GÊNESIS:CATACLISMO

Gaia realizava seu milésimo vôo orbital acompanhando a rotação do planeta sobre o mesmo ponto do hemisfério sul. Todos os humanos haviam sido reanimados e trabalhavam sem descanso. Por mais que todos fizessem e refizessem os cálculos e reexaminassem os dados fornecidos pelos instrumentos, era impossível mudar as conclusões. Uma enorme erupção vulcânica iria acontecer daqui há um ano terrestre. As projeções eram de que ela seria apocalíptica. A primeira consequência seria um enorme tsunami, já que seria no meio do oceano. Afetaria os três grandes continentes. O do sul teria toda sua costa oeste inundada, o do norte a sua costa sudeste em um grau bem menor e o equatoriano seria praticamente engolfado, começando pela sua costa sul.

O evento seria tão grande que as projeções eram de que surgiria uma ilha do tamanho da Irlanda da antiga Terra. Mas estes não eram os principais problemas. O novo vulcão lançaria tanta poeira, enxofre e gás carbônico na atmosfera que a temperatura global subiria em 7 graus em média. E o nível dos mares em 14 metros, o que diminuiria em 43% a área de superfície não encoberta por água ou gelo permanente. Isso teria enormes impactos sobre a humanidade nascente e esse era o motivo de toda a agitação na nave. Uma reunião com Gaia, o computador central (que curiosamente passou a ser o nome da naveta também), e os principais comandantes foi agendada.

A grande questão era que a missão de colonização já saíra dos eixos há 200 anos, desde que a nave deixou a superfície. Havia cento e cinquenta comunidades humanas que receberam um agente da missão colonizadora. E 90% deles passaram dos limites estabelecidos para eles. Ensinaram mais do que lhes fora determinado, se transformaram em reis e/ou deuses fundadores de disnatias, patriarcas de novas religiões, e por aí vai. O que era para ser uma experiência totalmente nova, com múltiplas variáveis possíveis, tornou-se algo enfadonhamente repetitivo. A dúvida era; trabalhar para salvar uma parte dos humanos em terra, ou começar tudo de novo? Depois de uma discussão ferrenha ficou acertado que se daria uma nova chance à primeira geração.

Rapidamente se começou o trabalho. Foram decididas as comunidades que deveriam ser ajudadas e designadas as pessoas que iriam realizar a tarefa. Um dos agentes de campo, ao receber suas instruções, foi para a ponte da nave e lá permaneceu por mais de dez horas. Preocupada, sua companheira o foi procurar:

-Amor, você não voltou para o alojamento nem entrou em contato comigo. Deixou-me preocupada. Algum problema?

-Nada. Estou pensando na nova missão. Ainda não decidi o que fazer. As duas opções que eu imaginei não me agradam.

-E quais são?

-Bancar o Noé, ou aparecer na sarça ardente.

-Hahahaha! Realmente é difícil. Que tal tentar ser um novo Jonas?

Aristoteles da Silva
Enviado por Aristoteles da Silva em 13/11/2016
Reeditado em 13/11/2016
Código do texto: T5822163
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