GUERRA CIVIL - OS RETARDATÁRIOS

Guerra Civil – Ano 2026.

Sírio é uma estrela binária de duas brancas orbitando entre si a uma distância de 20 UA; aproximadamente a distância entre o Sol e Urano, com um período de 50,1 anos.

A estrela mais brilhante denominada Sírio A é uma estrela de sequencia principal do tipo espectral A1. Sua companheira, Sírio B, é uma estrela que já saiu da sequência principal e se tornou uma anã branca.

Em torno a Sírio B orbitam alguns gigantes gasosos, um dos quais tem cinco luas, uma delas da classe Etar é Xantherek Amaru; habitada por felinos humanoides semelhantes a leopardos: os xanthereks.

Foi nessa lua selvática com mares azuis pouco profundos e rios caudalosos bordeados de mato; dividida em pacíficos países com pequenas cidades e aldeias habitadas por felinos trabalhadores e honrados; onde as batalhas entre xelianos e xawareks tinham sido particularmente devastadoras.

Os honrados nativos apoiaram os xelianos libertadores e exterminaram até o último parasita dominion, a maldita raça que os oprimiu por séculos.

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Em Sírio 4-A; Xawarek Amaru, não tinha sido diferente.

Toda a selvageria dos tigres xawareks oprimidos, e o ódio contra os parasitas dominions e kholems tinha se manifestado da maneira mais cruel.

Esquecendo as Leis de Honra Xawarek, os tigres caçaram como animais e degolaram sem piedade os nefastos parasitas dominadores, suas famílias e seus lacaios kholems por todo o planeta, agora transformado um horrível matadouro onde rios do sangue amarelo dominion escorriam pelas ruas.

Suas propriedades; empresas, templos e escolas foram incendiados em todos os planetas do sistema.

Seus cadáveres e os de suas mulheres e filhos foram jogados às chamas junto com os de colaboracionistas nativos e traidores da raça.

Não permitiriam que qualquer criança dos parasitas crescesse para algum dia voltar a dominar.

A Suprema Confederação manteve-se neutra, mas, com intuito de participar no extermínio dos nefastos parasitas dominions forneceu naves de guerra interestelares da classe Patrulha e Ataque para os súbditos do Imperador Tao, o Impiedoso.

Desejavam intervir em favor dos xelianos. Não era violação de suas diretrizes, já que os humanos de Ra possuíam poder de dobra e dominavam seu sistema. E sabiam que Alan Claude conseguira frustrar os planos alakranos em Boral anos atrás. Era melhor tê-los como aliados que como inimigos.

Muitos guerreiros e pilotos terrestres antárticos, marcianos gopakis, boralianos, taonianos, hiperbóreos e troianos; todos voluntários, aventureiros desejosos de ação; se engajaram alegremente nessa guerra, onde muito sangue siriano, humano e marciano foi derramado nas terríveis batalhas, com muitas vidas perdidas, muito sofrimento nos planetas do sistema e grandes batalhas de astronaves no espaço imediato.

Sete anos de guerra civil culminaram com a vitória dos xelianos e o extermínio sistemático dos parasitas dominions em todo o sistema estelar siriano; principalmente em Xawarek Amaru; que depois de muitos milênios; desde a guerra contra os ariones; finalmente encontrava-se livre da infestação dominion.

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Os Retardatários.

Xantherek Amaru – 20 de abril de 2026 (260420)

Era de noite naquele país arrasado.

No céu estrelado, reinava absoluto o gigante gasoso e suas luas. Uma brisa fresca agitava a vegetação. Em um claro da emaranhada selva austral, perto de ruínas ainda fumegantes de uma cidade próxima, duas esbeltas naves de guerra estavam pousadas, petulantes. Eram da classe Patrulha e Ataque; de sessenta metros de comprimento, providas de nacelas de dobra e marcadas com inúmeros sinais de batalha.

Perto de duas enormes rochas em ângulo a resguardo do vento, cinco seres sentados encima de seus capacetes, rodeavam uma fogueira, na qual esquentavam algumas latas de ração e assavam um animal da selva.

Vestiam surradas armaduras espaciais, marcadas por disparos de velhas batalhas. Todos eles portavam reluzentes pistolas phasers na cintura.

Suas luvas espaciais estavam enfiadas nos cintos de utilidades. Todas as naves de guerra já tinham retornado. Eles eram os retardatários.

Um deles, um jovem e possante tigre mestiço de humano com xeliano, mexia no fogo com uma vara; outro, um velho humano de barba e cabelo brancos, examinava mapas estelares num tablete de dados.

Os outros três, uma jovem e bela tigresa mestiça e dois humanos, esperavam a comida enquanto limpavam seus fuzis de ação dupla.

–Por quanto tempo devemos esperar aqui? – perguntou o tigre jovem.

–Talvez horas, talvez dias, rapaz – respondeu um dos humanos, um gigante de cabelo vermelho, a quem apelidavam “Rojo” que significa “vermelho” em espanhol.

–Eles têm muitas naves?

–Sim, mas desta vez virão por terra. Naves de cabotagem são grandes demais para pousar aqui. Não é isso, Ulisses?

–Sim, nos tanques que capturaram aos xawareks, aqueles tanques enormes, esmagando tudo – respondeu o velho.

–Você já os viu, Rojo? – perguntou o jovem.

–Sim. Já destruí vários em Xawarek Amaru.

–Desta vez eles vêm para recolher os sobreviventes nas ruínas da cidade e levá-los para os territórios liberados – disse o velho – lá há construções novas. Aqui já não se recupera nada. As ruínas ainda ardem.

–São muitos? – perguntou Rojo.

–Mais ou menos trezentos xanthereks adultos e filhotes – disse Ulisses – e devem estar esfomeados.

–Também tenho fome – disse o outro humano.

–Eu também, Arnold – disse a jovem tigresa – cadê a comida?

–Calma, Naia Henna – disse o jovem tigre – a carne está quase pronta.

–Onde vocês aprenderam a comer carne assada? – perguntou Arnold.

–Com humanos – respondeu o jovem – quando nossa mãe os recrutou em Ra.

–A mãe de vocês conseguiu convencer ranianos e terrestres para lutar contra Tupac, por isso estamos aqui – interveio o velho.

–E agora que vencemos a guerra, nossa mãe vai procurar nosso pai, prisioneiro em Alakros – disse a jovem tigresa.

–Em Alakros?

–Sim, Arnold – disse o jovem tigre – Ele e o capitão Aldo da Terra, foram capturados pelos alakranos em Zhoropak há muito tempo.

–Devem estar mortos – disse Rojo.

–Não! – gritou o jovem – Eles são grandes guerreiros! Minha mãe disse!

–Calma, Alan Junior! – disse o velho Ulisses – Eu conheci os dois. Sua mãe estava certa. Eles são duros de matar! Não serão alguns alakranos de tchirguan que vão os derrotar!

–Meu nome não é Alan Junior! – disse o jovem tigre irritado – Meu Nome é Alan Vik-El Sarrazin de Amaru Xel, filho de Alan e Neto de Martin!

–Calma, irmão – disse a tigresa – nossa mãe já disse que Junior é um apelido carinhoso que os humanos costumam aplicar aos filhos dos amigos.

–Nosso amigo sem dúvida é um guerreiro igual que o pai e o avô – disse Ulisses sorridente – Eu conheci também seu avô Martin, um velho guerreiro. Ele foi meu camarada de armas lá na Terra, há mais de 50 anos padrão. Lutamos seis guerras, matamos um monte de inimigos... Onde será que ele anda...?

–Outro morto, com certeza – disse Rojo.

–Sei não. Esse também era duro de matar.

–Como você – disse Alan Junior.

–Meninos... Sabem que dia é hoje pelo calendário da Terra? – disse Ulisses de repente ao lembrar de um fato.

–Não. – disse Alan Junior.

–Hoje é o dia 20 de abril de 2026, lá na Terra. Vocês dois nasceram em 20 de abril de 2019 a bordo da nave Empreendimento em viagem a Xel, sob o fogo das naves xawareks, no meio de uma batalha. Sei disso porque a engenheira Belan Henna me contou enquanto me ensinava a lidar com o motor de dobra na minha nave.

–Quer dizer que os gêmeos têm sete anos? – exclamou Rojo, incrédulo.

–Sim. Hoje estão de aniversário. Feliz aniversário, meninos!

–Mas parecem adultos! – exclamou Arnold.

–São adultos – disse Ulisses – xawareks e xelianos crescem rápido, como os tigres da Terra. E acredito que os xanthereks daqui desta lua também, apesar de ser outra espécie de felinos.

–Minha amiga nativa Fanther Henna tem a minha idade – disse Naia Henna.

–E é adulta como vocês – completou Ulisses.

–Vamos comer? – perguntou Arnold – Esse papo de aniversário dá fome.

–Sim, já está bem assado – disse Alan Junior, cortando a carne em cinco partes.

Rojo retirou as latas do fogo com a ração padrão e logo jantaram, acompanhando a comida com algumas garrafas de vinho taoniano, que o velho astronauta antártico trouxe de Titã.

–Depois de seis anos comendo ração padrão, isto é uma delícia – disse Arnold.

–Mas é pouco – disse Rojo – o animal é pequeno demais para nós todos. Por isso esquentei estas latas.

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Depois de comer, jogaram os ossos ao fogo e guardaram suas facas na cintura.

Algumas luas do gigante gasoso tinham descido abaixo do horizonte, mas este ainda dominava meio céu. O vento na noite se fez mais forte e frio. Ouvia-se o murmúrio da floresta, agitada.

As rochas em ângulo ofereciam um cálido refugio contra o vento. Alan Junior colocou mais lenha na fogueira. Não sentiam frio, as armaduras eram quentes.

–Faltam sete horas padrão para o amanhecer – disse o velho.

–Vamos a dormir nas naves? – perguntou Arnold – depois de comer sempre me dá um sono...

–Vá você, se quiser – disse Rojo – nós vamos esperar os veículos.

–Então também fico.

–Silêncio! – disse o velho de repente – Parece que já estão chegando.

Por cima do murmúrio da fresca brisa ouviram-se os poderosos motores dos veículos de guerra cada vez mais perto, esmagando a mata. Em minutos, a luz do tanque da frente apareceu por entre a mata esmagada. Logo se deteve na clareira perto das naves, seguido por uma coluna de tanques que não parecia ter fim, com seus poderosos holofotes iluminando tudo.

Os veículos desligaram seus motores, e logo desceram os tripulantes, na maioria tigres xelianos. Outros eram humanos e marcianos. O tigre que parecia o chefe do grupo aproximou-se dos acampados, que já estavam de pé, iluminados pelas luzes dos tanques.

–Salve, velho Ulisses! – disse.

–Salve, velho Trovam! – respondeu o velho guerreiro – O que você me trouxe de presente? A cabeça de Tupac?

–A cabeça do maldito ainda está no corpo dele, lá em Xawarek Amaru. Numa cela na prisão pelo resto da vida.

–Ah! Bom... Não se pode ter tudo. Achei que seria executado.

–Ele foi julgado pelo Alto Conselho. Não conheço detalhes disso.

–Bom, agora não importa mais. O que trouxe?

–Mantimentos para vocês e para os sobreviventes da cidade e boas notícias.

–Primeiro as boas notícias.

–A frota dos humanos partiu para Erspak.

–Me diga algo que eu não saiba. Somos os retardatários, ficamos para trás a quase três parsecs de casa.

–A nave Empreendimento está consertada e também está em Erspak.

–Isso é uma boa notícia! Ouviram, meninos? Sua mãe está lá!

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Após descarregar os mantimentos para os retardatários, a caravana de tanques empreendeu a marcha até a cidade em ruínas, para recolher os sobreviventes e conduzi-los a uma nova vida.

Quando a luz do último tanque desapareceu na distância, os cinco retardatários terminaram de carregar os mantimentos de boca nas naves; e antes do amanhecer já estavam prontos para partir.

Rojo e Arnold abordaram sua nave, enquanto que Ulisses e os jovens irmãos abordaram a outra. Enquanto esquentavam os motores, Ulisses deu uma olhada para fora, para a selva.

Lembrou com tristeza dos muitos camaradas mortos, dos sete anos de guerra e se perguntou como seria agora sua vida em tempo de paz.

Depois olhou para os jovens ao seu lado, Naia Henna na cadeira do copiloto e Alan Junior na cadeira do artilheiro. Dois jovens que estavam prestes a encontrar-se com sua mãe, depois de um ano...

–Ah...! Diabos...! Sempre há alguma guerra em algum lugar...! – disse.

E deu a partida.

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Continua em: A TIGRESA IV - MÃE.

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O conto GUERRA CIVIL - OS RETARDATÁRIOS - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume V, Capítulo 39; páginas 26 a 29; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-epopeia.html

O volume 1 da saga pode ser comprado em:

clubedeautores.com.br/book/127206--Mundos_Paralelos_volume_1

Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 08/05/2017
Reeditado em 14/06/2017
Código do texto: T5993639
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