O Socorro do Cadafalso

Neuma estava assim, naqueles tempos de se derribar o senho de tanta contração . Tempos de enrugar os sonhos na estrada em que olhava o tempo fugindo de seu controle.

Ao seu lado, mortalhas de suspiros vãos se afagavam uns aos outros na eterna Sansara de ver-se onde deve-se ao invés de ter-se a si em toda a prova da oportunidade gratuita.

Procurou abrigo sabendo o perigo de se mostrar, bem onde o veneno se destilava gratuito, farto e doce, porém, canino e silencioso.

Ela mantinha o dom de acreditar e rasgou seus dedos na encosta íngreme da rocha onde os naufrágios se dão, esperando descanso e consolo ainda que os avisos do hálito da morte lhe garantiam solidão.

Cansada, viu seu amor em âncora sem traço , meia na areia, meia no mar...

Calculou o salto e dançou no ar a melodia mais rude. Um tom único, um som único. Esperou que os anjos tão prometidos na infância lhe asseverassem o resgate, num átimo em colo de mornas redenções.

Repensou o abismo quase ali de quintal e decidiu por si mesma. Nunca mais um sorriso afoito, nunca mais uma traquinagem. Nunca mais pés soltos em folguedos de histórias , nunca mais a crença em bandeiras ou flâmulas de jardim de flores.

Assim virou seu dia de entrega ao novo, ao renovo de ser-se outra. A antiga voltara a bailar. Cheia de sonhos certos, rodeada de entes certos, fazendo coisas certas!

Até que um dia, na era de esperar o sol como se mágica dele brotasse , pisou no tablado do socorro mais ameno. O alçapão deu-se por satisfeito e nunca mais ousou pousar de enfeite!

Marcos Palma
Enviado por Marcos Palma em 26/06/2018
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