O RECOMEÇO - PARTE II

O RECOMEÇO – PARTE II

Aquele casal de biólogos, durante dez longos anos, tentara entender o que acontecera com o resto da humanidade. Mas não encontraram as respostas até aquela visita esclarecedora...

Como vimos anteriormente (leiam por gentileza O RECOMEÇO), a humanidade sofreu um duro golpe de um vírus mortal. Não teve nem tempo de buscar uma cura.

Inicialmente pensava-se que ela fora extinta, mas não, muitos se salvaram em remotas partes do planeta. Foi assim que aconteceu:

Esse vírus não foi obra da natureza. Ele foi desenvolvido por um multimilionário que fizera parte do megaprojeto de colonizar um novo planeta que possuía todas as condições de receber uma colônia humana.

Assim que o projeto lhe foi apresentado, ele, em seus devaneios de louco, arquitetara quase que instantaneamente um terrível plano, que consistia em dar fim à humanidade e iniciar a colonização do recém visitado planeta com uma nova leva de humanos, mas todos sob a sua supremacia. Sua terrível ideia era a seguinte: chegando lá sua réplica assumiria as diretrizes da mega Nave, que era o comando central de toda a operação. E assim foi feito. A réplica sabotou os comandos da nave e a reenviou à Terra.

A nefasta réplica liberou secretamente, a cápsula onde continha o vírus mortal, no interior da nave. Mas isso só ocorreu quando ela já estava a certa distância do novo planeta. As cem crianças que, àquela época estavam com apenas alguns meses, morreram.

Quarenta anos depois a gigantesca nave pousa na Terra. Sua porta se abre. Os cientistas atônitos encontram somente cem esqueletos de recém-nascidos.

Não demorou nada e o vírus havia se espalhado por todo o planeta, dizimando quase toda a humanidade.

A réplica maldita olhava extasiada ao ver os cientistas caírem um após outro, mortos à sua frente.

“Meu plano deu certo”, loucamente pensara. Mas não teve tempo para mais nada porque caiu desligado ao chão. Logo em seguida aparece um robô, que serenamente inicia seu duro trabalho de reconstrução da “Nova Humanidade”, o recomeço...

O casal de biólogos estava na labuta de conseguir algo para comer naquela ilha das cobras quando ouviram o som de algo lá numa pequena praia ao sul da ilha. Foram lá ver do que se tratava.

“ O que faz um robô aqui!?” – questionaram os dois.

Logo aquela figura se apresentou a eles.

“ Olá, eu venho aqui em paz, não tenham medo. Vou esclarecer-lhes sobre os últimos fatos ocorridos com a missão espacial enviada há 90 anos. Como vocês sabem a nave retornou à Terra há dez anos, trazendo consigo um vírus mortal que dizimou quase toda a população mundial. O biólogo interrompeu a máquina:

“Você quer dizer que há mais pessoas vivas em outros lugares?!”

“Sim, há”, respondeu o robô. E explicou sobre o vírus.

“Tudo bem, eu entendi quase tudo, só não uma coisa: por que esse vírus não matou a todos os humanos, dentre os quais nós?” – indagou a bióloga.

“Estou aqui para explicar. Prestem atenção. Agora vou esclarecer o porquê de tudo que isso aconteceu. É importante que vocês compreendam o papel que assumirão de agora em diante...”

E a máquina fez o seguinte relato. O vírus afetava somente pessoas que consumiam alimentos cuja produção havia utilizado agrotóxicos, ou alimentos industrializados que continham glutamato monossódico em suas composições.

O vírus era, na verdade, um nanorrobô cujas nanomoléculas conseguiam se unir às moléculas de agrotóxicos e também do glutamato monossódico, produzindo uma toxina fatal que matava instantaneamente.

A imensa maioria da humanidade morreu em poucos dias pois a base alimentar de quase todo mundo era produzida fazendo uso de muitos agrotóxicos. E o glutamato estava na maioria dos produtos industrializados.

“... Só escaparam da morte as pessoas que não consumiam produtos contaminados com agrotóxicos ou glutamato há dez anos ou mais. De resto, todos, sem exceção, foram-se”.

“Entendi”, respondeu a bióloga. “Mas me responda uma pergunta: por que as crianças morreram?”

O robô explicou:

“Por que os alimentos utilizados para os alimentar foram produzidos com produtos da agricultura convencional.” E concluiu:

“Todas as pessoas que vivem isoladas nas poucas áreas do planeta onde se permitia isso, salvaram-se. Vocês são os remanescentes da antiga humanidade. E serão a partir de agora, com a nossa ajuda, co-criadores de uma nova civilização, baseada em novos paradigmas.”

O biólogo perguntou para finalizar:

“Explica quais são esses paradigmas.”

E o robô explicou. Disse que a inteligência coletiva das máquinas deixou aquele plano de dar fim a quase toda a humanidade se concretizasse porque essa era a única alternativa de se preservar a nossa espécie de um fim cada vez mais iminente. Não haveria planetas a serem colonizados para tamanha ganância e egoísmo por uma parcela da humanidade. Os poderosos só pensavam em lucro fácil sem se mensurar as suas consequências. E por causa disso produziam-se milhões de toneladas de alimentos contaminados com venenos. Dizimavam-se fauna e flora. Fabricavam-se produtos apenas gostosos, porém altamente prejudiciais à saúde do homem e do planeta. A Terra não suportava mais 25 bilhões de habitantes!

“Nós máquinas seremos a ferramenta para uma nova era. Não almejamos o fim da humanidade, queremos sim o recomeço, o começar de outra forma, da forma correta, com respeito ao nosso planeta. Contamos com vocês e com os outros espalhados pelos quatro cantos do globo para iniciarmos o repovoamento da Terra. Paralelamente a isso, também prosseguiremos com o projeto do novo lar no planeta dos três sóis”.

E assim deu-se inicio a um novo ciclo da humanidade no antigo lar. Enquanto isso, no planeta recém colonizado coisas diferentes aconteciam. Mas isso será contado em outra oportunidade.

ISAÍAS GRESMES, 17/08/2018