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Sementes do Tribunal
Sementes do Tribunal
Enquanto a brisa da noite refrescava com maestria a região, o menino das estrelas observava algumas formiguinhas andando enfileiradas - dispostas umas as outras; eu permanecia calada, distraída, pensando no próximo tema a ser abordado: Sementes do Tribunal...
- “TRIBUNAL?!- Por que tribunal?!” cogitei, intrigada.
Sempre, antenado a mim, Asha deixou os inquietos insetos de lado, e respondeu ao meu questionamento mudo:
- A resposta está no julgamento que os habitantes de Shan (Terra), frequentemente fazem de tudo e de todos... Julgam as falhas alheias com admirável facilidade... Quanto as suas, que é bom, naturalmente esquecem!
- Arre! - repliquei identificada - Mas, por que isso acontece?
Sempre, antenado a mim, Asha deixou os inquietos insetos de lado, e respondeu ao meu questionamento mudo:
- A resposta está no julgamento que os habitantes de Shan (Terra), frequentemente fazem de tudo e de todos... Julgam as falhas alheias com admirável facilidade... Quanto as suas, que é bom, naturalmente esquecem!
- Arre! - repliquei identificada - Mas, por que isso acontece?
- Por causa dos vossos egos...
- Ego?!
- Sim... Ego... Esse poço de emoções que trazem no espírito, que somado a- Ego?!
matéria humana - forma a PERSONALIDADE...
Atalhei:
- Ah! E julgar é manifestação do ego?
- Se o julgamento for movido por emoção... Sim, ele é manifestação do ego... Caso contrario, se movido por sentimento... Não, ele não é manifestação do ego...
- Se o julgamento for movido por emoção... Sim, ele é manifestação do ego... Caso contrario, se movido por sentimento... Não, ele não é manifestação do ego...
- Hein! – exclamei mais que depressa – Como é?
O pequeno moveu as mãozinhas para os lados, e respondeu-me como se sua resposta fosse a mais óbvia do mundo:
- Ué! Porque o sentimento é diferente da emoção!
- Ora, ora Asha... Confesso, não percebo diferença alguma entre ambos!
- Mas, há... A emoção é manifestação do ego... Ela é totalmente destituída de ordem interior, desordenada, irreflexiva, impulsiva... O sentimento não!... Nele não há ego... Ele é ordenado, perceptivo, profundo... - Ué! Porque o sentimento é diferente da emoção!
- Ora, ora Asha... Confesso, não percebo diferença alguma entre ambos!
- Dê-me alguns exemplos de sentimento, por favor?
- Amor, generosidade, otimismo, gratidão, solidariedade.. .
- Bem... bem... E de emoção/ego? Você também poderia me dar alguns exemplos dele... Pode?
- Posso.
Consertei:
- Digo, de puro ego.
- Está bem... –retrucou ele, sorrindo - medo, paixão, inveja, raiva, soberba, ressentimento, ambição...
- Ambição?! – interrompi surpresa, erguendo as sobrancelhas - Como pode ser a
ambição - emoção/ego, se ela é o desejo ordenado que nos inspira a ter uma vida
melhor na fisicalidade?
Agora quem ergueu as sobrancelhas foi Asha.
- Perdão, querida!. Percebo-a ligeiramente equivocada...
- É! Por quê?
- Por que o desejo que descrevestes é sadio... Longe disso, é a ambição que é o desejo desordenado que muitos tendem a ter pelo próximo por sentirem-se inferiores, levando-os a quererem superá-lo para mostrarem-se melhores ou superiores a ele. ( embora tal superioridade seja ilusória - pois independendo da posição que alcançarem na matéria, desde o mendigo ao mandatário, não há esse ou aquele inferior ou superior... Todos são iguais.)...
Baixei os olhos para ajustar os óculos que teimavam a escorregar no nariz.
- Bem... Já que as emoções vêm do ego, e elas são destituídas de controle... Presumo que: quanto MAIOR for o ego em alguém, menor a sua evolução, e quanto menor o ego, MAIOR ela será... Estou certa?
- Estás... A evolução do fragmento/espírito depende exclusivamente da conquista do próprio ego.
Juntei automaticamente as mãos e encarei Asha de jeito significativo; e reconheci nele a humildade que tinha por tratar-me como igual - o tempo todo - apesar do seu manancial de conhecimento e sabedoria... Só então que, de olhos semicerrados “cai na real” e percebi espantada, que ao contrário dele, vinha agindo de maneira soberba com às pessoas ao redor, por julgar-me mais sábia que elas.
- “Deus do céu!!...- elucubrei - A que ponto chegou o meu ego!?... Quanta ignorância, falta de humildade essa minha!... Se eu fosse realmente sábia, saberia que a soberba é irmã da ignorância, e que a humildade é irmã da sabedoria... Em suma, portadora de humildade zero, sábia eu não era... Eu não sabia nada!.
Toda aquela tomada de consciência passou por mim numa velocidade espantosa, e
ela me conduziu ao forte desejo pessoal de mudança...
“Mais respeito ao próximo; humildade ao falar, escutar e calar”- pra quiçá, um dia me autoconhecer e ascensionar – será, de hoje em diante, meu novo lema de vida.
Satisfeita com isso, exteriorizei a satisfação cantando alto uma música regional que a muito martelava na minha cabeça:
“Galopeira Eu também entrei a dançar..
Emiti o agudo dela:
Emiti o agudo dela:
GalopeeeeeeeeeeeeeeeEeeeeeeeEeeeeeEeeeeeeeEEeeeeeeeeeeeeeeeeee
Eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee
E quase sem fôlego deitei-me no chão... -
Eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee
E quase sem fôlego deitei-me no chão... -
EeeeeeeeEeeeeeEeeeeeeeEEeeeeeeeeeeeeeee
Olhei de soslaio para o pequeno espacial,
o visualizei sorridente,
tapando
os ouvidos com as mãozinhas
Então, me toquei...
fui calando lentamente a voz
EeeeeeeeEeeeeeEeeeeeeeEEeeeeeeeeeeeeeee
Eeeeeee..... peeeeeeeiraaaaa
Com certeza,
desafinei!!
desafinei!!