A TRIPULAÇÃO ESTELAR

A tripulação estelar.

–Minha imediata Lilla Henna, o senhor já conhece.

–Claro capitão. Em certa forma devo minha vida a ela.

A tripulação estava formada em fila na pista do astroporto de Zhoro, à sombra da enorme asa da nave estelar em forma de arraia, de trezentos e quarenta metros de comprimento, cento e dez de largura e sessenta de altura, afirmada em quatro grossas patas, firmemente assentadas na pista de pedra vitrificada.

Uma eclusa de carga, aberta a cinco metros do solo, no lado de bombordo, permitia ver alguns veículos de assalto no interior iluminado pela luz branca que Alan conhecia tão bem. Uma rampa de acesso pela qual poderia entrar um caminhão de bom tamanho estava afirmada no solo, aguardando.

Huáscar tinha orgulho da nave e de sua tripulação:

–Meu cientista chefe, Mestre de Clã Cóatl Ghalen, Mahab de Amaru Xel.

Um tigre corpulento adiantou-se à frente da fileira de tripulantes.

–Haalla!

–Haalla, mestre Cóatl – cumprimentou Alan à maneira xawarek.

–Minha médica chefe; Gates Henna, Mahab de Amaru Xel.

Uma jovem e bela tigresa de uniforme azul escuro deu um passo à frente.

–Haalla, humano!

–Haalla, doutora. Meu nome é Alan Claude. Pode me considerar Baharnum de Xel Amarna, porque passei no teste das sete lâminas mortais.

–Estamos curiosos para conhecer seu Clã – disse a tigresa com sua voz grave.

–Em breve, doutora, em breve.

O capitão Huáscar continuou apresentando sua tripulação:

–Piloto navegador estelar, mestre Pacha Alpac, Baharnum de Amaru Xel.

Um tigre jovem adiantou-se.

–Haalla, Baharnum Alan Claude de Xel Amarna.

–Haalla, mestre Pacha.

–Meu engenheiro chefe de dobra, Mestre de Clã Irco Anahuac, Baharnum de Amaru Xel.

–Haalla, mestre Alan Claude!

–Haalla, mestre Irco.

–Meu engenheiro de caça, mestre Atha Kathar, Baharnum de Amaru Xel.

–Haalla, mestre Alan Claude!

–Haalla, mestre Atha.

–Meus auxiliares de serviço, os tenentes Katzh Hualp, Viro de Amaru Xel e Kol Quetzhot, Viro de Amaru Xel.

–Haalla, mestre Alan Claude! – disseram estes.

–Haalla, tenentes!

–Outros serão apresentados depois; mestre Alan – disse Huáscar – são oitenta, entre cientistas, médicos, engenheiros, pilotos, artilheiros, auxiliares...

–De acordo, capitão. A nave está armada, presumo?

–Sim, canhões de luz concentrada, de energia dirigida, torpedos fotônicos...

–Ótimo! Aumentaremos o armamento no quarto planeta.

–E quando será isso? – os olhos de Huáscar brilharam.

–Em breve. Antes preciso organizar este mundo, para que funcione sem mim.

–Entendo.

–Agora quero que me apresente a nave, capitão.

*******.

A nave tinha vinte e dois níveis; era confortável, bem melhor e maior do que a Empreendimento e a nave Sem Nome. Havia muitas coisas desconhecidas para Alan; dez mil anos não passaram em vão para os sirianos. Havia alojamentos diferenciados individuais para oficiais superiores e oficiais juniores. Os dormitórios para astronautas de serviço eram confortáveis, cada um com quatro beliches bem espaçosos.

Os departamentos estavam bem definidos; comando, comunicações, táctico, engenharia, enfermaria, ciências, biologia, alimentação, suporte de vida e segurança. O departamento de caça de combate compunha-se de doze pilotos, oito caças, um engenheiro e auxiliares. O departamento de solo compunha-se de dois carros de assalto e oito tripulantes, além de uma nave de transporte de carros.

–Para o caso de precisar de um carro no solo, sem necessidade de tirar a nave de órbita – disse o capitão Huáscar – pousar é um procedimento complicado.

–É a segunda nave estelar de que tenho notícia, capaz de pousar no solo como uma nave de cabotagem – disse Alan – a outra é uma nave da Suprema Confederação que meu pai capturou.

–Não entendi – disse Huáscar – então você não é confederado?

–Está na hora de contar quem sou, capitão. Mostre-me sua sala privativa.

*******.

Na sala do capitão, contígua à ponte de comando; Alan e Huáscar bebiam vinho de Greena e beliscavam zhiris.

Alan sabia que os sirianos gostavam de boas histórias para contar aos seus filhotes e não se fez de rogar.

Contou desde o começo a epopeia terrestre, sua estada em Japeto, a aliança com os guerreiros Amarna, seu romance com Tikal Henna, a partida dela na Empreendimento e sua apreensão pela ameaça que estava sendo esperada; os gamas cinzentos que se aproximavam desde Bellatrix para acabar com os humanos e ocupar a Terra. Já era noite, quando Alan terminou de relatar como fez os alakranos fugirem do planeta.

–Fascinante! – disse Huáscar – Você enganou os alakranos com um blefe!

–Sim. Caíram direitinho. Pela sua expressão vejo que não gosta deles...

–O líder de Xawarek Amaru, Tupac, Baharnum de Xawarek Amaru, é uma

marionete deles. Nós em Xel; desde que fugimos de Xawarek Amaru, logo que perdemos a guerra contra os ariones, somos relativamente independentes e temos paz com eles e os alakranos. Mas podemos ter uma guerra civil em qualquer momento.

–Entendo. Vocês têm um líder?

–Temos, sim. O almirante Atharlak Chavim, Baharnum de Amaru Xel, um grande guerreiro, Mestre de Lutas. Odeia os alakranos e os dominions.

–E bom saber disso. Precisamos de aliados contra eles.

–E sua gente do terceiro planeta... Terra?

–Minha gente está dividida como a sua. Meu planeta está acabado por uma guerra que o devastou. Nossa principal colônia está no quarto planeta, que chamamos Marte, onde ao que vi estão prosperando. Temos colônias nos asteroides, em algumas luas do quinto planeta, Júpiter, e nas do sexto, Saturno. Aí o último imperador raniano ainda governa. Em todo o tempo que estou aqui, eles já devem ter chegado ao sétimo.

–Eu gostei muito de saber todas essas coisas sobre seu povo, coronel Alan Claude Sarrazin. Não me enganei com você quando o vi amarrado no poste, sangrando e caçoando dos seus torturadores. Para mim é evidente que você é um guerreiro Amarna... Claro, eles o treinaram! Quero ser seu amigo.

–Eu já sou seu amigo, nobre capitão Huáscar Linx.

*******.

20 de abril de 2020 (200420).

A oito dias da vitória, o planeta renascia.

Alan não teve um minuto de descanso nesses dias, organizando um mundo novo, um mundo que aprendera a amar.

Alan recusou a presidência do Conselho de Governo que criara. Não queria ficar preso ao solo em Walhall. Seus planos eram outros.

Além do mais já pensara em outra pessoa para isso. Runo Hal foi para Borália a assumir o cargo e Xufu assumiu o comando do novo exército que estava sendo criado. Kufu deixou o cargo de generalíssimo da rebelião, mas ainda teria muito trabalho pela frente; agora comandaria as unidades de infantaria que seriam treinadas pelos tigres no combate espacial.

As comunicações foram restabelecidas logo no segundo dia. No terceiro, os fazendeiros voltaram ao campo e no quarto dia os operários das fábricas retomaram o trabalho, sabendo agora que tudo o que fizerem seria para bem do povo.

Os boralianos aceitaram a direção técnica dos tigres nas industrias sem maiores problemas. Não houve incidentes com eles. Os nativos sempre foram um povo pacífico e amistoso e os tigres remanescentes sabiam disso desde que chegaram há décadas. Eles só queriam que as coisas continuassem como antes da rebelião; trabalhando e se divertindo. E o melhor de tudo; sem os alakranos para dizer-lhes o que fazer.

Na ilha Greena tudo voltou ao normal. O país de Gren começou a recuperar-se do estresse dos combates. Em Tíber, o povo retomou sua vida de sempre, agora com saudades dos tigres, porque em verdade estavam acostumados a eles.

Em Zhoro, começou a construção em série das naves da classe AR-2. A patrulheira passara pelo scanner do sistema da fábrica, e transferira seus códigos de fabricação para o sistema robótico das duplicadoras da linha de montagem.

*******.

20 de maio de 2020 (200520).

–Hoje faz um ano que estamos em Vênus – disse Iara, ao consultar por acaso o calendário da base de dados da nave, depois que voltaram da fábrica.

Estavam sentados nas poltronas da cabine de comando, verificando tudo.

–Está na hora de retomar nossa caminhada, querida – disse Alan.

–Já, tão cedo? Estamos bem instalados, governamos o mundo, temos tudo o que podemos desejar... Amigos, aliados... É claro que neste último mês não tivemos um minuto de descanso, querido. Precisamos urgente de outra lua de mel...

–Precisamos sim. Teremos um mês só para nós antes de partir. Tudo está encaminhado e quando tiver certeza de que não sou necessário...

–Para onde iremos?

–A Solaris para ver se Rodden parou de piratear; à Antártica, para descarregar a base de dados que colhemos aqui e comprar fumo de cachimbo para Valerión... E acho que você quer ver sua família em Brasil. Não está com saudades?

–Agora que o menciona, sim, mas só um pouco, querido. Neste ano agitado não tive tempo para saudades e além do mais, você é minha família agora.

–Sou feliz por isso, querida – disse ele beijando-a – mas, voltando ao assunto, precisamos passar em Marte para armar a nave dos tigres com armas marcianas. Com ela talvez consigamos interceptar o ataque dos gamas cinzentos. Não tenho idéia de quando chegarão... Além do perigo dos alakranos. Não sei quanto tempo demoram em ir ao seu mundo, lá no Quadrante Delta... E voltar com uma frota.

–E depois?

–Precisamos passar por Júpiter para ver se meu pai ainda está lá, e por último vamos ir para Rhea, para ver se eles já acabaram a nave Sem Nome. Você vai gostar dos meus amigos e também da viagem. Não queria conhecer os planetas?

–Iremos a todos esses lugares na nave dos sirianos? E nossa patrulheira?

–Vai no porão de carga deles, têm lugar de sobra. Já falei com Huáscar e dei trinta dias de prazo para selecionar a tripulação auxiliar, fazer lugar para os fuzileiros boralianos, carregar todo o mantimento que puder e deixar a nave pronta para partir.

–Vou gostar. Depois iremos para as estrelas?

–Precisamos ir a Sírio e trazer os xelianos de lá para nosso lado...

–E você gostaria de saber o que foi daquela oficial que lhe amou...

–Sim, também – disse ele, ficando sério.

–Você ainda a ama, Alan, vejo isso nos seus olhos.

–Sim, para quê negar? – disse ele, olhando-a nos olhos – Isso nunca foi secreto para você; querida. Ainda amo aquela moça, assim como lhe amo.

–Eu não estou com ciúmes, querido. Já conversamos, lembra? Eu aceito isso e quero mesmo que você a encontre para que sejamos felizes nós três. A propósito, você não me disse o nome dela, aquela noite na pousada. Fomos interrompidos.

–O nome dela é Tikal Henna, Baharnum de Xel Amarna.

–Uma tigresa? – os olhos dela abriram-se de uma forma que Alan nunca vira.

–Sim. Está escandalizada?

Ela respirou fundo antes de responder:

–Lembro suas palavras que me fizeram chorar de emoção aquela noite. Você estava sozinho, ela acabou com sua solidão, foi a criatura mais pura e mais sincera que já lhe amou, Alan. Por quê eu estaria escandalizada?

–Não existem muitas como você lá na Terra.

–Grata pelo elogio, não sei se o mereço. Por falar nisso, querido, espero que você também não se escandalize com o que vou confessar-lhe.

–Vindo de você nada poderá me escandalizar, querida.

–Espero que não, mesmo, porque é muito sério, Alan. Naqueles dois meses em que achei que você estava morto... Eu fui infiel a você, fiz amor com outra pessoa.

–Entendo – disse ele após um momento – você é fogosa e não nasceu para ficar viúva. Espero que tenha sido com o marido de sua amiga, conheço o costume boraliano da segunda esposa, e Antar é um bom...

–Não foi com ele, Alan... Foi com ela. Está chocado?

–Não. Lin disse que vocês se amavam e eu entendi outra coisa, apesar de que conheço os costumes amorosos das mulheres boralianas. Em Antártica não seria bem visto; mas Aldo disse-me uma vez em Rhea, ao saber do meu namoro com Henna, que nós não somos antárticos comuns, somos diferenciados.

–Então não se importa que eu tenha me apaixonado por ela?

–Não. Só não entendo porquê ele não lhe tomou como esposa.

–Antar estava desaparecido e nós duas ficamos sozinhas por dois meses; nos apoiando uma na outra. Quando Antar voltou, Lin queria que ele me tomasse como segunda esposa, mas ele disse que você estava vivo.

–E você a ama. Não me importo, ela merece, por tudo o que fez por você. Gosto dela ainda mais por isso. Só espero que você ainda me ame como antes.

–E você ainda duvida, garanhão?

Alan riu divertido.

–Não duvido. Os tigres também têm o costume da segunda esposa. Espero que você e Henna simpatizem... Porque ela é uma tigresa guerreira grande e muito forte.

–Não me assuste, querido. Melhor conte-me detalhes, estou curiosa para saber como é o sexo de um humano com uma tigresa siriana.

–Difícil e doloroso, querida. Para ambos.

–Eles são cruéis na cama também?

–Não, querida. Você não viu os tigres machos sem roupa. Apesar de grandes, eles têm o sexo menor que o dos humanos, escondido com grossos tufos de pelo. Sem dúvida é uma proteção da natureza para felinos caçadores e lutadores. Por isso as fêmeas têm a vulva pequena; como as meninas terrestres. Henna era virgem e deu mais trabalho ainda.

–E você, que é um garanhão bem dotado, deve tê-la partido ao meio. Coitada da tigresa, Alan, quê crueldade com uma pobre virgem...!

–Ela me escolheu, Iara, ela gostava de mim e me desafiou para um combate corporal honrado sem armas, na frente de quarenta guerreiros, e eu a derrotei. Não sabia eu que ela tinha segundas intenções. Fui o primeiro macho que a derrotou e por isso tive o direito de acasalar com ela. Era o costume ancestral dos casamentos xawareks e ela me pegou de surpresa, sabendo que eu gostava dela. Se eu não a quisesse, ela seria desonrada e perderia status. Mas eu a queria, apesar de que demorei antes de decidir-me a consumar o casamento. O que me decidiu foi uma conversa que tive com Aldo. Ele disse-me: “seja feliz antes que seja tarde”.

–Sábio conselho. Já estou gostando desse Aldo. Mas agora quero mesmo saber como foi a noite de núpcias... Onde foi? Na casa dela?

–No meu apartamento da Cidadela.

–Você tem um apartamento?

–Todos nós temos apartamentos privativos na Cidadela. É uma base enorme, foi construída pelos tigres, conforme nossos planos. Você ainda vai conhecê-la, Iara.

–Fascinante.

–Ao final de uma festa, o capitão Kern ordenou-lhe ficar na Cidadela para se apresentar na doca de manhã. Convidei-a dormir comigo, já que estávamos casados de palavra. Depois do banho conversamos um pouco e ela colocou-se em posição de copular. A ver o tamanho do sexo masculino humano ereto; ficou apreensiva, mas enfrentou a situação com coragem, e o nosso casamento foi consumado. É isso.

–Continua, estou gostando.

–Ao dia seguinte quando fomos embarcar, meu pênis estava em carne viva e ela não conseguia se sentar, mas os tigres recuperam-se rápido e ela adaptou-se logo.

–Coitadinha da moça! Você me deixou toda desmontada e dolorida a primeira vez, e veja que sou bem forte e resistente.

–Talvez por isso você gosta de Lin. Ela não machuca.

–Você só me machucou aquela vez, querido, meu corpo adaptou-se. Quanto a Lin... É um amor diferente, de beijos e carícias em lugares... Ela é um amor de criatura. Parecia uma criança indefesa, quando a peguei em braços no chuveiro, como você me pegou aquela noite depois do banho e a levei ao beliche, como uma noiva, para amá-la por primeira vez...

–Continue, querida. Estou ficando interessado.

–Sim, já dá para perceber o enorme volume do seu interesse.

*******.

Continua em: FILHO DE GUERREIRO

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O conto A TRIPULAÇÃO ESTELAR - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume IV, Capítulo 33; Páginas 110 a 115, e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

sarracena.blogspot.com

O volume 1 da saga pode ser comprado em:

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Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 19/11/2016
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