu bem ... – Antes que

pudesse esboçar qualquer reacção ela pegou nele e lhe deu um beijo

rápido mas intenso.

Olhou em frente. Vinte metros até ao pequeno cilindro. Limpou os vestígios de baton deixados por aquele assalto repentino. Ia conseguir! Prosseguiu. Chegado ao fundo do corredor, uma palavra de ordem e a estrutura cilindrica entreabria. Entrou, indicou as coordenadas e ficou rápidamente em sono induzido à medida que seu corpo avançava deixando-se levar pela enorme velocidade.

Vinte minutos depois Tom abria os olhos e abandonava o meio de transporte. Não havia tempo a perder. A entrada para o sub-solo estava um pouco à frente. Teria então de encontrar o dispositivo de simulação semântica deixado por Allison.

Desceu pela abertura e avançou ao longo do túnel percorrendo um corredor estreito. Após fazer a segunda curva, achou. A mochila e o pequeno objecto metálico estavam quase imperceptíveis, invisíveis para qualquer olhar menos treinado.

Acoplou os aparelhos. A transmissão durou apenas uns segundos. Na superfície do pequeno cilindro encontram-se gravadas algumas letras. Pode ler-se claramente

A FRONTEIRA.