PENSANDO EM URANO

Pensando em Urano

(depois de PROMENADE - já publicado)

Valerión estava demasiado ocupado programando a expedição a Urano, como para entrevistar-se pessoalmente com as pessoas em todo momento. Raramente saía dos seus aposentos e só era visível através do sistema.

Urano tem cinco luas principais, Miranda, Ariel, Umbriel, Titânia e Oberón. As duas últimas com 1.600 e 1.450 kms de diâmetro, respectivamente, e são justamente as que mais se prestam para exploração e colonização.

Era nelas que Valerión pretendia estabelecer gente e equipamento. Estavam bem longe, mas toda distância da sinistra ditadura do Governo Mundial, se é que esta ainda existia, parecia pouca.

O próximo passo seria conseguir apoio do Imperador para fornecer tripulações, colonos e material. Era bem possível que o minério que viesse a ser encontrado justificasse o investimento.

A Pax Marciana agora reinante, para aquém de Marte, era bem vista pelo ancião Imperador.

Antárticos, marcianos e hiperbóreos finalmente o reconheceram como legítimo governante do Sistema Solar, e agora a Pax Marciana logo se transformaria em Pax Taoniana, com o que o velho, que tinha seus méritos, apesar de ser conhecido como O Impiedoso, ficaria feliz nos seus últimos anos.

Apesar da morte trágica da família imperial, ainda lhe restava sua primeira e única tataraneta, a Princesa Imperial Alana Rhamn-Ses, que quando fosse adulta poderia recitar os nomes dos seus antepassados desde 25.000 anos antes de Cristo.

E ele contava com casá-la com Alvin, o primogênito de Aldo, para reinar sobre o sistema solar e os sistemas solares próximos que outrora formaram parte do Império Raniano.

Confiava em que esses mundos aceitariam a Restauração.

Sim. O apoio viria.

*******.

–Estive pensando... – disse Valerión – já que uma nave com um só homem foi à Terra, poderíamos mandar uma nave pequena a Urano. É quase a mesma distância...

–Por que não uma frota, Valerión? Por que não esperar alguns meses para que a nave Sem Nome fique pronta?

Valerión surpreendeu-se com a reação de Aldo, mas disse:

–Lembras como costumávamos organizar nossas expedições?

–Sim, uma nave de cada vez... Mas isso era quando não tínhamos tantas naves! Não podíamos nos permitir o luxo de perdê-las!

–Nem agora, Aldo. Nossa fábrica principal está em Marte. Longe demais.

–Aqui temos...

–Não compares uma nave feita em Taônia por técnicos que até quatro anos atrás não tinham ouvido falar em antimatéria, com as nossas. Ainda hoje elas são tão valiosas como eram então.

–Mas agora eles poderão nos igualar...

–Daqui a vinte anos, Aldo. Com a nossa ajuda.

Aldo ficou na janela, olhando a desolada paisagem, com o rosto contraído.

–Não adianta, Valerión. Você tem razão como sempre. Além disso, não quero que eles sejam poderosos demais. Nosso poder deve ser sempre maior... Para nosso bem. De todas as maneiras estamos a um passo das estrelas...

–Estamos, sim.

–Estamos, mas ainda demoraremos pelo menos um ano em acabar a nave Sem Nome porque nunca fizemos uma nave tão grande e complicada, com tantos elementos que devem funcionar como um relógio.

–Ainda bem que temos muitos xawareks nos ajudando.

–Por isso verificamos cada parafuso mil vezes, Valerión. Aprendemos bastante com os tigres. Eles são minuciosos ao extremo e nós devemos sê-lo também.

–Uma conclusão lógica.

–Sim, eu sei que é. Uma vez comentei com Alan que quando partimos da Terra estávamos cheios de empáfia, petulância e ousadia. Fomos inclementes, cruéis e violentos; nunca hesitamos em apertar o gatilho...

–Tivemos sorte – interrompeu o cientista – sorte de principiantes; não achamos um inimigo à altura que nos desse a surra que merecíamos.

–E a merecíamos, sim, Valerión...

–Pela nossa mania de atirar primeiro e perguntar depois.

–Alan disse que lá fora, deveremos ser humildes, amigáveis e cautelosos...

–Deveremos ser medrosos, Aldo. Muito medrosos. O medo é pai da cautela e avô da autopreservação. Deveremos aprender a ter muito medo para sobreviver nas estrelas. Nada sabemos dos horrores que há lá fora.

–Sabemos sim, sabemos do horror que se aproxima. O autoplaneta com milhões de kholems reptiloides; vindo em dobra dois desde Bellatrix, para incinerar a raça humana como insetos e usufruir minério, água, ar e energia da Terra... E quando tudo estiver esgotado vão partir para atacar a Suprema Confederação.

–Não esqueci, Aldo. Devemos tomar providências. Talvez achemos um modo de alertar à Suprema Confederação.

–O capitão Mokvo... Eu pedi a ele que alertasse a Suprema Confederação.

–E o fará?

–A bela tigresa de Alan estará a bordo para lembrá-lo.

–Boa jogada, Aldo – Valerión tentou reacender seu cachimbo, mas era inútil, havia queimado todo.

–Espero que Alan consiga fumo para mim, restam quinze quilos de holandês... Mas voltando ao que interessa; vamos mandar uma patrulheira a Urano, com dois homens, ou quatro. A Hércules poderia ir depois.

–Quer minha opinião sincera, Valerión?

–Por favor.

–Não vamos mandar navezinhas para território desconhecido onde pode haver patrulhas da Suprema Confederação procurando a nave perdida ou pior ainda; talvez haja batedores dos gamas cinzentos esperando por nós. Os alfas já os encontraram antes e talvez saibam que estamos aqui, Valerión. Sinto isso nos ossos.

–É possível.

–Não imagino que pode acontecer se eles atacarem em massa uma patrulheira. Talvez falhem, talvez não... Podemos perder um AR-1 com quatro bons homens só por não termos paciência... Nós nunca saberíamos o que lhes aconteceu.

–Isso é lógico.

–O kholem que interroguei em Pomona disse que nós é que somos perigosos e que eles iam nos invadir com tudo o que tinham para nos impedir de expandir-nos.

–Somos perigosos, tens razão.

–Claro que tenho. Estou ficando velho e sábio, como você.

Valerión não pôde reprimir um sorriso, e virou-se para a janela.

Do outro lado as estrelas continuavam imperturbáveis, escondendo mistérios terríveis, horrores inomináveis, sem importar-se com estes orgulhosos e petulantes humanos; microscópicos pedaços de carne; insignificantes para elas.

*******.

*******

Continua em: NAVEGADOR SOLITÁRIO, (já publicado)

*******.

O conto PENSANDO EM URANO - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume IV, Capítulo 28; páginas 13 a 14; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-epopeia.html

O volume 1 da saga pode ser comprado em:

clubedeautores.com.br/book/127206--Mundos_Paralelos_volume_1

Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 15/03/2017
Código do texto: T5942353
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.