SWEET ILUSIONS

Anoitece, as cortinas do incomum são abertas, o lugar comum é um bar, local aonde as pessoas vão para curar seus demônios, alimentar hábitos, amizades, descobrir, se redescobrir. Este perfil se encaixava em muitos, era o caso de Helian Albert, individuo da grande metrópole, de hábitos noturnos, etílica simbiose, tão comum quanto água ou café. Helian frequentava o Bar Sweet Ilusions, que dispensava comentários, com seu toldo luminoso, de ares carnavalescos, uns cérebros aberto com um arco-íris que fechava o ângulo do nome do lugar, fechando com alguns unicórnios e flores para completar a receptiva e extravagante placa. Deixando os sapatos em caixas individuais dispostas na entrada, ele calça as pantufas rosa e se locomove ao balcão, cumprimenta o barman, que de imediato pergunta-lhe: -Vai ser o de sempre hoje meu amigo? -Helian faz sinal de positivo. Alguns minutos depois, é servido com um belo coquetel de tequila, água de coco, uma pequena fatia de abacaxi na borda do copo, e um daqueles minúsculos guarda-chuvas para ornamentar. Toma o primeiro gole, respira aliviado e saciado respondendo:

-Magnifico, como sempre meu caro. Esmero observador, Helian reposiciona seu banquinho, para olhar e avaliar os frequentadores. A sua frente, um grupo de quatro estudantes disputava a atenção de adolescentes trajando roupas curtas, fiapos de tecido que revelavam contornos, atiçavam os marmanjos cheios de testosterona pra dar. Do lado esquerdo da mesa, homem alto, moreno, vestindo roupas sociais, tomava um drink atrás do outro e fumava descontroladamente, sedentarismo, fobia, nervosismo, o que estivesse acontecendo, era grave, exigindo que o mesmo se comportasse assim. Afastado de tudo e de todos, nos fundos do bar, um nerd teclava potátil, concentrado, de olhar pouco sociável, ria sozinho enquanto lia informações e vídeos na tela. Mal vestido e indiferente, bêbado próximo a janela da entrada, se debruçava no meio de pratos e copos demonstrando que exagerou um pouquinho. Saindo do banheiro, uma loira arrasa quarteirão, tira a atenção de Helian, que no impulso, quebra o copo nas mãos, o sangue escorre por conta do profundo corte, ele corre para o banheiro, higienizar ferimento, ao abrir a torneira, nenhum vestígio de água, retira o papel higiênico do suporte e tenta estancar o sangue, que jorra com cada vez mais pressão e depois some por completo cicatrizando o ferimento, assustado, se apega a única explicação plausível que lhe restara. -Colocaram algo em sua bebida? Chama novamente o barman e repete o pedido, desta vez, cheirando e checando se haveria algo de errado, no pedido. Não encontrando nada, toma mais 6 doses da mesma bebida, buscando calmaria e respostas para as perguntas que o afligiam. Em outras circunstâncias, já estaria pra lá de Bagdá, porém, a sensação de sobriedade que lhe dominava, causava espanto, e criava múltiplas variáveis e indagações. Testando teoria que formulara, apanha faca que estava sobre pia, e corta braço para ver o que acontece, o sangue escorre, e a escoriação fecha lentamente como se nada tivesse acontecido. Preocupado como que presenciou, deixa o dinheiro embaixo da porta-guardanapos e corre para a porta de saída, ansiando abandonar aquele pesadelo. Helian abre a porta, no entanto, volta para o mesmo bar que acabara de sair. Olhos querendo saltar da face, e ar esvaindo, recorre ao bom e velho drink, regando a secura na garganta e procurando desmanchar o nó cerebral. Ao terminar, percebe presença estranha, figura enigmática entrando no bar, naquele momento soube.

-Teria suas respostas!

Seguindo inóspito freguês, invade a cantina, e o encontra no estoque, parado, à sua espera. Caminha em sua direção, quando o piso desaparece jogando-o numa espécie de porão. Inteiro, o que não é mais novidade se levanta e nota que não estava sozinho. O individuo não fala nada, apenas entrega espelho para Helian, que manuseia o objeto e grita!

-Não, por que não tenho sombra?

Abatido por fúria, agarra a criatura e soca-a descarregando angustia acumulada. Ossos quebrados e rosto desfigurado se regeneram e permitem a Helian as explicações.

- Você já parou alguma vez para pensar, constatar que não usamos nosso cérebro em sua totalidade, e se através de fatores externos, por exemplo, um coma alcoólico, uma bebedeira, fossemos anestesiados, e esta parcela do cérebro entrasse em funcionamento. Este bar, ou melhor, essa versão do original, todos que aqui se encontram são frutos desse processo. És uma personalidade adjacente, pois não tens sombras, só as personalidades horizontais possuem sombra. Os rapazes e a moça de roupas curtas são projeções astrais, uma vez que possuem sombra e volume, o nerd no fundo do bar é uma dead memory, escura, rúcula e presa a um determinado espaço. O senhor sujo e mal trapilho é o que chamamos de um “impertinente”, falhas no sistema, bêbadas que dormem nos locais mais inusitados e acabam sendo inseridos casualmente neste mundo paralelo. Petrificado com o que acabara de ouvir, fica sem chão ao saber que não era real, que era nada mais que uma manifestação energética de uma pessoa embriagada numa dimensão alternativa. A noite termina, o dia chega, a noite começa, é mais um dia de expediente no Sweet Ilusions. E você, de quanto liquido precisa para contemplar outras realidades?

Jonnata Henrique 08/10/17

JonnataHenrique
Enviado por JonnataHenrique em 08/10/2017
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