A TIGRESA IV - MÃE

Sete anos antes...

20 de abril de 2019. (190420)

Diário de bordo, NX-01 Empreendimento, capitão Kern Mokvo relatando:

“Data estelar 190420; Fomos interceptados por duas naves xawareks antes de chegar ao nosso destino, e inexplicavelmente atacados. A Empreendimento possui só três bancos phaser e dois lançadores de torpedos. Apesar da nossa inferioridade em armas e velocidade, combatemos e destruímos uma e conseguimos a rendição da outra, que abordamos, aprisionando os tripulantes. Por eles soubemos que há uma guerra civil em nosso sistema, em que Xawarek Amaru e Amaru Xel enfrentam-se no espaço, com intuito de derrubar um líder xawarek chamado Tupac.”

“Meus engenheiros, Zyphran Kohuáscar e Belan Henna, comandaram a tripulação para retirar os suprimentos, as armas e o reator de dobra da nave derrotada, que foram incorporados na nossa, com o que ficamos mais bem armados e rápidos, com isto conseguimos atingir dobra oito.”

“Chegamos a Amaru Xel em 190419, e o encontramos cercado por naves xawareks. Nossos prisioneiros nos disseram que o líder Tupac, apoiado por parasitas dominions queria invadir nosso mundo, até agora livre da infestação dominion. Descobrimos que nossos prisioneiros odiavam seu líder, e os convencemos a passar para nosso lado numa batalha gloriosa contra os invasores; o que fariam com gosto se nós prometêssemos desembarcá-los em Amaru Xel. A batalha durou um dia padrão e foi gloriosa. Salvamos nosso mundo. Vencemos com honra.”

Isso é tudo. Computador! Gravar diário!

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–Se a batalha durasse mais um minuto padrão, você teria parido suas crias na ponte de comando, oficial Tikal Henna...! – disse em tom de reproche a doutora Shena Henna, Baharnum de Xel Amarna, na enfermaria da nave.

–Estávamos em pleno combate, glorioso, doutora! Não poderia abandonar meu posto tático no meio da batalha! Não seria honrado!

–O capitão compreenderia...!

–Agora está feito. Já pari minhas crias. Mostre-as. Quero saber como são.

A doutora pegou os bebês e os levou ao leito da recém-parida.

–São macho e fêmea, oficial Tikal Henna. O macho parece com você. A fêmea parece meio humana, deve ser pela cruza com o seu marido terrestre.

Os bebês mestiços eram diferentes, a femeazinha não tinha pelo e suas feições eram mais humanas que as do macho. Este tinha pelo como a mãe e suas feições eram quase humanoides.

Tikal Henna pegou o bebê macho:

–Ele vai se chamar Alan Vik-El Sarrazin, Baharnum de Amaru Xel, filho de Alan e neto de Martin.

–Vik-El?

–Nome de meu pai, “guerreiro invicto” – disse ela – Agora me dê a fêmea.

–Como vai se chamar?

–Pela minha mãe, Naia Henna Sarrazin, Baharnum de Amaru Xel, filha de Alan e neta de Martin.

–Nasceram no meio de uma batalha gloriosa; oficial Mãe de Clã Tikal Henna, uma batalha que você ajudou a ganhar.

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Dois anos depois...

17 de março de 2021 (210317)

Em órbita de Erspak.

Depois do tratado de paz de 210316 entre xelianos e confederados, a frota confederada partiu de retorno para D’Har-Minh Prime, deixando como proteção a Explor-008 do agora capitão G’Hekoo em órbita alta, junto com uma nave xeliana; a Empreendimento, do capitão Kern Mokvo, que o almirante Chavim designou para ficar na proteção do planeta.

Mokvo agora tinha muita experiência em combate no espaço. Ele, como seus tripulantes, era um guerreiro Amarna de antiga tradição; e a surrada nave fabricada artesanalmente em Rhea, precisava de um descanso depois de dois anos de vencer muitas batalhas gloriosas defendendo Amaru Xel e conquistando posições nas luas de Xante, um dos gigantes gasosos do segundo sol de xawarek.

Estas batalhas isoladas ainda estavam em andamento. Por isso o resto da frota partiu a continuar a luta contra Tupac, e finalmente Erspak pode respirar aliviado; não seria palco de uma guerra.

Logo a Desafiante do Lorde do Espaço partiu para Shaula em pós de Alan Claude e Aldo Santos, prisioneiros dos alakranos.

A bordo da Empreendimento perceberam a partida.

–Essa nave é confederada, capitão? – perguntou Tikal Henna.

–Sim. Tripulada por terrestres, xelianos, gopakis e diversos humanos.

–Não encontramos a nave Sem Nome por aqui, será que Alan está nela?

–Talvez ele ainda esteja em Taônia.

–Sei que não podemos abandonar nossa missão aqui, mas eu posso voltar para Ra numa dessas naves capturadas pelos terrestres. Você não estaria faltando ao dever, capitão.

–Tem lógica. Pegue um caça armado, oficial Tikal Henna. Desça em Erspak, descubra onde estão os terrestres e informe-se do que tem acontecido aqui enquanto estávamos combatendo em volta de Xante.

–Farei isso – disse a tigresa – minhas crias vão ficar a bordo treinando luta.

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Erspak. 18 de março de 2021 (210318)

Em Menfis, Tikal Henna conversou com os terrestres das naves de carga, que costumavam fazer a rota Alfa Centauro-Ra.

Por eles soube do que tinha acontecido por ocasião da chegada de Aldo e os terrestres na nave que agora tinha nome; a nova NSN-001 Hércules, e também soube que seu marido Alan Claude chegara numa moderna nave xeliana, a Amarna, que participara também do breve conflito com os confederados.

Também soube que Alan Claude e o capitão Aldo foram capturados pelos alakranos, em Zhoropak, e supostamente levados para Alakros, com o que a Hércules e a Amarna tinham ido ao resgate.

Em desespero por não poder fazer nada ao respeito, mas antes de tudo uma guerreira disciplinada; ela retornou à Empreendimento ao tempo de ver um enorme cruzador confederado saindo de dobra no espaço imediato a Erspak, seguido por uma frota de grandes naves de carga.

Era o Almirante K’Ain da Suprema Confederação.

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O Acordo.

–Sabemos que em Xawarek Amaru há uma infestação dominion – disse o almirante K’Ain, em conferência com o capitão Kern Mokvo.

Era a primeira vez que Lorde K’Ain se encontrava frente a frente com um xeliano, depois de tantos séculos de guerra fria, mas era uma ocasião excepcional.

–Nunca fomos aliados, capitão – disse o almirante confederado – e nunca entramos numa guerra aberta contra vocês. Hoje vocês têm dois problemas; derrotar Tupac que os tiraniza; e eliminar a fonte desses problemas; a infestação dominion.

–Estou ciente desses problemas almirante – disse Kern Mokvo – Quando nossos antepassados aliados de Alakros chegaram a Ra para combater o Império Raniano há mais de dois mil ciclos, a Suprema Confederação não existia. Hoje tudo é diferente. Muita coisa aconteceu nestes ciclos todos em que por gerações ficamos náufragos numa lua de um gigante gasoso em Ra.

–Não sabia disso – disse o almirante.

–Sim. Quando finalmente construímos nossa nave com ajuda dos terrestres de Ra; conseguimos retornar ao nosso sistema em 190419. Então nos encontramos com essa guerra atual, na qual nos engajamos. Os dominions estão enquistados em Xawarek Amaru desde muitos milhares de ciclos, desde a guerra com os ariones que nos derrotaram e nos impuseram essa praga.

–Conheço a História, capitão. Por isso hoje eles são criaturas a serem mortas assim que percebidas em todo nosso território desde 890420... E sei que vocês expulsaram os dominions de Amaru Xel há gerações, o que gerou essa disputa.

–Também conheço a História, almirante.

–Você entende capitão, que de acordo com nossas diretrizes não podemos intervir abertamente na guerra civil, entre xelianos e xawareks.

–Sim, entendo.

–Entretanto, Erspak é território da Suprema Confederação e nada nos impede de deixar em órbita ao planeta uma carga de naves de batalha e armas para os nativos.

–Claro.

–Para quem eles vão ceder o material, é assunto deles. Explico-me, capitão?

–Perfeitamente, almirante.

–Estou aqui em visita de cortesia, capitão. Não sei do material que está sendo colocado em órbita, isso é um assunto normal do comercio da confederação.

–Sem dúvida almirante.

–Agora devo retornar para D’Har-Minh. Obrigado por sua hospitalidade.

–Faça uma boa viagem, almirante.

–Obrigado, capitão.

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Tikal Henna soube da reunião histórica assim que abordou a Empreendimento e após ser informada dos detalhes foi encontrar o capitão Mokvo.

–Permissão para entrar na ponte, capitão.

–Permissão concedida. Soube do seu marido?

–Sim, capitão, foi levado para Alakros.

–Sabe que por enquanto não podemos sair daqui.

–Sim. Mas duas naves já partiram ao resgate em Alakros; a Nave sem Nome, hoje Hércules dos terrestres, a Amarna de uns xelianos que estavam e Boral, planeta que Alan Claude libertou dos alakranos, depois da nossa partida de Ra.

–Fascinante.

–E me disseram que a nave confederada que vimos partir ontem, foi para lá.

–Muita coisa que nos escapa tem acontecido lá em Ra e aqui desde que partimos em 190130. Você viu o cruzador confederado?

–Sim, e também tudo o que deixaram em órbita. Fui informada também do seu acordo com o almirante confederado. Eles não podem intervir para nos ajudar.

–Obedecem a suas diretrizes. Eles estão certos. Mas podemos convencer os nativos de Erspak para...

–Não são guerreiros, capitão, são operários, agricultores, comerciantes... Mas eu conversei com muita gente lá embaixo e tive uma ideia. Quer ouvir?

–Prossiga.

–Há lá embaixo muitos terrestres, boralianos, taonianos, troianos, hiperbóreos e marcianos que souberam da nossa guerra e estão de acordo em lutar do nosso lado. Não podemos deixa-los para trás numa batalha, não concorda, capitão?

–Claro. Não seria honrado. Continue.

–Eles querem buscar mais gente de armas em Ra. Os humanos e marcianos são guerreiros como nós... Está tudo muito tranquilo por lá e querem ação. E eu soube que os hiperbóreos têm um exército bem numeroso.

–Fascinante.

–Agora há mais de duzentas naves da classe Patrulha e Ataque e de transporte de tropas, deixadas em órbita pelos confederados, ao que eu soube.

–Está correto.

–Lá embaixo há mais de vinte pilotos terrestres e xelianos de Xel Amarna, que estão dispostos a voltar ao sistema Ra para recrutar soldados.

–E qual é sua ideia?

–Nossa nave pode ficar aqui, para não desobedecer ao Almirante Chavim. Ofereço-me para ir a Ra com os terrestres e alguns dos nossos soldados para treiná-los, e também recrutar nossos irmãos de Xel Amarna, que não podemos deixar para trás. Concorda capitão?

–Faça isso.

–Vou levar meus filhos; esta é uma hora tão boa como qualquer outra para começar seu treinamento guerreiro.

–Os deuses sejam com você, Oficial Guerreira, Mãe de Clã Tikal Henna, Baharnum de Xel Amarna...!

–Estou honrada, capitão!

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Continua em: MERCENÁRIOS DAS ESTRELAS.

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O conto A TIGRESA IV - MÃE - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume V, Capítulo 39; páginas 31 a 32; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-epopeia.html

O volume 1 da saga pode ser comprado em:

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Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 14/05/2017
Reeditado em 19/05/2017
Código do texto: T5998836
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