QUER CASAR COMIGO?

A guerra durou menos de 48 horas.

Amaltea foi atacada, foram destruídas todas as bases, menos uma, que se rendeu.

Foram capturados mais de mil prisioneiros, duzentas naves, cinqüenta e nove depósitos e quase setenta mil toneladas terrestres de material.

Io e Ganímedes foram penteados; caindo suas bases uma a uma; mas não todas as naves foram destruídas, senão que algumas escaparam, perdendo-se no espaço profundo rumo ao esconderijo secreto.

Infelizmente não puderam ser perseguidas pelas limitações de combustível dos caças hiperbóreos e as limitações físicas dos pilotos antárticos. Vinte horas dentro daquelas cabines minúsculas, já era uma tortura. Aquelas naves milkaras pareciam incansáveis.

–Isso tem explicação – disse Nahuátl Ang – O professor von Kruger examinou um dos discos milkaros e não achou combustível nem motor. Devia ter falado comigo antes de ter todo esse trabalho.

Os chefes, ranianos, hiperbóreos e terrestres estavam novamente reunidos na base de Ganímedes após a batalha.

–Isso mesmo – confirmou Ives – eu examinei as naves e só achei uma bobina de alto magnetismo ligada num antigravitator, superior aos nossos, conectada num receptor muito potente.

–Um receptor de energia cósmica? – perguntou Aldo.

–Não – respondeu Nahuátl – um receptor de energia dirigida. Em algum lugar do sistema há um conversor de energia cósmica, transmitindo permanentemente.

–Como sabe?

–Simples capitão. Não vi conversor em nenhuma dessas naves, que, aliás, são pequenas demais para conter um.

–Há duas possibilidades – disse a doutora Isis – Pode haver uma nave mãe que lhes transmite energia, ou há uma estação conversora num desses asteroides. Essas naves não são interestelares, senão de cabotagem, ou, como vocês chamam, interplanetárias. Estou falando de tecnologia Kholem, não milkara, capitão.

–Devemos achar essa fonte e destruí-la.

–Os prisioneiros não sabem onde está – disse Lúcio.

–Os piratas devem ter naves interestelares, senão, Como chegaram aqui?

–Sim, as têm; mas com este desastre devem tê-las colocado em local seguro...

–E a nave de Pru?

–É uma nave de cabotagem. Está na vila agrícola dos terrestres de Ganímedes. Não acho conveniente apropriar-nos dela – disse o professor von Kruger meio zangado – depois do que fizemos com o líder milkaro, Herr Kapitan.

–Tem razão, professor. Vamos deixar passar um tempo. Daqui a dez dias

terrestres haverá uma reunião de cúpula com os principais líderes das luas. Deverei soltar o capitão Pru e pedir-lhe desculpas. E ao príncipe também.

–Parece-me bem, Herr Kapitan. – O senhor estava estressado aquele dia...

–Sim. Muitos dias sem dormir. Além do mais os governantes de Calisto são milkaros e Pru é o dono destas luas.

*******.

Ganímedes, 3 de Abril de 2014

Tudo estava preparado.

As mensagens tinham sido enviadas, todos os contatos tinham sido feitos para confirmar a reunião de cúpula do dia 10 de abril, quando os

líderes se reuniriam em local ainda a combinar.

Os participantes seriam: o Líder de Hiperbórea, na lua Europa, Wilhelm von Stahl; o governador milkaro de Calisto, Aclep Toz-533; o Líder de Io, Francisco Paco Del Puerto, filho do Eremita; o chefe milkaro da colônia agrícola de Ganímedes; e Aldo.

Este não era nada diplomático, estava decidido a fazer valer sua vontade de qualquer modo. Ainda deveria planejar seu discurso, mas contava com a sua conselheira para isso.

*******.

7 de abril, Ganímedes.

Hoje chegou a frota de Marte; comandada pelo Doutor Valerión; e a da Terra, comandada pelo vice-almirante Wagner Pires, um dos fundadores de Antártica, a bordo da famosa nave Antílope, totalmente renovada.

Foi uma surpresa.

Cada um dos astrocruzadores vinha equipado com três patrulheiras e seis caças. A Procion e a Audaz traziam três patrulheiras e três caças, além de um Cascavel, tanque leve de combate.

A nave de Valerión, a Odín, era um porta-aviões com setenta e dois caças e lhe acompanhava a Zeus com vinte patrulheiras. Em total, 124 unidades, trazendo a reboque vinte contêineres com diversos materiais.

A frota terrestre, compunha-se, além da Antílope, de trinta cruzadores da classe Antílope, cada um com uma patrulheira, seis caças e um tanque leve. Também vinha um porta-aviões e três naves da classe Zeus. Eram mil duzentos e vinte homens e mulheres, fora a tripulação do Dr. Valerión.

Aldo e Valerión reuniram-se no camarote de Aldo na Hércules.

–Agora que estamos com uma boa Armada, podes ir nessa reunião de cúpula e fazer valer as tuas opiniões. A Força está conosco.

–Você sempre me surpreende... – disse Aldo sem entender o jogo de palavras.

–Isso não é tudo, meu rapaz – disse Valerión, desistindo de buscar o lado humorístico de Aldo – Tens que ver a tripulação da Milenium, terceira nave da classe Hércules. O capitão é o teu cunhado Leif Stefansson; primeiro oficial, tua irmã, Mara; navegador, teu primo Arno Santos; o médico chefe é Eric Wilkins; cientista chefe, Lina Antúnez; segundo médico, o doutor Len-Ha, de Darnián, Marte.

–Len-Ha está aqui? – Aldo abriu a boca, perplexo.

–Precisamos um médico para os tripulantes marcianos em treinamento... Lon Vurián, sua esposa e o segundo cientista da Milenium, o eminente Sinh-Praa de Angopak. Na engenharia só há marcianos. A tripulação é selecionada. Há alguns amigos teus como Garl Tarnián, Vurón Garlak; a segunda médica marciana Irp-Sur Garlak; o cientista Lon Der Sur, de Darnián e outros, como Gam Signián e Zul Pranián de Angopak. Também vieram guerreiros marcianos de Hariez.

–Como conseguiu colocar marcianos e terrestres na mesma nave, Doutor?

–O suporte de vida foi regulado num término médio. A aclimatação foi difícil ao começo, mas ambas raças adaptaram-se. Se os ranianos conseguem suportar a nossa atmosfera, os marcianos não podiam ser muito diferentes.

–Conseguiu o impossível, Valerión.

–Nem tanto. A Milenium é quente para marcianos e fria para terrestres; o ar é leve para terrestres e pesado para marcianos; a gravidade artificial é um pouco pesada para os marcianos e leve para os terrestres, enfim... Minha verdadeira façanha foi conseguir colocar harmonia entre os orgulhosos darnianos junto com os espartanos hariezanos e os gentis angopakis...

–É mesmo uma façanha, Valerión. Eu desisti de tentar.

–Selecionei os marcianos mais aptos para este empreendimento, soldados, técnicos, cientistas... Há cem tripulantes na Milenium. Conheces 28 deles, mais ou menos, entre marcianos e terrestres. Peguei alguns em Pomona. Também trouxe cem darnianos em treinamento e cinqüenta ranianos experientes da Analgopakin para treinar os marcianos e completar as tripulações da Odín e da Zeus.

–Valerión, você me surpreende... Droga...! Estou me repetindo...!

–Pois não devias, embora seja bom para meu ego. Estou apenas cumprindo tuas promessas aos darnianos; quando fostes comprar armas. Sei de tudo.

–Sim, eu disse a eles que poderíamos conquistar o espaço todos juntos...

–E o faremos. Se os marcianos vão ser nossa raça cliente, devemos começar por ensiná-lhes a pilotar nossas naves, não concordas?

–Claro. Ainda bem que você está aqui. Os deuses o mandaram quando mais preciso. Não posso fazer tudo. Trouxe bastante material?

–Sim. Trouxe também a C4H, quarta da classe Hércules, mas veio a reboque, com carga completa, sem tripulação. Ainda não tem nome...

–Nem vai ter. Vou tirar algumas peças dela, Valerión. Preciso consertar a Hércules. Quase a perdemos...

–As garotas me contaram. Uma pena a morte de Basil Muslimov. Sentiremos falta do russo alegre. Tinha um certo brilho heroico.

–Tinha mesmo. Foi um verdadeiro herói. Se não fosse por ele, agora seríamos uma amalgama gosmenta de carne e metal nas profundezas de Júpiter...

–Onde o enterraram? – perguntou Valerión, dominando um estremecimento.

–Em Io, perto do acampamento. Lua interessante aquela. Um mundo violento, vulcões, terremotos... Depois veja os registros.

–Verei. Mudando de assunto, trouxe a minha nova nave de patrulha para o espaço profundo da classe Arachán a patrulheira AR-1...

–Será útil. Mas o que eu quero mesmo com urgência...

–Útil? Será útil? É só isso o que tens a dizer? Não tens idéia do que essa nave pode fazer! É minha obra prima! Não sei se um dia conseguirei fazer outra melhor!

–Valerión, pelos deuses! Se você o diz, eu acredito, sabe que confio cegamente em você; mas com todo respeito, já terei tempo de vê-la; agora há assuntos muito mais urgentes...! Preciso mesmo com urgência sua nave Odín, para impressionar os nativos na conferência, quero realizá-la a bordo.

–Que seja.

–Outra coisa. Aqui não navegamos em inércia. Em batalha usamos toda a potência em linha reta, acelerando sempre para vencer a atração de Júpiter...

–Entendo. Gastaram todo o combustível.

–Gastamos.

–Eu trouxe pouco, para sobrar espaço de carga. Espero um comboio de Marte, eles vão parar em Pomona para deixar comida e pegar combustível. A fábrica está funcionando razoavelmente bem. Mas eu trouxe fluído para processar.

–Comece agora, Valerión. Há água e oxigênio abundante em Ganímedes. Caso contrário de nada servirá essa enorme frota que você trouxe.

–Já me antecipei. Trouxe uma fábrica que estamos montando perto daqui.

–Recém agora descobri a razão das dificuldades dos hiperbóreos em batalha...

–Eles poupavam seu combustível – adivinhou Valerión.

–E nós não. Só mais uma escaramuça e minhas naves tornar-se-ão sucata.

–Não chegaremos a esse extremo.

–Preciso encher os tanques de todas as naves antes de vinte dias, Valerión.

–Verei o que posso fazer.

–Faça todas as mágicas que saiba, Valerión, pegue o material e o pessoal que precisar, mas, pelos deuses, me dê combustível!

–Vinte dias? Tentarei dez.

–Outro assunto: os hiperbóreos. Estou meio preocupado com eles. Disseram que o governo mundial sabe da sua existência. Você sabia disso, Valerión?

–Não tinha certeza.

–O quê pode acontecer agora?

–Nada até que a RTVV o anuncie.

–E isso vai acontecer?

–Trouxemos a maior equipe jornalística antártica que já viajou pelo espaço desde que inauguramos Ciudad Lunar. A bordo da Odín há uma sala de imprensa. A única razão para não trazer a própria âncora Lívia Fernandes, foi porque o sinal demora meia hora daqui à Terra e as entrevistas não podem ser feitas em tempo real, devendo ser editadas lá mesmo.

–Temos certos secretos...

–Não te preocupes, são nossos jornalistas – disse Valerión, passando um dedo com cara de nojo na parede tisnada e descascada pelos incêndios – Se não há mais assuntos vou desembarcar. Preciso dar algumas ordens ao meu pessoal da INDEVAL e falar com o vice-almirante Pires... Ah...! O conserto desta C1H, vulgo Hércules; que saiu de Marte brilhando de nova; que agora me apresentas neste estado calamitoso e cheirando a queimado... vai ter que esperar.

–Valerión! Esta nave viajou 550 milhões de kms; lutou em quatro batalhas, foi invadida por um alien assassino, naufragou numa lua; a tripulação a recuperou sem ajuda e está com o tanque só no cheiro. Mas ainda voa e aguenta um tiroteio.

–Vou pensar no caso; seu destruidor de naves.

–Está bem, Valerión. Vou comprar sua patrulheira para o espaço profundo!

–Patrulheira AR-1 da classe Arachán. Dará o que falar.

–Compro duas, Valerión! Não! Compro três!

Valerión retirou-se. Então chamaram à porta.

–Sou eu – disse Inge.

–Entra, querida.

–Venho da Milenium, vi o meu irmão, a Mara e o Lon Vurián.

–Ótimo! Vejo que já tiraram a tala do teu braço.

–Lídia achou que já era hora. Já mexo o braço. Não há sequelas.

–Me alegro. Escuta, após a conferência, o pessoal quer organizar uma festa na base para comemorar a chegada, embora com atraso pelos motivos que sabemos, e agora há na base um oficial da Armada com mais autoridade do que eu...

–O vice-almirante Pires? Já falei com ele.

–O quê achas de pedir-lhe que nos case?

–Casar-nos? – os olhos da jovem umedeceram-se.

–Isso se minha Reverenda já se sente preparada...

–Depois de tudo o que passamos...

–Sim. Quase morremos. Quer casar comigo, engenheira Ingeborg?

Inge sentou-se nos joelhos de Aldo e o beijou.

–Claro que sim, meu capitão!

Abraçaram-se rindo. Beijaram-se e depois ela afastou seu rosto bem devagar.

–Devemos comunicá-lo ao pessoal – disse ela.

–Sim. E ao sistema solar – disse ele.

–Antes de tudo, devemos comunicá-lo à tripulação – disse ela levantando-se.

–Sim, primeiro à tripulação da velha e querida Hércules – concordou ele.

Saíram ao corredor, aonde iam e vinham os tripulantes atarefados.

–Atenção! – disse o capitão – escutem todos!

Fez-se o silêncio e os que estavam fazendo algo, pararam.

–Inge e eu vamos nos casar.

–Vivam os noivos! – foi a exclamação geral.

–Tem todos o dia livre. Podem desembarcar se quiserem.

–Viva o capitão!

O rebuliço foi geral.

O tão demorado acontecimento, por fim ia realizar-se.

As outras duas mulheres da Hércules correram para abraçar sua amiga.

Boris, Konstantin, Jacques, Marnes, os engenheiros, os pilotos, os artilheiros, lotaram o corredor para cumprimentar o seu capitão.

O cozinheiro disse:

–Vou fazer um bolo de quatro andares.

–Por quê não o faz em forma de foguete? – perguntou Simon Gart.

–Melhor com a forma da Hércules – opinou Karl Wassermann, interessado.

–Não vão me ensinar meu trabalho! – resmungou o Mudo.

–Será preciso um maçarico de plasma para cortá-lo – observou preocupado o piloto de caça Ivan Kowalsky.

–Gli mostrerò con quello che lo taglierò! – gritou irado o Mudo, correndo atrás de Kowalsky com uma grande faca de cortar carne.

E, no meio da risada geral, o cozinheiro saiu em perseguição do piloto, pelos corredores da Hércules, com assassinas intenções.

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Continua em: VOS DECLARO MARIDO E MULHER...

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O conto QUER CASAR COMIGO? forma parte integrante da saga inédita

Mundos Paralelos ® – Fase I - Volume II, Capitulo 17, Páginas 128 a 132; e seu inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

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Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 12/11/2016
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