ENCONTRO NAS ESTRELAS

Alfa Centauro.

30 de outubro de 2020 (201030)

–Alfa Centauro está a 1,33 parsecs, ou 4,4 anos luz da Terra, e é uma estrela tríplice. A estrela principal, Rigil Kentaurus, é amarela e muito parecida com o Sol da Terra. Ela tem uma estrela satélite alaranjada e muito brilhante a uma distância de 17,7 segundos de arco; Toliman Kentaurus – disse Alan – andei estudando, querida.

–Deve ser bem luminoso – disse Iara.

–Sim, querida. Segundo a base de dados, o sol satélite, por sua luminosidade, quase três vezes cede ao nosso Sol e sua superfície tem uma temperatura de somente 4.400 graus. Por sua massa e tamanho as duas estrelas parecem-se com o nosso Sol, e o período de revolução deste par é de cerca de 80 anos terrestres.

–E terceiro sol?

–A terceira componente é a estrela Próxima Kentaurus, uma anã vermelha e fria, de 11ª magnitude estelar, que irradia 20.000 vezes menos luz que o Sol da Terra, e está a uma distância de 357.600.000.000 milhões de quilômetros da estrela principal Rigil. É a estrela mais próxima da Terra.

– Por isso seu nome...

–Sim. O período de revolução da Próxima ao redor do centro de gravitação comum é muito grande, pelo menos não menor de vários milhares de anos terrestres.

Huáscar interveio:

–Ao seu redor giram alguns planetas muito antigos, cujas civilizações extinguiram-se em tempos remotíssimos.

–Isso nós não sabíamos lá na Terra – disse Alan.

–Claro que não sabiam – disse o tigre, olhando a tela principal – Ao redor das duas estrelas principais, giram vários planetas da classe Etar e alguns gigantes gasosos com suas luas; em órbitas enormes, de mais ou menos quinhentos anos terrestres.

–E são?

–Um já mencionado: Erspak; mestre Alan, o terceiro de dentro para fora; um planeta agrícola, rico e avançado, que forma parte da Suprema Confederação. O segundo é Zhoropak, que não teve tanta sorte.

–Por quê? – perguntou Iara.

–Outrora Zhoropak foi grande e poderoso na época do Império Raniano; há mais de 11.000 anos terrestres – disse o tigre – Sua capital era Zhoro, um centro de arte e cultura; hoje transformada em ruínas vitrificadas, talvez ainda radiativas, por causa dos violentos combates entre Ran e seus inimigos.

–Isso foi quando a civilização terrestre ainda não tinha história escrita.

–Deve ser, mestre Alan. Hoje, Zhoropak é um planeta bem atrasado.

*******.

Chegando perto da Próxima, Alan pretendia vasculhar os diversos planetas antigos com intenção de examinar as possíveis ruínas das antigas civilizações extintas, que ainda estivessem em pé, e o disse.

Mas algo deveria acontecer:

–Os sensores estão indicando duas naves grandes em impulso indo em direção aos sóis duplos – disse a tigresa auxiliar, com seus pelos arrepiados, desde a estação de sensores e comunicações, que estava junto com Iara – uma é a Hércules e a outra é uma nave confederada.

–Atrás deles, Pacha! – disse Huáscar.

–Estão atirando uma na outra – disse a tigresa.

*******.

A nave confederada tinha o dobro de tamanho da Hércules, mas esta resistia bem os disparos de phaser, com seu escudo melhorado pelos xelianos de Japeto. A Amarna saiu de dobra bem perto da batalha a menos de um parsec do planeta Erspak.

–Vamos a intervir – disse Alan.

–Postos de batalha! – disse Huáscar – Levantar escudos, carregar phasers, armar torpedos!

A Amarna soltou um torpedo fotônico e a nave confederada, apesar do seu escudo debilitado pelos disparos da Hércules, apenas acusou danos.

–Atirar de novo! – disse Huáscar.

Desta vez, os escudos da nave confederada caíram, então empreendeu a fuga rumo ao planeta, sendo perseguida pela Amarna e a Hércules.

Em seguida soltou suas pequenas naves auxiliares e os casulos de fuga em direção ao planeta.

–Vai explodir – disse a tigresa auxiliar – E a Hércules entrou em dobra!

–Dobra um! Acionar! – ordenou Huáscar.

–Deve ser a experiência de Lilla Henna – disse Alan.

–Mestre Alan foi sábio em sugerir que ela participasse da jornada – disse Huáscar – ela sabia o que devia ser feito, é uma guerreira!

Em segundos a nave confederada explodiu num apavorante clarão silencioso de antimatéria, que alcançou a destruir algumas naves auxiliares e casulos de fuga. As naves e casulos sobreviventes continuaram rumo ao planeta, entrando na atmosfera, menos uma pequena nave auxiliar que fugiu e entrou em dobra.

–Esses se salvaram – disse Alan depois que saíram de dobra, quase ao mesmo tempo em que a Hércules o fez.

Huáscar estava apreensivo:

–O desastre deve ter sido detectado em algum posto confederado. E a nave auxiliar deve ter ido a levar a notícia à metrópole.

–Isso de momento não me preocupa, mas se você acha que devo me preocupar então vou me preocupar – disse Alan.

–Sim. Além do mais, os sobreviventes serão recebidos no planeta, que como sabe, pertence à Suprema confederação. Estamos em território hostil.

–Estou preocupado.

–Devemos contatar com seus amigos, mestre Alan – já saíram de dobra.

–Iara, entra em contato com a Hércules! – disse o coronel.

*******.

Encontro nas estrelas.

–Aqui a Hércules, Amarna, pode falar!

–Essa é a voz de Regina, Iara, coloca na tela, vou falar com ela.

–Olá doutora!

O belo rosto da psicóloga terrestre apareceu na tela, sorridente, como sempre, com seu bom humor contagiante:

–Olá coronel! A cavalaria no momento certo! Como consegue, bonitão?

–Os deuses me mandaram aqui, boneca! E o seu marido, meu compatriota?

–Está aqui, meu querido, no painel de tiro da estação tática, coisa que ele adorou. Mas espere, que Aldo vai falar.

Aldo apareceu na tela, sorridente:

–Alan...! Valerión tinha razão, coronel, você é o máximo!

–Bondade sua, capitão, mas me diga; para onde estamos indo?

–Me siga, vamos a orbitar esse lindo planeta, Alfa 3, ou Rigil 3; que parece bem parecido com a Terra. Temos muito a conversar.

–De acordo, Aldo... Mas sua imediata não lhe disse que estamos em território confederado e esse planeta da classe Etar, é confederado, conhecido como Erspak?

–Disse sim. Mais do que nunca precisamos trocar informação, Alan.

–Vá na frente, Aldo.

Uma hora depois, orbitavam o planeta azul com nuvens, mares, continentes, ilhas e enormes calotas polares, o que indicaria ser algo mais frio do que na Terra.

Alan abordou sua patrulheira, acompanhado de Iara e Huáscar, enquanto que na Hércules, Aldo, Inge, Valerión e Lilla Henna, abordaram outra, dirigindo-se à superfície, seguidos de Alan.

Os bordes de ataque das patrulheiras queimaram na reentrada, mas logo se estabilizaram a trinta mil pés e sobrevoaram uma região de bosques verdejantes e cumes nevados.

Todos se emocionaram com a beleza do continente austral que deslizava embaixo das suas asas. Aldo ia na frente, atravessaram um belo mar, e Alan atrás, intrigado. Para onde Aldo os levava?

Mas logo apareceu uma costa dourada com belas areias, próxima do equador do planeta, onde a patrulheira, fez uma espiral, baixando suas rodas, pousando verticalmente. Alan fez a mesma coisa e desceu a poucas dezenas de metros do mar azul, de brancas ondas, junto à patrulheira da Hércules.

–Chegamos, pessoal – radiou Aldo – o ar é respirável.

*******.

Os sóis duplos, amarelo e laranja estavam altos, e os seres colocaram óculos polarizados, assim que desceram das naves.

A Próxima era apenas uma luz vermelha ocultando-se no horizonte.

O ar era delicioso, a temperatura seria de mais ou menos 25 graus e corria uma brisa fresca, que agitava os cabelos das mulheres, que estavam adorando o lugar. A gravitação era 0,9 da terrestre.

Aldo estava mais velho, mais sábio após os terríveis eventos acontecidos no sistema solar; porém, após ganhar sua primeira batalha nas estrelas, estava apreensivo, lembrando das palavras de Valerión:

“–Aqui fomos rápidos no gatilho, fomos demasiado arrogantes. Lá fora deveremos ser medrosos, Aldo, muito medrosos.”

A maravilhosa brisa marinha agitava seus ainda escuros cabelos e seus olhos, costumados a enxergar tanto espaço vazio por tantos anos, perdiam-se na distancia no mar azul.

O lugar parecia um paraíso, com o fundo das ondas e o canto das aves marinhas, lembrava a Terra dos bons tempos.

As tripulações encontraram-se e confraternizaram. Estavam felizes.

Aldo aproximou-se de Alan.

–Alan, não sabe o prazer que sinto ao apertar sua mão outra vez.

–O prazer é meu, Aldo. Como se envolveu na briga com os confederados?

–Quando estávamos monitorando um planeta da Próxima, onde os sensores indicaram formas de vida, apareceu essa nave confederada.

–Você sabia que era confederada?

–Sim, o estilo me pareceu como a Desafiante, a nave do seu pai, Alan.

–Não cheguei a conhecê-la.

–Sei disso, uma pena. Eles pensaram que éramos xawareks e nos atacaram, até que explicamos que éramos terrestres, coisa que em principio não acreditaram, por isso insistiram em abordar-nos.

–E o fizeram?

–Mandaram uma nave auxiliar que recebemos em nosso hangar. Quando viram nossos aviões de caça CH-3, se assustaram. Acharam que éramos uma nave de guerra!

–E então? Não estavam longe da verdade.

–Não se convenceram de que éramos inofensivos, devem ter detectado nossas armas e o mais. Logo vi que se estavam comunicando com a nave maior e pretendiam embarcar de novo na navezinha deles e então mandei prendê-los.

–Estão a bordo?

–Sim, o capitão confederado e o seu segundo.

–São humanoides, presumo.

–Não, segundo minha imediata Lilla Henna; o capitão, um ser insectoide, de cor marrom, chamado Q’rq; é nativo do planeta Akart de LPP-731-58 uma estrela da constelação de Sextante a mais de 14 anos luz da Terra.

–Caramba!

–Sim. O segundo é um ser humanoide de cor verde, chamado L’rko, nativo do planeta Algruuk de Gliese 267-025, da constelação do Escultor... Quase 15 anos luz da Terra. Segundo Lilla Henna, ambos dentro da esfera confederada.

–Poxa! – exclamou Alan – Começou bem encrencado.

–Pelo que consegui ver nas telas visuais, havia seres de diversos planetas a bordo, e muitos humanos brancos, loiros de pele branco azulada, do tipo raniano.

–E aí eles os atacaram para devolver os prisioneiros...

–Sim. Lilla Henna disse que agora não havia outra solução que combater.

–Tigresa valente!

–Essa tigresa vale ouro Alan. Mas estou bem preocupado.

Embora falando em siriano-xeliano com Huáscar; Lilla Henna, que já estava fluente em espanhol, percebeu que falavam dela e aproximou-se dos terrestres, que estavam parados na beira da água.

–Estou honrada, senhores. Mas a situação precisa ser resolvida. Estamos em território hostil e devemos fazer alguma coisa. Logo chegarão naves de guerra para ver o que aconteceu com a nave do capitão Q’rq. No solo estamos vulneráveis.

–Sim, tem razão – disse Aldo – o quê sugere?

–Devemos retornar à órbita e ficar de prontidão se pretendemos ficar por aqui mais tempo – disse ela.

–Como são os habitantes de Erspak? – perguntou Alan.

–Humanos como vocês.

–São hostis?

–Não, este é um planeta agrícola, comerciam alimentos com a metrópole, que fornece maquinaria e outras coisas.

–Quê outras coisas – perguntou Aldo – armas?

–Não acredito – disse a tigresa – devem estar no mesmo nível dos taonianos, ao que pude saber quando visitamos o Gopak Uio.

–Vou entrar em contato com eles – disse Aldo.

–Agora?

–Sim, Lilla Henna. Esta é uma hora tão boa como qualquer outra. Você voltará à Hércules e ficará no comando. Deixem de prontidão os caças e as patrulheiras.

–Sim, capitão.

Alan então se virou para Huáscar:

–Huáscar, volte para a Amarna e diga ao piloto Antar ficar de prontidão com as patrulheiras. Aldo e eu vamos dar uma olhada por aí.

–Sim, mestre Alan.

A patrulheira de Alan, pilotada por Huáscar elevou-se para o espaço, levando Lilla Henna, Iara e Inge. Valerión recusou-se a partir:

–Já que estamos aqui, quero ver o que há – disse.

–Certo, Valerión, você merece – disse Aldo – vamos!

A patrulheira decolou em direção oposta ao mar. Logo, sobrevoaram uma cordilheira nevada e do outro lado encontraram pequenas aldeias e campos de lavoura, também divisaram enormes máquinas colheitadeiras trabalhando no campo.

Os camponeses observaram a patrulheira com mínima curiosidade, o que indicava que estavam habituados a naves aéreas. Havia estradas de terra entre as aldeias e logo apareceu uma aldeia maior quase uma pequena cidade, da qual partia uma estrada calçada, parecendo asfaltada, que se perdia na distancia.

–Vamos segui-la! – disse Valerión.

–Sim, deve nos levar a uma cidade grande – disse Alan.

Aldo girou os mandos e a patrulheira sobrevoou a estrada a uma altura de mais ou menos vinte mil pés. Minutos depois, uma cidade apareceu no horizonte, uma cidade com altos edifícios como uma cidade terrestre. Não demoraram em aparecer dois aviões de caça; aparentemente movidos a jato; como os da Terra.

–O comité de recepção – disse Alan.

–Estou vendo uma pista de pouso – disse Aldo – vamos descer.

Em seguida a patrulheira deu duas voltas em torno do que parecia uma base aérea militar e logo baixou as rodas, pousando verticalmente na cabeceira da pista, enquanto os aviões nativos aterrissavam normalmente, ocupando toda a pista.

Em minutos apareceram dois veículos militares com rodas, carregados de soldados uniformizados e se aproximaram da patrulheira. Os soldados posicionaram-se em torno da patrulheira e ficaram esperando.

Era um grupo de humanos, de pele branca, de olhos claros e cabelos aloirados, com feições parecidas com o príncipe Angztlán. Sem dúvida eram descendentes dos antigos ranianos.

Assim que os terrestres desceram da nave; um deles, talvez o comandante, aproximou-se dos recém-chegados.

–Quem são vocês? – disse o homem, falando numa língua raniana parecida com a dos taonianos, enquanto olhava todos eles com desconfiança.

–Somos amigos– disse Aldo.

–Essa nave não é confederada, vocês não são confederados.

–Não somos.

–De onde vocês são?

–De fora, de Ra.

O nativo trocou olhares com outro que se aproximou e disse:

–Estão mentindo, ninguém vive lá.

–Vocês estão errados. Nós viemos de lá. A Suprema Confederação deve ter mentido a vocês. Nós existimos, como pode ver.

–Devemos comunicar sua presença ao governo central – disse o nativo após trocar algumas palavras com o comandante do grupo.

–Não há problema, faça isso.

–Deverão nos acompanhar à capital.

–Sim, por que não? Como chego lá?

–Irão conosco.

–Preferimos ir voando. É mais rápido.

–Não! – disse o nativo, enquanto os soldados levantavam suas armas.

–Valerión, entre na nave! – disse Aldo, levando a mão à pistola.

Aldo e Alan, rápidos, sacaram suas pistolas marcianas e dispararam ao chão, abrindo buracos no concreto da pista, desconcertando os nativos. De imediato abordaram a patrulheira e Valerión, sentado nos controles decolou verticalmente, tomando altura rapidamente, coisa que os aviões nativos não podiam fazer.

Uma vez no espaço, encontraram as esquadrilhas de caça e as patrulheiras ainda em órbita, patrulhando em volta das naves maiores.

–Não precisam descer por enquanto – radiou Aldo – Fiquem de prontidão.

–Detectei uma nave confederada – radiou Lilla Henna – está vindo em dobra seis; estará aqui em mais ou menos cinco dias padrão.

–Confirmado – radiou Huáscar.

–Vamos preparar a defesa – disse Aldo.

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Continua em: PLANETA CONFEDERADO

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O conto ENCONTRO NAS ESTRELAS - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume IV Capitulo 35, Páginas 152 a 157; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-epopeia.html - O volume 1 da saga pode ser comprado em:

clubedeautores.com.br/book/127206--Mundos_Paralelos_volume_1

Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 03/04/2017
Reeditado em 19/12/2017
Código do texto: T5959923
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