DEPOIS DO FIM DO MUNDO

INTERLÚDIO.

8.386 anos antes de Cristo

Era uma imensa sala, em semi-escuridão. O pesado silêncio que imperava, foi rompido pelos passos do príncipe Angztlán aproximando-se à mesa em forma de ferradura onde estava reunido o Conselho. Treze conselheiros de rosto sombrio estavam sentados do lado externo.

Treze seres de idade indefinida, de pele amarelada e enrugada, observavam-no com atenção, com seus olhos invisíveis pela sombra que produzia a iluminação no teto altíssimo, sobre suas cabeças raspadas.

O príncipe deteve-se frente à mesa em ferradura, e saudou marcialmente, com o braço em alto e batendo os saltos das botas.

–Salve; ilustres Conselheiros!

As treze cabeças inclinaram-se suavemente à frente. O príncipe tirou o capacete, mostrando sua cabeça impecavelmente raspada, como corresponde a um militar; da qual escorriam brilhantes gotas de suor. Estava preocupado; a guerra estava quase perdida e suspeitava que aquele conselho de traidores queria culpá-lo, para liberar-se de toda responsabilidade.

–Príncipe Angztlán – disse o Conselheiro Primeiro.

–Senhor?

–Estamos perdendo a guerra – interveio o Conselheiro Segundo.

–Sei disso.

–Nossos espiões informam que se aproximam mais de trinta milhões de naves alakranas e de raças clientes a bordo de mais de mil autoplanetas. Aliaram-se para acabar conosco – disse o Conselheiro Primeiro.

–Também sei disso. Tenho acesso aos informes da frente de batalha.

–Temos que lançar o sol de antimatéria contra o grosso da frota deles, quando atravessarem a esfera em Tarazed, onde sabemos que pretendem se reunir para o assalto final – disse o Décimo Terceiro Conselheiro – Ainda há tempo.

–A arma total contra o que esteja no espaço – acrescentou o Conselheiro Três.

–Senhores, o núcleo do planeta desequilibrou-se por causa da energia drenada para criar a arma. Lançá-la em dobra oito rumo a Tarazed que dista 93 parsecs, drenará o resto de energia do nosso mundo. Os geradores de campo que o mantêm estável entrarão em colapso e explodiremos. Como uma bomba.

–Isso é teoria, príncipe – observou o Conselheiro Décimo Primeiro.

–Está mais do que provado pelos cientistas de que tenho razão e vocês sabem disso! – gritou o príncipe – Apenas acham que poderão salvar-se!

–Insolente! – disse o Conselheiro Sétimo.

–Calma! – disse, conciliador, o Conselheiro Primeiro – O príncipe não pode ser tratado dessa maneira, o chamamos para que nos ajudasse.

–Ajudar? Em que forma? Eu venho dizendo há ciclos o que deve ser feito; evacuar o planeta enquanto ainda há tempo, ocupar as luas de Vurón e do Sétimo; depois entrincheirar a Terceira e Quinta frotas em órbita de Gopak e suas luas.

–Isso não ajuda em nada a Ran – objetou o Conselheiro Segundo.

–Ran está perdido. Deixemos os bárbaros divertir-se queimando nossas cidades vazias, escolas, livros e monumentos. Ran tornar-se-á uma armadilha mortal para eles quando explodir ao seu devido tempo; enquanto que nós nos faremos fortes no terceiro e segundo planetas e nas luas dos gigantes gasosos.

–Seremos derrotados – disse o Conselheiro Oitavo.

–Já nos derrotaram de fato na nossa esfera, mas em Xarn há três colônias poderosas, Atlântida, Lemúria e Mu. É um bom mundo, bem organizado, com bastante armamento e perto do sol. Os alakranos não suportam tanta luz.

–Isto leva a uma guerra muito demorada – disse o Conselheiro Terceiro.

–Mas a vitória é certa. Ou prefere o fim do mundo?

–Sem mais conversa! – disse o Décimo Terceiro Conselheiro – lhe chamamos para autorizar e dirigir o lançamento da arma, e obedecerá!

–Senhores, não farei isso porque sei que é um erro. Procurem outro incauto. E por favor, consultem o Imperador. Sua opinião deve ser ouvida...

Dito isto, o príncipe girou nos calcanhares para sair.

–Não irá longe – disse o Décimo Terceiro Conselheiro, apertando um botão.

Um raio surgiu do teto, iluminando o príncipe, e o paralisou ao momento.

–O quê você fez, Zvar? – escandalizou-se o Conselheiro Primeiro.

–O quê devia ser feito – respondeu Zvar Zyszhak, o 13º Conselheiro.

*******.

–A situação é essa, príncipe. Ou Vossa Alteza, confirma esta ordem de bom grau, ou o fará à força – disse Zvar, o 13º Conselheiro.

–Querem se livrar de mim de forma limpa – disse Angztlán, na sala de hibernação, já amarrado em suas vestimentas de múmia.

–Vossa Alteza, cansado de lutar, passa o comando da armada para o Conselho, e exerce seu direito de aristocrata; de hibernar-se mil ciclos para retornar à vida num mundo mais tranqüilo, mais pacífico, sem tantas guerras nem confusões – disse Zvar.

–Claro que nunca acordarei...

–Ninguém disse isso, príncipe.

–Mas essa é a idéia.

Os Conselheiros ficaram em silêncio rodeando o príncipe; imobilizado e já preparado, com os cabos ligados à roupa de múmia.

–Já vi que estou perdido. Dê-me isso – disse Angztlán – e libere meu braço.

–Sábia decisão, Alteza. – disse o Conselheiro Sexto.

–Claro – disse Angztlán, estampando o dedo no painel de escrita – assim evitarei assistir à sua derrota e ao fim do mundo.

–Despertará quando tudo haja acabado – disse o Conselheiro Quinto.

–O mundo será destruído – disse o príncipe – De nada servirá despertar.

–Sua câmara será colocada na cripta dentro da pirâmide da sua família – disse o Conselheiro Primeiro – e a energia cósmica do gerador, como sabe, é eterna.

–Não somos assassinos – disse o Conselheiro Sexto.

–Ah, são sim! Mas eu não vou sofrer. Vocês ficam vivos e acordados.

–Chega de conversa! – disse Zvar – Coloquem-no na câmara!

Os robôs colocaram o príncipe com suavidade dentro do sarcófago.

–Será enterrado com honras imperiais, como corresponde, com todos os seus pertences, para usá-los ao acordar – disse o Conselheiro Quinto – Afinal, Vossa Alteza é um valente guerreiro, Cavaleiro do Cosmos e Conquistador de Mundos; seu nome será dado a belonaves, cidades, mundos, estrelas...

O rosto de Angztlán transformou-se numa máscara terrível, quando disse:

–Senhores conselheiros; eu os amaldiçoo com todo o meu coração. Suas mortes serão as mais horríveis que alguém possa imaginar. Pena que não o verei.

–Agradecido; Alteza – disse Zvar, quando a tampa estava descendo.

–A sua morte será a pior de todas, Zvar, você será o último a morrer! – gritou Angztlán no último segundo em que a tampa descia e ajustava-se.

De fora puderam ouvir seus insultos e imprecações, com uma certa apreensão de consciências intranquilas. Todos menos Zvar Zyszhak, o Décimo Terceiro Conselheiro. Ele não tinha consciência.

Angztlán, dentro da câmara, sentiu frio e sonolência, os líquidos hibernadores estavam substituindo seu sangue e armazenando-o dentro da máquina. Pouco a pouco, a escuridão foi tomando conta da sua mente.

–É o fim – pensou.

*******.

Não, não era o fim.

Intumescido e com frio, começou a tremer.

–O quê acontece com esta maldita máquina? – pensou.

Sentiu-se estranho. A câmara hibernadora não tinha funcionado.

–Por quê não me dormem? – tentou gritar, mas saiu um gemido fraco.

Sentiu que a tampa da câmara se abria.

–Para quê? Quê tortura me espera?

Não conseguia abrir os olhos. A luminosidade incomodava-lhe. Sentiu que uma mão descobria-lhe o rosto e desejou abrir os olhos, mas não o conseguiu. Ouvia palavras num idioma desconhecido.

–O quê aconteceu? – conseguiu dizer num fio de voz.

A luz diminuiu e tentou abrir os olhos de novo. O cenário mudara. Não era o asséptico laboratório de hibernação da capital de Ran. Isso lhe revelou que realmente dormira um pouco, porque tinha sido transportado a um local que parecia uma...

–Estou na pirâmide. Isto não pode ser.

Viu os seres que lhe rodeavam como sombras, já que a luz era fraca demais; duas figuras humanoides e um inferior ao seu lado.

–O quê faz um inferior aqui? – tentou gritar – O quê estão fazendo comigo?

Tentou levantar-se, mas o inferior respondeu-lhe em sua língua:

–Está entre amigos, príncipe.

–Onde estão os conselheiros?

–Quê conselheiros?

–Os que me meteram nesta câmara hoje de manhã!

O inferior ficou em silêncio.

–Respondam ao Príncipe Angztlán! – gritou, tentando levantar-se.

–Fique calmo príncipe! Sabe quanto tempo esteve dormindo?

As palavras do inferior causaram-lhe espanto. Sentiu vertigem, enquanto uma suspeita apertava-lhe o coração:

–Eu dormi um pouco, hoje de manhã estava acordado... Ou não?

–Não.

–Quanto?... – Angztlán começou a perceber o comprimento do seu cabelo e barba, e suas enormes unhas, que lhe davam a aparência de vampiro.

–Príncipe, acalme-se. Não pode fazer movimentos violentos, você está em fase de readaptação à vida. Se você se agitar, pode ficar paralisado para sempre.

Angztlán percebeu a seriedade daquele inferior raniano, que falava em sua língua, amável, com sotaque estranho, fluído, ligeiro, como um povo menos formal, como os colonos de centésima geração em planetas remotos. Então relaxou, deitou-se, passou a mão no cabelo revirado, notando que seu braço não tinha peso. Pensou:

–(Estou no espaço? Então isto não é a pirâmide...!).

–De acordo. Já se passaram os mil ciclos? – disse em voz alta.

–Segundo nossos cálculos, você foi hibernado há mais de dois mil ciclos.

–Tanto?... – os olhos de Angztlán ficaram sombrios – os conselheiros, a guerra, os alakranos, o planeta, o Império... Nada existe?

–Parece que você sobreviveu a todos eles.

–Quê lugar é este, se o planeta não mais existe?

–Pomona. Um pedaço de Ran, ainda girando na velha órbita.

Angztlán então compreendeu porquê seu corpo estava tão leve.

–Então aconteceu – disse com amargura.

–À volta do meu autoplaneta só vimos um cinturão de asteroides.

–Seria você do Analgopak-Ran? Estavam prontos para partir antes que...

–Eu sou de última geração, Alteza. Capitão Nahuátl Ang, ao seu dispor.

–Grandes Deuses! Acho que tive sorte, depois de tudo!

Logo depois, apesar da gravitação ser próxima de zero, o príncipe foi levado numa maca para que não fizesse o mínimo esforço, através do túnel pressurizado para o alojamento construído no seio da rocha, bem embaixo do iglu de vitroplast.

–Quero me limpar, cortar meu cabelo e barba, além destas horrorosas unhas.

–Será atendido, príncipe – disse Nahuátl – Temos todas as comodidades aqui.

Báez enviou uma mensagem à Hércules, anunciando a novidade.

*******.

FIM DO INTERLÚDIO

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20 de fevereiro de 2014 – Ponto de Apoio – Marte.

Aconselhada pelo irmão e a cunhada, Chiyoko foi ao alojamento do professor Cabot, que morava sozinho e disse-lhe a verdade, sem mencionar quem é o pai do bebê que espera. Patrick está apaixonado e o choque o deixa mudo alguns instantes.

–Já não sou honrada. Esqueça-me, Pat.

–Não importa – disse ele, após recompor-se – quero casar-me contigo assim mesmo; isto é, se não queres mais o outro, seja quem for...

–Não mais o amo – disse ela, sem demonstrar ter percebido a deixa dele para pronunciar o nome do outro – Você não tem obrigações comigo, como sabe. Pense de novo com calma, agora não percebe as conseqüências da sua proposta.

–Eu te amo sabes disso, Chiyoko. Tu desejas ter esse filho?

–Sim, mas queria tê-lo longe daqui... As pessoas podem achar que...

–Se casarmos em seguida; todos na base pensarão que o bebê é meu; além do mais, nós, os antárticos; não somos tão puritanos e certinhos como vocês, japoneses, cheios de códigos de honra e coisas assim.

–Estou desorientada! – choramingou – gostaria que minha mãe estivesse aqui!

Pat abraçou a jovem e a deixou chorar. Ele a amava sinceramente. Foi aí que soaram os alarmes do Ponto de Apoio. Colocaram os capacetes e saíram fora. Havia grande movimentação. Pat interrogou um operário que passava.

–O quê houve?

–Chegou a frota da Terra! – foi a resposta.

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Os quarenta contêineres ficaram em órbita e as naves pousaram para serem descarregadas e subir de novo. Na casa do Governador, este saboreava uma cerveja brasileira recém desembarcada e Valerión perfumava o ambiente com fumo holandês.

–Eu lhe trouxe 1.600 colonos qualificados, Elvis. Estão ansiosos para trabalhar, coloque-os onde for preciso para acelerar os projetos em andamento. Mas antes há três assuntos vitais e urgentes aos quais deverá dar a maior prioridade.

–Como desejar. Quê assuntos?

–Primeiro; despache, quando pronta, a Vingador atrás de Aldo; que, pelo que sabemos, perdeu gente, gastou muito material e ainda nem chegou a destino.

–Ele teve problemas bastante sérios. E o segundo ponto?

–Concluir os protótipos Odín e Zeus e iniciar a produção de pelo menos outros dois, para enviá-los a Terra quanto antes para defender Antártica e a Lua. Com eles poderemos derrotar a ditadura quando a guerra começar. São porta-aviões espaciais. A Odín transporta 72 aviões CH-3 de nova geração; apetrechados com quinze recargas, e a Zeus leva 16 patrulheiras AR-1 apetrechadas com vinte recargas.

–O quê é a patrulheira AR-1?

–Minha carta na manga, Elvis; a menina dos meus olhos; a melhor nave que eu já fiz; um caça-bombardeiro para patrulha longa no espaço profundo. Como sabe, os caças CH-I e II são limitados a menos de 24 horas de ação por fome; sono e cansaço do piloto, além de necessidades fisiológicas, o que não acontece com minha patrulheira AR-1, que tem dois beliches, banheiro com ducha e despensa com alimentos; além de gravitação artificial. A AR-1 tem asas variáveis e é pequena; 30 metros. Foi projetada para água, ar e espaço; pode passar semanas, aliás, pode passar meses em patrulha com dois pilotos e dois artilheiros; pode ir da Terra a Júpiter e voltar à mesma velocidade das naves da classe Hércules, sem reabastecer. É um porrete espacial; e assim que acrescentar armas marcianas nela, como pretendo; transformar-se-á num terrível arsenal voador superior a qualquer caça dos nossos; CHI, II ou 3. Dará conta de qualquer nave que o inimigo tenha produzido até hoje. Tenho quarenta montadas e armadas para uso imediato e três protótipos.

–Está bem, Valerión, convenceu-me! Compro todas! E o terceiro ponto?

–Terminar de montar a Milenium e enviá-la para Júpiter com os porta-aviões; para afirmar posições. Eu os trouxe como protótipos, mas vou mandá-los em frente com minhas patrulheiras e caças. Aldo deve estar precisando de apoio ou socorro...

–Há uma nova opção, a nave Analgopakin, ancorada no estaleiro de Phobos.

*******.

21 de Fevereiro.

Patrick e Chiyoko estavam na casa dele. Ela agora passava as noites com ele, quando o romance se fez notório na base. Contrariamente às apreensões da jovem, ninguém deu importância ao fato deles morarem juntos. O Ponto de Apoio provou ser um território ainda mais livre do que Antártica.

–Não entendo, Pat. Insiste em casar comigo, que vou ter um filho de outro.

–Sim, embora não me ames.

–Eu lhe amo, sim, meu querido, você merece, é bonito, carinhoso e me quer bem. Mas não será feliz. Sempre verá o fantasma do outro...

–Não digas isso, a não ser que sintas algo por ele ainda.

–Mágoa comigo mesma. Mas não se preocupe, sei que não o verei mais.

–Ele não está na base...? – aventurou ele.

–Foi designado para outro lugar – disse ela, sem mentir.

–Tudo bem. Insisto em que te amo, apesar de tudo.

–Merece muito amor e o terá. Mas não quero viver mais no Ponto de Apoio, vamos a outro lugar; Angopak, Cidônia, Darnián, Atlantos, os Pólos...

–Vou providenciar isso. Sobra gente aqui e não somos tão necessários...

–Seremos felizes longe. O melhor seria ir a Ceres, onde está minha família.

–Não prometo nada, querida, mas vou tentar. Ouvi dizer que estão levando carga para a doca orbital, destinada às naves que vão partir para Ceres. Parece que teu avô solicitou material de construção, alimentos e suprimentos diversos.

–Talvez pudéssemos ir. Você poderia ensinar às crianças de Ceres; sei que eles não têm professor lá... E aqui agora há muitos.

–Como eu já disse, não prometo nada, mas...

–Mas...?

–Quero me casar contigo hoje mesmo. Aceitas?

–Sim. Aceito.

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22 de Fevereiro.

Elvis e Valerión ocuparam dois dias vistoriando a Analgopakin no estaleiro orbital. A Odín e a Zeus eram grandes, mas a nave de Nahuátl era o dobro delas. Ao final, Elvis conseguiu convencer o cientista:

–Vou enviá-la para Ceres, doutor. Fuchida necessita material de construção, mantimentos e pessoal. Nós precisamos economizar naves. Seria preciso três naves da classe Antílope e trinta contêineres com tudo o que Fuchida solicitou. A Analgopakin pode levar o triplo disso e ainda sobra espaço.

–Antes vou estudar seu sistema de impulso.

–Aproveite, doutor. Mas vai zarpar em uma semana.

–Será suficiente.

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1º de Março.

Hoje, a Analgopakin, com mantimentos e material de construção, esquentava máquinas na doca. Os oficiais Ruiz, Carlos de Paula e De Leon, comandavam cem japoneses, cem marcianos em primeira viagem e quatrocentos ranianos; o mínimo necessário para fazê-la funcionar.

O segundo comandante Bachín abordou a nave com seiscentos ranianos voluntários. Antes da partida, a Prometeo ancorou na doca para trazer o agora capitão do espaço Weiss e os recém casados Patrick e Chiyoko.

Assim partiram para Ceres 1207 pessoas, entre colonos e tripulantes; na

primeira experiência de convivência de seres de mundos diferentes na mesma nave. Ninguém sabia que entravam numa realidade alternativa, precipitando-se num mundo paralelo, criado pela nova variável: Chiyoko e Pat levavam no ventre da jovem uma bomba relógio para o futuro!

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5 de Março.

Quando Valerión fazia as malas para Júpiter e os cientistas estudavam as naves dos Alfas; na Analgopakin recebeu-se uma mensagem do Acampamento Fuchida:

"...Estamos felizes de saber que nossa companheira Chiyoko e seu esposo estão a caminho. A notícia é que tivemos alguns problemas e nos mudamos para o subsolo, onde descobrimos ruínas de uma pirâmide e um mausoléu. Há um sarcófago com uma múmia dentro. Vimos que está viva. Anexamos dados e fotos, para transmitir à base Ponto de Apoio e ao capitão Aldo, esteja onde estiver. Fiquem plugados."

Uma nova variável entrava nos mundos paralelos.

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Pomona – 10 de Março de 2014.

Angztlán, calmo, limpo, cabeça e barba raspadas, unhas aparadas; já parecia mais humano, após três semanas de tratamento.

Na sala de troféus acharam roupa limpa ainda em condições, que o príncipe trocou pelo macacão terrestre emprestado. Ficou muito elegante após vestir-se com suas roupas de cem séculos atrás e seus olhos incrivelmente azuis buscaram em volta, uma saída:

–Imagino que lá fora é o vácuo – suspirou, desanimado – não sei o que fazer, tudo o que conheci já não existe. Eu tinha muito a fazer e muitos planos; e ainda estou com essa sensação... Nada mais adianta agora.

–Imagine-se num retiro – disse Nahuátl, chamando com um gesto o raniano encarregado de fazer o almoço.

–Isso é comida de verdade? Estou com fome... Estou com verdadeira fome; até agora vocês só me alimentaram com comida sintética!

–Coma devagar, príncipe, lembre-se que esteve hibernado – disse o professor von Kruger, que falava a língua marciana com forte sotaque.

–Sim. Você não é raniano, presumo?

Von Kruger fervia de vontade de fazer perguntas, mas o príncipe também teria as suas, e seriam importantes para seu estado mental. Preferiu acalmar a curiosidade do raniano antes de aventurar-se a perguntar.

–Presume certo – respondeu – Sou da Terra... Xarn, o terceiro planeta.

–Claro! Sou um tolo. É óbvio que você é de Atlântida! – disse o príncipe, e sua bela face iluminou-se – imagino que serão independentes e dominarão toda a esfera imperial. Como não o pensei antes?... Deve existir o Império Atlante. Isso é bom.

–Ah...! Príncipe... Precisamos nos atualizar um pouco. Sabemos quase tudo o que aconteceu no nosso mundo enquanto você dormia, mas não sabemos o que aconteceu antes de você dormir, a não ser por Nahuátl, que é descendente de um grupo que partiu antes da destruição. Temos cópia de um diário de uma nave raniana caída por aqui, que menciona Atlântida e fala da destruição do seu planeta, mas não temos certeza de como foi nem por quê.

–Mas eu sei como foi – disse Angztlán.

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Angztlán foi informado do mais transcendental dos últimos milênios. Ficou triste ao saber do fim da Atlântida. Após alimentar-se, relatou os últimos dias de Ran, para assombro dos que lhe escutavam. Ao final disse:

–Como eu disse antes, tenho sensação das coisas inacabadas. Queria me vingar do maldito que provocou o fim de Ran e a destruição de Atlântida, onde estava minha noiva, a princesa Ártemis. Mas é claro que está morto há milhares de ciclos...

A tristeza do príncipe os chocou. De repente o terminal plugado na Intermarte avisou a chegada de uma mensagem. Báez levantou-se e sentou na frente da tela.

–Marte na linha – disse – com imagens. Apareceu outra múmia em Ceres.

–Mein Gott! Há outra? Mas isto está se tornando...

–Deixe-me ver – disse Nahuátl – parece de alguém importante... Como você.

Angztlán aproximou-se do terminal. Ao ler os caracteres, seus olhos brilharam de ódio, e seu rosto contraiu-se numa careta terrível quando gritou:

–Está vivo! O maldito conseguiu escapar ao fim do mundo! Os deuses colocaram no meu caminho outra vez o demônio parasita que me prendeu na câmara hibernadora, o décimo terceiro conselheiro Zvar Zyszhak!

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Continua em: O DÉCIMO TERCEIRO CONSELHEIRO

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O conto DEPOIS DO FIM DO MUNDO - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase I - Volume II, Capítulo 10; Páginas 1 a 4; e Capítulo 14, páginas 68 a 71; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

sarracena.blogspot.com

O volume 1 da saga pode ser comprado em:

clubedeautores.com.br/book/127206--Mundos_Paralelos_volume_1

Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 24/11/2016
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