A MANOBRA DOS ALMIRANTES

Nova Chile, Marte. 24 de abril de 2015 – 08:00, hora de Ares Vallis.

Comunicado do Governo da Nova Ordem Mundial à Embaixada Marciana na Lua por intermédio da Suíça; para ser publicada em Guaztitlán, Nova Chile, Darnián, Hariez, Atlantos e Angopak:

ATENÇÃO:

LEMBRA-SE AOS PASSAGEIROS MARCIANOS E COLONOS TERRESTRES QUE TIVEREM INTENÇÃO DE VIAJAR A PORT ARMSTRONG, CIUDAD LUNAR, NOVA ARGENTINA E NOVO MARTE, QUE HÁ ESTADO DE GUERRA ENTRE OS ESTADOS UNIDOS E A LUA.

A ZONA DE GUERRA COMPREENDE O ESPAÇO IMEDIATO À LUA E ÀS BASES ORBITAIS, NUM RAIO DE DOIS MILHÕES DE KMS TERRESTRES, (20.000.000 DE ESTÁDIOS MARCIANOS) A PARTIR DA TERRA.

PORTANTO SE FAZ SABER QUE NAVES DE BANDEIRA LUNAR OU DE QUALQUER DOS SEUS ALIADOS; ARRISCAM-SE A SEREM DESTRUÍDAS NA REFERIDA ZONA DE HOSTILIDADES, E QUE VIAJANTES QUE A ATRAVESSAREM EM NAVES DA LUA OU ALIADOS O FAZEM POR SUA CONTA E RISCO.

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Ponto de Apoio, Marte. 24 de abril de 2015 – 11:00, hora de Ares Vallis.

Gabinete do Governador Elvis Santos, em reunião com o general Bert Vurián.

–Está dizendo que a Arachânia está carregada de contrabando de guerra?

–Exatamente, governador. Trasbordante de armas e munições darnianas, para abastecer as tropas antárticas e lunares. Darnián é aliado incondicional de Antártica, embora se diga “neutro”. Admira-me que o senhor não saiba disso, já que o senhor é um antártico, e ao que me consta Antártica é aliada da Lua contra o governo central da Terra. Até chego a pensar que foi o senhor mesmo que autorizou esse contrabando.

–Não fui eu. Deve ser coisa dos darnianos. Impedirei sua saída, general.

–Receio que seja tarde, governador. O senhor não tem autoridade sobre uma nave lunar. Quem autoriza chegada e partida é o prefeito darniano da doca espacial; e há interesses políticos de por meio: querem manter a linha a todo custo para mostrar a superioridade darniana em matéria de transporte de carga e passageiros.

–Mas a Arachânia não é deles!

–Mas o armamento que sustenta a guerra é, governador. O contrabando viaja veloz aos planetas centrais na Arachânia e na gêmea Patagônia.

–O quê acontece se essas naves contrabandistas forem destruídas? – perguntou Elvis, embora já soubesse a resposta.

–As naves foram construídas na Lua pelo governo de Max Guerreiro. Se forem destruídas perderemos a melhor ligação que temos com Antártica e a Lua; perderemos a melhor coisa que vocês fizeram por nós.

–É bom para todos, general. Já estava ficando chato ir e vir em navezinhas com reboques e espaço limitado de carga, apesar de que agora são bem mais velozes do que antes. Era preciso construir naves maiores do que as Odín e Zeus. Estas duas têm mil e quinhentos metros terrestres de comprimento e trezentos de diâmetro...

–Voltando ao assunto, se as naves forem destruídas; o problema será de Max Guerreiro, o governador da Lua. É dele a idéia de carregar as naves com contrabando.

–Aí se engana, general. Agora viajam darnianos, hariezanos e angopakis para a Lua e Antártica. Se algum gopaki morrer, o problema será nosso. Seu e meu. Não é certo carregar armamento em naves civis de carga e passageiros!

–Mas o governo central terrestre, inimigo de vocês, anunciou que quem viajar, o fará por sua própria conta e risco, governador.

–Isto vai dar problema justamente agora que temos uma aliança pacífica vocês e nós... – disse Elvis, admirado do conhecimento sobre a Terra que o general Vurián tinha adquirido nos últimos anos.

–Sim, governador. Nossas relações melhoraram muito. Demais, eu diria.

–A nave já partiu?

–Não, governador. Estão subindo transportes com mercadoria e passageiros.

–Não há um modo de impedir a partida?

–Receio que não, governador.

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A estratégia dos almirantes lunares.

No segundo ano da guerra, as potências procuraram os pontos fracos do inimigo. Não usaram armas atômicas, que todos possuíam, por temor de que não sobrasse nada para pilhar depois. Naves de guerra rondavam o espaço num raio de dois milhões de kms, bloqueando a entrada e saída de naves para fora.

Os astronautas; fosse da bandeira que fossem, não estavam a fim de se matar. As naves da Nova Ordem Mundial estavam mais sofisticadas, mas sem tecnologia de antimatéria como as antárticas.

(Não que não tivessem tentado dominar essa tecnologia; mas desistiram após o desastre de Seattle; quando perderam o controle de meio grama de antimatéria, fazendo desaparecer no nada o complexo Boeing; com mais de quinze mil cientistas e trabalhadores; e duzentos mil civis, deixando uma cratera de oito mil metros de diâmetro e mil de profundidade).

Eram velozes e armadas com mísseis e lasers, embora não muito ágeis. Mas tinham um recurso que valia pelas deficiências: sua quase invisibilidade. As eficientes Skywars-U pintadas de preto, invisíveis ao radar, atacavam de surpresa.

Como era difícil repor munição, os capitães preferiam sempre deter as naves suspeitas, abordá-las, inspecioná-las e liberá-las se fossem neutras ou destruí-las se fossem beligerantes.

Neste último caso, retiravam a tripulação e destruíam a nave, ou em certos casos as capturavam com sua carga como botim de guerra.

Apesar de lacaios da ditadura, soldados são soldados, não criminosos.

Depois que as Skywars-U ocasionaram grandes perdas à Frota Lunar, a opinião que as naves misteriosas despertavam no Almirantado, foi modificada.

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Violação do Regulamento de Cruzadores.

A primeira violação do regulamento de cruzadores foi cometida pelo primeiro lorde do almirantado lunar, um chileno chamado Guillermo Iglesias, colega de colégio de Max Guerreiro.

Consistia em armar as naves mercantes da Lua, o que foi sabido pelo governo da ditadura mundial. Daí em diante nenhuma das pequenas naves Skywars-U poderia se aproximar a menos de cem mil kms de nenhuma nave de carga.

Com isto, as Skywars-U estão sujeitas a confundir naves neutras com beligerantes, devido a que sua autopreservação torna-se mais importante. Além do mais, eram naves pequenas, sem espaço para acomodar os reféns e a carga.

A única potência interplanetária com considerável poder de combate, mas ainda neutra (Marte e seus aliados, os planetas exteriores) cada dia era mais indispensável como provedora de material.

Cem anos antes, um lorde do almirantado inglês escrevia:

“A manobra que atrai um aliado ao campo de batalha é tão útil como a que serve para ganhar uma grande batalha”.

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7 de maio de 2015, um milhão de kms além da Lua. A bordo do SU-20.

–Quatro nacelas, capitão. 100.000 toneladas; velocidade 1000 Match.

–Pode ser a Arachânia ou a Patagônia, ambos são cruzadores armados que usam para contrabandear armamento. Postos de batalha! Armar torpedos!

Extrato do diário de bordo do SU-20:

“... A nave vira a bombordo em direção à base orbital 08 e nós a alcançamos a cem mil metros. Não nos perceberam."

"Há uma explosão após o impacto entre a terceira e quarta nacelas. À detonação do torpedo seguiu outra (reator, combustível, munição?)."

"Em vários pontos a estrutura começa a se desintegrar aos poucos. Uma grande confusão impera a bordo."

"Algumas naves salva-vidas conseguem sair das suas baias, mas outras batem entre si, fora de controle e se destroem”.

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Nota enviada em data posterior (20 de setembro de 2016) ao Presidente de Antártica, Marcos Santos, pelo Chefe do Serviço Secreto Antártico.

“Os lordes do Almirantado Lunar complicaram a Nova Ordem Mundial com o governo de Marte."

"O Almirantado ordenou tampar com pintura as numerações e falsificar os radio impulsos de identificação das naves de forma a içar eletronicamente bandeira neutra ao entrar na zona de combate, vindas do espaço profundo."

"Na ordem enviada à empresa INDEVAL; há uma anotação manuscrita à margem: 'ordene-se verbalmente que essa bandeira seja a marciana'."

"Também se deram ordens às naves de guerra lunares, de tratar como piratas às tripulações dos Skywars-U capturados. Os sobreviventes; escreveu Iglesias, "serão presos ou executados segundo convenha'.”

“Vossa Excelência concordará comigo em que tais medidas estavam destinadas a aumentar a violência da guerra espacial, com o resultado que vimos”.

Assinado: López. (SSA).

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Continua em: CARTA A NORAH (já publicado)

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O conto A MANOBRA DOS ALMIRANTES - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase I - Volume III, Capítulo 24; páginas 91 a 93 e página 106; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-epopeia.html

O volume 1 da saga pode ser comprado em:

clubedeautores.com.br/book/127206--Mundos_Paralelos_volume_1

Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 11/12/2016
Código do texto: T5850307
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