Sementes

I

Corria o ano de 2168 e o terceiro planeta de uma estrela chamado Sol, após experimentar uma era de ouro na ciência, descobriu da pior maneira possível que grandes avanços tem que vir acompanhados também de grandes mudanças sociais e ecológicas que comtemplem a todos de maneira digna e coerente.

Um mundo em que nanotecnologias, capazes de remover e restaurar lesões neurológicas ou vasculares, convivem com populações sofrendo pela desnutrição. Computadores quânticos superpoderosos ao lado de escolas precárias em que o professor tem apenas o quadro-negro e o giz como instrumentos para ensinar. Ricos e abastados fazendo turismo na Lua ao mesmo tempo que guerras religiosas explodem em várias partes do mundo.

Todas as contradições humanas terminaram por criar um estado de coisas insustentável para uma vida terrestre justa e harmoniosa. Um dia algo pior iria acontecer ...

Eis que um laboratório, escondido em algum lugar remoto do planeta, criou um organismo microscópico extremamente agressivo a todas as formas de vida. Ele fugiu ao controle. Contra ele não havia defesa possível. Descobriu-se que em pouco tempo o planeta inteiro se transformaria em uma bola rochosa e arenosa circulando em torno do Sol. A Teria seria um planeta morto.

Agora todos sabem que o ser humano em poucos anos deixará de existir ...

II

Em meio ao caos que se instalou em todo o mundo, com profetas messiânicos em cada esquina pregando uma salvação impossível e grupos armados lutando entre si para impor uma ordem que jamais haveria, eis que surge uma ideia que poderia ajudar a espécie humana a continuar a sua existência.

Não era a salvação para o planeta e nem para aqueles que nele viviam. Para estes o fim era inevitável. A ideia era simples, mas com possibilidades muito remotas de vir a dar certo. E se por um acaso

tivesse sucesso seus mentores jamais saberiam disso.

III

Antes que a existência humana chegasse ao fim foram reunidos os poucos recursos intelectuais e tecnológicos que restavam. Um último projeto humano foi encaminhado. Não haveria livros e historiadores para descrever e analisar aquela que seria a última grande aventura humana.

Milhões de minúsculas capsulas foram construídas e lançadas ao espaço. Em cada uma delas foi colocado o genoma humano. A sequência de DNA humano viajando pelo espaço sideral na esperança de um dia semear a vida em algum planeta distante.

Milhões de pequenas capsulas contendo 23 pares cromossômicos carregando toda a informação básica necessária para a constituição de um organismo humano viajando pelo universo. Uns poucos grãos de areia em uma praia gigantesca.

IV

Ele era baixo e atarracado, seus membros superiores e inferiores exibiam músculos bem definidos, cicatrizes no peito eram um sinal das muitas batalhas pela sobrevivência. Seus olhos vigiavam o ambiente ao redor. Em suas mãos um longo e pesado osso de alguma criatura era sua única arma contra os predadores da região. Por um breve momento seus olhos pousam sobre sua fêmea e seus filhotes que dormem enroscados uns aos outros.

O cansaço percorre seu corpo. Daqui há pouco a luz do dia irá chegar. Uma última vez ele contempla as três luas pálidas que parcamente iluminam o platô onde ele e sua família se abrigam. Ele não entende porque elas sempre ficam um tempo no alto e depois vão embora cedendo a vez para uma estrela muito maior e com a luz mais intensa. Ele acha bonito isso tudo.

O dia chegou trazendo com ele a necessidade de ir atrás de comida. Sua fêmea e seus filhotes estão acordados. É hora dele ir caçar.

Jota Alves
Enviado por Jota Alves em 04/08/2018
Reeditado em 04/08/2018
Código do texto: T6409288
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