DEPOIS DA VINGANÇA

Reencontro.

Uma vez que Alan ocupou sua nave, destruindo o arsenal, os helicópteros e os carros de assalto, o resto da base não demorou em cair. Também foi capturada a nave estelar siriana.

A força aérea rebelde chegou ao anoitecer com seus helicópteros, para ocupar o local. Foram feitos quase três mil prisioneiros que após depor as armas, foram confinados nas barracas de moradia.

Os boralianos queriam executá-los, mas Alan não permitiu.

–Chega de sangue, Kufu. A guerra terminou e nós ganhamos. Tenho meus planos para esses peludos.

–Que planos; senhor?

–Você verá amanhã, Kufu. Quero uma parada geral na praça de armas para o amanhecer. Vou falar a todos eles, depois que se acalmem e pensem.

–Entendo, senhor.

–Mande os homens vigiá-los, sem violência e sem insultos. E separe os xelianos dos xawareks. Você saberá quais pelo uniforme espacial. Vou para minha nave. Quero descansar e me curar. O dia foi agitado e a noite é de Iara.

–Compreendo, senhor. Ela está ansiosa. É bom tê-lo de volta, senhor.

Alan entrou na eclusa, ainda descalço, vestindo armadura e arreios de utilidades sirianos por cima dos farrapos ensanguentados.

–Preciso de um banho e depois que alguém costure meus cortes – disse no corredor – Depois quero uma comida.

–Vou costurá-lo, senhor – disse Lin, feliz como nunca – e fazer sua comida.

–O banho nos espera, querido – disse Iara, tirando a roupa sem se importar com Antar na porta da cabine.

–Vou entrar em contato com o comando de Gren – disse Antar, voltando à cabine – Lin me ensinou a operar seu rádio, comandante.

–Faça isso.

Alan suspirou e deixou cair no chão os petrechos sirianos e a roupa de hospital em farrapos. Ficou nu, mostrando o corpo costurado pelos médicos de Borália, mas com os dois profundos cortes nos braços, produzidos pelos machados dos tigres.

–Deuses! – disse Lin, apavorada – Meu senhor está todo retalhado!

–Está frio aqui.

Alan, desacostumado à temperatura, entrou tremendo de frio no chuveiro, para divertimento de Iara e a cumplicidade de Lin e Antar.

A moça foi preparar uma refeição na cozinha e o piloto foi passar informação ao comando rebelde, vitorioso em Borália e Zhoro.

Agora o controle do planeta era quase total.

Iara lavou com cuidado os ferimentos de Alan e o sangue escorreu no ralo, junto com o pó de Zhoro e a sujeira. Ela estava nas nuvens. Seu homem voltara ferido, mas vivo, inteiro e vitorioso. Pretendia matar a saudade destes dois meses.

–Eu sabia que você prosseguiria a luta sem mim.

–E eu sabia que você não podia morrer – disse ela, ensaboando as costas dele.

–Engana-se. Estive morto.

–Como se sente, querido?

–Para fazer amor estou ótimo.

–No chuveiro? – disse ela, já em fogo, ensaboando o sexo dele.

–Por quê não? Nunca fizemos aqui – disse ele, já excitado.

–Vem, estou precisando! – disse ela, virando-se de costas e aprisionando com suas nádegas o membro ereto do homem.

Ela ficou de quatro e expôs a vulva, como uma tigresa; fazendo Alan lembrar das noites de amor com Tikal Henna.

Iara gritou de prazer, provocando sorrisos do casal de boralianos que faziam suas tarefas nas outras dependências da nave.

Felizes de novo, eles amaram-se com furor naquele pequeno espaço até que ela; exausta e com os joelhos doloridos; pediu trégua e ligou o ar quente.

Alan saiu do secador com as pernas trêmulas, feliz e cansado. Sentou-se no seu beliche e Iara foi procurar roupas para ambos. Lin costurou habilmente os ferimentos de Alan e injetou-lhe uma dose de antibiótico.

–Desculpe se lhe provoquei dor, meu senhor.

–Não se preocupe. Quê bom que você está aqui, menina.

–Tenho estado junto com Iara todo o tempo.

–Estou grato a você por tudo o que fez.

–Lin e eu nos tornamos muito íntimas – disse Iara.

–Não nos separamos desde que o senhor foi preso – disse a jovem – nós nos amamos, senhor. Lutamos em muitas batalhas, matamos muitos peludos...

–Fico feliz em saber – disse Alan, vestindo-se.

–Não está com ciúmes, querido? – disse Iara.

–Por quê estaria? – replicou ele – Ela merece, agora é a heroína do seu povo.

–Digo a mesma coisa – interveio Antar – Sabia que Lin é minha mulher?

–Eu não sabia. Parabéns, ela é linda e meiga.

–Sua esposa também é linda; senhor. E será nossa heroína para sempre.

–Falam de mim? – disse Iara, já vestida – Está feliz, querido?

–Não podia estar melhor, querida. Estou com fome agora.

–O jantar está esperando, senhor – disse Lin.

Depois do jantar, em que contaram suas aventuras, foram para a cama. No beliche de cima, Antar e Lin fizeram amor com fúria; mas Alan e Iara, exaustos, estavam profundamente dormidos e nada ouviram.

A nave ficou estacionada na praça de armas e vigiada por sentinelas; mas já não havia mais perigo. O planeta fora libertado e os alakranos tinham ido embora.

Mas ficaram os tigres.

Alan se ocuparia deles amanhã.

*******.

Mestre Alan Claude, Baharnum de Xel Amarna.

Ao amanhecer, os quase três mil tigres estavam formados na praça de armas. Alan apareceu perante os prisioneiros vestido com o imponente uniforme de guerreiro xawarek que usava em Japeto; completo, com todas as armas.

No meio de rugidos dos xelianos que reconheceram o uniforme dos antigos guerreiros Amarna; Alan deu um pulo na baixa gravitação e ficou em pé na fuselagem da patrulheira.

Logo de um calculado intervalo, pegou um megafone do cinto de utilidades e se dirigiu a eles em sua língua:

–Guerreiros! A rebelião teve êxito em todo o planeta. Os humanos venceram e os alakranos fugiram e abandonaram vocês, para que nós os matássemos!

Um coro de grunhidos e rugidos de raiva espalhou-se até as barracas onde os nativos boralianos estavam aquartelados, longe dos tigres por ordem de Alan.

Quando se acalmaram, Alan levantou de novo o megafone:

–Nós não vamos nos vingar! Vocês foram títeres de Alakros e não há honra nessa vingança!

Após uma pausa estudada, Alan prosseguiu seu discurso:

–Não sei o que aconteceu em Xawarek Amaru nos tempos que se seguiram ao fim do Império Raniano. Penso que a nefasta ocupação dominion depois da guerra contra os ariones, fez que os xawareks perdessem a honra que era privilegio de sua espécie. Eu os conheço bem porque morei muito tempo numa lua deste sistema entre descendentes de náufragos de Amaru Xel, seres que prezam a honra e o respeito; seres corajosos que aprendi a apreciar. Com eles aprendi as nove artes da luta corporal honrada e o manejo das sete lâminas mortais!

Desta vez os tigres entraram em êxtase, rugindo por mais tempo que da vez anterior. Quando se fez o silêncio Alan prosseguiu:

–Escolham líderes entre vocês como se fazia antigamente, por meio de luta honrada, para serem meus interlocutores. Os xelianos treinarão os xawareks nas nove artes da luta corporal honrada e o manejo das sete lâminas mortais... porque penso que precisam. Tron não conseguiu me derrotar, nem me amarrando num poste... A cabeça dele agora está encima do poste!...

Quando os rugidos pararam, Alan disse:

–Vocês são livres a partir de agora para morar neste planeta. Eu quero que tudo volte a ser como era antes, com uma diferença: que xawareks e boralianos sejam amigos e aliados para levar este mundo às estrelas...!

*******.

À hora do almoço, os dois casais reuniram-se na caserna com Kufu e outros membros da rebelião.

–O senhor sabe lidar com os peludos, comandante – disse Kufu.

–Como eu já disse, morei entre eles.

–O que disse a eles? Não entendo essa língua.

–Que os alakranos sem honra os abandonaram covardemente para que nós os matássemos, mas que não o faremos, porque queremos que sejam nossos aliados.

–Nós, aliados dos peludos? – disse Kufu – Depois de tudo o que fizeram?

–A guerra terminou, Kufu, nós ganhamos e agora precisamos deles. Vamos esquecer as mágoas e começar de novo. Conheço os xawareks e sei que eles serão ótimos aliados, se os tratarmos bem.

–Tratar bem os peludos? – disse um rebelde – Tentaremos...

–Não tentem, façam. E vamos parar agora de chamá-los de “peludos”. Eles são xawareks e xelianos; e cada um deles tem um nome, que nós aprenderemos a usar quando falarmos com eles. Senhores, isso é uma ordem.

–Sim, senhor.

–Passe essa informação a todos, Kufu.

–Será feito, senhor.

–O que não entendo é por quê os alakranos fugiram – disse outro rebelde.

–Isso, senhores; não posso revelar neste momento. É parte de minha estratégia contra eles. Só posso dizer que eles vão voltar e desta vez não será fácil expulsá-los. Precisamos estar preparados para a guerra, temos que nos reorganizar, recuperar a economia com ajuda do povo que agora trabalhará melhor sem obedecer aos xawareks; retomar a produção de armas e alimentos; criar exércitos de terra, ar e mar e uma frota espacial. Vamos produzir naves como a minha em grandes quantidades e treinar pilotos. Temos estrutura para isso; eles deixaram toda sua tecnologia intacta para nós e vamos aproveitá-la.

–Sabe quando os alakranos vão voltar?

–Não tenho idéia, eles moram longe. Por isso vamos estar sempre preparados, como se eles fossem voltar amanhã. E vamos começar hoje mesmo.

–E os peludos...? Digo, os xawareks?

–Eles vão tomar parte, porque conhecem os procedimentos e a tecnologia. Eu sei que eles não odeiam vocês. Em Greena foram bastante civilizados; não se metiam nos assuntos dos humanos e os veículos deles sempre paravam nas esquinas para os humanos atravessarem a rua. Eu vi humanos e xawareks bebendo e jogando dados juntos na pousada. Sempre pagavam o que comiam e Lin era bem tratada por eles.

–Isso é verdade – interveio Lin – sempre me respeitaram.

–Se eles se tornaram cruéis em Greena, a culpa foi nossa – disse Alan – nós os hostilizamos quando começamos nossas operações. Em Zhoro e em Borália a coisa foi diferente, os alakranos estavam perto deles para controlar tudo.

–Espero que o senhor tenha razão, comandante – disse Kufu – pacificar depois de uma guerra tão sangrenta não será fácil.

–Quem vocês acham que pacificou os povos oxmecas e quirions? – disse Iara.

–Foi o senhor? – perguntou Kufu com espanto.

–Sim, claro, com ajuda de Iara. As pessoas não gostam de guerra, Kufu, nem os xawareks, apesar de briguentos. Eles gostam de lutar sem armas entre eles, por pura competição para se mostrar na frente das fêmeas. E vocês também não gostam, são pacíficos. A prova está em que vocês só iniciaram a rebelião de fato depois que eu caí do céu para envenenar suas cabeças. Antes só sonhavam.

–É o que meu pai sempre diz – sorriu Kufu.

–Agora vamos pacificar todo mundo e começar a nos preparar para guerrear com os alakranos quando voltarem. Se quisermos paz, devemos estar preparados para a guerra, como disse um provérbio do meu planeta.

–Sábio provérbio – disse Kufu.

–Quanto a construir naves como a sua – disse Antar – isso pode ser feito aqui?

–Pode. Há muito material e tecnologia. Os planos estão na minha base de dados. Preciso de técnicos e cientistas humanos e xawareks. Os terei?

–Sim, senhor, os terá. Precisamos estabelecer o comando central do planeta em Walhall. Borália é o país mais adiantado do mundo, graças à civilização alakrana, que se encarregou disso. A prova está em que o senhor está vivo.

–Tem razão. E agora vamos terminar de almoçar que depois vou me reunir com o capitão estelar Huáscar. É hora de dar uma olhada na nave dele.

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Continua em: A TRIPULAÇÃO ESTELAR

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O conto DEPOIS DA VINGANÇA - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume IV, Capítulo 33; Páginas 107 a 110, e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

sarracena.blogspot.com

O volume 1 da saga pode ser comprado em:

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Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 18/11/2016
Código do texto: T5827199
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