DEPOIS DA BATALHA

- De quê planeta é você?

A pergunta do capitão da Hércules ficara flutuando no ar do corredor da nave alienígena. Seu eco ressoava ainda quando Nahuátl Ang e Aldo penetraram na ponte.

O capitão da Analgopakin ofereceu a poltrona de comando ao terrestre, que se sentou sem tirar os olhos dos do seu interlocutor que ainda não respondera.

Aldo perguntava-se qual o motivo da demora. Nahuátl Ang também segurava o olhar do terrestre com seus olhos negros e penetrantes, mas seguia pensativo, como procurando uma resposta. A pedra vermelha da sua testa brilhava como uma brasa.

Um suor frio percorreu as costas de Aldo, por baixo da armadura, ao perceber por quê o extraterrestre não respondia... Não respondia porque talvez não sabia a resposta!

*******.

A bordo da Hércules.

–Já está voltando a si – A voz de von Kruger parecia vir de longe.

Inge abriu os olhos e viu uma mancha branca. A dormência desapareceu e as sensações voltaram. Focalizou a vista e dois Herr Professores fundiram-se num só, sorridente e amável. Voltaram as sensações de dor.

–Ai! – gemeu.

–O efeito do narcótico deve estar passando. Dar-lhe-ei uma dose local; fraturou o antebraço e fiz uma tala de plástico...

–Não me dê nada, professor. Quero estar bem acordada. O quê aconteceu?

–Ganhamos, Fraulein. O capitão está a bordo da nave inimiga.

Von Kruger a pôs à par dos acontecimentos. Quando ele mencionou que os inimigos tinham capturado os Alfas, tentou levantar-se.

–Tudo acontecendo e eu aqui! Devo voltar ao meu posto!

–Não, Fraulein! Fique quieta! Tudo está sob controle, já.

–Quem está nas comunicações?

–Herr Báez. Você esteve cinco horas sem conhecimento.

–Cinco? Isso é demais!

–Tem uma fratura e hematomas. Não deve mover-se.

–Não gosto de ficar inativa.

–Espere a volta do capitão. Ele foi informado que você está bem e não deve ser distraído; há agitação por todos lados, muita gente circula no corredor.

Abriu-se a porta e entrou Regina.

–Hola! – disse em espanhol; idioma padrão antártico – Vejo que estás melhor.

–Sim, um pouco. Notícias?

–Ainda é extra-oficial, querida; Aldo enviará a nave alien de volta com alguns dos nossos homens no comando. A alternativa é que eles nos acompanhem adiante.

–Aldo não voltou?

–Não. Ainda está em conferência com Nahuátl Ang, o capitão alienígena.

–E eu aqui, desmaiada como uma estúpida!

–Não te preocupes, querida. Sente-te honrada; és nossa primeira e única baixa em combate espacial. Entrarás nos livros de História da Antártica com louvor.

Inge sorriu agradecida à sua melhor amiga:

–Não queria que fosse dessa maneira.

–Agora te deixo. Abandonei meu posto por um minuto para te ver. Até.

*******.

Boris estava na ponte, coordenando as atividades que voltaram à normalidade.

A bordo da Analgopakin, porém, tudo era agitação, limparam-se os restos da batalha; soldou-se às últimas chapas do casco e os mortos foram desintegrados no incinerador. Os feridos foram atendidos e não haveria mais mortes.

O que não se pôde recuperar foi encaminhado como sucata para reciclagem. A munição foi transferida ao porão da Hércules, junto com dois canhões que foram instalados nas asas da nave.

O motor de impulso estava sendo consertado e logo estaria funcionando.

Os 83 robôs inteiros de diferentes formatos ajudaram no conserto e arrumação; alguns eram androides que obedeciam a ordens verbais. A doutora encontrou o robô principal, que respondia em gopaki. Lídia começou a preparar o seu transbordo, mas antes precisava da autorização do capitão.

*******.

–Você diz que não sabe de que planeta procede?

Os capitães respiravam a atmosfera da Analgopakin. Estava frio, mas Antártida era bem mais fria.

A luz fraca indicava que o planeta deles estaria longe do sol ou o sol seria pequeno e frio. Aldo encarou severamente o alienígena, que, como os marcianos, tinha uma pedra vermelha encravada na testa, entre os olhos.

–Sua resposta não me convence. Você nasceu em alguma parte, capitão.

–No espaço, a bordo do autoplaneta Analgopak-Ran.

–E onde está esse autoplaneta?

–Não posso dizer.

–O quê vocês planejam? Vocês invadiram este sistema, não sei com que

propósito. Preciso conhecer estes propósitos. Não acha? Ponha-se no meu lugar!

–Está coberto de razão, capitão Aldo. Mas tenho minhas ordens.

–Entendo. Ao que tudo indica; vocês vêm de fora para nos invadir. Certo?

Sem esperar resposta Aldo acrescentou:

–Temos os mesmos inimigos, os Kholems, como você os chama. Não acha que poderíamos ser amigos ou aliados; você e eu?

–É o que mais desejo, capitão Aldo.

Nahuátl Ang estava entre a cruz e a espada. Desejava fazer amizade ou aliança com os terrestres, já que seria bom para sua raça, pelo conhecimento a ser adquirido, mas não podia violar suas diretrizes. Constrangido, disse:

–Estou preso a minhas diretrizes.

Nahuátl simpatizara com Aldo; que foi clemente com os vencidos. Parecia tão honrado como os ranianos e seus inimigos eram os odiosos Kholems, esses pequenos seres nojentos e cinzentos que infestavam vinte e sete parsecs em volta e que pareciam gostar de sistemas habitados para suas estripulias e crimes.

Seria bom compartilhar aventuras com estes seres que pareciam ser uma raça jovem e decidida. Uma raça em expansão, como eles, milênios atrás... Por isso disse, timidamente:

–Queria que acreditasse em mim, capitão Aldo. Não quero ser seu inimigo.

Aldo acreditou em Nahuátl Ang, mas não tinha tempo a perder e nem podia demonstrar fraqueza, por isso respondeu duramente:

–Não me convenço de que você não venha a representar perigo para mim.

–Para sua tranqüilidade, capitão Aldo, nós não estamos em nenhuma aventura guerreira, viemos de fora do sistema...

–Diga algo que eu não saiba. Mostrar-lhe-ei a carta estelar e você dirá...

–Impossível. Estamos no espaço há gerações. Nosso Líder Eón conhece a rota, eu sou só um explorador.

–Quero saber onde vocês detiveram seu autoplaneta, se é que o detiveram.

–Sinto muito, mas não posso dar-lhe essa informação.

–Pior para você – disse Aldo visivelmente irritado.

Virando-se para seus homens, disse ao contramestre em espanhol:

–Escolte o capitão Nahuátl para a Hércules. Prepare-lhe um camarote. Diga ao cozinheiro para transferir comida desta nave e estocá-la a bordo.

–O quê vai fazer comigo? – disse Nahuátl, sem entender.

Por toda resposta, dois terrestres enfiaram-lhe o capacete e o levaram de arrasto pelo corredor, enquanto um tripulante da Hércules, apontava a pistola aos dois desolados seguranças do capitão alienígena. Foi inútil resistir, os músculos terrestres pareciam de aço comparados com os músculos marcianoides.

–Para onde me levam...? – gritou desesperado – Por favor, respondam...!

Na eclusa, o alien foi banhado pelos raios germicidas.

Teve que fechar os olhos, deslumbrado pela brilhante luz. Várias mãos tiraram-lhe a armadura. Só de macacão interior azul escuro, recebeu outra dose de raios. O calor sufocava-o.

Foi conduzido pela escada até o corredor e a uma habitação com beliche duplo, no qual sentaram-no como um cego.

Os terrestres retiraram-se, fechando por fora. Nahuátl não suportava as luzes e o calor era mais do que estava costumado. A atmosfera era úmida e pesada e tinha dificuldade para mover-se na forte gravitação artificial.

Deduziu que o mundo deles deveria estar perto do seu sol, ser muito luminoso, grande, pesado, com atmosfera densa e quente. Sem poder abrir os olhos, respirando com dificuldade, esforçando-se para mover braços e pernas, deitou-se e sentiu-se muito infeliz.

*******.

O engenheiro Constantino Karapsias tinha 21 anos, era filho da manipulação genética e, portanto muito capacitado. Consertara o impulso com os engenheiros de bordo.

A Analgopakin possuía manobradores, gerador de impulso primário e sistema de dobra interestelar, mas Karapsias não tinha condições de desvendar tais mistérios e muito menos consertá-los, já que uma das nacelas fora atingida por torpedos.

–Relatório – disse Aldo.

–Os manobradores deles equivalem a nossos motores – disse Karapsias – o combustível difere na proporção. Nós usamos 14% de hidrocarboneto, eles 24%. Para obter 200 mil litros nós misturamos 200 litros de concentrado e 199.800 de peróxido. Eles usam 2000 por 198 mil, além do deutério. São melhores e mais rápidos, porque são grandes e o reator é mais quente. Mas a nave é grande; tem bastante dissipação de calor e sem escape de radiação. Nós devemos ser mais cautelosos. Sobraram perto de 300.000 litros de fluido. Vazou muito com a batalha. Não acredito que consiga nos acompanhar a Júpiter, se essa é a sua intenção, capitão.

–Necessito que essa nave chegue a Marte. Júpiter está longe demais...

–O vejo difícil, capitão, a menos que modifiquemos a fórmula.

–É possível? Poderá chegar a Marte?

–Não, mas se formos em frente...

–Para Júpiter? Você não disse que não chega?

–Não chega mesmo, mas não pensei em Júpiter, pensei nos planetoides. Lá há minério, o derretemos na câmara de campo, geramos oxigênio, hidrogênio, fazemos peróxido e água, geramos antimatéria... A nave deles está equipada para tal.

–Faça. Peça o que precisar e pegue alguns ajudantes. E faça-o quanto antes.

*******.

Vinte horas após a batalha, a doutora, em andanças na Analgopakin, achou à companheira do capitão Nahuátl.

Pequena e assustadiça, a segunda oficial médica, doutora Isis Ang, era a fraqueza do teimoso Nahuátl.

Isis era bonita de corpo e rosto segundo o padrão estético alienígena.

O cabelo preto era mais comprido que o do seu marido e suas orelhas também eram furadas, embora nenhum deles usasse brincos.

–Nahuátl falará – disse Aldo; satisfeito.

Nesse meio tempo, sob a supervisão de von Kruger, Julián Cables abriu o robô mestre dos aliens até entender o funcionamento. Foi ligado à máquina de táquions e aprendeu espanhol sem perder seu idioma original.

–É quase humano, Mein Gott! – urrava o professor alvoroçado.

Fazia trinta horas que von Kruger não dormia. Estava tão agitado, brincando com o robô; que não acusava cansaço nem percebia a própria alteração.

Depois Aldo designou a tripulação de comando:

–Tenente Weiss; não continuará conosco, assumirá o comando da Analgopakin e nos acompanhará até os asteroides. Bachín será seu segundo. Seus auxiliares serão Ruiz, Carlos de Paula e De Leon. Pode transbordar sua bagagem e a dos seus homens.

As naves esquentaram os motores e com um atraso acumulado de quarenta horas; ambas adentraram-se no Cinturão de Asteróides.

*******.

25 de Janeiro de 2014. (140125.4) – Período de descanso.

Jacques Cartier foi promovido a co-piloto com a saída de Rutger Rojo Weiss e estava de plantão na ponte, com o navegador Konstantin Diakonov.

Inge, com seu antebraço entalado; conversava com eles já que não podia dormir. Estavam na zona de asteróides e Konstantin ocupava-se de identificá-los.

–Há um à frente; colisão em trinta e nove horas – disse o navegador russo.

–Entendo que pararemos num deles – disse Jacques – e essa pedra aí em frente parece tão boa como qualquer outra. O sensor mostra dois níveis de minério.

–Segundo a telemetria é Pomona; o planetóide de número 32; descoberto por Goldschmidt em 1854 – disse Konstantin.

–Quê nome...! Pomona... – disse a jovem, pensativa.

–Pomona – interveio Jacques – deusa romana dos jardins, irmã da Primavera. Existe uma estátua da deusa, fundida em bronze pelo meu compatriota Aristides Maillol. Representa uma bela mulher coberta com uma fina e curta túnica, cuja barra ela segura com ambas mãos... Deve haver uma foto dela no sistema...

–Jacques, você é um livro aberto.

–Bondade sua, mademoiselle.

–Quero vê-lo – disse ela, ligando o terminal do telescópio.

–Vejam, aqui está. Fica maior aos poucos – disse ela, segundos depois.

–É quase do tamanho de Vesta – observou Konstantin.

–Não sei por quê – disse Inge, arrepiada, abraçando-se a si mesma com o seu braço bom – mas sinto um mau presságio ao ver essa rocha, amigos.

Ficaram em silêncio.

Inge, uma Reverenda Sacerdotisa Odínica, era uma criatura sensível às forças elementares da natureza e seus temores deviam ser levados em consideração.

O negro espaço à frente ficou bem mais sinistro aos seus olhos.

*******.

Desde que foi preso, Nahuátl Ang negara-se a revelar a localização do seu autoplaneta. Quando lhe foi mostrada sua companheira, seu rosto mudou de cor.

–Revele o que quero saber ou Isis será maltratada até morrer – blefou Aldo.

–Está bem. O quê quer saber? – disse o alienígena, caindo candidamente.

–Podem levá-la – disse Aldo, dirigindo-se aos seus homens.

–O quê vai fazer-lhe? – Nahuátl desesperou-se.

–Foi levada para seu novo alojamento. Coopere e você irá com ela. Caso contrário... – e aí o terrestre passou um dedo significativamente pelo pescoço.

Nahuátl, abalado, derrotado; prisioneiro e humilhado; estava no ponto. Aldo detestou apelar para um truque típico dos cruéis comandos matadores do Esquadrão Shock, porém indigno de um capitão guerreiro do espaço; mas precisava informação.

–Onde está seu autoplaneta? – perguntou com aspereza.

–Estamos voltando de Erfos, no Quadrante Delta a 23.000 parsecs daqui. Ao chegar pretendemos estacionar no cinturão de planetoides.

–Por quê?

–Aqui foi o ponto de partida. Nosso mundo estava aqui, mas não existe; só há planetoides e poeira. Soubemos que houve um cataclismo.

–Quer dizer que estão buscando suas origens?

A luz normal estava desligada para não lhe causar dano, mas a luz de combate ainda era forte para ele. Aldo lutava contra sua impaciência e curiosidade; fazendo perguntas cuidadosamente pensadas:

–Quanto tempo vocês têm viajado?

–Mais de dois mil ciclos. Partimos daqui há muitas gerações. Nosso Império era dono de tudo isto, mas agora topamos com naves hostis. Parece existir um império novo, dominando este setor do quadrante.

–Império novo? Explique-se.

–A Suprema Confederação. Passamos desapercebidos no espaço normal. Em dobra seriamos descobertos. Este setor está monitorado por eles.

Aldo estava abismado. Estes seres eram descendentes dos últimos ranianos que escaparam à destruição de Ran. Esta informação corroborava a do Eminente Líder Sinh-Praa da civilização subterrânea de Angopak em Marte.

–Qual o tipo de energia que vocês usam no seu autoplaneta?

–Gerador mássico de antimatéria, ora! Qual haveria de ser? E está exaurido, precisamos achar um planeta urgentemente, para reabastecer ou habitar.

–Entendo. Mas aqui terão isso de sobra nos asteroides.

–No caminho deixamos colônias nos mundos em que abastecemos, mas, quanto mais nos aproximamos daqui, há menos mundos disponíveis em 15 parsecs em volta, estão vigiados por belonaves confederadas... Ou infestados pelos Kholems.

Estas revelações abriram um novo universo para Aldo. Agora sabia que existia uma galáxia muito transitada além de Plutão.

–Quantas naves iguais a Analgopakin vocês têm?

–Várias centenas. De vários tipos e tamanhos.

–É possível encontrarmos outra?

–Não. Vocês nos derrotaram porque gastamos quase toda a energia lutando com os Kholems e viajamos muito em manobrador e inércia. Eu já disse, este setor está monitorado. Impulso e dobra atrairia uma nave estelar confederada. Foi ousado destruir o autoplaneta dos Kholems. É provável que a explosão haja sido detectada.

–Entendi. Mas nosso escudo foi mais resistente do que o vosso.

–Nossa energia estava no fim.

–Então não há mais naves suas por perto?

–Há outra nave, a Analrert.

–Quando eles sentirem sua falta, sairão para procurá-los?

–Seremos considerados perdidos se não chegarmos no prazo. A Analrert foi abastecer oxigênio e água no último planeta, no posto de abastecimento.

–Um posto? A quem pertence esse posto?

–A vocês, claro! A quem mais seria? – explodiu Nahuátl por fim – Nós não somos seus inimigos! Você não entende?

Aldo ficou em silêncio.

Nahuátl percebeu que Aldo não sabia da existência do posto e suas pupilas contraíram-se. No convívio com os gopakis, Aldo aprendera a entender expressões e reações alienígenas.

Não deixou que Nahuátl pensasse muito:

–O posto não é nosso. Estamos em expansão, nossa missão é de exploração e conquista. Assim como você; procuramos espaço vital para nosso povo oprimido pelos Kholems e uma maldita facção de terrestres traidores que o escraviza para que essas criaturas possam se alimentar com seu sangue e carne.

–Por quê eles fazem isso?

–Para trocar tecnologia por riqueza. Não sabem que assim que os pequenos seres se fortalecerem na Terra; eles também serão dispensados... Permanentemente.

–Entendo – murmurou Nahuátl, pensando no ódio que sentia pelos kholems.

–Estamos dispostos a tudo para conseguir nosso objetivo, mas não quer dizer que vocês não possam conseguir o seu. Não devemos interferir um com o outro.

–Você não se comporta como o capitão honrado que me derrotou em combate; ameaçou matar minha companheira. Parece-me tão cruel como um Xawarek.

–Touché – pensou Aldo, constrangido. Mas já tinha bastante informação e decidiu afrouxar o pescoço de Nahuátl.

–Nunca mandaria matar a Isis. Foi um truque sujo, desculpe. Minha espécie é guerreira e traiçoeira, mas se temos um aliado o respeitamos. Não se esqueça disso.

–Isis deve estar com medo após o que você disse...

–Ela assiste a conversa na outra sala. Não somos monstros como os kholems.

Nahuátl afrouxou a tensão que fizera brilhar sua pedra frontal.

–Vocês me acompanharão como convidados – disse Aldo.

–Está brincando comigo de novo?

–Nunca mais farei isso. Mandei modificar um camarote para você e Isis.

Nahuátl foi levado ao último camarote do corredor. Aldo pensava na técnica de interrogatório a empregar com os kholems, quando...

–Báez para capitão!

–Prossiga.

–Captamos um sinal que não conseguimos identificar.

–Entendido. Aldo para Regina! Vá à sala de rádio!

Na saleta estavam Báez, Konstantin, Boris e Regina. Ouviam-se notas musicais: dois "Re", três "sol", quatro "mi" e "la" sustenido.

–Quê significa isso?

–Gostaríamos de sabê-lo, querido – disse Regina – Tens alguma sugestão?

–Sabem onde se origina?

–Sim, capitão – disse Konstantin – à nossa frente, em Pomona.

–Deve significar algo – disse Regina – é evidente que é um sinal padrão.

–Parece rádio baliza marciana – acrescentou Báez – mas não consta na base de dados. Poderia ser um sinal de socorro ou advertência.

–Aldo para Von Kruger! Venha imediatamente!

Em camiseta e descalço, o professor, que estava no seu camarote digitando seu livro, entrou na saleta, já apertada para todos. Após saber dos fatos, disse:

–Acredito nas três possibilidades.

–Com o que voltamos à estaca zero.

–Sim, capitão. E já que não temos nada parecido na base de dados...

–Temos – interrompeu Báez – um sinal marciano de socorro, mas não igual.

–Ach! Mein Gott! – gritou o professor excitado – Sei quem sabe!

–O senhor é um gênio – disse Regina – Nossos passageiros!

–Nein! Tenho uma fonte mais segura!

Deixaram Báez a monitorar e foram à ponte. Vindo do corredor, entrou o robô que von Kruger batizara Robert, ao saber que não tinha nome.

Era um metro oitenta de metal escuro, cabeça marcianoide, olhos amarelados; com uma tampa aparafusada de manutenção no tórax e pernas com pés de agarre magnético.

–Robert! Identifique esse sinal – ordenou Aldo.

O robô reconheceu a nova hierarquia e Aldo como o ser supremo. Consultou a base de dados da Analgopakin, à qual permanecia ligado e disse, em um bom espanhol rio-platense com sotaque marciano:

–É um sinal padrão de socorro de uma nave estelar de transporte militar do velho império, senhor capitão.

–Já ouviram – disse Regina – essa nave está em Pomona. Confirma, Robert?

–Afirmativo, senhora conselheira, se Pomona é essa rocha, aí à frente.

–O quê esperas, Aldo? – disse Regina – É a oportunidade que procurávamos para fazer a parada de reabastecimento.

–Sim. Chegou o momento de colocar os aliens na máquina de táquions. Ainda temos algumas horas antes de chegar. Regina! Providencia isso.

–De acordo. Robert! Copie a base de dados da Analgopakin para a Hércules.

–Impossível obedecer essa ordem, senhora conselheira. O sistema da nave Analgopakin é positrônico e o da nave Hércules é binário.

–Especifique o procedimento, Robert.

–Deve-se instalar na nave Hércules uma unidade de processamento e outra de armazenamento de dados da nave Analgopakin. Não há possibilidade de transferir de forma direta. É preciso usar uma interface, senhora conselheira.

–Quê tipo de interface? – perguntou Aldo.

–Este robô pode ser a interface se o senhor capitão ordenar.

–Ah...! – Aldo ficou de boca aberta, mas disse:

–Positrônico? Muito bem. Prossiga, Robert.

–Afirmativo, senhor capitão.

–Regina! Vai trabalhar!

–Afirmativo, "senhor capitão!” – disse a psicóloga, brincalhona como sempre, saindo da ponte de braço dado com o robô.

*******.

Os aliens foram plugados à máquina hipnopêdica que funcionava a toda; ligada também pelo rádio a alguns oficiais da Analgopakin.

Isto era necessário para facilitar as ordens do tenente, promovido a capitão, Rojo Weiss e seus auxiliares, que apesar de fluentes em marciano, precisavam ter mais essa opção.

Nahuátl e Isis despertaram com forte dor de cabeça, sentindo-se diferentes. Lembravam da visita do robô que lhes dissera que tudo estava bem e era preciso unir-se à máquina de aprendizado por um pequeno período de tempo. Custara-lhes acreditar, mas ainda confiavam no fiel robô.

Lá fora, as naves aproximavam-se de Pomona e os freios da Hércules cuspiram plasma no vácuo. A bordo sentiram-se os efeitos das forças contrárias desacelerando a velocidade de 500 mil kms por hora. Apesar do conforto, os ranianos estavam à beira do estresse pela incerteza do que acontecia e não compreendiam.

Ouviram a agitação no corredor assim que a nave começara a desacelerar. De repente abriu-se a porta, entrou a forte luz e várias mãos agarraram-nos e conduziram-nos a cegas, à cabine particular do capitão.

–Entrem! – disse Aldo – os engenheiros fizeram óculos escuros para que vocês possam enxergar melhor nesta luz.

Mãos desconhecidas colocaram-lhes os óculos feitos à medida.

–Posso ver – disse Isis maravilhada.

–E eu... – disse ele em espanhol – Entendo sua língua!

–Percebeu. Aprenderam enquanto dormiam. Quero sua colaboração.

–Ameaçou matar a Isis...

–Oh, Deuses! Já falamos sobre isso! Era um truque para fazer-lhe falar, mas o robô tem a informação que preciso. Contudo, vocês são livres; o camarote não será trancado. Cooperem e confiem e eu confiarei em vocês.

–Convém fazer o que ele diz, Nahuátl – disse Isis.

–Aceitando suas condições; posso voltar a comandar a Analgopakin?

–Não. Ela irá para o quarto planeta. Ficará em estudo. Preciso aprimorar minha frota. Também me interessam as naves dos kholems, como sabe.

–Entendo. E os meus tripulantes?

–Serão livres em Marte... Digo, Gopak. Respirarão bem lá. Proponho que integrem nossa frota. São guerreiros experimentados e valentes que têm muito para ensinar aos meus. Você será útil. Poderá comandar uma das naves em construção.

–Ele diz a verdade – disse Isis, com a pedra da testa brilhando como fogo.

Nahuátl encarou sua esposa. Não podia ver seus olhos devido às lentes, mas a pedra da sua testa parecia brilhar com luz própria.

–Aceitamos – disse Nahuátl, após um minuto.

A tripulação foi informada que Nahuátl e Isis eram convidados.

*******.

Continua em: O PRÍNCIPE ADORMECIDO

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O conto DEPOIS DA BATALHA - forma parte integrante da saga inédita

Mundos Paralelos ® – Fase I - Volume II, Capítulo 11; Páginas 21 a 28, e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

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O volume 1 da saga pode ser comprado em:

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Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 08/11/2016
Reeditado em 10/11/2016
Código do texto: T5817120
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