O BARÃO

29 de março de 2014, 10:00 AM.

Acampamento Ganímedes.

O interrogatório dos piratas foi melhor do que se esperava.

Soube-se que em Amaltea restaram quatro bases piratas, depósitos de material e mercadorias roubadas.

Na batalha de Amaltea, Xavier destruíra trinta naves no solo e o depósito de alimentos dos piratas. Sessenta naves foram destruídas no espaço e uma capturada.

Num local remoto de Io havia uma pequena base e outra em Ganímedes, onde, além disso, havia uma grande colônia de milkaros pacíficos dedicados a plantar e cultivar diversos vegetais comestíveis, e também à mineração de um certo cristal muito raro e valioso chamado diankrap, cujas propriedades os antárticos desconhecem, mas parecem ser vitais para os confederados.

Seria fácil encontrar as bases e destruí-las. Em Europa não há milkaros e em Calisto há milkaros pacíficos com usinas de processamento de alimentos, granjas; fazendas de gado e um complexo industrial dirigido pelos hiperbóreos, onde se constroem aviões e naves.Também se descobriu que o bando de piratas obedecia a uma hierarquia, um líder, alguém conhecido como O Rei.

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À tarde; voltaram Nakamura de Europa e Kurosawa de Calisto.

–O Líder de Hiperbórea solicitou parlamentar com o senhor, capitão – disse Nakamura – Sabe de nossa presença aqui porque recebeu uma mensagem de alguém de uma tal colônia terrestre de Io.

–Imagino de quem seja – disse Aldo – Ele vem pessoalmente?

–Não. Virá antes um emissário, capitão.

–Estamos ficando populares.

–Também acho, capitão – interveio Kurosawa – Em Calisto há um governador que quer se entrevistar com o senhor. E sabiam tudo ao nosso respeito!

–Bem, senhores – disse Aldo, de bom humor depois de ter dormido bastante e se recuperado das recentes aventuras – isso facilita um pouco as coisas...

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1º de abril de 2014

O herói máximo dos Hiperbóreos da lua Europa pousou em Ganímedes.

Era o homem de confiança do Líder hiperbóreo; o comandante interino da Weltraum Kriegsflotte, a frota de guerra hiperbórea.

O Major Barão von Ritcher-Braun era fisicamente parecido com o príncipe Angztlán. Aparentava trinta anos, alto, loiro de olhos azuis, aristocrata, admirado pelas mulheres, respeitado e temido pelos homens, invencível a bordo do seu caça Vril 88 pintado de vermelho branco e preto, como o Barão Vermelho de um século atrás.

Sua esquadrilha somava trinta naves, modelo Horten, movidas a antigravidade e jatos de impulso de plasma. Não era tão veloz como as naves piratas, mas suas armas eram bem mais eficientes. Ainda não tinham conseguido acabar com a pirataria em todos esses anos, não por falta de vontade e coragem, senão porque os piratas que não eram abatidos conseguiam fugir para longe, fora do raio de ação dos caças construídos em Hiperbórea, sujeitos a limitações energéticas.

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O Barão.

Os homens estudaram-se mutuamente.

Aldo não falava alemão, nem o Barão falava espanhol, mas se entenderam em raniano marciano, que agora parecia ser uma língua universal.

Ambos desconfiavam um do outro.

Aldo, porque não sabia da reação do hiperbóreo perante um ser proveniente da velha Terra, do velho sistema; e o Barão, porque talvez não sabia se eles formavam parte de uma avançada contra eles.

Aldo sabia de suas próprias limitações, uma delas, a que mais o perturbava era saber que não era nada diplomático.

Mas o diplomático tenente Hiro Nakamura, quem fez o Primeiro Contato, já tinha polido qualquer aresta:

–Major, este é o capitão Aldo Jorge Santos Drummond, líder dos antárticos no espaço. Capitão Aldo, este é o major Barão Karl Albert Henschel von Ritcher-Braun, representante pessoal do líder hiperbóreo.

Os homens apertaram-se as mãos e Nakamura retirou-se discretamente para um segundo plano.

O hiperbóreo tomou a iniciativa:

–O Primeiro Cidadão de Hiperbórea instruiu-me a dizer que estamos dispostos a vos receber em paz, como vizinhos no sistema joviano e ajudá-los a combater os piratas. Acreditamos que esse seja um bom começo.

–Isso é um bom começo, major – disse Aldo – eu tinha receio de que vocês não nos aceitassem.

–Seus receios eram infundados. Nós não temos nada contra os antárticos.

–Nem nós contra vocês, ao contrário; queremos fazer uma aliança, se isso for possível. Seria vantajoso para todos. Os marcianos logo estarão lado a lado conosco e eles têm muito bom conceito de vocês, no pouco tempo em que os hospedaram.

–É reconfortante saber – disse o hiperbóreo – Bom, agora que já jogamos flores um no outro, vamos ao que interessa capitão Drummond.

–Permita-me que lhe jogue mais umas flores, major; ninguém me chama de capitão Drummond, todos me chamam de Aldo.

–Muito bem, capitão Aldo. Chame-me de Karl.

–Nosso relacionamento melhora, major Karl. Quanto aos piratas, sabemos que não são só milkaros. Pegamos uma nave com trinta, mas depois vimos que além deles havia kholems, reptilianos, humanos... Sabe onde eles se escondem?

–Nos asteroides. Aí não chegam nossos caças. Teríamos que usar uma nave mãe e ainda teríamos que procurá-los, o que consumiria tempo e material.

–Por isso preferem mantê-los a raia.

–Sim. É mais fácil proteger as luas do que ir atrás deles.

–De momento, não podemos atacá-los nos asteroides, mas podemos resolver a situação imediata e melhorar a vida destas luas, não concorda?

–Parece-me correto.

–Temos informações de primeira mão que extraímos dos prisioneiros.

–Extraíram?

–Sim. Não estamos aqui para brincar.

–Claro. Quê informações?

–Locais de pouso, armazéns e bases de comando. E também soubemos que obedecem a um líder conhecido como O Rei.

–Ótimo, podemos expulsá-los daqui de vez com nossas forças combinadas...

–Faremos isso.

–Vamos planejar.

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Revelações.

Os guerreiros passaram algumas horas estudando mapas das luas e avaliando o material de guerra disponível; reunidos com os capitães e pilotos de caça.

Quando acharam que estavam preparados, todos colocaram seus capacetes, saíram do iglu e foram à pista.

Aldo acompanhou o Barão até sua nave. Von Ritcher-Braun colocou o pé na escadinha e Aldo disse:

–O tenente Nakamura disse-me que vocês têm um lindo mundo na sua lua. Ele deve ter contado a nossa história, presumo.

–Contou. É bem parecida com a nossa.

–Também deve ter dito que pretendemos voltar para acabar com o estado de coisas que há por lá...

–Disse.

–Eu tenho uma pergunta...

O nobre rosto do guerreiro hiperbóreo iluminou-se através do visor do seu capacete cinzento e disse, de bom humor:

–Já imagino: Por quê nós, em todos estes anos já não o fizemos?

–Sim. Isso mesmo, Major.

Von Ritcher-Braun tirou o pé da escadinha e o colocou no chão ganimediano, encarando o terrestre:

–Há duas tendências políticas em nosso mundo, capitão. Uma delas promove o retorno para acabar de vez com nossos antigos inimigos que hoje tiranizam seu infeliz planeta. Nós estamos bem informados de tudo o que acontece, temos agentes na Terra, captamos suas emissoras de rádio e TV, e de tanto em tanto os visitamos em segredo, para comprar jornais, livros, filmes... E invadir seus computadores.

–Vocês vêm fazendo isso...? – Aldo não pode terminar.

–Nossas naves mães de cruzeiro da classe Andrômeda são bem possantes... E quando descobertas pelos terrestres, nos confundem com os Kholems.

–Ou com balões, Vênus, meteoros, ilusões de ótica... – completou Aldo.

–Seria fácil enviar uma frota e acabar com nossos inimigos, mas isso implicaria em muitas mortes de inocentes, ou seja, escravos dessa gente perversa...

–Entendo. E a outra tendência política?

–São os nascidos em Hiperbórea, como eu mesmo, jovens de terceira e quarta geração. Estes não querem saber de guerras com os terrestres...

–E o que alegam?

Os olhos do Major von Ritcher-Braun brilharam através do visor quando disse:

–Que já não adianta mais, que devemos deixá-los à sua sorte, deixar que eles caiam pelas suas perversas ações, que o mal se voltará contra eles no cataclismo final.

–E as pobres pessoas inocentes, Major? Os coitados merecem que vocês não se preocupem por eles?

–Não merecem, não, ninguém merece o que está acontecendo lá, mas você não pode preocupar-se em ajudar a quem não quer ser ajudado.

–Como que não querem?

–Você não entende, capitão Aldo? Você é mais ingênuo do que pensei!

–Entendo que as pessoas estão sofrendo. Nós fazemos o que podemos; tiramos as pessoas de lá e as levamos para Antártida, para a Lua e Marte...

–Não é isso. Já vi que você não entende, capitão. Você é ainda puro. Imagino que os antárticos sejam assim, ingênuos, como nós fomos um dia... E por causa disso perdemos uma guerra que não queríamos...

–Explique.

–Poderíamos ganhar a guerra, capitão, mas seria uma amarga vitória. Podemos destruir nossos inimigos, mas depois as pessoas dirão que somos maus, que voltamos para nos vingar, para dominar o mundo e não vão querer colaborar conosco.

–Mas porquê?

–Não percebe capitão? Você é inocente mesmo!

–Gostaria que me explicasse, major. A História nunca foi meu forte.

–Nós fomos caluniados demais, capitão, demonizados demais. Após perdermos a guerra, imputaram-nos absurdos crimes que não cometemos! Se voltássemos agora para nos vingar, o mundo se voltaria contra nós, como no passado. Os terrestres têm o cérebro embrutecido por mídia e drogas. Não nos veriam como libertadores, mas como monstros. Os terrestres não podem opinar de outro modo, eles vêm sendo treinados como cães, há mais de sessenta anos com as mentiras repetidas a diário pela imprensa, a TV e o cinema!

–Sim... Agora entendi sua posição, major. Conosco acontece igual, porque nós não temos eleições, temos armas nucleares e pena de morte, exploramos minério e petróleo na Antártida, clonamos seres humanos, praticamos a eugenia e a religião pagã, não usamos dinheiro nem drogas. Em resumo; somos maus.

O hiperbóreo colocou novamente o pé na escadinha.

–Viu? A história sempre se repete.

–Entendi.

–Nós também praticamos eugenia e nos clonamos. Mantemos nosso exército hibernado para não consumir, esperando o momento em que eles nos ataquem.

–Atacar?... Mas eles não sabem que vocês existem... Ou sabem?... Ah, não!...

–Sabem sim.

O major abordou sua nave.

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Continua em: QUER CASAR COMIGO?

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O conto O BARÃO forma parte integrante da saga inédita

Mundos Paralelos ® – Fase I - Volume II, Capitulo 17, Páginas 125 a 128; e seu inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

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O volume 1 da saga pode ser comprado em:

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Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 10/11/2016
Código do texto: T5819160
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