A TRIPULAÇÃO PARA JÚPITER

20 de dezembro de 2013.

Sem perceber que a linha de tempo tinha sido mudada doze dias atrás; já que aparentemente tudo estava normal; decolaram rumo à Terra a Procion, a Audaz e a Prometeo; a fim de trazer materiais indispensáveis. Após a partida, Aldo e o professor Von Kruger conversaram:

–É vital enviar essas naves à Terra, professor. Precisamos materiais.

–Mas aqui temos tudo o que precisamos... O não?

–Não temos, não. Não fazemos computadores, sistemas de controle, sensores, radares, rádios, câmeras de TV e toda a parafernália eletrônica vital para nosso uso diário e para as naves e aviões que fabricamos.

–Podemos aproveitar as fábricas dos marcianos e a mão de obra...

–Podemos, e já estamos trabalhando nesse sentido, mas ainda faltarão muitos anos para que eles consigam atingir nosso estágio e criar o que precisamos. É mais fácil trazer matrizes para que eles possam fabricar certos produtos, inclusive armas.

–Claro – concordou von Kruger. Seu rosto iluminou-se:

–Por falar em armas, ainda pretende voltar à Terra para a justa desforra?

–Claro que sim. Mas agora temos tempo de sobra para isso.

–Estamos cômodos aqui. Podemos planejar. Quais os materiais que virão?

–Coisas simples, como ferramentas; instrumentos ópticos de precisão, relógios, voltímetros, manômetros e tudo o que não podemos fabricar aqui. É uma enorme lista de 500 páginas de space-fax que enviei ao Dr. Valerión para preparar tudo antes das naves chegarem à Lua. Entre outras coisas há material de escritório, computadores de última geração, robôs de montagem, material cirúrgico, remédios, roupa, trajes espaciais, motores, munição, armas; inclusive material de limpeza.

–Isso é fundamental, isto já é uma pequena cidade... – observou o professor.

–Já pensou que precisamos barbeadores, creme e escovas dentais, sabonetes, papel higiênico e até absorventes íntimos para as mulheres?

–Claro, não fabricamos essas coisas! E quanto à alimentação?

–Marte começou a produzir comida e há planos de longo prazo, os cultivos hidropônicos são excelentes e produzimos comida sintética à base de fermento, mas precisamos ainda coisas que não produzimos aqui... Carne, trigo, arroz, açúcar, sal, leite em pó, chá, café, refrigerantes, cerveja, vinho... Inclusive erva-mate.

–Erva mate?

–É uma espécie de chá. Há gente aqui que tem por hábito tomar essa infusão típica de América do Sul, principalmente argentinos, uruguaios e brasileiros do sul...

–Ja. Devemos diversificar a alimentação. Certamente, tudo isso poderá ser produzido aqui no futuro...

–Mas até lá dependemos da Terra para abastecer-nos dessas coisas, professor.

Calculei que precisamos trinta naves robôs para trazer tudo.

–Como pagará tudo isso?

–As naves vão carregadas com prata marciana trabalhada para o museu, ouro, diamantes de Phobos, urânio de Dheimos, espécimes raros e valiosos, armas marcianas para nossos soldados, vimanas modificadas e protótipos de CH-II para que Valerión inicie a produção. Além disso, fotos, filmes, bancos de dados e descobertas científicas que são coisas que não têm preço...

–Concordo. Quando poderemos dispor do material?

–A Terra está cada vez mais longe e apesar de que os motores são mais rápidos, será demorado. Talvez entre 20 de fevereiro e 10 de março do próximo ano, depende de Valerión reunir tudo no prazo.

–Então deveremos adiar a viagem a Júpiter para depois dessa data.

–Para a Hércules há tudo o que se precisa. Inclusive já está testada, abastecida, aprovisionada e armada. O problema é a segunda nave, a Vingador.

–Gostei do nome.

–Foi idéia de Lúcio, ele a comanda. Mas ainda não está pronta. Falta material e a montagem está parada por falta de peças.

–Mas todas as nove naves da classe Hércules têm componentes marcianos...

–Ainda assim não conseguimos concluir a segunda nave, professor.

–Odeio me repetir, Kapitan, mas não seria melhor adiar a partida?

–Não há necessidade. Partiremos antes que chegue o material e uma vez lá esperaremos o Lúcio na Vingador para nos dar apoio.

–Então a expedição independe da chegada do material, mas se a Hércules...

–É a mais completa astronave jamais fabricada por nós, e me aventuro a dizer que por ninguém, professor. Não se preocupe, ela pode sustentar a tripulação por dois anos sem abastecimento, está equipada para tudo tipo de pesquisa científica e está poderosamente armada inclusive com armas marcianas.

–E a tripulação?

–Tenho uma lista em estudo, mas só a revelarei no dia 24, professor.

–E para as outras?

–Nada foi definido, mas deverão ir nativos na terceira nave da classe Hércules, a Milenium, que será comandada pelo meu cunhado Leif.

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Terça Feira, 24 de dezembro de 2013.

Nas três naves que partiram para a Terra só foram pilotos e navegadores.

Por isso no Ponto de Apoio havia muita gente capacitada; pelo que Aldo, que já estava com a lista; esperava formar a melhor das tripulações para a melhor das naves.

E o futuro provaria que ele estava certo.

Essa noite, as crianças da base celebravam a Véspera de Natal na escolinha, festa católica de origem pagã, organizada pelo padre Caselli. Era uma festinha gentil e singela, oferecida aos adultos pelas crianças, com uma representação teatral e outras coisas bonitas e inocentes.

Aldo não pôde deixar de gostar. Os adultos estavam felizes e divertiram-se.

A Rádio e TV Marciana (RTVM); transmitiu a festa às luas e a todo o planeta. Foi captada em Darnián, Hariez; nos pólos e Angopak. Os terrestres instalaram equipamentos em todos os pontos estratégicos, onde tinham contato com nativos amistosos. Horas depois o sinal foi captado nas naves que retornavam à Terra.

Na festa, Aldo e seus colaboradores não prestavam atenção porque estavam ocupados com outros problemas que discutiam entre uma lata de cerveja e outra.

–Senhores, está decidido, não podemos esperar mais. Partiremos à zero hora da quarta-feira 1º de janeiro de 2014; ou seja, daqui a uma semana.

–Ótimo! – exclamou Konstantin Diakonov – Selecionou a tripulação?

–Sim. 34 pessoas – aqui está a lista.

–Ach! – exclamou Von Kruger – Vamos fazer as coisas em grande!

–Pare de fazer suspense e mostre! – exclamou Boris.

–O capitão serei eu, claro; na falta de outro melhor. Não, não riam, moleques. O imediato será você, Boris; piloto o tenente Rutger "Rojo" Weiss; e o navegador será você, camarada Konstantin.

–Sinto-me grato pela lembrança.

–É sem dúvida o mais capacitado para conduzir-nos tão longe em território desconhecido... E ainda através do cinturão de asteroides, que deve ser perigoso.

–Concordo totalmente – disse Boris.

–No terminal principal do sistema e sensores; Regina, minha conselheira.

–Linda e capacitada – disse Boris.

–Claro, devemos unir o útil ao agradável – disse Aldo, e em seguida:

–Chefes de departamento: comunicações e sistemas; Ingeborg.

–Linda e capacitada, também – disse Boris.

–Eu já disse... Útil e agradável. Primeiro cientista; professor von Kruger.

–Mein Gott! Vou para Júpiter! Devo fazer minhas malas!

–Médica chefe e segundo oficial de ciências, doutora Lídia Maximova, agora Diakonova. Detesto separar um casal feliz, Konstantin.

–Também acho – disse o russo – útil e agradável.

–Linda e capacitada, também – observou Aldo e prosseguiu:

–Engenharia; o primeiro engenheiro, o grego Constantino Karapsias.

–Não é muito jovem?

–É cria de Valerión, Boris. Sabe tudo.

–Não discuto.

–Propulsão antigravidade, antimatéria, o primeiro maquinista, o Russo Alegre; engenheiro Basil Gregorovitch Muslimov.

–Esse é bom – observou Lúcio – montou todos esses motores.

–Sala de torpedos de proa primeiro artilheiro, o irlandês George Grubber.

–Nosso chefe da segurança?

–Sim, Boris. Primeiro eletricista; Julian "Cables" Torres, o chileno. Esses são os chefes de departamento. Os reservas: Segundo engenheiro; Karl Henschel.

–Na Antarte era chamado de "fazedor de milagres" – disse Konstantin.

–Pois é. Precisamos dele. Segundo maquinista; Alexander Otto Dreisen; segundo eletricista Simon Gart; sala de torpedos de popa, segundo artilheiro Cássio "Índio" Báez; primeiro contramestre; John Marnes, o norte-americano...

–Que não lhe ouça, Aldo. Ele se considera um confederado.

–Confederado; Boris?

–Odeia o norte. É sulista de Virgínia, sabe; "O Vento Levou" e tudo isso...

–Entendi. Sobre cargo, astronauta de serviço Rafael Martos, o espanhol; o segundo contramestre Carlos Bachín; terceiro contramestre, Otelo "Negro" Báez; depois temos, para cozinheiro, padeiro e nutricionista...

–Precisamos de um cozinheiro?

–Claro; Boris. Numa crise ou no caso de pane não podemos distrair nosso tempo controlando estoques de comida e água, purificadores de água e ar, preparo da comida, limpeza da nave, cozinha, banheiros e privada. Não numa viagem dessas, na qual podemos até entrar em combate. Além do mais serão muitos a bordo e alguns deles não se conhecem ainda. Precisamos um profissional que coordene as tarefas do sobre cargo e dos contramestres no trabalho de bordo e o controle dos alimentos.

–E quem é esse coitado?

–Não o chame de coitado, Lúcio. Sua função é fundamental. É um veterano de submarinos, seu compatriota italiano Piero Gatti, mais conhecido por “Mudo”.

–Mudo? Por quê?

–Quando lhe perguntam o quê colocou na comida, fica mudo.

–Ah!

–Depois os astronautas de serviço Setembrino "Bino" Mendes, Gregório "Greg" Paz, Antônio "Toni" Benítez, Vladimir Chekov, Edgar Ruiz, Carlos de Paula, Karl Wassermann, Carlos de Leon...

–Todos veteranos.

–Sim, Boris. Para concluir, os pilotos de caça franceses: Jacques Cartier, Adolphe D’Hastrel, Ives de Saint-Hilaire e os russos Thomas "Tom" Cikutovitch e Ivan Ivanovitch Kowalsky.

–Pilotos de caça? – perguntou Boris.

–Há seis aviões novos CH-II acoplados. Além disso, como sabes, piloto ocioso a bordo é pau para toda obra, lavar pratos, limpar banheiros, esfregar o convés...

–Mas nomeou cinco pilotos, Aldo. Sobra um avião...

–O meu, é claro, o avião reserva. Estou louco para pilotar essa belezinha.

–Claro.

–O quê vocês acharam da minha seleção?

–Uma equipe da pesada – disse Lúcio – os melhores.

–Não podia ser melhor – disse Boris.

–Têm uma semana para fazer as malas. Já coloquei a bordo quase tudo o que é meu. Inclusive as novas armaduras...

–Armaduras? – perguntou Konstantin.

–Os novos trajes de tecnologia marciano-terrestre – interveio Lúcio – couraças de vitrocerâmica que suporta descargas phaser de cinco milímetros, laser de até cinco milímetros e disparos de fuzil marciano a cinqüenta metros. O pessoal não descansou no ponto. Foi idéia minha; modesto como sempre. Vocês vão preparados para tudo.

–Vamos, sim. Nós somos os vilões, desta vez.

–Continuamos sendo – corrigiu Lúcio.

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27 de dezembro de 2013.

A Hércules estava equipada e preparada para decolar. Os tripulantes escolhidos davam os últimos retoques aos alojamentos para deixá-los confortáveis.

Por baixo das asas em delta estavam embutidos dois aviões CH-II, abastecidos e armados; em cima delas, outros dois; e por cima da fuselagem, mais dois. Os pilotos poderiam abordá-los pelos túneis interiores.

A nave fora carregada com 1.177.000 litros de fluído ativado e mais cinqüenta barris de concentrado de 200 litros cada, para diluir em peróxido de hidrogênio e fabricar mais combustível no caso de encontrar suficiente hidrogênio e oxigênio lá fora. Carregou-se também cinco kg de U-235 e cinco de plutônio em barras acondicionadas em chumbo e vitrotitânio.

No paiol havia 200 torpedos, cada um podia volatilizar uma cidade como New York; e munição para as metralhadoras de 50mm dos aviões. Havia munição marciana em forma de unidades de energia para os canhões marcianos de proa, estibordo e bombordo e para os canhões dos aviões. Os novos lasers gêmeos de 50mm da Hércules foram testados com sucesso com sistemas duplos em carga completa.

Aldo chegou a pensar que a Hércules sozinha talvez poderia retornar à Terra e libertá-la. Mas ainda não era o momento. Não era isso o que devia ser feito agora.

Ainda era cedo.

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Pela tarde...

–Elvis, está nomeado Governador de Marte e Suas Luas – disse Aldo.

–Espere Linda saber disso, a Primeira Dama de Marte.

–Não quero saber mais de Marte. Preciso a mente livre de compromisso com a gente da próxima leva. Resolva os problemas. Sei que tem planos para a colônia.

–Tenho, sim.

–Fundar um Ponto de Apoio nas antípodas ao norte de Angopak?

–Sim.

–Ouvi algo disso, ontem. O pessoal está comentando.

–Uma base para que talvez Leif e Mara a dirijam. Além do mais; quero montar uma base avançada no pólo sul, onde o gelo é mais abundante. Podemos derretê-lo e bombear água para Guaztitlán, o reino do sul, a outra grande nação marciana, inimiga de Hariez e de Darnián. Ficaremos amigos deles e poderemos abastecer nosso aliado o Acampamento Vurián, já do tamanho de uma cidade... E talvez possamos fazer a paz entre eles. Também quero pesquisar Cidônia, há mistérios por lá...

–Quem ficaria à cabeça do complexo?

–Eric e Lina. Eles são bem vistos ao sul. Para Lúcio e Eva pensei...

–Não, não planeje nada para eles. Lúcio comandará a Vingador que irá a Júpiter atrás de nós. E quando a Milenium estiver pronta, Leif, Mara, Eric e Lina...

–De acordo, escolherei outros. Então sobram Marcos e Bárbara...

–Não. Foram chamados por Valerión e decolarão para à Terra.

–Não sabia disso.

–Nem eles, ainda. Recebi um fax de Valerión há minutos. Ele os quer para pôr ordem por lá. Nosso irmão mais velho, herói famoso e recém casado, é o candidato de consenso para assumir o governo unificado das três raças em Antártica.

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Continua em: A JORNADA PARA JÚPITER (já publicado)

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O conto A TRIPULAÇÃO PARA JÚPITER - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase I - Volume I, Capítulo 9; páginas 152 a 157; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-epopeia.html

O volume 1 da saga pode ser comprado em:

clubedeautores.com.br/book/127206--Mundos_Paralelos_volume_1

Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 09/12/2016
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